O MOTIVO EMOCIONAL

Houve tempos em que eu via o mundo, os seres humanos, com certa revolta. As pessoas me pareciam egoístas, vaidosas, despreocupadas com o bem estar alheio, separadas de si próprias e de tudo.

Isso me trazia desgosto.

Compartilhando uma visão depressiva herdada de certas influências místicas e filosóficas, pensava nos humanos como seres desprezíveis, afastados de uma plenitude habitada por seres divinos e transcendidos. E o pior, os seres humanos eram em sua maioria, desprezíveis por escolha. Queriam ser assim.

Não conseguia ver nenhuma outra razão para um mundo em estado tão deplorável, que não fosse a total incompetência humana para a felicidade, quer fosse por covardia, maldade ou ignorância.

Compartilhava de um Complexo de Paraíso Perdido, achando que havíamos deixado algo num longínquo passado por nossa própria falta, e para completar possuía o natural desmembramento dessa "patologia" psicológica, o Complexo de Juízo Final, que me levava a crer que a única esperança no futuro era uma mudança traumática, um acontecimento apocalíptico, que pela força, endireitaria o mundo eliminando a maioria dos seres humanos que por uma justiça divina seriam separados tal como joio e trigo, deixando a Terra para os humanos de boa vontade.

Os bons herdariam o Mundo.

Após algumas incursões nos terrenos da especulação e investigação filosóficas, de cunho superficial, mantinha ou por vezes mesmo reforçava meu ponto de vista, até que nos estágios finais de meu amadurecimento para a idade adulta, de 25 a 30 anos, tive o que gosto de me referir como sendo, saltos de consciência.

Tais saltos abriram minha mente de forma que eu jamais esperava, fomentações internas que foram despertadas por agentes externos, derrubaram de uma só vez barreiras e obstruções que inibiam minha mente, essência ou espírito, que eu não derrubara em quase ¼ de século.

Num certo dia tive algo que por vezes me parece como uma "iluminação".

De repente, uma terrível grilhão psicológico que me acorrentou durante toda a vida, foi exposto e severamente danificado, não sendo totalmente rompido mas deixando claro qual era o caminho para a superação, para uma amplitude, para a felicidade. Foi como se de repente alguém preso durante anos numa cadeira de rodas, ainda que bastante versátil, pudesse se levantar e andar, e correr, ainda que não fosse possível logo de início, voar.

Desde então minha vida mudou muito, para melhor, não no sentido físico imediato mas no mental. As coisas perderam a capacidade de me entristecer, passei a ser mais forte e convicto, descobri finalmente o que queria e não só isso, como deveria fazer para conseguí-lo.

Concordei que e ÓDIO, ANGÚSTIA, TRISTEZA, DESESPERO, INVEJA, CIÚME. Tudo vem de uma única e terrível fonte: O MEDO!!!

O MEDO é a matriz geradora de todos os maus sentimentos, mas o medo não é a raiz do mal, é apenas o seu tronco. Pois o MEDO vem da IGNORÂNCIA. E favor não confundir ignorância com inocência.

Inocência é não saber.

IGNORÂNCIA é saber erroneamente. Ou pensar equivocadamente que se sabe.

Da inocência nasce a contemplação, a curiosidade sadia, o impulso para o crescimento.

Da Ignorância nasce o preconceito, o medo, a violência e pulso para a auto destruição.

Se um dia virmos um estranho extraterrestre e formos inocentes, ficaremos fascinados. Curiosos por saber o que ele é. Querendo conhecê-lo e compreendê-lo, e aceitá-lo como ele de fato possa ser.

Mas se formos ignorantes, ficaremos atemorizados. Emitiremos preconceitos infundados devido a sua aparência, nos será talvez similar a um demônio de nossas distorcidas crendices. O julgaremos precipitadamente pelo tamanho, pela cor da pele, pelo modo como se move. E tudo será motivo de conceitos pré concebidos. "Saberemos" talvez que ele só pode querer nos fazer mal, e talvez ataquemos antes de sermos atacados.

A Ignorância é a Raiz de todo o mal!

Se eliminarmos a ignorância eliminaremos o Medo e toda a sua horda maligna.

