DISPUTA SEMÂNTICA

Postado e discutido anteriormente no Facebook

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Quando alguém que apoia abertamente o casamento homossexual e o direito aos casais homossexuais de adotarem crianças e gozarem de todos os benefícios legais, ainda assim desperta a ira dos homossexualistas pelo simples fato de insistir em distinguir o conceito de família, como uma unidade reprodutiva, das demais uniões afetivas absolutamente não reprodutivas, mesmo que isso em nada afete os legítimos direitos desta últimas, fica então evidente que o que está em jogo nada tem a ver com direitos, mas sim com uma batalha semântica.

Parece ser mais importante redefinir os termos até sua completa inoperância do que garantir que pessoas tenham direitos reconhecidos, e para compreender porque isso é tão crucial para essa linha de pensamento, é inevitável explorar um pouco dos conceitos de Filosofia Analítica e Estruturalismo.

Sempre existiu na humanidade uma certa crença mística no poder das palavras, presente nas concepções primevas de que saber o nome de algo dá poder sobre o mesmo, permitindo feitiçarias. A noção de "palavras mágicas", que criam a realidade pelo simples pronunciar. O Logos Gerador, o Verbo Criador, onde Deus "assim dizendo", assim se realiza. Os nomes proibidos, misteriosos, que somente os iniciados podem conhecer ou pronunciar. Enfim, uma miríade de misticismos nômicos.

Mas o pensamento racional deu pouca atenção a essa noção. Por mais de 2 mil anos os filósofos consideraram que as palavras apenas apontavam para realidades independentes. Idéias perpétuas, entes universais que eram apenas parcial e precariamente veiculados pela linguagem.

Somente no Século XX essa noção veio de fato a ser questionada, com a idéia de que palavras são mais que meras representações imperfeitas de realidades externas, e que são, sim, capazes de criar a realidade, estipulando conceitos, produzindo um universo simbólico e construindo a realidade cultural que se transforma em realidade concreta.

Pensadores como Gottlob Frege, George E. Moore, Bertrand Russel e Ludwig Wittgenstein instituíram o que hoje chamamos de Filosofia da Linguagem, praticamente indistinguível da Filosofia Analítica.

Já pensadores como Ferdinand Saussure, Michael Foucault e Jacques Derrida, ajudaram a edificar o Estruturalismo, que se misturando com Positivistas Lógicos, Marxistas e outras tendências, em resumo, propõem mais ou menos que a realidade é fortemente influenciada, se não totalmente construída, por uma cadeia de símbolos e relações de significados linguísticos, e que as simples edificações de conceitos, por meio de novas palavras, bem como a supressão de outros pela dessignificação de palavras usuais, tem potencial crucial para redefinir o próprio mundo.

Você pode nunca ter ouvido falar de nada disso, mas é exatamente o que está em jogo nessa disputa de significados proposta por homossexualistas, feministas e outras abordagens que flertam com o "politicamente correto". A ideia de que é preciso ressignificar os termos para "desconstruir" a realidade, e depois por meio de uma nova semântica, edificar uma nova. Aquilo que os críticos apelidaram orwellianamente de "Novilíngua".

De fato, é muito difícil negar que existe um grande poder constitutivo nas palavras, visto serem elas nosso portal de acesso ao universo cultural. Mas existe nítido exagero na esperança em que é possível redefinir a realidade pela simples manipulação linguística, uma vez que estamos fortemente ancorados numa realidade física pré-linguística, fato que os culturalistas costumam negar ferozmente, não raro crendo na absoluta ausência de algo fora do âmbito da linguagem.

Por essa linha de pensamento, alterar a realidade pressupõe a necessidade incontornável de dominar o pensamento, e para isso é preciso controlar por completo o plano linguístico. A grande maioria dos militantes que vivem hasteando bandeiras com palavras de ordem, claro, não faz a mínima idéia de sobre que tipo de sistemas de pensamento estão se fundamentando, e nem essa é a função deles. Agem apenas como soldados rasos obedecendo ordens de um comando invisível que já pensou em tudo isso muito antes deles verem a luz pela primeira vez.

E esse comando, embora tenha uma noção bem melhor do que pretende e de como funciona o mundo, também está enfrentando uma severa crise intelectual, já tendo se dado conta da larga inadequação de seus pressupostos teóricos à realidade que querem transformar.

Mas tudo isso é irrelevante para seus financiadores, que muito menos crédulos em fórmulas mágicas e ideologias salvadoras, sabem apenas que a confusão que isso gera lhes é útil, razão pela qual injetam bilhões de dólares (acreditando mais na força dos números que das palavras) de suas fortunas por meio de Fundações, ONGs e órgãos governamentais fazendo com que milhões de ativistas panacas jurem estar lutando contra a opressão, especialmente a capitalista, ao mesmo tempo que os ajudam a ficar mais e mais poderosos e endinheirados.

* * *

Esse reflexão se aplica diretamente a uma postagem de 28 de Maio que fiz sobre o conceito de 'família', originalmente no FACEBOOK (https://www.facebook.com/MarcusValerioXR/posts/10203987000258335), que gerou uma notável discussão.

E que muito posteriormente, teria sua essência repercutida nacionalmente por um de nossos lastimáveis debates presidenciais, quando Levy Fidélix, ainda que de forma grosseira e chula, evocou basicamente o mesmo princípio conceitual intrínseco ao ironizar o casal gay pela máxima "orgão excretor não reproduz", e outras, despertando assim a fúria da militância homossexualista.

De fato, poderia se ter dito algo equivalente de forma muito mais elegante, clara, e mesmo simpática, mas no que se refere ao resultado eu não creio que faria diferença. O que revoltou sobremaneira o PSOL e demais simpatizantes da causa foi o simples fato dele ter se atrevido a apontar a realidade, o que é intolerável para quem está se esforçando em nublá-la o máximo possível.

Quando se está investindo tamanho e sincero esforço nas roupas invisíveis do rei, gastando bilhões de dólares em campanhas e métodos sofisticados de controle de massas de militantes que se dispõem a trabalhar de graça para quem poderia lhes pagar muito bem, vir alguém simplesmente declarar o fato óbvio de que o rei está nu não é algo que possa ser perdoado.

Dito resumidamente, a conceituação que estrutura a frase do pastor foi óbvia, como eu mesmo disse, ela é, dita de forma simplificada: "Minha senhora, Família só faz sentido como uma unidade reprodutiva. Um casal homossexual não pode se reproduzir, logo, não é uma família." E isso sem sequer entrar no mérito dos direitos em si.

Marcus Valerio XR

23 de Agosto de 2013


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