Marcus Valerio XR

Dois dias depois.

- Qual o seu nome? - Perguntou uma distante voz, insistindo após a demora.
- Eu... Meu nome... É Alice. - E ela ainda nada enxergava.
- Você sabe o que aconteceu?
- Hummm... Mais ou... Menos.
- Qual a última coisa que se lembra?
- De... Minha amiga... Xivia, me pegando em seu colo e chor...
- Muito bem. Pode descansar.
E Alice respirou fundo e pouco a pouco começou a perceber o ambiente ao seu redor. Estava num leito, nua, sob um lençol. Ao longe dois homens conversavam mas ela não conseguia ouvi-los.
- Acho que essa não mudou nada. - Disse um dos rapazes.
- É... - Concordou o outro. - O período de morte foi curto.
- É uma bela mulher. Só agora dá para ver.
- Sem dúvida. Dá gosto ressuscitar uma dessas.
Quando ela finalmente se sentiu plenamente desperta, entraram Xivia, Velita e duas outras de suas amazonas. Xivia a abraçou aos prantos. - Ai... Alice... Graças a Deusa. Você voltou.
- Olá querida. Oi Xivia. Meninas. - Ela sorria para todas. - Onde estamos?
- Península Santacar. - Respondeu Velita. - Não se preocupe. Está tudo bem.
- Ressuscitaram todas? Estão todas bem?
- Bem... Djane... - Então Velita foi interrompida pela chegada de Dai-Haime. Desta vez sem aquele aspecto ameaçador. Olhando de longe, ele ficou na porta.
Velita tentava dizer algo, então olhou para ele, que se aproximou.
- Ela... Pediu... Para não ser ressuscitada. - E abaixou o olhar visivelmente abalado.
Alice olhou para Xivia, triste mas sem grande surpresa. - É... É o que eu esperaria dela.
- Mas todas as outras estão bem. - Disse Xivia, sorrindo. - E você não vai acreditar em quem está aqui! Advinhe quem veio te ver?!
- Quem? - Intrigou-se Alice, sem ter a mínima idéia.
- O Lorde Xuminis! Veio te ver pessoalmente! Ele é demais!
Alice não escondeu a surpresa. - O Xuminis está aqui? - E finalmente sorriu.
- Quando você estiver pronta. - Disse Velita. - Ele está esperando.
- Ora... - Disse Alice. - Me apronto já. Não se deixa um homem desses esperando!
Marcus Valerio XR
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Se Traigon tinha problemas em ser uma celebridade, ou talvez mais por ser uma celebridade comprometida como uma Hiper Meta Natural ciumenta, Lorde Mestre Xuminis teria problemas muito maiores não fosse sua incrível habilidade interpessoal.
Do lado de fora da imensa torre governamental de Península de Santacar, uma área menos remota da Zona Polar fora do alcance da Lei de Cobertura, uma multidão já se amontoava como sempre ocorria quando Xuminis estava em algum local. Aos gritos de: "Queremos Xu! Ele é o maior! Ele é demais!" A multidão só se acalmou depois que ele apareceu e fez um breve discurso explicando que viera conhecer uma mulher muito especial que ajudara a evitar uma catástrofe de proporção planetária. Prometeu que comporia uma música em sua homenagem.
Depois, sendo informado do despertar de Alice, foi ao seu encontro.
Alice já estava vestida em suas roupas típicas de motoqueira nômade. Entrou numa sala juntamente com Xivia, Velita e outras de suas moças, fazendo um tremendo esforço para convencer a maioria delas a esperar de fora, pois queriam ver Xu. Num canto da sala também estava Dai-Haime.
- Olá Alice. - Disse carinhosamente Xuminis. Fazendo um gesto de reverência pouco comum já há algumas décadas, típico de homens para mulheres. - É uma honra te conhecer. - Completou ele.
Alice jamais pensou que um dia encontraria pessoalmente Lorde Xuminis, e muito menos numa situação como essa, o que a princípio a deixou estranhamente embaraçada como uma adolescente diante de seu ídolo, mas logo recuperou sua pose de mulher poderosa, embora numa breve reflexão tenha se questionado o real valor da fama e da personalidade que construíra em sua vida.
Depois de algumas frases cordiais, e quando estavam mais a vontade, Alice finalmente relaxou. Se encostou na cadeira enquanto Xuminis atendia um comunicado, só então viu Xaine encostado na porta, de braços cruzados, com uma expressão serena mas claramente indignada.
- Por que não me falou que tinha um desintegrador? - Perguntou duramente. - Poderíamos ter evitado todo aquele sofrimento!