Podemos eliminar a Ignorância através do conhecimento da Realidade. A Verdadeira REALIDADE!

Podemos conhecer a realidade utilizando...

...OS 4 PODERES HUMANOS!

Obs: Qualquer semelhança com as 4 nobres verdade e a senda óctupla de Buda é, a princípio, mera convergência!

OS QUATRO PODERES HUMANOS

São meios para se conhecer a verdadeira REALIDADE e superar a ignorância . Eles são:

SENSAÇÃO

EMOÇÃO

RAZÃO

INTUIÇÃO

Eles podem ser apresentados na seguinte hierarquia evolucional:

INTUIÇÃO

RAZÃO

EMOÇÃO

SENSAÇÃO

Ou na seguinte hierarquia de intensidade:

SENSAÇÃO+

EMOÇÃO

RAZÃO

INTUIÇÃO -

Mas podem ser diagramados assim:

Cada um desse dons, podem nos mostrar algo sobre a realidade, cada um deles pode nos ajudar a compreender a nós mesmos e ao mundo a nossa volta.

Mas apenas a utilização dos 4 pode nos mostrar a REALIDADE GLOBAL!

E mais, deve ser a utilização dos 4 EQUILIBRADAMENTE!

Mas o que são exatamente esses poderes? De onde eles surgiram? Por que os possuímos?

Precisamos, como sempre, voltar ao passado.

 

DESENVOLVIMENTO TEMPORAL

A medida que as formas de vida foram evoluindo, desenvolveram meios cada vez mais efetivos de se relacionar com o mundo a sua volta. A primeira forma de comunicação receptiva é a sensoralidade, os sentidos que captam a realidade física do mundo. Todos os animais a possuem, e até mesmo alguns vegetais, que através da percepção do ambiente reagem de forma a melhor se adaptarem ao mesmo. Girassóis e trepadeiras por exemplo.

O tempo e a adaptação foi desenvolvendo estruturas de percepção cada vez mais complexas, surgiram os sensores de vibração tátil e sônica, os sensores de luz, movimento e cor, de odores e substâncias químicas.

Esse é portanto o primeiro poder humano, o mais antigo e o mais intenso, pois é compartilhado pela maioria dos seres vivos desde os primórdios da evolução. Esse é o dom da SENSAÇÃO física, capaz de mostrar a realidade tangível do mundo.

Através do tato podemos sentir a textura de um tecido, e é impossível transmitir essa experiência para uma outra pessoa em sua total plenitude, é preciso de fato tocar e sentir.

É o mais intenso, pois pode desencadear as mais fortes reações no organismo e na psique, de forma instantânea e inegável. É totalmente evidente e mensurável e possui todo um suporte físico e biológico.

A medida que foram evoluindo, outra característica foi surgindo nos seres vivos, a EMOÇÃO. Já nem tão evidente quanto os sentidos, as estruturas da emoção ainda são entretanto perceptíveis no organismo, através principalmente do sistema endócrino.

Não há evidência que esteja presente nos vegetais e animais inferiores, mas pelo menos os vertebrados a possuem em maior ou menor grau e com certeza os animais de sangue quente.

A presença das reações emocionais num organismo complexo tal como o das aves e mamíferos pode ser observada metabolicamente através de suas manifestações hormonais e nervosas, e embora não seja tão intensa quanto a sensoralidade no que diz respeito a afetar o corpo físico, ainda assim desempenha papel essencial na manutenção orgânica, principalmente nos seres humanos, devido a sua capacidade de somatizar sentimentos psicológicos.

De certo sensações podem produzir emoções, mas emoções embora produzam sensações, arrepios e cansaço físico por exemplo, raramente o fazem de forma tão intensa.

Um dor aguda no organismo geralmente irá resultar numa emoção desagradável, com resultados diretos e na maioria das vezes proporcionais. Emoções desagradáveis também podem resultar em dores físicas, mas a relação não é tão intensa quanto no sentido inverso. É preciso muita intensidade e quantidade de emoções negativas para desencadear um dano somático extenso ao organismo.

Ao contrário do que muitos podem pensar, a emoção também nos diz algo sobre a realidade a nossa volta e sobre nós mesmos, como será explicado mais adiante.

