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Marcus Valerio XR

Segunda Mensagem de

Luciano F. Sacilotto

luc@cptec.inpe.br

Meus comentários estão em AZUL.

Marcos Valério XR

Bem... Eu prefiro: Marcus Valerio XR. O acento no "é" pode ser opcional, mas o "U" não.

Continuando, e agora o faço via seu e-mail, pois achei mais conveniente, se deve ser de outra forma por favor me avise:

Muito obrigado por responder Luciano. Por e-mail está ótimo. Vejo que teremos um belo diálogo pela frente.

Fiz a seguinte afirmação
"Mas, esta discussão modernista sobre uma explicação inconteste sobre tudo, esta busca de uma resposta última, uma busca por uma filosofia que possa explicar definitivamente e isenta, foi de certa forma já arrebatada, inicialmente com os pensadores classificados de existencialista dos quais podemos citar Heidegger, que depois de discorrer sobre a questão do ser e a desconstrução da metafísica clássica, invertem a questão de Descarte, e propõe: "eu existo, logo penso". "

A qual você responde:
"Não entendi bem o que você quis dizer com "arrebatada", mas digo que essa inversão de termos proposta pelos existencialistas em nada altera o teor da constatação de uma existência sensível como única realidade inquestionável. Nada muda o fato de que apenas um ser sensível, quer seja primordial ou secundário à existência, continua sendo a única coisa que temos de garantido como existente."

MINHA RÉPLICA:
Sim em nada altera o "teor da constatação de uma existência sensível", é mais uma questão de fundamentação, o que tento dizer com "foi de certa forma arrebatado", refiro a questão da "desconstrução" da metafísica clássica, e da certeza cientifica, onde imaginava que antes da existência, se faz necessário que algo exista em forma de pensamento de entidade de "Absoluto", para que a posteriori exista o "existente". ( a essência precedente a existência).

Eu diria que a Metafísica Clássica foi sem dúvida relativizada, mas penso que muitos filosófos parecem exagerar no nível do relativismo. Continuo achando que há um quase paradoxo na idéia Existencialista, pois como pode algo ter que existir primeiro para ser? Se ele já existe ele já é! Ou seja, de fato, o Ser só se percebe através da Existência, e de certa forma só existe, "existindo". Mas ALGO tem que existir! Nesse sentido, um não precede o outro, eles são interdependentes, não há existência sem Ser nem Ser sem existência. Porém, se um dever preceder o outro, acho mais provável a precedência do Ser.

Heidegger vem propor com a questão do ser no seu livro "Ser e Tempo", que antes de qualquer essência, o seja, antes do pensamento, a existência, não está com isto desconsiderando a realidade do real, ao contrário torna o real mais que real, sendo que no entanto compreendemos o real no seu fenômeno, pois o ser não nos revela se não que nos desvela no tempo finito da nossa existência, na angustia da morte. Antes da existência não há uma causa, mas o nada.!!!(porque o entes e não antes o nada).

Sem dúvida que antes da existência, como eu disse acima, não há percepção de Ser, mas isso não significa necessariamente que ele seja Nada, a não ser num contexto quase místico. Também desconfio muito desta idéia de tornar o "Real" mais "Real".

Renée Descarte foi um filósofo da razão, podemos considerá-lo o percursor do que é hoje a ciência e suas especializações. Se o homem foi a Lua, em muito se deve a iniciativa do gênio de Descartes no seu embate contra o sistema escolástico de sua época, o qual era baseado então na sabedoria antiga e presa aos dogmas da igreja. Descartes revela à nossa civilização a razão da ciência do empirismo do conhecimento cientifico.

Mas teve um custo com esta atitude de privilegiar a razão da ciência, quis Descarte unificar todos os saberes ( que está em parte em seu livro Discurso do Método), baseado na sua crença da certeza do conhecimento científico através da matemática, assim propôs que o mundo deriva desta certeza, o seja Deus usou a matemática para criar o mundo. Assim pois tudo seria como um máquina cada qual com sua perfeição, sendo que até o homem, também seria uma máquina com uma alma ( res extensa - res cogitans).

A certeza cartezeana é a matemática, e seu método consiste em subdividir o problema em níveis mínimos, separando peça por peça até seu componente fundamental, e a partir daí perceber a relação entre as várias partes. Trata de um método analítico reduzionista. Ai está o erro de Descartes, a ciência não é absoluta (não podemos confiar na certeza cientifica, ou seja nos nossos sentidos) não há certeza do absoluto, não há certeza absoluta, não há como redimir todas as incertezas.