Antes que Alice respondesse Lorde Xuminis intercedeu. - Creio que não Xaine. Nós do conselho Octal concordamos que houve algo como uma Providência Universal! Se você ou Seinel surgissem diante do Deomi-Zate com o desintegrador ele teria percebido algo.
- Mas de que adiantaria? - Retrucou Xaine. - Ele não poderia bloquear o desintegrador de qualquer modo!
- Não temos certeza disso. - Explicou simpaticamente Xuminis. - Mas é fato que o Deomi-Zate não usou sequer um décimo de seu poder, e talvez tenha sido mais por descuido do que por incapacidade temporária. Notamos claramente nas gravações que ele queria tocar em Alice. Temos quase certeza de que ele hesitou várias vezes subestimando sua adversária, o que não faria se fosse um de vocês, ou mesmo Xivia, por ser uma genônica visivelmente poderosa para qualquer um que tenha uma supra percepção.
- E por quê?! - Perguntaram ao mesmo tempo Xaine, Alice e algumas das outras amazonas.
- Desconfio de uma rixa pessoal. - Disse Xu. - Aquele Deomi-Zate possuía a essência astral de um ser que já vinha acompanhando as amazonas há algum tempo, tendo tentado de mais de uma forma tomar o Ione. Apesar de uma vez incorporado, com quase toda certeza, o ser astral original ter enlouquecido ou perdido sua personalidade, é possível que certas reminiscências tenham restado.
Então Alice ficou um pouco confusa. - Está bem. Esperem. Chega. Vamos começar do começo. - Fez uma pausa e com toda a sinceridade e ênfase perguntou.
- Será que alguém pode me explicar afinal o que foi isso tudo?!
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Com toda a paciência, Lorde Xu começou, e mesmo já tendo ouvido boa parte da explicação de Dai-Haime, Alice preferiu recapitular.
- Os Deomi-Zates foram resultados desastrosos de uma antiga tentativa de clonar DAMIATE. Clonando-lhe simplesmente o corpo aparentemente humano, tudo o que se obtinha era um humano normal sem nenhuma das peculiaridades do original. Fizeram então os Astro Clones, cópias baseadas nos genes sutis do corpo astral já não aparentemente humano do DAMIATE, e tentaram fundi-los nos Clones Físicos. O problema é que fazer isso consumia uma quantidade absurda de Força Vital pois o Físico e o Astral pareciam ser totalmente incompatíveis, e quando o conseguiram, não obtinham nada do esperado, apenas uma transformação progressiva que em poucas semanas tornavam um ser de aparência humana num ser de aparência lemuriana e de comportamento incompreensível.
- Pelo que sabíamos ao certo apenas 4 haviam sido criados, e todos tiveram que ser destruídos, pois simplesmente tentavam ensandecidamente descer ao interior da Terra e acabavam pondo em risco tanto o campo vital quanto a estabilidade geológica.
- E como os destruíram? - Perguntou Alice.
- Naquele tempo havia 8 Hiper Metas na Terra. Possivelmente todos mais poderosos que Seinel. - Respondeu Xu, e prosseguiu. - Nós até tínhamos informações de que houvera um quinto exemplar que não fora físicamente destruído, mas sim do qual foi destruído apenas o corpo astral, deixando o corpo físico em estado de hibernação, mas pensamos que tal corpo não sobreviveria por muito tempo.
- O que não sabíamos de modo algum é que ainda havia um Astro Clone do DAMIATE vagando por aí! Temos inclusive razões para pensar que esse foi criado muito tempo antes. Foi essa entidade incorpórea que contratou aqueles humanóides híbridos que...
- O homens cinzentos?! - Interrompeu Alice. - Onde eles estão?
- Não restou nada deles. Estavam num nível superior da base quando as Espadas Espaciais dispararam o primeiro raio nuclear.
- Droga. - Irritou-se a amazona. - Eu queria por as mãos... Neles... - Completou mas sem muita convicção, estranhando o fato de repentinamente não conseguir mais ter a mesma raiva de antes.
- Esse humanóides, que talvez fossem até andróides, contataram o Edikar Baren, que é a uma das maiores autoridades da Terra em Meta Naturalidade, e ficaram sabendo da existência de um super Ione, com poder suficiente para criar uma Aura Vital capaz de fundir o Astro Clone no Soma Clone. Como o Ione estava em poder de uma comunidade religiosa exótica e fechada ele permaneceu desconhecido de nós, mas não do Edikar. O que é bastante estranho. Foi também o Edikar que chamou Dai-Haime para resgatar os Iones quando vocês os raptaram. Mas é claro que Dai-Haime não tinha idéia de quem estava por trás de Edikar. E por fim mesmo com todo aquele poder vital o Ione foi totalmente consumido no processo.
