ANÁLISE DO CONTO DE FADAS

KAGUYAHIME

A PRINCESA DA LUA

Universidade de Brasília, Junho de 2000 - Departamento de Letras-Tradução
- Curso de Licenciatura em Língua Japonesa - Disciplina: Literatura Japonesa 1
- Professora: Célia Mitie Tamura

Sumário

Introdução

Kaguyahime - A Princesa da Lua

Variações Sobre o Mesmo Tema

Análise Hermenêutica

Conclusão

Bibliografia

INTRODUÇÃO

Os Contos de Fadas como Fonte de Estudos Psicológicos.



Na condição de um aluno transitante entre dois cursos, procurarei nesta monografia desenvolver um trabalho que satisfaça tanto as exigências da disciplina quanto meus objetivos pessoais como pesquisador e filósofo.

Na literatura existe uma farta matéria prima da qual se pode retirar as mais diversas informações sobre a psique humana direta ou indiretamente, mas de qualquer modo em obras onde as potencialidades pessoais de um indivíduo tiveram maior influência, ou influência total no caso de uma obra de ficção original, a tendência é que se observe predominantemente características pessoais do autor.

Sou da opinião de que os escritores que produzem obras de ficção seguindo sua criatividade e sentimentalidade, estão entre as pessoas que mais expõem seu universo interior ao conhecimento público, ao lado de poetas, músicos e artistas em geral.

Devem existir poucas formas melhores de se conhecer um autor como pessoa do que tendo contato com suas obras emocionalmente mais sinceras, pois ele revelará conteúdos psiquicos que muitas vezes deixa escapar inconscientemente.

Para aqueles que como eu, estão mais interessados em conteúdos de uma coletividade humana, obras pessoais embora úteis não são a melhor fonte, há uma bem melhor, as obras impessoais, ou seja, aquelas que já não mais se sabe quem pode lhes ter criado, que estão além do domínio autoral de particulares e que cada um que as reproduz, quer seja oral ou textualmente, acrescenta algo.

Esses integrantes da cultura de um povo tendem a vir por tradição oral, só sendo escritas por compiladores no sentido de resgatar ou conservar sua existência. Nestes estão incluídos toda uma gama de contos e historietas, direcionadas para os mais variados públicos em diversas faixas etárias, que podem surgir de qualquer lugar e com certeza se transformam com o tempo.

Sua mutabilidade tem um efeito paradoxo, se por um lado cada vez mais perdem a forma original e consequentemente o espírito de quem os criou, por outro lado ganham em interpretações e adições dos mais diversos vetores humanos pelos quais passaram, quer sejam para adaptá-las a públicos mais específicos, para imprimir-lhes um toque pessoal ou apenas por falha mnemômica que exige uma complementação ou atualização.

Sendo assim os contos populares vão a cada época, absorvendo elementos da cultura vigente e dos locais por onde passam, de modo que uma mesma lenda possui quase sempre variadas versões. Tal acúmulo de diversidades lhes coloca um caráter cada vez mais coletivo, e melhor indicado para revelar as facetas psicológicas de uma cultura.

Geralmente sua linha básica não se altera, os eventos principais tendem a se manter, pois afinal foram mesmo eles que atraíram a atenção de quem se dispõe a contá-los, mas os detalhes que os permeiam e por vezes os desfechos diversificados mostram o quanto são versáteis e passíveis de adaptação temporal ou local.

A pesquisa dos elementos culturais encontrados nas lendas, contos e mitos têm sido objeto de estudo bastante aprofundado de antropólogos e psicólogos geralmente de linha Jungiana. Nelas têm-se comumente obtido informações preciosas sobre o universo mítico e imaginativo dos povos.

Entretanto tenho observado que os inúmeros adeptos do já legendário Carl G. Jung, o psicanalista suíço famoso por investigar mitos, as culturas orientais e propor o inconsciente coletivo, têm se concentrado mais na área relativa as religiões.

Eu pelo menos conheço poucas obras relativas ao estudo de contos infantis por exemplo, totalmente despojados de qualquer influência religiosa direta. Até agora não vi explicações aprofundadas para esclarecer o porquê das estórias infantis de domínio público, serem quase sempre sombrias e tristonhas, o contrário do que a ilusão do senso comum pensa a primeira vista.

Embora hoje em dia estejamos acostumados a ver as crianças se divertirem com histórias onde o bem vence o mal, os heróis triunfam e vivem felizes para sempre, na verdade nem sempre foi assim. Quase todos os desenhos animados e contos infantis propagados na atualidade passaram pelo filtro de indivíduos que cuidadosamente lhes removeram os elementos trágicos. Antes da versão de Disney por exemplo, Branca de Neve não era acordada pelo príncipe, ela de fato morria no final, antes da reinterpretação dos Irmãos Grim, João e Maria eram devorados pela Bruxa da Casa de Doces e Chapeuzinho vermelho acabava nas entranhas do Lobo Mau junto com sua Vovózinha.

O que se percebe então é que quando um autor possui liberdade para criar ou reinterpretar um conto infantil, geralmente ele lhe garante um final feliz, mas quando este mesmo conto está ainda sob o domínio do imaginário popular, sem passar pelo filtro de algum escritor especial, eles são invariavelmente trágicos.

E o mais interessante é que isso não é específico das culturas que herdaram desde o helenismo grego o gosto pela tragédia, caso contrário não os encontraríamos tão vastamente na cultura japonesa, como é o caso do conto a ser analisado nesta monografia.

A primeira impressão é de que o imaginário popular tem tanta facilidade em se identificar com a tragédia que o repassa espontaneamente para as estórias infantis, sabe-se lá com que consequências para a psique compartilhada de um povo. Lembremos que muitos países antes de se mobilizarem numa grande campanha expansionista, fizeram uma remodelagem nesses contos, priorizando e repassando para as crianças apenas estórias onde os heróis, legítimos representantes da identidade nacional, venciam os obstáculos dando lições de moral.

Se a evidência dos elementos trágicos nos contos são hoje suprimidas por filtros de particulares, o mesmo não acontece por exemplo nas músicas de roda infantis. São todas trágicas!

"...o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou...", "...a canoa virou, deixaram ela virar... se eu fosse um peixinho... buscava a maria no fundo do mar...", "... achei bela morena que no itororó deixei... entrarás na roda e ficarás sozinha...", "...o cravo brigou com a rosa... saiu ferido e a rosa despedaçada.", "...um anjo que roubou meu coração... um bosque que se chama solidão", "... Marcha soldado... foi preso pro quartel...", "Como pode o peixe vivo viver fora d’agua fria? ...como poderei viver sem a tua companhia...", "... a rádio patrulha pega a criança que não quer dormir..."

A lista não tem fim! E quem se der ao trabalho de analisar as músicas infantis em outras culturas há de constatar a mesma coisa na grande maioria dos exemplares. Será que tudo isso pode ser explicado apenas pelo estilo "Boi da cara preta"? Para assustar as crianças ou convencê-las a serem boazinhas?

Uma coisa é certa, as crianças não demonstram preferência por essa temática, tanto que ela têm sido significativamente mudada nas últimas décadas. As escolas tem popularizado músicas de conteúdo mais positivo e já há esforços no sentido de banir aquela que foi por muitos anos a mais famosa música infantil, o "Atirei o pau no gato", onde é clara uma atitude hostil contra um animal, bem ao contrário do predominante espírito naturalista e ecológico da atualidade.