O terceiro poder humano é mais restrito aos animais superiores, não há qualquer indício de que animais invertebrados a possuam, é o dom da RAZÃO. Trata-se de um dom capaz de orientar o aprendizado de forma mais eficiente, e nos dizer muito sobre a realidade do mundo.

Ele é bem menos evidente metabolicamente, só podendo ser de fato observado, a nível de organismo, através da atividade eletroquímica cerebral de determinadas áreas da massa encefálica, o que por sinal ainda é duvidoso cientificamente.

Ele é ainda menos capaz de operar manifestações físicas no organismo, mesmo assim sua presença e inegável em nossa natureza humana.

É mais recente que os anteriores devido a estar presente de forma cada vez mais elaborada nos animais, principalmente os primatas, em conformidade com a teoria evolucionista.

Um inseto não parece apresentar capacidade de raciocínio mesmo diante de problemas simples.

Em minha infância, movido por uma ânsia experimental com requintes de crueldade, promovi como a maioria dos meninos, "brincadeiras" com insetos, besouros por exemplo, que evidenciam isso.

Testava eu e alguns colegas, as resistências físicas de certos escaravelhos com ações do tipo espetá-los com agulhas, congelá-los e até aquecê-los em fornos do microondas, e colocando-os perante situações de escolha de caminhos, tal como labirintos de apenas duas opções, eles eram incapazes de aprender a relativa vantagem de uma opção que os levava a um aparente liberdade ou a uma agressão física.

Promovendo experiências equivalente em mamíferos, bem menos cruéis e agressivas entretanto, observamos que mesmo ratos eram capazes de evitar opções que anteriormente lhe houvessem trazido experiências desagradáveis.

Percebi também que os insetos parecem imunes a dor, e que alguns escaravelhos são capazes de manter a cabeça separado do corpo em pleno funcionamento por horas.

É claro que não poderiam ser essas "brincadeiras" de gosto duvidoso, consideradas experiências de valor científico. Suas variáveis não eram bem controladas, a potencialidade sensorial desses animais por exemplo poderiam influenciar suas "decisões", mas consultando livros de biologia e tomando contado com experiências científicas legítimas, percebi que as conclusões não eram muito diferentes.

Desisti de seguir uma carreira científica em parte por desenvolver um sentimentalismo com relação a essas criaturas que me impediria de realizar experiências como aquelas.

Princípios de racionalidade já parecem ser evidentes em mamíferos, eles aprendem coisas novas mas é claro, precisa-se entretanto diferenciar o que é uma atividade com algum potencial racional primitivo, do que é uma ação baseada no instinto, que será explicado mais tarde.

O terceiro poder, da RAZÃO, é uma espécie de limiar entre o humano e o animal

O 4o poder é o da INTUIÇÃO. E é sem duvida o ponto mais obscuro. Não há qualquer evidência física ao seu respeito, não parece estar presente no animais e mesmo no ser humano é de fato questionável.

O que seria essa Intuição?

Um forma de captar a realidade de forma sobre racional?

Ou apenas um nível mais avançado da razão?

A intuição é capaz de fornecer de forma instantânea uma compreensão a respeito da realidade, ou de uma forma não necessariamente instantânea mais sem dúvida indefinidamente mais rápida que a razão.

Ela poderia ser talvez uma forma mais evoluída de razão, de difícil controle, e evidentemente pouco têm a ver com os conceitos de intuição do senso comum popular, que a confundem inclusive com instinto ou com o julgamento precipitado.

Por ser muito discutível como sendo um domínio separado da razão, sua proposição é uma ousadia. Mas eu gostaria de chegar a um dom humano que fosse exclusivo de nossa espécie, inexistente nos animais e que de alguma forma explicaria por que dentre os demais primatas apenas nós desenvolvemos cultura.

Acredito ser esse dom intuitivo, o responsável pela mística humana e a base de todas as religiões, além de influenciar em todas as outras formas de interação com o mundo.

