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Marcus Valerio XR

Mensagem de

Reinaldo de Andrade

reinaldodeandrade@estadao.com.br

Meus comentários estão em AZUL.


Caro Marcus,

A minha classificação dos espíritas como "deístas" se deveu, basicamente, à falta de opções entre as alternativas apresentadas no seu site. Segundo o Dicionário Aurélio, "deísta" é "adepto do deísmo", e "deísmo" é "sistema ou atitude dos que, rejeitando toda espécie de revelação divina e, portanto, a autoridade de qualquer Igreja, aceitam, todavia, a existência de um Deus, destituído de atributos morais e intelectuais, e que poderá ou não haver influído na criação do Universo".

Há a opção MONOTEÍSTA! Que é onde o próprio Kardecismo se coloca não apenas por se propor a ser a Terceira Revelação de uma tradição Monoteísta, no caso Cristianismo e Judaísmo, mas principalmente pelo modo como Kardec define os atributos da Divindade, sendo Deus:

"Inteligência Suprema, causa primária de todas as coisas. Eterno, imutável, imaterial, único, todo-poderoso, soberanamente justo e bom, infinito em todas as suas perfeições."

Como pode ser claramente percebido no Livro dos Espíritos, Primeira Parte - Causas Primárias, Capítulo 1 - DEUS.

Portanto, o Kardecismo é uma Religião MONOTEÍSTA! A opção está lá, além da opção "Outra Opinião", onde você poderia especificar melhor seu ponto de vista.

Ora, o Deus em que nós, espíritas, cremos jamais foi "destituído de atributos morais e intelectuais" e nunca passou pela cabeça de um espírita que esse Deus "poderá ou não haver influído na criação do Universo". Portanto, meu caro, classificar o Espiritismo de deísta e, por conseqüência, de panteísta é, no mínimo, uma grotesca confusão.

Sim. Uma Grotesca Confusão! Mas foi VOCÊ que o classificou como DEÍSTA! E eu nem tenho idéia de como isso poderia ter como consequência o Panteísmo.

O que eu disse é que apesar de ser considerado MONOTEÍSTA, o Kardecismo se comporta em minha classificação como Neo-PANTEÍSMO devido principalmente ao modo como se harmoniza com uma série de idéias presentes nas religiões panteístas e de modo como difere da estrutura das religião Monoteístas Tradicionais

No mesmo capítulo acima citado, Kardec recusa a possibilidade do Panteísmo, porém a crítica está direcionada apenas a que chamo de Panteísmo IMANENTE, e não ao TRANSCENDENTE, contra o qual os mesmos argumentos não funcionam. Isso está melhor explicado no final de meu texto sobre o SOLIPSISMO.

Você diz ter classificado o Kardecismo (sic) como neo-panteísmo. Primeiro, vale uma ressalva: o Espiritismo "kardecista" não existe. O que existe é o Espiritismo, pura e simplesmente. Falar em espiritismo kardecista implica admitir a existência de algum outro tipo de espiritismo, o que não ocorre. Os termos "espírita" e "espiritismo", na verdade, foram inventados, criados por Allan Kardec para designar o profitente e o nome da nova doutrina que surgia. São, portanto, neologismos que só podem ser aplicados à doutrina dos espíritos e aos seus seguidores. Assim, o emprego dos termos "espírita" e "espiritismo" para designar outras doutrinas, religiões ou seitas e seus profitentes não passa de um lamentável equívoco.

Há de fato um lamentável equívoco aqui. Kardec NÃO foi o criador do termo "Espiritismo" e não tem preferência sobre o mesmo. Recorra ao mesmo dicionário Aurélio que você consultou e verifique que Kardec ou Kardecismo sequer é mencionado na definição de Espiritismo.

A Enciclopédia BRITÂNICA afirma no verbete relacionado, que o "Espiritismo Moderno" surgiu em 1848 nos E.U.A., anos antes da publicação do Livro dos Espíritos, onde Kardec faz a síntese de seus estudos.

Pela mesma definição, tanto do Dicionário quanto da Enciclopédia, estão automaticamente enquadrados no termo o Racionalismo Cristão e várias religiões Afro-Brasileiras modernas.

De fato o Kardecismo se apropriou do termo Espiritismo, da mesma forma como o fazem diversos ramos de uma linhagem específica de doutrina Religiosa.

Uma simples leitura da obra básica do Espiritismo "O Livro dos Espíritos" dirimiria definitivamente essa confusão e as demais constantes em seu texto, como incluir a doutrina dos espíritos no rol das "religiões primitivas" que acreditam no "Deus-Natureza", onde "todos os elementos naturais são divinizados", etc, etc, etc...

Quem incluiu a Espiritismo no rol da religiões primitivas?! O que pode ser lido no meu texto RELIGIÃO é que o Espiritismo foi enquadrado no rol das religiões Neo-PANTEÍSTAS! Que não são as religiões primitivas.

O prefixo "Neo" não é apenas um enfeite!

E quanto a pretender incluir o Espiritismo no Solipsismo (Aurélio: "Doutrina segundo a qual a única realidade no mundo é o eu") é de uma espantosa singeleza. Portanto, meu caro Marcus, sugiro-lhe " e aos visitantes deste site " a leitura atenta dos livros onde a doutrina espírita se encontra codificada: "O Livro dos Espíritos", "O Evangelho Segundo o Espiritismo", "A Gênese", "Céu e Inferno", e "O Livro dos Médiuns". Assim, confusões sobre o que é o verdadeiro e único Espiritismo não mais ocorrerão.

E eu sugiro a você fazer uma leitura mais cuidadosa de meus textos, de onde foi tirada a idéia de incluir o Espiritismo no Solipsismo!?

O que o texto SOLIPSISMO sugere é que a partir da hipótese da concepção de realidade única do EU, é possível desmembrar todas as possibilidades teístas inclusive negando o Solipsismo, e então enquadrar qualquer sistema religioso nessas possibilidades.

Sugiro principalmente a você ler o Livro dos Espíritos, pois classificar o Kardecismo como Deísmo quando há a opção Monoteísmo é um erro primário, assim como a tomar mais cuidado com sua linha de raciocínio. Em sua última frase você se refere ao "verdadeiro e único" Espiritismo, portanto admite no mínimo que haja outras linhas de pensamento que reinvindicam o termo.

Isso poderia ser interpretado como um raro e curioso caso de Fundamentalismo Espírita, afirmando que a sua vertente é a ÚNICA correta, tal como o fazem protestantes que declaram que em sua Igreja está o Único Cristianismo Verdadeiro, ou Sunitas ao afirmar que seu segmento é o Verdadeiro e único Islamismo.

A leitura das obras de Kardec só poderia "dirimir definitivamente qualquer confusão" se eu tivesse que aceitá-la como Verdade incondicional. Como Fundamento.

Grande abraço,
Reinaldo de Andrade

Friday, December 27th 2002 - 08:21:11 AM

Por fim Reinaldo, muito obrigado por sua participação em meu site e estou a espera de novos comentários ou do prosseguimento desta discussão.

Amigavelmente

Marcus Valerio XR
mv@xr.pro.br
05 de Janeiro de 2003

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