Realmente eu ainda não compreendi o porquê desse fenômeno cultural. Através da tradição oral, o que chega ao público infanto juvenil é basicamente um conteúdo isento dos famosos e desejáveis finais felizes.

O conto de fadas a ser analisado nesta monografia é o de Kaguyahime, A Princesa da Lua, cujo final tristonho não foge a regra geral. Mas o escolhi afinal não pelo motivo descrito logo acima, que na realidade não é o objetivo investigativo deste trabalho.

Como já disse os contos de fadas sendo também legítimos representantes da cultura de um povo através da tradição oral, sem dúvida terão elementos curiosos a respeito da sua mentalidade, e embora neste caso o nível de distorções através dos séculos ter causado incríveis variações entre as fontes onde o pesquisei, creio que posso confiar que tenho os elementos mais importantes para fazer algumas especulações. Observei nesse conto algumas peculiaridades das quais gostaria de comentar.

A estrutura do trabalho está dividia nesta introdução, numa tradução literal do texto realizada por mim mesmo cuja fonte é uma versão em Inglês, algumas observações sobre variações do conto, e a parte especulativa em si, onde faço algumas análises do conteúdo naturalmente herméticos, comparações e teorias sobre os elementos psicológicos semi conscientes ou mesmo inconscientes que podem estar presentes em sua narrativa e conteúdo.

Dessa forma espero ser capaz de realizar um esforço útil no sentido de levantar questões a cerca do universo psicológico a respeito não apenas deste, mas de vários contos de fadas, que possam levar a investigações sobre elementos íntimos da cultura de um povo, ajudando no entendimento da coletividade como um meio de, paradoxalmente, contribuir no entendimento do indivíduo e de toda a humanidade.

Marcus Valerio XR

Kaguyahime – A Princesa da Lua

Há muito tempo atrás em um local distante no Japão, vivia um Taketori (cortador de bambu) e sua esposa. Ele gostava de seu trabalho, tanto que nem pensava em enriquecer, gostava da sensação de liberdade ao adentrar a floresta dia a dia, procurando o precioso vegetal. Preferia permanecer pobre e livre, fazendo o que gostava, do que trabalhar nas plantações ou em algum outro serviço, onde poderia ganhar mais dinheiro mas teria que obedecer a regras, horários e supervisores.

Um dia, enquanto desbravava a floresta a procura de bambu, ele viu uma estranha e brilhante luz , era algo incomum mas ele não se amedrontou, na verdade se sentiu atraído por ela, que emanava uma sensação de paz, curioso seguiu sua intuição e foi rumo a claridade, que vinha de uma moita de bambu escondida entre os pinheiros.

Normalmente ele ficaria espantado pelo fato daquela moita nascer numa local que ele não esperaria, uma vez que sua experiência lhe permitia saber com muita precisão os locais onde bambus podiam crescer, mas no momento a luz dominava seus pensamentos.

O brilho parecia irradiar de dentro de um ramo fino de uma das moitas maiores, movido por uma força irresistível e inexplicável, o homem caminhou até o bambu e num golpe de seu machado o decepou pela metade.

Era uma dádiva dos deuses, ele pensou, uma linda menininha, um bebê em miniatura, de cerca de 10 centímetros de comprimento estava acomodada no caule do bambu. Ela não se assustura, na verdade ria e transbordava alegria. Ela a tomou na palma da mão e deixou a floresta rumo a sua casa, ansioso por mostrar seu achado a sua esposa.

Sua companheira ficou tão fascinada quanto ele pela beleza da menininha, e considerou também como sendo uma dádiva divina, deixando cair lágrimas de emoção.

Ela tomou a criança de seu marido, que com sua falta de jeito tentava segurar a menina como um saco de arroz, e a acomodou confortavelmente em seu colo pensando no que deveria fazer, e concordaram que deviam criá-la como uma filha.

No dia seguinte o taketori voltou ao local onde achara a criança, talvez encontrasse uma outra. Mas nada mais havia, nem a luz, nem o bambu e nem sequer aquela misteriosa moita. Também não havia sinais de que alguém a houvesse extraído, as únicas pegadas e marcas humanas eram as dele.

"Misterioso!" Ele pensou, mas o mais incrível ainda foi quando ao vasculhar o chão achou uma pequena pepita de ouro! Ela a recolheu e de repente viu mais uma, e outra e outra. Colheu várias pequenas pedras de ouro até por fim recolher a última, a maior de todas. Como o homem não era ambicioso, apenas pensava ao voltar para casa que, com sua sacola cheia de ouro, "Agora podiam criar a menina adequadamente.".

Sua esposa e ele ficaram eufóricos e no dia seguinte ele voltou ao mesmo local, onde sem saber muito o que esperar, achou mais pedrinhas de ouro de vários tamanhos. Em apenas dois dias, com a riqueza que achara na floresta, ele se tornou o homem mais rico daquela parte do país.

O casal decidiu chamar a menina de Kaguyahime, hime significa princesa. Ela cresceu tão rápido quanto um bambo brota do solo e em apenas três meses ela já era uma jovem e linda mulher. Sua beleza era tão radiante que seu corpo chegava a brilhar e sua simples presença era capaz de transmitir paz, saúde e alegria. Mesmo seus pais tendo muito cuidado com ela, sempre resguardando-a a sua própria casa, as poucas pessoas que a avistaram fizeram sua fama correr longe, e logo 5 príncipes chegaram a casa do riquíssimo cortador de bambu para cortejar a dama.

Os 5 não eram príncipes comuns. Por semanas a fama de Kaguyahime atraiu muitos pretendentes e houve na cidade muitos duelos e violência até que a razão prevalecesse e se instituíssem competições seletivas. Esse príncipes eram vencedores de uma série de provas tendo dado mostras de sua coragem, capacidade, graça e inteligência.

Foram selecionados entre centenas de pretendentes, viajaram dias em duros caminhos para a cidade do cortador de bambu e indo direto a sua residência, oferecendo-lhe jóias, especiarias e demais presentes e riquezas. Mas o homem disse-lhes que de nada adiantariam tais presentes e não os aceitou, pois Kaguyahime só se casaria se, e com quem, ela quisesse.

Embora a princesa não quissese se casar os principes aceitaram isto como mais um desafio, e permaneceram persistentemente em frente a sua casa até que ele se dignasse a vê-los.

Passou-se o verão e o outono, e os princípes não desistiram de seu intento, suportaram firmemente a espera desafiando os elementos da natureza, frio, calor, chuvas, vento e insetos. Kaguyahime era inflexível, e não seria vencida por essas demonstrações de persistência, mas o pai da moça, apesar de compartilhar de seu desejo de que não se casa-se, apiedou-se dos príncipes.

O velho e rico casal também não queria o casamento da princesa pois temia a solidão caso ela fosse embora, mas com a firmeza de propósito dos 5 príncipes, o taketori temia que o resultado fosse a morte de um ou mais deles, devido a aproximação do inverno, e com esse argumento convenceu a filha que o melhor meio de dispensá-los seria uma conceder-lhes uma audiência e apresentar-lhes uma recusa formal.

A princesa aceitou apenas devido ao desejo e humanitarismo do pai, pois não queria sequer ver nenhum dos príncipes, e estabeleceu então entrevistá-los em separado atribuindo a cada um deles um desafio extremamente difícil, na tentativa de dispensá-los definitivamente.

- Ao Primeiro incumbiu de trazer um vaso especial, que escondido numa montanha do continente asiático, pertencera ao próprio Buda.