Por quê acreditamos em deuses? Por quê desenvolvemos mitologias tão elaboradas muito antes sequer de estruturarmos melhor o dom do raciocínio? A quê domínio pertencem as primeiras cosmologias? A razão, a emoção ou uma combinação das duas? E a linguagem simbólica? O quê super desenvolveu de fato nossa capacidade de comunicação?

A intuição poderia ser inclusive um subproduto periférico da intersecção entre os outros poderes anteriores, mas de qualquer forma ainda acredito nela como um 4o poder.

Assim apresento novamente um esquema sobre os 4 poderes da mente humana.

As tonalidades representam a intensidade com que se relacionam com nosso corpo físico, a largura da barras é a abrangência com que influenciam nossas vidas e a posição verticalizada, o potencial que possuem para nos revelar a realidade das coisas, em níveis cada vez mais elevados.

Veremos em seguida a razão pela qual utilizei uma figura circular para agrupá-las, mas antes é preciso uma intervenção para dissipar uma dúvida potencial.

Sobre o INSTINTO

É possível que alguém se pergunte onde entra o Instinto nesse diagrama. Há duas possibilidades:

A primeira é a de que não entre em lugar algum, pelo simples fato de que o Instinto não é um poder humano no sentido de promover compreensão ou sequer percepção da realidade.

A segunda é a de que esteja incluído no âmbito da SENSAÇÃO, juntamente com o Arco-Reflexo, a Coordenação Motora e todas as peculiaridades da sensoralidade ou das funções básicas do organismo.

O Instinto é na verdade uma espécie de programa operacional básico que garante aos animais a sobrevivência, não há indícios claros de que os vegetais o tenham. Ele nada nos diz a respeito da realidade a não ser talvez, a indução de uma experiência que nos leve a conhecer características do mundo físico através da SENSAÇÃO. Mesmo assim, não nos ajuda numa compreensão mais elevada.

Tal programa está presente em praticamente todas as criaturas animadas, desde amebas até o ser humano. Ele é um grupo de diretrizes básicas de ação que garantem as funções primárias da espécie como a subsistência, crescimento e reprodução.

Muito se fala em instinto materno, instinto de preservação da vida, instinto de reprodução e similares. Mas na verdade todos os instintos, programas para garantir a sobrevivência da espécie, traduzem-se no plano físico meramente como dois aspectos básicos: A Busca pelo Prazer e a Fuga da Dor.

Assim, nosso instinto de auto preservação não é baseado operacionalmente num idéia de conservação da vida, mas sim de fuga da dor. Evitamos um perigo físico não devido a uma imediata e inerente idéia de que nossa existência estará ameaçada, mas devido ao fato de pressentirmos que aquilo nos trará sofrimento. Procuramos nos alimentar não baseado num conhecimento antecipado de que através da alimentação sustentaremos o funcionamento de nosso organismo, mas sim de que eliminaremos a sensação desagradável da fome e que teremos talvez o prazer do sabor do alimento. Isso tudo, é claro, num nível primário animal. Mesmo o instinto sexual, não visa conscientemente a reprodução e sim o prazer.

No animais superiores esse programa de evitar a dor e tentar obter o prazer desenvolve todo um complexo de estruturas emocionais, nos animais inferiores isso não é evidente, mas mesmo assim, não acredito que haja grande diferença no instinto de um inseto e no instinto humano, não no instinto em si, apenas na forma com que o "sentimos", principalmente de forma emocional.

Alguns animais possuem instintos que aparentam ser até mesmo mais elaborados, como a espetacular "engenharia" da abelhas e formigas em construir sua moradas e operar suas funções, algo que o ser humano não parece possuir por natureza e sim por cultura.

Dessa forma, ao contrário dos 4 poderes humanos, não acredito numa superioridade do instinto humano em relação ao dos animais. Ele nada mais é do que um programa sem qualquer capacidade de adaptação a situações imprevistas, por isso um besouro não parece ser capaz de aprender.

Mesmo o instinto materno, me parece ser nada mais do que um instinto de busca e conservação de prazer, mas não necessariamente de si próprio, mas também refletido num semelhante, afinal como seres humanos, somos capazes de nos sentir mal apenas ao observar o sofrimento do próximo.

