MEU LIVRO DE VISITAS

DreamBook

Marcus Valerio XR

Mensagem de

João Paulo Marques
jopamarques@hotmail.com

Desculpem-me por atravessar a conversa. Gostaria apenas comentar sobre a origem do universo.

Caro João Paulo. Seja bem vindo.

Quais as opções possíveis? Filosoficamente temos:
a) o universo é uma ilusão, tudo é ilusão: uma ilusão é uma distorção da realidade, então alguém está tendo essa ilusão, logo nem tudo é ilusão; ou, então, não a questão sobre a origem, pois nada existe;

Entendo. Mas depende do que você considera Ilusão. Esse argumento prova a existência do um ser pensante e do fato deste estar interagindo com algo, ainda que ilusório. Não é suficiente para negar a possibilidade de que o Universo seja de fato uma mera projeção ilusória de uma ou muitas mentes, compartilhadas ou individuais. Mas concordo em excluirmos por hora essa possibilidade.

b) o universo foi auto-criado: para alguma coisa criar a si própria, ela deveria existir antes da própria existência e isso é ilógico, pois vai contra o primeiro princípio da lógica (lei da não-contradição);

Ok.

c) o universo é auto-existente (sempre existiu): essa teoria vai contra as evidências existentes e contra a segunda lei da termodinâmica (Entropia ou desordem). Por exemplo, o universo tende a um estado de entropia alto com o passar do tempo, com a energia passando do estado de utilizável (das estrelas) para um estado de inutilizável (corpos frios). Se o universo sempre existiu, o que (ou quem) reverteu o estado entrópico do suposto universo anterior para o atual e assim iniciou-se o ciclo atual? Ou quem ou o que reverterá o estado entrópico futuro? Pensar que o universo sempre existiu é quase pensar que nada existe;

Discordo. Primeiro porque nada nos garante que o Universo se comporte da mesmíssima forma ao longo de toda a sua existência. As condições físicas antes de sua eclosão poderiam ser diferentes. E Segundo, não podemos garantir que o Universo que podemos observar seja de fato TUDO que existe. Podem haver, e provavelmente hão, outros níveis de Universos.

d) o universo foi criado por algo auto-existente: isso está de acordo com as evidências científicas de uma origem. Parece simples, mas não existem possibilidades diferentes dessas, tente achar outras.

Mas por que os itens B e C também não se aplicam aqui? Esse ser Auto-Existente seria Auto-Criado? Ou se sempre existiu também não violaria a Lei da Termodinânica? Se você disser que este Algo não está submetido a tal lei, cai na minha resposta anterior. Esse Algo pode ser um mero nível maior de Universo.

A pergunta que vem a seguir é, como deve ser essa entidade auto-existente (infinita)?

Ok. Vamos nos concentrar nessa direção.

Resposta: a) tem que responder a complexidade do universo, aos milhares de particulares que nos deparando em um abrir e fechar de olhos;

Como assim responder? Quer dizer Explicar?

b) tem que ser uma única entidade para responder a ordem do universo (se esse ser não fosse livre suficiente, tudo seria um caos e sabemos que tudo não é um caos ou absurdo, pois se fosse vocês não estariam entendendo esse texto).

Aqui eu não entendi nada. Porque tem que ser uma Única entidade e não várias ou Infinitas? Que tipo de relação antagônica existe entre Caos e Liberdade, quando em geral intuimos o exato contrário?

A filosofia judaico-cristã apresenta uma resposta que satisfaz essa exigência de unidade e complexidade no criador, que é a de Deus Único e tripessoal.

Não concordo que essa exigência de Unidade tenha sido demonstrada.

Platão com números já havia percebido a impossibilidade do 1 existir sem o 2 para o reconhecer e sem o 3 para ligá-los dado a diferença entre ambos. A partir de 1, 2 e 3 toda a complexidade pode surgir.

Também não vejo nada mais que uma especulação aqui. O UM poderia existir sozinho, mas a partir do momento que ele se divide, nada exige que ele se limite a uma trindade lógica e não a uma quaternaridade ou pentariedade e etc.