- Ao Segundo que viajasse até o Monte Horai no extremo leste e trouxesse um ramo de uma árvore do pico da montanha, que não era uma árvore comum pois seu tronco era de ouro, os galhos de prata e suas frutas de pedras preciosas.

- O Terceiro deveria viajar até a China e trazer a pele do Rato de Fogo, que tinha propriedades mágicas e era insensível ao calor.

- O Quarto teria que obter uma jóia que refletia 5 cores, de acordo com a luz que recebesse, mas estava em poder de um dragão que devorava qualquer um que o perturbasse.

- Ao Quinto, deveria achar um pássaro que tinha no estômago, uma concha especial.

O pai da princesa observou cuidadosamente cada um dos príncipes e percebeu que embora todos tenham sentido desagrado devido a enorme dificuldade dos desafios, não demonstraram fraqueza, aceitando-o e jurando cumprí-lo. E cada um voltou para seu próprio reino.

O Primeiro príncipe sabia das dificuldades que encontraria ao viajar para o continente, para a terra do Buda. Procurar a vasilha de cerâmica em inúmeras montanhas, correr vários riscos em território desconhecido. E mesmo que encontrasse o artefato, o que já lhe parecia impossível, como seria possível convencer o proprietário a lhe entregá-lo? Não seria muito caro? Ou exigiria mais que dinheiro?

Com tudo isso em mente, não estava disposto já de antemão a realizar a viagem, passando então anos sem fazer nenhum esforço no sentido de completar a incumbência que Kaguyahime lhe deu.

Um dia então foi a um templo budista próximo a seu castelo, e percebeu que praticamente todos os vasos e vasilhames budistas eram iguais. Convenceu o monge do templo a lhe vender um dos maiores e mais antigos e foi levá-lo para a princesa.

O Taketori o examinou primeiro, ficando impressionado com a rapidez com que ele cumprira a missão, e levou o artefato para sua princesa. Esta por sua vez passou alguns instantes a investigar o objeto para atestar sua legitimidade e concluiu que era uma farsa, atirando-o ao chão e partindo-lhe em vários pedaços. Recusando-se a ver o princípe, ordenou que um dos criados o entregasse os pedaços como sinal de desaprovação.

Consciente de sua mentira, o príncipe não disse uma só palavra, recolheu os cacos e partiu.

O segundo príncipe também reconheceu a futilidade do desejo da princesa, e não se disporia a arriscar a própria vida e dispender recursos para viajar para o leste. Decidiu então promover outra fraude, mas no seu caso, bem mais elaborada.

Contratou os melhores joalheiros e artesãos do seu reino e de vários outros, dando-lhes a tarefa de produzir uma falsificação do ramo da árvore de ouro que a princesa queria. A tarefa consumiu muitos anos mas por fim, ao ficar pronto, era tão perfeita e bela que poderia iludir qualquer um.

O cortador de bambu ficou impressionado, prestando todo o respeito e reverência ao príncipe. Mesmo a princesa não foi capaz de detectar a fraude tamanha foi a perícia dos artífices, e o príncipe estava prestes a conquistar seu objetivo.

Mas um mesageiro veio até a casa da princesa procurando o príncipe para lhe entregar uma mensagem. O cortador de bambu, anfitrião prestativo, se dispôs a lê-la e era uma nota de cobrança dos joalheiros de uma certa província que reclamavam ainda não ter recebido o pagamento pela construção do ramo.

Assim a fraude foi desmascarada e o segundo príncipe foi também desclassificado.

O terceiro príncipe assim como os outros, não se prontificou a empenhar uma jornada em busca da relíquia exigida pela princesa, mas sim contratou um capitão para que com seu navio e tripulaçãoo procurasse para ele. Sabiamente pagou metade adiantado e pagaria o restante apenas quando estivesse de posse da pele do Rato de Fogo.

Após anos o capitão voltou com a encomenda. Narrou ao príncipe as incríveis dificuldade de sua jornada, dos terríveis vilões e montros que ele e sua tripulação enfrentaram e que muitos de seus homens pereceram durante a jornada. O príncipe pagou o restante com acréscimo, para compensar as famílias dos homens que morreram.

O taketori que já enfrentara duas tentativas de enganação, recebeu o príncipe em alerta, não querendo ser tripudiado pela terceira vez. O pretendente iniciou sua estória fazendo suas as palavras do capitão que contratara, como tendo enfrentado todos os perigos pessoalmente, mas o pai apenas quis ver e testar a pele do Rato de Fogo.

Ele a colocou num pequeno incinerador e a incendiou, ela deveria ser insensível as chamas mas não foi o que aconteceu, queimou rapidamente sendo destruída e exalando um péssimo odor.

O príncipe ficou revoltado, e deixou escapar numa exclamação sua revolta contra o capitão que o havia enganado, deixando claro que não fora sequer ele que tinha empreendido a jornada.

Com isso, o terceiro pretendente foi também eliminado.

O quarto príncipe estava muito ocupado com o seu reino para despender uma jornada em busca da jóia multicolorida que estava em posse de um dragão do mar. Ele temia que sua ausência prolongada agravasse os problemas de seu país e que se morresse na empreitada, seu reino entraria em colapso. Então enviou alguns de seus súditos que garantiam serem capazes de realizar a missão, ele os proveu com muitos recursos e dinheiro e esperou durante anos.

Mas esse súditos também não foram, como no caso do terceiro príncipe, devidamente honestos. Não queriam arriscar suas vidas contra um monstro que provavelmente os mataria e gastaram todo o dinheiro com farras.

Percebendo-se traído, o príncipe ficou furioso, mas o desafio o subiu a cabeça e ele afirmou que se alguém tivesse que matar o dragão, teria que ser ele mesmo, então por fim partiu na jornada.

Com seu navio e seu capitão, navegou por locais onde havia relatos de um terrível dragão que destruía as embarcações, desafiando o medo de sua tripulação e do próprio capitão mas proseguindo corajosamente.

Um dia uma terrível tempestade atingiu seu navio, destruindo-o e lançando-os como naufragos durante anos pelas ilhas dos mares. Muitos marinheiros afirmaram ter visto o dragão na tempestade, mas quer fosse verdade ou não, durante esse período, o príncipe reconsiderou seus sentimentos por Kaguyahime, considerando um ultraje que ela o incumbisse de um missão tão improvável ou tão arriscada, que poderia por fim a sua vida e a segurança e ordem no seu país. Achou que a princesa não era então digna de sua admiração e passou a desgostá-la.

O quinto príncipe, ao contrário dos outros, desde o princípio assumiu plenamente o desafio, percorrendo o mundo em busca do pássaro que possuía uma concha na barriga. Muitas aves morreram nas suas tentativas de encontrar o objeto em seu ventre, ele desenvolveu vários métodos de localizar, capturar e examinar os pássaros, mas após muitos anos concluiu que a missão era impossível.

O príncipe então, admitiu seu fracasso, e em carta enviou suas desculpas a princesa, declarando-se incapaz de cumprir seu desafio e lamentado. A princesa lhe foi então conpreensiva e aceitou suas apologias.

Com a falha de todos os 5 príncipes, Kaguyahime, o taketori e sua esposa viveram tranquilos e felizes por uns tempos, como uma família unida. Mas as histórias sobre os feitos e falhas dos príncipes percorreram todo o Japão e chegaram ao ouvidos do imperador.

Este ficou então curioso e fascinado pelos relatos sobre a beleza da princesa, e se interessou em conhecê-la, enviando até seu pai então, um convite para que comparecessem a sede imperial.