Lamentavelmente, a palavra Instinto é amplamente confundida com Intuição, mesmo sendo conceitos diametralmente opostos. É comum vermos expressões do tipo, "siga seus instintos", para a resolução de problemas que transcendem em muito as funções primárias da espécie. Na verdade tal expressão deveria ser "siga sua intuição". Os instintos são absolutamente inúteis no sentido de ajudar a resolver problemas racionais por exemplo.

Não ouso tentar mais do que esta breve especulação sobre o instinto, pode ser que muito do que agora considero venha a ser mudado por mim próprio ou por outro, mas de qualquer modo, no que se refere a minha proposição básica, estou relativamente seguro.

O Instinto humano não é um poder de conhecimento da realidade, não evoluí como eles e nem sequer é superior ao dos animais inferiores.

OS DOMÍNIOS HUMANOS

Dos 4 poderes humanos surgem os 4 maiores domínios do conhecimento, as grandes áreas da cultura humana. Mas cada qual não brota únicamente de um dos poderes mas sim de pelo menos, dois.

FILOSOFIA

CIÊNCIA

MÍSTICA

ARTE

A Ciência é empírica, utilizando os dados sensíveis do mundo físico, SENSAÇÃO, mas ao mesmo tempo sendo orientada pela RAZÃO, que é compartilhada pela Filosofia, que busca um entendimento maior que o da Ciência não podendo portanto estar restrita aos experimentos meramente físicos. Compartilha a INTUIÇÃO com a Mística, que é o ponto de partida para as religiões, que através de uma sensibilidade emocional com a plenitude e o êxtase "espiritual", baseia-se também na EMOÇÃO, que por sua vez compartilha com a Ciência a percepção sensível, SENSAÇÃO, por meio da Arte.

Na verdade mais de dois poderes podem influenciar um certo domínio da cultura, a TEOLOGIA por exemplo abrange Filosofia e Mística, usando então 3 poderes, o Design e o Artesanato por outro lado são fusões de Arte e Ciência.

Entretanto a presença de mais de dois poderes parece afastar o domínio da natureza prática, enviando-o para um plano mais abrangente mas ao mesmo tempo menos sensível. Já o uso de menor número de poderes ressalta a especificidade do conhecimento, tornando-o mais preciso num sentido restrito, mas menos eficaz numa compreensão global da realidade.

Quanto mais ocorre o aprofundamento em determinada poder ou par de poderes, mais se atinge a especialidade, o conhecimento profundo de parte da realidade, mas o conhecimento do todo fica em segundo plano. Quanto mais se abrange o conhecimento, usando maior número de poderes possíveis, mais se pode compreender o todo, mas o aprofundamento das partes torna-se mais difícil, o que faz que uma compreensão do todo sem um aprofundamento das partes dificulte o entendimento global.

O conhecimento ideal seria então, aquele que pudesse utilizar equilibradamente os 4 poderes, mesmo que isso o relegasse a um plano mais METAFÍSICO, mas ao mesmo tempo se aprofundasse em cada parte.

Seria isso possível?

Creio que pelo menos o equilíbrio, seja desejável, como veremos a seguir.

Imaginemos um ponto central no círculo dos 4 poderes humanos.

O Círculo externo representa a REALIDADE, e o ponto interno a Consciência do Ser Humano. Ela pode se "virar" e contemplar qualquer "lado" da realidade, que no entanto, devido a "distância", se mostra pouco distinguível.

Contemplar apenas um pedaço da "Parede do Real" não é contemplar a plenitude do real. Se só vemos um pedaço permanecemos ignorantes de todo o resto.

Há uma fábula Hindu que ilustra bem isso, a dos 3 cegos e do elefante. Cada um deles toca apenas uma parte do animal e faz sua afirmação, e assim o que toca a trompa afirma ser uma cobra, o que toca a cauda afirma ser um cipó e o que toca a perna diz ser uma árvore.

Contemplar apenas um aspecto da realidade, e insistir nisso, acaba levando a uma série de desequilíbrios. Para exemplificar vamos manter a divisão desse círculo do Real por quadrantes representados pela natureza investigável pelos poderes humanos.