A Quaternaridade tem até uma vantagem. Enquanto sabemos que um triângulo simplesmente não existe na realidade, pois ela é tridimensional, poderíamos alegar que o 4 seria o fundamento primário da existência do Universo, pois tudo o que existe teria que ser tridimensional, e a figura tridimensional mais simples é o Tetrahedro, que tem 4 pontos. Platão versa sobre o Tetrahedro no Timeu.

Além do mais, supondo que haja o UNO e este se divida em DOIS, para haver então os estados UM, DOIS e o UNO, porém pode haver aquilo que não é nem um dos 3, o Vazio, ou o Caos. Novamente teríamos o 4.

O fato de ser um Deus pessoal responde a necessidade da nossa existência, pois vida gera vida, pessoa (com amor, poesia, personalidade) gera pessoa. Se tudo "lá fora" for impessoal, no universo como uma grande máquina, nós estamos num estado de alienação cósmica, pois nós somos pessoas.

Não vi sentido nessa afirmação. Sem dúvida que um Ser que atribuísse um propósito à nossa existência poderia ser satisfatório para alguns, embora outros prefiram definir eles próprios seu propósito, mas isso não exige exatamente que seja uma "Pessoa".

Se tudo lá fora for impessoal, aí mesmo é que podemos nos ver como pessoas, por sermos diferentes de todo o resto, e é isso que nos tornaria humanos. Por outro lado, se Deus é uma pessoa, e nós não somos evidentemente iguais a Ele, aí é que então não seríamos pessoas!

Se tudo fosse impessoal e máquina, nada além de máquina, então, comamos e bebamos que amanhã morreremos, alias, não deveriam prender ninguém por matar outra pessoa, afinal qual a diferença entre morrer hoje ou amanhã. Mas existe algo além da matéria que imprime em nós o senso de dever e isso nos separa dos animais.

A diferença é que morrendo amanhã você vive mais um dia. Você no mínimo tem mais tempo para deixar algo para o mundo em que você viveu e seus descendentes, ou mesmo para aprender algo que talvez leve para um outro nível de existência.

Quanto a Algo extra material nos imprimir um senso de dever, pode ser. Mas a própria matéria já faz isso. Afinal temos que sobreviver. É um imperativo instintivo. Temos que gerar descendentes e protegê-los, e passamos a maior parte da vida trabalhando exatamente para isso.

Claro que nossa humanidade pode nos dar sentidos existências mais profundos, inclusive de teor metafísico e místico. Mas até aí nada garante que um desses teores, em especial, seja de fato a verdadeira explicação para um possível transcendente.

Um abraço. João Paulo
Wednesday, January 28th 2004

Caro João Paulo. Obrigado por sua mensagem e aprecio sua tentativa de demonstrar seu ponto de vista de forma racional. No entanto, como dizia o deísta David Hume, "A Razão é Escrava das Paixões", e noto que você manteve a linha de raciocínio apenas dentro de um caminho pré-estabelecido pela estrutura religiosa que professa, não levando isso mais adiante.

Você até triou bem as possibilidade, mas sua inquirição parou nos limiares da dogmática teológica cristã, sem coragem de tocá-las. Porque teríamos que aceitar um DEUS eterno e incriado se não podemos aceitar um META UNIVERSO eterno e incriado acima de nosso Universo?

Porque a Trindade, e não a Unicidade, ou qualquer outro número, para o ser transcendente?

E por fim, como deduzir daí todos os demais elementos que inevitavelmente nos levariam a uma profissão de fé específica como o cristianismo, que ainda por cima é farto em contradições insolúveis? Porque não usar a Lei de Não Contradição na Antinomias Teológicas?

O máximo que eu poderia aceitar como altamente provável é a idéia de um SER responsável por nosso Universo observável, mas daí a atribuir as características do Deus cristão a ele, me parece pura extrapolação.

De qualquer modo obrigado por sua participação, e esteja a vontade para escrever mais.

Amigavelmente

Marcus Valerio XR
mv@xr.pro.br
FREE MIND!!!
06 de Fevereiro de 2004

Volta ao Livro de Visitantes