Mas mesmo o convite do imperador foi rejeitado pela jovem, o que o irritou e o fez enviar então uma ordem convocativa. Temendo o imperador o cortador de bambu aconselhou à filha que obedecesse, mas ela surpreendeu a todos mais uma vez declarando que não obedeceria a ordem e que nem poderia, pois se se afastasse de casa, iria dissolver-se em fumaça e desaparecer.

Dessa vez o imperador não se enfureceu devido a justificativa, mas ficou ainda mais interessado, passaram então a trocar correspondências frequentemente e acabaram se tornando amigos, mas sempre adiando um oportunidade de se conhecer, enviando um ao outro poemas e contos. E assim, a família do taketori permaneceu em paz por muito anos a mais.

Mas chegou uma época em que Kaguyahime começou a entrar em depressão, seus pais constantemente a encontravam chorando sob a lua cheia. No princípio hesitaram em perguntar, mas como a situação se agravava cada vez mais insistiram numa explicação.

Chorando, ela lhes contou então que não era deste mundo, era na verdade da Lua. Fora enviada para ser a filha do casal por um motivo que ela ainda não conhecia, mas não seria para sempre. No 15o dia do 8o mês ela voltaria para a Lua.

Sua pais ficaram boquiabertos por um tempo, depois passaram a conversar. O taketori relembrou as incríveis circunstâncias em que ele a achara, o modo como cresceu rápido, sua extraordinária beleza, mas daí a acreditar que ela era da Lua? Ele achava que era demasiado fantástico. Mas ela reiterou que quer eles acreditassem ou não, naquela dita noite ela iria embora para sempre.

Ela escreveu ao imperador para se despedir, mas esse não respondeu, decidiu se deslocar até ela pessoalmente para presenciar e quem sabe impedir sua partida. Mobilizou milhares de soldados e partiu com quase toda a sua corte.

O dia chegou e Kaguyahime, já mais conformada com seu destino, dizia ao pai que nada poderia impedir sua partida, mesmo o imperador e seu exército não seriam capazes de deter as divindades que viriam buscá-la. Quando a Lua nasceu, as tropas do imperador simultaneamente chegaram. Ele ordenou que seu soldados cercassem a casa e apontassem suas flechas para o ar.

Então surgiram de uma nuvem no céu, diversas moças voando, tão belas quanto Kaguyahime, e todos ficaram paralisados, incapazes de fazer qualquer coisa. Vozes divinas anunciaram que o momento chegara, que era hora de partir.

Agradeceram o taketori e sua esposa por terem cuidado bem da pricesa que elas lhe enviaram, e que foram mesmo elas também que puseram todo o ouro que os enriqueceu, como forma de garantir que eles tivesse uma vida digna e pudessem criá-la. Como recompensa final, permitiram que ela lhes desse um último presente, uma jarro onde continha uma poção que poderia dar vida eterna a quem a bebesse.

Mas com toda a tristeza que os pais adotivos da moça sentiam, achavam que viver para sempre sem ela seria um castigo ainda maior do que estavam sofrendo agora, pois perdiam o gosto pela vida. A princesa tentou consolá-los, dizendo que sempre que olhassem para a Lua, poderiam vê-la.

Kaguyahime acendeu aos céus junto com suas semelhantes e sumiu em direção a Lua.

O taketori e sua esposa deram ao imperador a poção da imortalidade, mas este também se recusou a bebê-la, movido pelo mesmo sentimento dos pais da princesa. Ordenou que fosse feito então um sacrifício em homenagem a ela, e seus súditos despejaram no monte Fuji a poção, que aos poucos se desfaria em fumaça, rumo aos céus, de onde viera.

E lá, na boca da vulcão Fujisan, a poção da vida eterna evapora até hoje.

VARIAÇÕES SOBRE O MESMO TEMA

Além da versão anterior, há diversos outros desmembramentos da estória em outras versões das mais diversas procedências, mas os mais marcantes que notei foram os seguintes.

Variações no tamanho da princesinha quando achada no bambu, embora ela sempre caiba na palma da mão.

As pepitas de ouro achadas pelo taketori podem aparecer como moedas.

As atitudes dos 5 príncipes em suas aventuras variam, embora os defeitos que os levaram a falhar sejam basicamente os mesmos. Por exemplo: Em algumas versões o 4o príncipe, o que deveria tomar a jóia de um dragão, desenvolve após seu fracasso um simples mágoa contra a princesa, em outras um autêntico ódio, chegando as vezes a escrever uma carta a ela expressando sua indignação. O 1o príncipe em algumas versões leva um vaso em perfeito estado de conservação, em outras um vaso deteriorado como forma de simular sua antiguidade.

Em certas variações o imperador prepara uma autêntica operação de guerra para deter a partida da princesa, posicionando milhares de soldados e arqueiros, em outras ele apenas assiste passivamente o desenrolar dos fatos.

Os motivos da vinda de Kaguyahime à terra as vezes são ignorados e por vezes se alega alguma falta que ela teria cometido no mundo da Lua, vindo então por punição ou por aprendizado.

Os detalhes da chegada das entidades lunares a casa do cortador de bambu são tão variados que como autor deste trabalho me dei ao direito de interpretá-los a minha maneira.

A poção mágica as vezes é entregue diretamente aos pais adotivos da moça e por outras entregue indiretamente através dela. Em outros casos os pais a entregam de imediato ao imperador e em alguns é enviado meses depois. A há até uma versão onde ao invés do imperador ordenar seu despejo no monte Fuji, ou pessoalmente ir fazê-lo, é o próprio taketori em companhia do imperador que o faz.

Em algumas versões Kaguyahime, em vias de ser levada para o Lua, tem sua divindade plenamente restaurada, o que a faz perder o sentimentalismo humano em relação a seus pais adotivos, deixando então de sofrer pela separação embora ainda lhes seja grata. Esse fato, que ela já sabia de antemão, e bastante notável do ponto de vista do desprendimento as coisas terrenas na transcendência da matéria almejada no Budismo, como veremos na seção a seguir.

ANÁLISE HERMENÊUTICA

A chegada de Kaguyahime.

A estória começa com a vinda da princesa ao mundo, que não se deu de forma normal. A princesa da Lua é uma divindade, um ente sobrenatural e sendo assim "nasce" de forma diferente dos mortais.

Em praticamente todas as culturas, vir ao mundo de forma não convencional é pré-requisito básico para a divindade, ou pelo menos eventos incomuns que ocorram no nascimento. São elementos quase uniformes na maioria dos heróis, seres mitológicos, messias e demais pessoas especiais.

Todos os deuses do panteão Xintoísta assim como da maioria dos panteões de outras mitologias nascem das mais diversas e inusitadas formas, da parte do corpo de um deus anterior, através de uma ação criadora de características "astesanais", pela destruição ou mutilação de outra divindade, etc.

O grandes avatares da humanidade marcam seus nascimentos por eventos incomuns, Sidarta Gautama, o Buda, diz-se ter nascido já com a consistência de uma criança de 1 ano, já andava e cada vez que seus pés tocavam o chão, um flor brotava. Mahavira, o messias do Jainísmo, também Indiano, estivera no ventre de duas mulheres. Jesus Cristo vem da Imaculada Concepção e teve a Estrela de Belém como anunciadora de seu nascimento. Zoroastro, profeta do Zoroastrismo Persa, fora a única pessoa que nascera rindo ao invés de chorando.