- Ainda não sabemos a procedência desse Astro Clone nem dos homens cinzentos, mas eram muito bem orientados e preparados. Sabiam do local e do momento de abertura da base, que nem nós sabíamos, o que deixa claro que essa operação foi planejada há bastante tempo.
- Mas, quando fizeram a fusão, não foi muito diferente dos casos anteriores, provavelmente a personalidade do Astro Clone foi destruída e o Deomi-Zate se tornou tão bestial quanto seus predecessores, embora esse tenha apresentado algumas peculiaridades únicas.
- Em síntese senhoritas... Vocês foram apanhadas desprevenidas na maior crise dos últimos 200 anos. Mas graças a isso, graças a vocês, a ameaça foi destruída.
- Quer dizer que... - Disse Xivia. - Se Xiria e Siana não tivessem desobedecido Alice e sequestrado aqueles Iones...
- Poderíamos estar vendo nosso planeta mudar sua aparência agora. - Respondeu Xu de modo enfático. - E de um modo nada agradável. Curiosamente o único Super Meta capaz de entrar na base depois de fechada estava em outro sistema estelar, jamais chegaria a tempo, e nem mesmo Xaine e Traigon teriam chegado se não tivessem antes ido verificar aquela batalha que vocês travaram com o robô de combate.
- Sim... - Suspirou Alice. - Onde Dai-Haime nos salvou. - E subitamente Alice sentiu um súbito aumento em sua simpatia pelo Super Meta Natural que no momento, ouvia a conversa silencioso, claramente arrasado pela morte de Djane. Alice se estranhou, estava tendo sentimentos que nunca experimentara antes com a mesma intensidade.
- De qualquer modo. - Continuou Xu. - Foi tudo muito perfeito. Você, mais uma engenheira capaz de fazer aquele desintegrador funcionar, uma Meta Natural capaz de sentir o que devia ser feito, e uma genônica capaz de protegê-las. E é claro, Dai-Haime. O Universo parece sempre saber o que fazer, ou Xantai, se você preferir.
Alice ia dizer que não se importava com a crença alheia, mas ficou ainda mais espantada quando ouviu a palavra Xantai e se lembrou da força com que sentira a presença da deusa na hora da luta, e como subitamente sentiu agora. E concluiu.
- Eu... Mudei... A ressuscitação... Eu não sou mais a mesma.
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Mais tarde, caminhando nos corredores estavam Dai-Haime, Xaine e Xu, enquanto Alice encontrava suas outras amazonas.
- De qualquer modo foi uma sorte que só tenhamos tido 18 vítimas fatais com toda essa confusão, 13 das quais pudemos ressuscitar com sucesso. - Dizia Xu. - Isso, claro, sem contar os 41 mortos naquela confusão na comunidade dos Sentinelas do Novo Dia na cidade de Nova Kalma. Dos quais só ressuscitamos 15 principalmente porque os familiares não permitiram a ressurreição de alguns outros.
- Eles tinham mesmo uma bomba nuclear? - Perguntou Xaine.
- Sim. Uma bomba suja. Estão sendo exaustivamente investigados agora.
- Além disso... - Disse Xaine. - Eles produziram Iones sem autorização.
- Isso também está sendo averiguado. - Retomou Xu. - Parece que o Edikar sabia disso há muito tempo, e é claro que ele sabia que ocultar informações sobre um curandeiro tão poderoso quanto aquele Ione é uma contravenção mesmo na Zona Polar.
- E onde está o Edikar? - Dai-Haime indagou.
- Não sabemos. - Respondeu Xu. - Saiu da Terra assim que a crise terminou e perdemos seu paradeiro em Beta-34. Agora pode estar em qualquer lugar num raio de 120 anos luz.
- Fugiu.
- Possivelmente. - Confirmou Xu.
- Devíamos ir atrás dele. - Disse Xaine. - Essa história tem que ser explicada.
- Já contatamos Teli, que estava a caminho da Terra e dissemos a ele para ir atrás do Edikar. - Disse o Lorde Mestre. - Em sua última mensagem ele disse estar prestes a pegar o Anel Espacial de Vega para Tzarits 3, seu melhor palpite. E você sabe, de lá são apenas 8 dias no Hiper Espaço para chegar a Gemula, de onde há uma sequência de Anéis que pode levar a Vastaria. Onde há um Portal Espaço Temporal Natural.
- Quer dizer que daqui a uns meses o cara já pode estar do outro lado da galáxia?
- Quatro meses para ser mais exato. - Confessou Xu. - Se tiver uma nave suficientemente rápida no Hiper Espaço para cobrir os trechos não interligados por Anéis Espaciais.
