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Marcus Valerio XR

Mensagem de

Luciano

luc@cptec.inpe.br

Meus comentários estão em AZUL.

"Os medíocres discutem sobre pessoas"
"Os medianos discutem sobre fatos"
"Os filósofos discutem sobre idéias"

Inicio elogiando sua iniciativa e coragem de expor na rede mundial suas idéias, e até ousadamente propor uma Filosofia Exeriana. Portanto que as observações e discussões que disserto, as foco a nível de idéias.

Olá Luciano. É com muito prazer que me disponho a discutir esse assunto, curiosamente um dos menos recorrentes em meu Livro de Visitantes, e desde já lhe agradeço pela oportunidade.

Observação importante, é que não tive tempo de ler toda sua página (bastante extensa) e portanto que me concentrei apenas na sua introdução intitulada "O Impulso Intuitivo".

O que sozinha já rende um boa discussão. Mas de qualquer modo você parece ter avançado ao menos para o texto seguinte O MOTIVO RACIONAL.

Caso aja oportunidade poderemos, trocar "idéias", sobre outros temas, e nos aprofundarmos numa discussão filosófica. (devo deixar bem claro que como todo pensador que se prece não me acho dono da verdade, desconfio dos que se julgue possuidor da verdade. "Não há nada que seja completamente ruim e nada totalmente bom")

Sua tentativa de formular uma filosofia, me parece a tentativa clássica de muitos pensadores no sentido de formar uma opinião racional intuitiva, isenta o quanto possível de paixões pessoal, na expectativa de compreender o fenômeno na sua totalidade ( aqui me refiro a sua citação: "demorei 26 anos para entender que meu caminho era a Filosofia, pois é o único ramo do conhecimento humano que pode abarcar todos os outros..." Estou entendendo que a filosofia seria capaz de entender o fenômeno na sua totalidade??

Se não capaz, creio que seja a que mais tenha chances, por poder abarcar os dados das outras áreas com mais facilidade.

Acredito que foi mais ou menos isto que seu amigo Descartes tentou encontrar com cogito "penso logo existo". O seja eliminar toda e qualquer dívida sistematicamente, tudo aquilo que poderia ter alguma incerteza, e a única certeza da qual ele conclui é a que penso portanto a existência existe.

Que continuo vendo como a única certeza insofismável.

Mas, esta discussão modernista sobre uma explicação inconteste sobre tudo, esta busca de uma resposta última, uma busca por uma filosofia que possa explicar definitivamente e isenta, foi de certa forma já arrebatada, inicialmente com os pensadores classificados de existencialista dos quais podemos citar Heidegger, que depois de discorrer sobre a questão do ser e a desconstrução da metafísica clássica, invertem a questão de Descarte, e propõe: "eu existo, logo penso".

Não entendi bem o que você quis dizer com "arrebatada", mas digo que essa inversão de termos proposta pelos existencialistas em nada altera o teor da constatação de uma existência sensível como única realidade inquestionável. Nada muda o fato de que apenas um ser sensível, quer seja primordial ou secundário à existência, continua sendo a única coisa que temos de garantido como existente.

Pois então que a existência precede a essência, e a questão passa não mais ser a procura que você propõe, de uma compreensão do fenômeno na sua totalidade, mas a busca pela questão do fenômeno ( veja que estamos saindo da racionalidade cartesiana de causa e efeito, para uma busca fenomenologócia da questão do ser).

Não me preocupo nesse momento com uma compreensão total de fenômenos, mas apenas com uma base segura de pensamento, um núcleo inviolável de realidade. Independente da postura de se buscar o Ser existencial, essencial ou fenomenologicamente, é um Ser que continua buscando, e dessa forma essas posturas filosóficas costituem-se apenas em ferramentas sendo usadas por uma res cogita afim de compreender a si própria a ao mundo.

A eminência do homem transpassa numa busca ontológica da questão do ser ( um retorno a questão dos ser levantada pelos pré-socrásticos), o qual Heidegger designou no idioma alemão de Deisen.

Mais uma vez é apenas um método que varia, quem continua a busca não deixa de ser o próprio SER.

Portanto meu carro amigo (se assim me permite) a questão vai mais além quando hoje na pós modernidade temos a filosofia estruturalista e a lingüistica onde o homem é descartado do centro e a estrutura e a comunicação passam a ter mais atenção que o próprio homem onde o Ter predomina sobre o Ser.

Sem dúvida que podemos avançar muito na questão, mas a meu ver nada afeta o princípio da substância sensível e pensante. Ainda que hoje tenhamos um enfoque na linguagem ou em qualquer veículo de compreensão, mais uma vez insisto que eles são apenas ferramentas e modos diferentes de uma mesma essência buscar respostas para as mesmas questões, variando apenas no direcionamento onde se pensa ser possível obter essas respostas.

Muito se tem falado na importância da linguagem como capacitadora do próprio discurso filosófico e sem o qual mesmo a reflexão não seria possível, porém o fato de que exista uma linguagem imprescindível não invalida que haja uma substância essencial ainda mais imprescindível.

Prefiro chamar esse Ser de MENTE, em sua forma mais genérica. Considerando que mesmo uma Mente que ainda não tenha adquirido uma linguagem ou qualquer outra estrutura seja uma Mente potencial, decorre sua precedência sobre qualque outra coisa.

Se consideramos que de algum modo é a linguagem, através da existência, que constrói a Mente, caímos num paradoxo de Causa e Efeito, sem ter como saber exatamente quem gerou quem. Mas de qualquer modo é a Mente que usa a Linguagem, pois a Linguagem usar a Mente, embora não seja impossível, me parece uma hipótese a mais que além de desnecessária acrescenta confusão insolúvel.

Parto de uma premissa simples, a de que é mais provável que exista uma Mente Potencial sem Linguagem do que uma Linguagem exista sem uma Mente que a use. Da mesma forma é mais possível um Homo Sapiens sem Cultura do que uma Cultura sem um Homo Sapiens, e desse modo, crer que a Cultura preceda o Ser Humano, assim como a Linguagem ou qualquer outra natureza preceda a Mente, sem sair do discurso sobre a única certeza inviolável, é apostar numa hipótese extra que coloca a Linguagem num plano Metafísico apriorístico.

Mais sensata sem dúvida é a asserção de que uma não existe sem a outra e que somente a fusão de uma certa potência com um certo instrumento permite a existência de um SER, uma Mente. Mas mesmo assim, algo em nós usa a linguagem, temos um instrumento a serviço de uma potência, e dessa forma me parece muito mais sensato supor que essa potência é procedente.

Mais uma vez parabéns pela sua HP...

Friday, February 7th 2003 - 04:58:16 AM

Muito obrigado por essa mensagem Luciano, espero novas interpelações e novas discussões sobre o assunto.

Encarecidamente

Marcus Valerio XR
mv@xr.pro.br
12 de Fevereiro de 2003

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Réplica de Luciano