Se há uma certeza absoluta, é a da Existência. O Ser sabe, sente que existe. Isso é certo. Certo é também que ele se relaciona com Algo, mas não se sabe a verdadeira natureza deste Algo e nem mesmo deste Ser, e daí para frente tudo é incerto.

Por isso digo que qualquer passo além do Solipsismo é um ato de crença. O Erro, como você colocou, é achar que podemos nos basear nos dados sensoriais para todas as respostas, quando na verdade os próprios dados sensoriais são incertos.

Descartes, a meu ver, está certo no "Penso Logo Existo", e só. Discordo com as provas da existência de Deus e do Mundo, a meu ver tão frágeis quanto a religião que ele, por mais inteligente que fosse, ainda insistia em defender.

( voce que gosta de ficção, veja o caso de Jornada nas Estrelas, o senhor Spock aquele vulcano que é todo lógico como dono da certeza, no entanto, não é ele o comandante, quem comanda a nave é o capitão (não me lembro bem seu nome, mas é parecido com o nome de um filósofo existencialista Kierkegaard) que é humano e cheio de incertezas.) Pois então não seria pela busca da certeza de tudo que chegaríamos a entender a vida.

Creio que os motivos que levam o Capitão Kirk a ser o comandante são mais culturais, nacionalistas e televisivos do que filosóficos, mas de fato há algo de notável neste sentido. Seria como se no comando da Enterprise fosse imprescindível a presença da Razão, na figura de Spock, mas também da Intuição e Emoção, no caso Kirk, da mesma forma que na Mente Humana.

Sabemos hoje, graças a dados da Matemática, Lógica e Neurociência, que a Razão sozinha é incapaz de tomar decisões sem motivos claros. Diante de opções aparentemente idênticas, ou das quais não se conseque concluir qual seria a mais adequada, a Razão fica paralizada. São necessários recursos bastante engenhosos para que os computadores tomem decisões "aleatórias" tão indispensáveis para a construção de Jogos

Essa capacidade de decisão é subjetiva, Emocional segundo alguns cientistas, eu diria Intuitiva.

Descartes não compreendia ou não aceitava que o todo possa ser como uma unidade orgânica, o seja, que o todo possa ser mais que a soma das partes. Um quebra cabeça montado reflete muito mais que todas suas partes juntas.

Aí depende do ponto de vista. A Hipótese Holográfica diz que uma única parte pode refletir toda a realidade do Universo, mas entendo o que você quer dizer.

Foi este erro de Descartes, que chamei de "foi arrebatado" por quanto Heidegger propõe o ser enquanto o todo que nos desvela.

Mas esse não é exatamente o "Erro de Descartes" descrito no famoso e recente livro com o mesmo título. É?

Trata de uma posição existencialista que procura privilegiar a existência do ser homem no aqui e agora, sem que necessariamente tenha havido uma causa para nossa existência....

Agora sim, creio que a situação se torne mais clara. Não vejo em Descartes uma causa para a nossa existência no raciocínio da substância pensante, esse causa só é deduzida após sua "prova" da existência de Deus, seu primeiro erro.

O Ser, só existe no presente, sem certeza de que existiu no Passado. Poderíamos ter sido criados há um segundo atrás com todas as memórias prontas. Nesse sentido não creio ter havido mudança significativa nessa posição existencialista.

Num outro ponto, voce refere que: "Prefiro chamar esse Ser de Mente...". O ser ao qual me refiro, é o ser considerado por Heidegger como aquele que é. Assim a mente seria um ente , vez posta que (a mente) lhe cabe definição, ao ser não cabe definição, o ser é aquilo que é sem definição, mas que se questiona.

Depende de como você quer situar. Eu prefiro o termo Mente para facilitar o discurso, pois Mente é um conceito aceito na Ciência, na Filosofia e na Religião, ao passo que Ser na Ciência não faz muito sentido, e nas religiões vira uma tremenda confusão. De qualquer forma, eu defino a Mente exatamente como SER. Independente de que ela seja um ente metafísico, um epifenômeno cerebral ou uma essência Divina, ela continua sendo uma Mente. E isso simplifica o discurso.