- Se isso não é fugir... Edikar... Eu confiava nele. Eu...
Com certa hesitação, Xaine perguntou a Xuminis. - Acha que DAMIATE pode ter algo haver com isso?
Xu também hesitou. - Tomara que não.
- Eu... Não acredito que conheci aquela mulher apenas para vê-la morrer.
- Sinto muito Dai-Haime. - Disse Xu enquanto Xaine, ainda indignado, se afastava. - Sei que não compensa mas em retribuição a sua ajuda providenciamos isto. - E então chegaram a compartimento onde Xu apontou para um belíssimo carro negro. Muito similar ao Dark Force de Dai-Haime.
- O que é isso?
- É seu. - Disse Xuminis. - É o mínimo que podemos fazer.
Apreciar o novo veículo trouxe uma sensação ambígua para Dai-Haime. De um lado vê-lo, tão milimetricamente fiel ao original, era agradável, mas por outro lado o fez sentir que aquilo o arrastava a um estado de expectativa anterior, quando ainda não conhecia Djane. E hoje, se sentia mudado. Sentia que de algum modo sua vida seria uma busca a partir daquele acontecimento.
- Agora poderá viajar novamente pelas terras livres da Zona Polar. - Disse Xu, arrancando o sorriso discreto e conformado de Dai-Haime.
- Obrigado Lorde Mestre. - Foi tudo o que ele disse.
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Enquanto isso Xivia se separara de suas companheiras ao ver Traigon passar pelo corredor. Sem sua viseira, só agora ele dava o ar da graça de seus olhos à genônica, que ficou ainda mais encantada com sua beleza.
Ela o seguiu mas o perdeu de vista, e procurando foi encontrá-lo numa varanda onde discutia com Seinel. Ela observou a cena de longe.
A Hiper Meta agora estava diferente, parecia não ter asas, mas tinha o corpo totalmente coberto por um estranho vestido branco transparente e luminoso, descendo desde o pescoço e tocando com exatidão no chão, sem deixar qualquer espaço descoberto mas também sem se arrastar no piso.
Xivia notou então uma coisa em comum entre Seinel e Xaine. Ambos eram bem altos, mais de 2m, mas tinham rostos tão joviais que eram quase infantis, embora o de Seinel fossem bem mais angelical, diferentes de Traigon, que era de aparência bem mais madura.
Ela parecia nada calma. Suas mãos se agitavam sob o vestido transparente e ocasionalmente seus braços saiam para fora, abrindo seu estranho vestido que parecia vivo e mimético. Traigon parecia sempre na defensiva, e Xivia deduzia a conversa uma vez que não ouvia os sons.
Finalmente, após muito drama, Traigon parecia ter sensibilizado Seinel, que começou a chorar lágrimas luminosas, até que por fim abriu seus braços e só então Xivia percebeu que seu vestido nada mais era que as asas fechadas em torno do corpo, que se levantaram ao alto e deram abrigo a Traigon, que se aconchegou em seu colo, sendo uns 10cm mais baixo.
Seinel o abraçou com um carinho que parecia mesmo angelical e suas asas se fecharam em torno dele. E tudo parecia tão calmo que ninguém imaginaria que aquele casal fosse capaz de brigar.
Nesse momento Xivia sentiu que aqueles dois eram um caso perdido. Pelo que sabia sobre eles, cujas vidas eram não raro devassadas pelos curiosos, teve a intuição que seriam daqueles que estariam sempre alternando momentos de tristeza e felicidade. Sempre brigando mas sempre se reconciliando.
Teve então certeza de que o coração de Traigon pertencia a Seinel. E que ela ela, Xivia, não teria a menor chance.
Foi embora, e a amazona que jamais em sua vida deixou de possuir um homem que desejou, deu essa breve paixão por encerrada.
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Dias depois as amazonas estavam prontas para partir, assim como Dai-Haime, e também haviam recebido várias motos novas. Das 40 amazonas de Alice, somente Djane morrera, mas duas outras que estiveram mortas haviam abandonado o grupo após serem ressuscitadas e mudarem sensivelmente de comportamento. A outra, prima de Alice, também falecera e fora trazida de volta, mas experimentara um período de morte menos longo e sofrera mudanças menos significativas.