Já Moisés, embora não esteja envolvido com eventos sobrenaturais a não ser uma profecia que o anunciava, passara ainda como bebê, por eventos marcantes, como o genocídio das demais crianças de seu povo, em semelhança a Cristo, e sua deportação em uma cesta, "moisés", através do rio Nilo, para que fosse achado por uma nobre. Uma história semelhante a de Hércules, o Filho de Zeus com uma mortal, que além de ter sido lançado a um rio ainda bebê, enfrentou e matou duas serpentes com sua força extraordinária.

Esses acontecimentos que resultam em heróis órfãos são tão marcantes que perduram até a atualidade. A maioria dos Super Heróis originais do século XX se envolve com algum acontecimento com relação a seus pais. O Super-Homem vem de um outro planeta e tem pais adotivos terrestres, Batman tem os pais assassinados quando criança assim como Robin, o Homem Aranha não só já não tinha pais como seu tio também fora morto por um criminoso, a Mulher Maravilha é uma semi deusa, Flash tem na morte do irmão mais velho e ídolo, o motivo para combater o crime. Todos esse personagens sofrem a perda de entes queridos em conformidade com o momento em que adquirem seus poderes ou uma experiência traumática. Parece ser um obrigatoriedade que o herói tenha os pais genitores ausentes, como se isso o tornasse menos restrito a um família mas sim aberto a toda a comunidade.

Voltando as divindades, Kaguyahime também possui sua origem incomum e marcada por eventos fantásticos, uma espécie de atestado de sua natureza especial, mas por outro lado não deixa também de ser uma espécie de alegoria. Toda criança ao nascer, quando bem vinda, é uma "dádiva dos deuses", de beleza tão incrível e capaz de emocionar tão intensamente como a princesa nascida de um bambu.

Alegorias como essa foram usadas durante muito tempo, e as vezes ainda são, como forma de ocultar das crianças a realidade de sua origem biológica. Em parte pela mácula associada ao parto, principalmente pelas culturas mais fatalistas, que seria inadequada ao conhecimento infantil.

A velha cegonha que o diga.

E mesmo as pessoas comuns possuem sua cota de especialidades acontecidas em seus nascimentos, o que resta para os "mortais" para diferenciá-los dos outros por exemplo é o signo astrológico, uma espécie de identidade que envolve o momento do nascimento. Ainda que em escala menor, trata-se de um "evento cósmico" que ocorre durante a vinda de alguém ao mundo. Além disso, muitos são aqueles que se orgulham de terem nascido em momentos onde coincidentemente tenha ocorrido algum fato extraordinário, quer seja um evento histórico marcante ou um fenômeno natural como um trovão por exemplo.

Há um necessidade humana de ser especial, e essa especialidade começa no nascimento, com as divindades não será diferente.

A Princesa Luminosa

Como convém a uma divindade, Kaguyahime também apresenta desenvolvimento anormal. Seu crescimento se dá cerca de 60 vezes mais rápido do que o de uma pessoa comum, no caso 3 meses em conformidade com o tempo de crescimento de um bambu.

Ela é cercada também de uma aura luminosa. Um brilho místico é uma característica corrente nos seres divinos principalmente na cultura oriental, onde o termo "iluminado" é mais comum, mas mesmo também na ocidental. A auréola dos santos europeus por exemplo é mais uma manifestação dessa natureza de "coroação" divina, da mesma forma que os discípulos que através de uma vida voltada a espiritualidade, transcendem os limites da matéria, como proposto no Budismo.

Os seres divinos apresentam nessa aura algumas peculiaridades. Ela é por vezes um atestado de sua super vitalidade, na cultura indiana acredita-se no aspecto de prana-bindu, ou "energia vital", que é um tipo de aura que envolve todos os seres vivos. Apenas pessoas especiais podem "ver" essa aura que para a maioria é invisível, de modo por exemplo a identificar apenas pela sua cor ou sua oscilação, qualquer efermidade que esteja a se abater no organismo. Como os seres divinos são imortais ou pelo menos super vitalizados a ponto de jamais adoecerem, é compatível com o nível de energia de sua aura que ela passe para o espectro visível mesmo aos olhos da pessoas comuns, tamanha sua intensidade.

Como Kaguyahime é uma divindade "caída", ou seja, vinda à terra, é normal que sua luminosidade não seja tão intensa como a de seres equivalentes a anjos por exemplo. Na mitologia grega e na hebráica, certos anjos são tão brilhantes que ofuscam a visão dos mortais, forçando-os a proteger os olhos. Diz-se que se um deus do Olimpo se manifestasse perante um mortal em toda a sua plenitude, o desintegraria tamanha é sua emanação de energia. O mesmo ocorre com o deus mesopotâmico Jeová, cuja simples aparência plena desintegra montanhas.

A prostração dos humanos perante esses seres e algo então natural e inevitável.

Quando adulta Kaguyahime por desenvolver beleza sobre humana, não pôde deixar de atrair fortemente pretendentes, ainda que permanecesse de certa forma enclausurada. Mas por se tratar de uma entidade incomum, seus pretendentes também não poderiam ser comuns.

A princesa da Lua é muito mais que uma simples mulher, ou seja, não é para qualquer homem, talvez sequer para qualquer mortal. Ela é uma espécie de prêmio inatingível no plano terreno. Para disputá-la surge então uma elite, a nata da humanidade, príncipes da mais alta linhagem.

Mas logo ficará evidente que mesmo a nobreza humana está abaixo do nível mínimo de qualidade exigido pela divindade, pois nenhum deles será capaz de atingí-la. Ao propor-lhes tarefas virtualmente impossíveis, a princesa expressa o símbolo de sua inalcansabilidade para os mortais, a não ser que estes realizem feitos tão extraordinários que merecam consideração super humana, numa alegoria por exemplo ao caminho para iluminação quer seja pela "via dos deuses" xintoísta ou pelo caminho do equilíbrio budista.

A princesa da Lua é então mais uma manifestação do arquétipo da feminilidade sagrada, a Anima para o homem. A união transcendental é também uma constante nos caminhos para a iluminação. Ela representa o equilíbrio, a fusão entre os opostos, que se reunem numa forma transcendente a realidade como simbolizado pelos aspectos Yin e Yang no TAO.

A lenda de um príncipe que busca uma princesa é um das mais vivas representações míticas dessa busca. É o símbolo da jornada humana na busca da união interior, onde a parte masculina corre para conquistar, na verdade ser aceita, pela sua contraparte feminina.

As jornadas por terras distantes, lutas contra feras terríveis e busca de tesouros sagrados são as inúmeras manifestações externadas de realidades interiores das quais Todos os seres humanos compartilham. Tanto homens quanto mulheres possuem os dois aspectos psiquícos, e nesse universo interior existe uma busca mesmo que inconsciente por uma união interna. Tal busca pela plenitude representa o objetivo máximo da existência e se manifesta das mais diversas formas possíveis.

Vivemos essa aventura quando projetamos nossa contraparte, quer seja a Anima feminina ou o Animus masculino, em uma outra pessoa, fundamento do amor romântico, do sentimento de Eros. Infelizmente a nossa pouca capacidade de distinguir nossa projeção inconsciente com a pessoa em quem a projetamos invariavelmente nos leva as terríveis desilusões amorosas. Também ocorre quando projetamos tal contraparte numa figura religiosa, força motriz da dedicação a uma vida de fé. E mesmo outros objetivos aparentemente não relacionados, nos atraem por oferecer uma espectativa de plenitude, como se fosse a conquista de algo que nos falta ou a reconquista de algo que nos foi tirado.