A CONCORDANCIA :
Vejo que temos posições diferenciadas, mas, que podemos promover o crescimento mútuo. No entanto precinto que temos algo em comum, qual seja; a de que o homem enquanto ser vivente predicado de sentido que lhe permite perceber a existência, deva prevalecer frente ao sistema e as estruturas, sendo que as coisas demais além do homem as podemos considerar "ferramentas", como você mesmo colocou, ferramentas a serviço do intelecto humano que se espanta diante do mistério, na contemplação da natureza, como era tão próprio dos antigos filósofos.

Vejao que apenas você tende ao Existencialismo enquanto eu tendo a um Essencialismo. Mas como insisto em dizer, são apenas enfoques distintos de uma mesmo problema, com enfase em direcionamentos diferentes.

De fato, defendo a supremacia da Mente Humana sobre tudo o que há, de nossa consicência, nosso Ser. A única coisa que realmente existe e torna tudo a nossa volta existente, ou ao menos perceptível.

O QUESTIONAMENTO:
Dispus de mais tempo para ler sua HP, e entender um pouco melhor suas propostas, vejo que eis um jovem dinâmico cheio de conhecimento ansioso por aprofundar em assuntos polêmicos, mas que também não descuida das coisas do dia a dia da sobrevivência e ainda tem tempo para o belo o harmônico o seja a musica.

Você cita muito o poder da imaginação, também acredito, que tem horas que realmente não sei definir bem onde está o real e inicia a imaginação, o se, talvez realidade e imaginação não sejam a mesma coisa, diferindo apenas na concentração de energia, o seja a realidade seria uma concentração maior de energia o que permite a gente perceber o tempo e espaço, a extensão das coisa, e a imaginação uma energia fraca que não permite ser tocada. É só uma hipótese que me surgia enquanto digitava este texto.

Que desenvolvo em parte na hipótese Holoteísta.

Agora, se me permite uma questão de ordem prática; quais seriam suas pretensões na prática com a filosofia "Filosofia Exeriana". Nos dias atuais as grandes discussões filosóficas perderam interesse, por quanto temos respostas prontas e fáceis para tudo, se não é a ciência quem respondes, são os livros de auto ajuda, os padres, pastores, e tantos outros que dizem donos da verdade, os quais encontramos aos montes nas prateleiras das livrarias, para que então servira a filosofia num mundo pronto e extremamente pragmático. Pretendes tu ressuscitar as grandes discussões filosóficas com seria bom.... Acreditas que haja ainda alguém (ou alguns) interessado em discutir filosofia na sua fundamentação!!!

Já percebi que após o uso de expressões como "Hoje em dia", "atualmente" ou "nos dias atuais", com a exceção de óbvios comentários sobre avanço tecnológico, inchaço populacional ou degradação ambiental, quase sempre sequem-se afirmações estranhas de que há alguma desvantagem em nosso atual modo de vida com relação ao passado.

As discussões filosóficos sempre foram de interesse apenas dos intelectuais, os padres e pastores já existiam muito antes dos livros de auto ajuda e eram ainda mais donos da verdade, e mesmo assim havia a Filosofia nos círculos mais eruditos.

Hoje não poderia ser diferente. O debate filosófico continua em alta em certos redutos, porém hoje há uma vantagem. A tecnologia de informação torna tudo mais acessível, e cada vez é mais barato e fácil a todos adentrarem esses círculos eruditos se tiverem interesse.

A grande maioria das pessoas que visitiam meu site e me deixam mensagens se interessando pelas questões filosóficas é constituída por pessoas a princípio externas ao círculos filosóficos. Nesse sentido, creio que nunca antes existiu tanta oportunidade para qualquer ramo do conhecimento humano, inclusive a Filosofia, crescer e se expandir.

Filosofia não precisa ser ressuscitada, ela nunca morreu, apenas perdeu o estatuto de máximo domínio do saber para sua "afilhada", a Ciência. Na Universidade por exemplo temos espaço para as grandes discussões filosóficas, o que quero na verdade, e levá-las para além dos círculos eruditos.

Vida longa e prospera - ( a saudação de Jornada nas Estrelas)

Que a Força esteja Conosco.

Luciano F. Sacilotto

13 de Fevereiro de 2003

Muito obrigado Luciano.

Marcus Valerio XR
mv@xr.pro.br
27 de Fevereiro de 2003

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