Para compensar, 3 novas voluntárias se juntaram ao grupo. Uma delas era a principal acessora do administrador da cidade de Santacar, pessoa que mais se aproximava de ter alguma autoridade sobre o deserto de Kolneia. Alice se sentia vingada pois o administrador fora bastante ríspido com ela e dissera:
- Sorte sua que estava no lugar certo e na hora certa para merecer tanta consideração do Conselho Octal. E se não fosse isso e o fato dos 3 Iones terem declarado espontaneamente que queriam seguir vocês, nós teríamos argumentos para confiscar seus veículos como fizemos com suas armas, e poderiam até ser presas! Não se esqueça que apesar de ter virado uma heroína senhorita Alice, ainda estaremos de olho em você!
Curioso que a mulher que era o braço direito deste homem desistisse de toda uma carreira administrativa e se juntasse às amazonas, revolucionando totalmente sua vida. Ou isso ou seria apenas um tipo de espiã, o que não desagradava Alice, pois tinha certeza que mesmo assim essa nova companheira seria seduzida pelo novo estilo de vida.
Velita também declinara da proposta de Xu para trabalhar na engenharia de uma das cidades utópicas, assim como Xivia também recusara propostas de se juntar a grupos de super heróis. Bem como Dai-Haime, pela enésima vez, se recusara a voltar para as cidades utópicas e servir como um Super Meta regular.
As 41 motoqueiras dispararam pela estrava que saia da cidade, seguidas por Dai-Haime, até que centenas de kms a frente pararam numa encruzilhada próxima à Kolneia.
Dai-Haime saltou do carro e veio falar com Alice.
- Acho que aqui nos despedimos.
- Sei. - Disse a amazona, finalmente sorrindo para ele. - Eu queria... - Ela parecia ter dificuldade em dizer, mas de repente pareceu dizer com facilidade. - Queria agradecer você. Obrigada. E desculpe qualquer coisa.
Um pouco surpreendido Dai-Haime respondeu. - Obrigado a você também. Qualquer dia nos encontramos por aí. Quem sabe.
- À Deusa. - Despediu-se Alice, e Dai-Haime acenou com a mão quando elas seguiram estrada adiante.
Marcus Valerio XR
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O sol se levanta na estrada mas não diminui o azul cinzento que impera no céu e na paisagem arenosa. O estreito asfalto serve de guia a um bando de amazonas em motos flutuantes ultra sofisticadas. Todas lindas, grandes e corajosas, nenhuma usa capacete mas algumas usam óculos de proteção. À frente do grupo 3 delas se destacam, a do meio um pouco recuada das outras, prepara seu gravador de ondas cerebrais, que converte pensamentos fortes em sinas sonoros. E se concentra para produzir mais um capítulo de seu diário. Descreve então um resumo dos acontecimentos dos últimos 10 dias e então finaliza seu registro.

Deserto de KOLNEIA, dia 172 do ano 687 da idade pós dourada, ou ano 3947 pelo sistema antigo. Octagésimo registro da minha fase nômade... Terceiro registro de minha segunda vida.
Eu não sei exatamente o que mudou em mim após minha ressuscitação, sei que estou diferente. Mas minha vida não vai mudar. Continuarei aqui, nestas terras livres que ajudei a proteger, conduzindo minhas pupilas pelas estradas cujo destino pode levar a qualquer lugar.
Perdi uma grande amiga, e outras duas seguidoras, mas ganhei outras 3, e sigo em frente. Somos amazonas, somos bandoleiras, somos a manifestação da Força Feminina em sua faceta mais expansiva. E nada pode nos deter.
Nem homens, nem super homens, nem demônios vindos do espaço.
Só pertencemos à deusa... Ao impulso da vida, do prazer e do êxtase.
Nada tememos, nada odiamos, nada sofremos.
E eu só pertenço à Xantai...
Que juro sempre seguir.



Meu nome é Dai-Haime. E eu não costumava fazer diários, apesar de que essa estrada... Tem alguma coisa que parece querer extrair nossas confisões.
Minha vida mudou. Eu era um Super Meta Natural renegado. Eu era um mercenário, caçador de recompensas, guerreiro de aluguel. Mas acho que não serei mais, porque agora em tenho um objetivo.
Agora em tenho uma meta, e nunca antes em minha vida algo esteve tão claro.
Conheci uma mulher, uma mulher maravilhosa, perfeita. Minha alma gêmea.
Mas quis o Universo que ele fosse tirada de mim, e não sei para onde ela foi.
Por isso estou aqui, vagando, sozinho, para encontrar algo em mim mesmo, uma força, e uma resposta. Para que eu possa descobrir um meio.
Eu não sei para que mundo foi essa mulher, não sei para que vida ela foi. Mas eu vou encontrá-la. Nem que demore mil vidas em mil mundos.
Ouviu Djane?
Eu vou encontrar você.
Eu uma outra vida, em um outro tempo.
Eu vou buscar você.
Marcus Valerio XR
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