Os desafios dos príncipes são representações dessa busca, apresentando peculiaridades como as que veremos a seguir.

Os 5 Príncipes

Os números exercem fascínio nos seres humanos desde o momento que os fundamentos matemáticos se desenvolvem numa cultura. Alguns números parecem possuir conotações sagradas por natureza.

O 1 é o Uno. A divindade, transcendência. O Tao.

O 2 é a divisão do Uno. No Taoísmo os apectos Yin e Yang. A dualidade fundamental do mundo físico.

O 3 é a tríade, a trindade formada pelo 2 e o Uno.

O 4 é o quarto aspecto oculto da tríade. O Uno é tudo, o 2 são os elementos separados, o 4 o que não é nem um nem outro. Ou mesmo a consequente subdivisão do 2.

A partir daí as conotações numéricas começar a se diferenciar de cultura para cultua. Na ocidental, números muito recorrentes principalmente na Cabala Judáica são o 7 e o 12. Já na cultura oriental há uma recorrência dos números 5 e 8.

No ocidente temos os 7 pecados capitais, 7 notas musicais, 7 cores do arco-íris e etc.

Temos os 12 meses do ano, os 12 apóstolos, os 12 trabalhos de Hércules, e devido a sua conotação divina sendo tido pela Cabala como o número perfeito, sua degeneração é o 13, de conotação maligna.

No oriente considera-se apenas 5 notas musicais, escala pentatônica, que pode ser observada se tocarmos apenas as teclas pretas de um piano, o que resulta nas típicas músicas orientais. Também conta-se regularmente 5 cores fundamentais, como a própria jóia que deveria ser resgatada pelo 4o príncipe mostra, também são 5 as divindades originais do Xintoísmo e os 5 Animais Sagrados chineses.

Há também os 8 aspectos do trigrama taoísta, que influenciam a forma óctupla da mandala, a lenda dos 8 samurais, apesar dos 7 samurais de Kurosawa já influenciados pelo ocidente, os 8 preceitos de Buda, e os 800 mil deuses últimos do Xintoísmo.

O 10 ocorre similarmente tanto no oriente quanto ocidente, na forma dos 10 mandamentos e os 10 avatares hindus por exemplo. Mas nesse caso devemos lembrar que o imprevisível curso da evolução humana quis que o homo sapiens tivesse 10 dedos, base de todos os sistemas decimais do mundo, que lhe confere alguma importância como número.

Os signos do zodíaco são 12 tanto na astrologia ocidental quanto oriental, mas este também se baseia em aspectos da natureza, como as 12 fases lunares no ciclo de um ano em relação as 4 estações, e assim a posição zodiacal celeste. O processo de transferência de 12 signos num ano para 1 signo a cada 12 anos é algo que ainda pretendo investigar.

Mas o ponto que considero mais notável relacionado a esse conto é o dos Elementos.

Desde a Grécia antiga o ocidente convive com a idéia filosófica dos 4 elementos Terra, Água, Ar e Fogo, como sendo fundamentos constituintes da matéria juntos ou separados. Mas também haveria um certo 5o elemento, o Éter, a Quintaessência ou o Espírito dependendo do caso.

Já na filosofia oriental ocorre a idéia clara dos 5 elementos, mas não como constituintes da matéria e sim como aspectos integrantes da natureza num ciclo de interdependência.

Ao contrário dos gregos, os orientais em momento algum privilegiaram um elemento sobre o outro, elevando sua importância como Tales de Mileto fez com a Água, Anaximénes de Mileto com o Ar, Heráclito de Éfeso o Fogo e assim por diante.

Nos 5 elementos orientais, o Ar não é considerado, e adiciona-se a Madeira e o Metal, sendo então:

O pentágono externo representa as relações harmônicas, construtivas, entre os elementos. O pentagrama interno em cinza representa as relações desarmônicas, destrutivas.

O ciclo de relações harmônicas se baseia na emanação de um elemento de um outro, para quem não está acostumado a certas peculiaridades da cultura oriental pode ser difícil de entender tais relações de geração.

O METAL gera ÁGUA! Devido a sua capacidade de condensar gotículas líquidas de vapor tal como uma lâmina de vidro. Ao mesmo tempo se torna líquido se aquecido, e ainda pode-se considerar o mercúrio, um metal líquido. A ÁGUA é vital para o nascimento da MADEIRA, os vegetais. Da combustão da MADEIRA nasce o FOGO, das cinzas do FOGO vêm TERRA, além da lava vulcânica que é rocha em estado líquido. E da TERRA naturalmente se extraí o METAL.

Já as relações destruitivas se baseiam no fato da ÁGUA extinguir o FOGO, que derrete o METAL, que como lâmina corta a MADEIRA, cujas raízes em excesso empobrecem a TERRA, que com sua geografia limita os cursos de ÁGUA e a absorve para as profundezas.

Os 5 princípes recebem desafios que estão relacionados claramente com os 5 elementos, e apenas em um essa relação não é tão explícita.

O Primeiro deve resgatar um Vaso de Cerâmica de dentro de uma Montanha, ambos elementos da TERRA.

O Segundo deve procurar uma árvore de ouro e prata, METAL.

O Terceiro deve trazer a pele do Rato de FOGO.

O Quarto deve obter a jóia de um dragão atravessando os Mares. ÁGUA.

O Quinto deve achar um certo pássaro, o que a princípio não parece se relacionar com um elemento, mas em várias versões do conto é explicitado que ele precisou subir em várias árvores e penetrar nas mais diversas florestas, fazendo muitas armadilhas de MADEIRA.

Embora não tenha encontrado outras versões onde os desafios dos príncipes tenham surgido numa sequência diferente, não creio que essa ordem seja vital para a fábula.

O modelo construtivo dos 5 elementos segue a sucessão TERRA, METAL, ÁGUA, MADEIRA e FOGO.

O modelo destrutivo segue a ordem do pentagrama como TERRA, ÁGUA, FOGO, METAL e MADEIRA.

Na estória a ordem não seque qualquer uma delas, sendo TERRA, METAL, FOGO, ÁGUA e MADEIRA.

Mas de qualquer modo se a ordem não seque o ciclo construtivo, fatalmente acabará por gerar um ciclo destrutivo, mesmo que apenas o FOGO esteja fora de lugar.

Arrisco dizer que caso os desafios tivessem sido vencidos, eles talvez surgissem na ordem construtiva, se estivessem na ordem destrutiva cíclica um bom filósofo oriental que ouvisse o conto pela primeira vez, perceberia de imediato que o destino dos príncipes era o fracasso, pois dificilmente tal ordem se apresentaria por acaso.

Portanto uma ordem inusitada geraria dúvida antecipada no filósofo, principalmente por alterar a posição apenas de um elemento, mas mesma assim é possível inferir logo de imediato, a tendência ao desequilíbrio.

Mesmo que essa proposição seja uma especulação bastante ousada, tenho certeza que há algo disso por trás da presença clara dos 5 elementos no conto.

Mas não são apenas os Elementos que estão presentes na alegoria dos 5 príncipes, também está exposta uma espécie de exemplificação de diferentes tipos de más condutas, "pecados". Cada um dos pretendentes falha por cometer basicamente um delito específico.

O Primeiro peca pela PREGUIÇA, não se dispondo a ir cumprir sua missão e optando por uma farsa, mas ele sequer se empenha em realizar uma bem elaborada, pecando também nesse intento novamente pela Preguiça.