FILOSOFIA

CIÊNCIA

MÍSTICA

ARTE

O desequilíbrio entre dois aspectos acaba levando a algum tipo de degeneração nas 4 grandes áreas da atuação humana..

Se a Filosofia se aprofunda apenas na RAZÃO, perde o direcionamento investigativo, se confundindo no labirinto de possibilidades teóricas racionais sem qualquer chance de obter algum resultado mais "prático", mais "sensivelmente" seguro. É o que infelizmente acontece na atualidade.

Se ela se aprofunda na INTUIÇÃO, perde a capacidade de se relacionar com o mundo real, se tornando uma espécie de atividade "ascética", desligada ou dogmática, similar a do período pré-socrático. Desprovida de um maior "controle" racional pode se perder em um tipo de hermetismo desmedido. O mesmo se dá com a atividade Mística que também se isole no aspecto intuitivo.

Já se a Mística se aprofunda na EMOÇÃO, tende a degenerar para o fanatismo, para uma falta de propósito transcendente e ligada apenas na alienação da sensibilidade, que pode mesmo se tornar violenta e destrutiva, ou no outro extremo, ligada apenas a celebrações sem propósito. Assim como a Arte que não dê a devida atenção ao campo da SENSAÇÃO. Volta-se para uma abstração excessiva, fechando-se geralmente num entendimento pessoal incapaz de se comunicar com o externo.

A Arte por outro lado se isolada apenas no campo da SENSAÇÃO, torna-se puramente material, sem conteúdo emocional, sem linguagem artística propriamente dita. Fica reduzida a mera técnica mecânica sem um propósito de comunicar algo além do óbvio e a primeira vista. Assim como a Ciência quando aprisionada no mesmo campo, passa a produzir sem um motivo claro, sem uma finalidade.

Há uma frase irônica que diz: "Teoria é quando tem tudo para funcionar mas não funciona. Prática e quando tudo funciona, mas ninguém sabe por quê!" Isso ilustra bem o resultado de uma área que use unicamente o poder da SENSAÇÃO física.

Por outro lado a Ciência, se restrita apenas ao campo RAZÃO, compartilha o mesmo destino da Filosofia que faça o mesmo. Teorias e teorias sem qualquer resultado concreto ou mesmo consenso teórico.

O equilíbrio entre as duas áreas é vital para um funcionamento pleno de cada um desses domínios dos Poderes Humanos. Além do que a áreas que consequiram abarcar um Poder a mais, apesar de se tornarem menos direcionadas para um propósito mais claro e específico, ganham em abrangência, influência, interdisciplinaridade.

Aqueles que se concentrem apenas num só campo afastam-se da realidade global. Embora isso por vezes seja necessário para se estruturar uma disciplina, como a Matemática por exemplo, que é RAZÃO pura. Como já disse, o ideal seria um conhecimento que conseguisse abarcar equilibradamente as 4 áreas. Talvez um dia surja um novo tipo de campo de atuação, mas até agora o domínio que mais chegou perto disso foi com certeza o da Filosofia.

A Filosofia é sem dúvida, o único campo do conhecimento humano que consegue, ou já conseguiu, abarcar todos os outros. Ciência, Arte e Mística, religiões, são objetos de estudo filosófico, ao passo que as outra áreas pouco chegaram perto disso e quando o fizeram, acabam por tentar destruir o significado daquilo que não podem compreender, como foi o caso das Religiões tentando sufocar a Ciência, ou o caso atual da Ciência tentando desmerecer por completo o conteúdo metafísico das religiões.

Na verdade Arte e Filosofia são as que possuem maior possibilidade de abarcar extremos, e por quê?

Por que agora se torna necessário voltar as Forças Fundamentais do Universo. Aos arquétipos primordiais, as Forças MASCULINA e FEMININA, e como elas regem as duas metades primárias do ser humano, representadas pelos hemisférios cerebrais

FILOSOFIA

CIÊNCIA

MÍSTICA

ARTE

É como um "cérebro" e seus hemisférios. Veremos que Mística e Ciência ficaram cada qual num campo isolado, Feminino e Masculino respectivamente. Já Arte e Filosofia abarcaram ambos, por isso são de certa forma, mais apropriadas para um estudo global. Entretanto a Arte não conseguirá ser tão racional quanto a Filosofia, é claro, e não conseguimos trabalhar de outra forma que não seja a predominantemente racional, pelo menos nesse momento da evolução histórica. Por isso a Filosofia leva vantagem em tentar compreender a totalidade.