O Segundo também não estava disposto a partir em busca de seu objetivo, mas investiu numa falsificação bem forjada, que lhe consumiu recursos e tempo. Desse modo sua falha predominante e a própria FALSIDADE. Além disso sua fraude foi desmascarada devido a sua falha com relação aos artesãos que contratara para produzir o galho fraudulento, ele ainda não quitara seu débito com os mesmos, talvez tendo mesmo a intenção de enganá-los, o que reforça seu pecado pela Falsidade.

O Terceiro também possui um componente de preguiça, mas se dispôs a financiar devidamente uma expedição em busca de seu objeto alvo, recompensando adequadamente os homens que contratara após lhe trazerem seu encomenda. No entanto ele pecou pela Ingenuidade, Tolice, ao se deixar ludibriar pelos mesmos, sendo então ele próprio a vítima de um embuste. Sua falha talvez seria a INDOLÊNCIA em se deixar tripudiar tão facilmente.

O Quarto partiu para cumprir sua missão com disposição e coragem, mas ao fracassar não foi capaz de admitir sua incapacidade, taxando a missão de impossível, absurda, pecando então por ORGULHO e IRA, ao desenvolver um sentimento de revolta contra a princesa.

Já o Quinto foi o que mais se empenhou no cumprimento de sua tarefa, mas após anos de árduas tentativas admitiu sua impotência perante a excessiva dificuldade da missão. Diferente do anterior ele não se revoltou contra a princesa, pedindo-lhe desculpas e sendo em contrapartida perdoado e merecedor de alguma consideração. Se cometeu algum pecado, seria talvez pelo DESÂNIMO, simbolizado por sua desistência ainda que perante uma missão quase impossível.

Se o número 7 das notas musicais e das cores do espectro é no oriente reduzido para 5, talvez quem sabe o mesmo poderia se dar com o pecados, mas isso é apenas uma suposição. Além do mais existem na realidade 12 notas musicais, na verdade 12 semi-tons da escala cromática. Na cultura ocidental a maioria dos semi-tons é agrupada em 5 tons e restam 2 semi-tons, resultando nas 7 notas. Na cultura oriental os semi-tons são postos como secundários, priorizando apenas os 5 tons, razão pela qual sua escala é de apenas 5 notas.

O número 5 então é bastante recorrente na cultura oriental, me lembro de vários filmes de ação onde ocorriam 5 ninjas, 5 demônios ou 5 monges guerreiros por exemplo. Até a atualidade pode nos mostrar isso, principalmente na fartura dos clones de seriados Sentai: Changeman, Maskman¸ Goggle 5, etc. Onde 5 heróis vestindo roupas coloridas enfrentam monstros e vilões. Existem mais de 20 seriados deste tipo no Japão, é o número de integrantes é sempre 5. Foi preciso uma versão norte-americana, os Power-Rangers, para quebrar essa tradição, acrescentando mais um integrante.

Os Elementos também possuem sua versão óctupla nos 8 trigramas do Taoísmo, o Pakua.

No meu ponto de vista os sucedidos com os 5 príncipes no conto de Kaguyahime, é o ponto oriental mais típico de toda a fábula.

A Extraterrestre Kaguyahime

Sendo uma divindade, a princesa não se submeteu sequer ao imperador do Japão, que seria no máximo um descendente distante de uma divindade, e este também não se dispôs a tentar subjugá-la, desenvolvendo então uma respeitosa e distanciada amizade mantida através da troca de correspondências poéticas.

Embora a cultura humana esteja repleta de citações de entidades celestiais, Kaguyahime é uma das primeiras citações da história a um ente que vivia num outro corpo celeste específico, no caso a Lua. Isso configura sua natureza extraterrestre de uma forma mais compatível com o conceito de ETs da atualidade.

Lembremos que na antiguidade, principalmente na Grécia antiga, a Lua era considerada um planeta. Era de qualquer modo um outro mundo além da Terra. Em outras versões da estória também são descritos veículos usados pelas entidades lunares no momento do resgate da princesa. Deslocamentos de veículos a nível interplanetário é uma característica que só veio a surgir amplamente no imaginário popular no século XX.

A origem de além da Terra é outra exigência de boa parte das divindades. Superam o simples plano físico ao alcance das pessoas normais. A princesa da Lua é então uma exilada de um plano superior, como o foram Adão e Eva expulsos do Éden, mas essa condição é temporária e seu retorno está previsto, assim como o de Jesus Cristo.

Esse estado lhes confere grande superioridade em relação ao terrestre, tanto que nem mesmo os exércitos do imperador puderam se opor a tais entidades. Na versão que utilizei nesta monografia, tratava-se de deusas, que imobilizaram os soldados com sua simples presença. O combate entre os humanos e os seres celestiais é então impossível, e a tranquilidade do retorno de Kaguyahime à Lua está garantido. Na seguinte forma.

O Resgate da Característica Divina

Para que pudesse habitar a Terra, Kaguyahime precisou com certeza perder parte de sua divindade, e essa parte precisa ser restaurada para que ela volte a habitar o mundo lunar. Suas conterrâneas lunares então se encarregam de lhe devolver aquilo que lhe foi temporariamente tomado.

A princesa, assim como seus pais adotivos, estava sofrendo muito com a expectativa da partida e do retorno à Lua, mas um ponto interessante é que em algumas variações da fábula, ela perderia esse sentimento assim que sua natureza deífica fosse recuperada. No entanto a princesa não quer que isso aconteça, sofrendo também com a perspectiva de parar de sofrer, apegada então ao sofrimento.

Essa é uma característica notável do conto, pois se relaciona com o caminho da libertação da roda do sofrimento pregado pelo Budismo. O que mais nos aprisiona nessa roda é justamente nosso próprio apego a ela, o Desejo, por acreditarmos que é a única coisa que temos.

Enquanto é uma mortal, ou no caso semi-deusa, Kaguyahime não faz uma idéia clara de como é a vida na Lua, ela a ignora e por conseguinte a teme, lamentando deixar seu mundo terreno. Além disso seu sentimento em relação aos seus pais adotivos é algo valioso, e ela considera que seria como que se os desprezasse se parasse de sofrer pela separação. Assim ocorre com todos nós, somos apegados ao mundo material, as outras pessoas e ao próprio sofrimento, por dar-lhe um valor sentimental.

É um dos pontos dos ensinamentos budistas, e místicos em geral, mais mal interpretados pelos leigos. De que a transcendência do mundo material representa um certo desprezo pelos que permanecem no mudo de causa e efeito vicioso. Trata-se de uma percepção superficial do ensinamento pois embora o iluminado não mais sofra com os acontecimentos ocorridos entre os mortais ainda lhe resta a Compaixão, ele passa a senti-los com um apreço ainda mais profundo, um amor incondicional. Mas tal amor é universal, não dirigido a um só ponto como geralmente gostamos que seja desde que tal ponto esteja em nós. Esse sentimento arraigado de apego, esse desejo pelas coisas particulares em detrimento das universais, vem da Semente de todo o Mal, a Ilusão da Separatividade.

Entretanto uma má interpretação deste fenômeno, recorrente em diversas culturas, também está presente nessa estória, talvez por distorção temporal ou por má percepção do mesmo. Kaguyahime de fato ao restaurar sua divindade deixa de lado o sofrimento, mas aparenta uma postura de desconsideração por seus pais adotivos.