Mesmo o senso comum, não terá dificuldades em reconhecer INTUIÇÃO e EMOÇÃO como elementos do Feminino, ou mesmo RAZÃO como sendo do Masculino.

Mas por que SENSAÇÃO estaria no Masculino?

Antes de tudo é preciso eliminar de imediato a confusão possível com o termo.

SENSAÇÃO se refere ao plano Físico, SENSORIAL, dos 5 sentidos neurológicos.

Não se trata de Sensibilidade ou Sensacionalismo, que se relacionariam a EMOÇÃO.

Nem de Sensitividade, que estaria mais no campo da INTUIÇÃO.

Sendo assim a SENSAÇÃO é analítica como a RAZÃO, ela separa suas impressões em 5 sentidos distintos. Visão e Audição são universos separados, Paladar e Olfato também apesar de um relacionamento mais íntimo. Mais à parte ainda temos o tato.

Podemos descrever com relativa facilidade impressões sensoriais isoladas em cada um dos sentidos, mas tentar descrever uma impressão que afetou conjuntamente todos ou uma pluralidade deles?

Tente definir da melhor maneira uma sensação de andar de montanha russa, onde a visão, o barulho dos mecanismos e os gritos das pessoas, são associados a resistência do ar e ao delírio do equilíbrio.

E possível comparar isso a uma impressão monosensorial como, o estrondo de um trovão? Ou a vertigem de uma sequência de imagens?

Geralmente se insistirmos em tentar definir essa amplitude de Sensações acabaremos por apelar para um conceito emocional, ou uma lembrança, sensibilidade, "sensação" emocional.

E por quê?

Por que enquanto mantemos as impressões sensoriais de forma analítica, ou seja separadas, podemos entendê-las como sensações, mas se as unirmos, sintetizá-las, elas se tornam uma Emoção. União, Síntese, são características do Feminino. Análise, Separação, do Masculino.

Por isso Ciência e Religião tem tantas dificuldades em se entenderem, já Arte e Filosofia nem tanto, mas ao mesmo tempo elas se mostram as mais mutáveis, mais passíveis de revoluções, mais inconstantes. Por que abarcam as duas Forças, que pela Dinâmica Universal estão em constante movimento.

Ainda assim Arte parece pesar mais para o lado do Feminino assim como Filosofia para o do Masculino. Mas creio eu, que isso seja apenas uma ilusão cultural.

A forma circular dos 4 poderes também denota uma outra característica interessante. RAZÃO e EMOÇÃO estão diametralmente opostas, mostrando a dificuldade de estabelecer um conhecimento "Racional Emotivo", embora isso não seja absurdo.

O mesmo acontece com SENSAÇÃO e INTUIÇÃO. Mas de qualquer forma ainda há ligação entre eles, mesmo que passando pelo "centro".

Através da hierarquia evolucional dos 4 poderes, podemos observar um predomínio intercalado de aspectos da Força MASCULINA e da FEMININA. Grandes Ciclos da Dinâmica Universal.

Quando mais elevado o Poder, mais ele pode captar realidades menos tangíveis, abarcando um campo mais além da matéria propriamente dita. Mas se foi dito que os tais poderes evoluíram progressivamente, deveria ser notório que no decorrer do desenvolvimento humano eles deveriam se suceder como influência maior nos grupos humanos. Foi o que ocorreu?

Perceberemos logo de início um certo tipo de Paradoxo. Vejamos por exemplo, a Cosmogenia.

As primeiras Cosmogêneses humanas eram místicas, mitológicas, repletas de símbolos e alegorias, sendo então fruto da INTUIÇÃO. Ou seja, num estado humano primitivo, o poder humano mais elevado estava sendo utilizado para explicar a origem do Universo.