Esse é o momento no qual a estória se torna trágica, devido ao destino dos que ficam, principalmente o Cortador de Bambu, sua esposa, e o Imperador. As divindades lhes oferecem uma recompensa inimaginável, uma poção de vida eterna, uma oportunidade perseguida pela humanidade há milênios, mas eles simplesmente a desprezam! O taketori chega a dizer que preferia nunca ter achado a princesa e usufruído de tantas alegrias, do que sentir a dor de perdê-la agora, ele despreza não só as riquezas materiais, suas memórias felizes e sua experiência, mas recusa a própria vida, que é simbolizada pela poção da imortalidade. Viver eternamente então lhe seria insuportável.

E nessa disparidade de sentimentos que se encontra a incrível dissonância do drama humano, ao mesmo tempo que existe um apego ao sofrimento, por outro lado existe uma rejeição de se viver com ele, é um cruel paradoxo que torna a vida intolerável. Chega-se a desenvolver uma espécie de niilismo em oposição ao objetivo maior da transcendência para o Nirvana. Se o estágio máximo da felicidade para o Budismo é a aniquilação evolutiva dos elementos inferiores, nesse sentimento terminal há um desejo de aniquilação involutiva.

Um similar sentimento toma conta do imperador, embora ele não sofra tanto quanto o pai adotivo da princesa, também não se acha digno do prêmio.

Em minha opinião isso representa uma espécie de postura de assumir a própria incompetência em se buscar a escapatória da roda do sofrimento, a admissão do fracasso em transcender o mundo físico. A maioria dos fiéis de qualquer religião ignora o exemplo de seus messias, simplesmente dando as costas ao conteúdo mais nobre e mais profundo de sua mensagem, que é o exercício ou a meta de se atingir o amor incondicional.

Essa mensagem está expressa na famosa Regra de Ouro das religiões, que se expressa como:

"Não firais aos outros com o que vos fere" - Budismo

"Nenhum de vós sois um crente até devotar pelo próximo o amor que devota a vós mesmos" - Islamismo

"Não façais aos outros o que se fosse feito a vós, vos causaria dor" - Hinduísmo

"O que não queres que vos façam, não façais aos outros" - Judaísmo

"Ame a teu próximo como a ti mesmo e a Deus sobre todas as coisas" - Cristianismo

Todas essas frases dizem a mesma coisa, pregam o amor incondicional e universal. Mas as pessoas no fundo admitem sua incompetência em seguí-las, embora persistam por vezes nos seus sistemas religiosos negligenciando seu ensinamento máximo, e substituindo-o por devoções desmedidas, adoração ou fanatismo.

Quando o Imperador ordena que se despeje a poção da imortalidade no Monte Fuji, ele reconhece a grandeza da mesma, mas admite não ser adequado para compartilhá-la, rendendo-lhe então uma homenagem.

É o que faz a maioria dos fiéis, reconhecem a grandiosidade da mensagem máxima, mas assumem que ela não é para eles, se recusam então a beber da poção da vida eterna, prestando-lhe apenas homenagens, representadas pela devoção mecânica a suas figuras religiosas.

Essa sim é a grande tragédia da vida, o sentimento de se achar incapaz de buscar a iluminação embora se admire-a, a contentação em apenas contemplá-la superficialmente apegando-se e identificando-se com o sofrimento.

De uma certa forma Kaguyahime também é uma micro representação da vida de qualquer humano mortal, que segundo o Cristianismo tem sua origem divina procedente do Éden, no Taoísmo procedente do Tao, no Gnosticismo procedente do Absoluto. Entram na esfera terrena onde têm a oportunidade de retornar ao seu estado original, de recuperar sua divindade, mas invariavelmente ficam apegados ao plano físico, preferindo se agarrar ao desejo e sofrimento, esquecidos de sua fonte sagrada, tal qual Kaguyahime estava agarrada ao mundo terreno, esquecida de sua origem lunar.

Num certo sentido, é a história divina de todos nós.

CONCLUSÃO

Pela primeira vez em minhas passagens por disciplinas sobre cultura oriental posso dar uma monografia por terminada. As anteriores sobre o Xintoísmo e sobre a Guerra do Pacífico ficaram carentes de mais aprofundamento ou mesmo de maior amplitude de investigação devido a falta de tempo. Nesse caso, embora possa-se sem dúvida acrescentar muito mais, não creio que o assunto careça de um aprofundamento direto muito maior

Creio ter sido capaz de mostrar pelo menos uma coisa, que há muito mais do que comumente se pensa nos contos de fadas e estórias do imaginário popular. Eles são, tenho certeza, ricas fontes de informação sobre cultura locais ou mesmo sobre uma possível cultura em comum de toda a espécie humana, além de revelar também aspectos individuais.

Muitos elementos valiosos relacionados a mística humana parecem ser mais facilmente encontrados na cultura oriental, a meu ver por que ela não sofreu um ruptura estrutural tão violenta quanto a imposta pelas religiões monoteístas mesopotâmicas. Seus elementos místicos intuitivos, que considero inatos e legítimos no ser humano, permaneceram sem grandes traumas, sem as manchas estigmáticas do Pecado Original, de um pseudo Livre-Arbítrio e de uma perspectiva de Danação Eterna após um única chance no plano físico.

Gostaria de ter conseguido dar um exemplo de como se pode usar abordagens filosóficas para extrair significados e conceitos não evidentes de uma fábula, percebendo nisso uma riqueza de informações e símbolos muito mais profunda e abrangente.

Tais possibilidades abrem novas portas para o conhecimento, são a prova de que muito do que precisamos e queremos saber pode estar logo abaixo de nossos olhos. Enquanto bilhões de pessoas fazem perguntas tolas sobre o sentida da vida, o segredo do universo ou a verdade divina, ignoram que as respostas JAMAIS serão dadas abertamente de forma literal, como se uma simples frase pudesse resumir um significado tão importante. Mas por outro lado, os instrumentos para que se consiga tais respostas estão em todo lugar, disponíveis a todos, mas eles são apenas instrumentos, pois a resposta devemos buscar por nós mesmos.

Espero também ter, logo na introdução, levantado a questão a respeito dos componentes trágicos dos contos populares, marcadamente presentes nas fábulas e canções infantis. Creio que poderia tal característica, ter origem na inconformidade humana típica com relação ao mundo físico, que acaba sendo passada para o imaginário popular ou segundo os Jungianos, para o Insconsciente Coletivo, juntamente com inúmeras outras significações. Mas é claro que isso é apenas uma suposição pessoal.

O objetivo desta monografia foi então, fazer uma releitura de uma estória clássica tentando extrair seus significados ocultos, dentro do prisma da cultura oriental.

Faço votos para que o tenha conseguido.

Marcus Valerio XR

Bibliografia:

MAGEE, J. Robert., Japanese Fairy Tales 1. Yohan Publications, Inc. Tokyo, Japan. 1995

GOLDKORN, Roberto B. O., Feng Shui para Brasileiros. Editora Campus, Rio de Janeiro RJ. 1999

Páginas Web

kaguyahime

http://www.geocities.co.jp/playtown-denei/8744/kaguyahime.html

Kaguyahime (Princess of the shinning night) Japanese Folktale

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The Story of Kaguyahime

http://ww2.gol.com/users/michaelo/kaguyahime.html

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(KUMUSTA) Kaguyahime

http://kumusta.com/online/kaguya/j_kaguya01.htm

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http://www.greenwichnj.org/wwwprojects/emi_project/jap-text/kaguyahime.html

KAGUYAHIME is a immortal story

http://www.educ.ls.toyaku.ac.jp/~s978026/project.html

Five Elements Information Page

http://home1.gte.net/gfmarkee/five.htm

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