Surgiram depois as Cosmogenias Filosóficas, de predominância da RAZÃO, tanto nos filósofos gregos quanto nos filósofos místicos orientais. Embora ainda fortemente de caráter Intuitivo, tais cosmogêneses tentavam traduzir de modo racionalmente compreensível os princípios do Universo.

Posteriormente, surgiram Cosmogêneses de forte influência da EMOÇÃO!

E é aqui que a história se complica.

Observemos um certo caráter de insensibilidade emocional nos deuses antigos. As primeiras mitologias possuíam seres que embora criados à imagem e semelhança do ser humano, compartilhando inclusive seus defeitos, eram em relação a essa mesma humanidade, bastante distanciados.

Em muitos casos o surgimento da espécie humana se dá de forma acidental, como as pulgas de Panku, da mitologia primitiva chinesa, ou das gotas de suor do esforço de Deus (mitologia sérvia). Os deuses não pareciam demostrar muita compaixão, consideração, ou respeito pelos seres humanos. De certa forma, a humanidade era uma criação se não acidental, por vezes abandonada, orfã. E não raro, deliberadamente inimiga pelo menos de algumas deidades.

Com as Cosmogêneses Filosóficas a humanidade permaneceu sendo muitas vezes uma derivação acidental, mas já não havia qualquer relação de conflito com os deuses, ou qualquer postura divina hostil em relação a ela. Em alguns casos já surgia uma característica de criação cuidadosa, e de seres transcendentes que mostraram algum interesse positivo pelos humanos. Mas ainda predominava uma ausência de relação amigável.

As teologias que passaram a dominar em seguida foram diferentes, principalmente na Idade Média. O ser humano parecia carente de uma origem divina que o abençoasse, uma relação parental mais íntima. Agora o deus criador fizera a raça humana à sua imagem e semelhança de forma dedicada e com um objetivo específico. O ser humano fora adotado por um Pai celestial, havia uma relação amigável entre eles, um forte elo Emocional.

Mesmo com o Pecado Original, a retaliação divina não significou um desprezo pela sua criação, mas sim um corretivo típico de pai para filho, e a relação emotiva continuou.

Agora havia uma Cosmogenia dominante, fusão da mitologia primitiva com a filosofia, onde a característica emocional era muito forte, afinal tudo o que Deus criava, via que era Bom! E onde o ser humano tinha um papel de destaque e importância, algo do que se orgulhar.

A motivação do teólogo era sem dúvida carregada de EMOÇÃO, ainda que usando a RAZÃO e a INTUIÇÃO. O sentimento reforçado de religare, a Grande Nostalgia Espiritual pelo plano superior de onde havíamos saído, dava a todas as especulações cosmogênicas, antropogênicas e naturalísticas, um motivo emotivo forte. Era um Amor, ou um Medo de deus que motivava a Teologia. Como diz o livro bíblico dos Provérbios "O temor do Senhor é o princípio da Sabedoria."

Não foi a toa que estas foram ao longo de toda a história, as idéias mais fortemente defendidas pela EMOÇÃO. A não harmonização com a postura dominante podia ser punida severamente. Embora tal componente sempre tenha sido presente nas religiões, principalmente as primitivas, nunca antes a "Ira de Deus", em contraposição a sua Bondade e Misericórdia infinitas estiveram tão em voga.

É por esse motivo que percebo um predomínio da EMOÇÃO na teologia e consequentemente na Cosmogenia dessa época.

Ela há de se assemelhar as cosmogenias mais primitivas, afinal INTUIÇÃO e EMOÇÃO são características onde predomina a Força FEMININA. Da mesma forma que as cosmogenias de predomínio da RAZÃO e da SENSAÇÃO hão de se assemelhar, sendo fruto de predomínio da Força MASCULINA.

Hoje em dia há uma predileção pelas cosmogêneses científicas. Ciência é o domínio da RAZÃO e SENSAÇÃO. Mas hoje apenas a especulação filosófica não basta, é preciso profunda investigação da natureza física, sensível, ainda que através de equipamentos que ampliem nossa percepção sensorial grandemente.

Foi o progresso da Geologia, Física e Astronomia que garantiram uma avanço no conhecimento científico, e também uma libertação da influência Emotiva da Religião. É agora que chegamos mais perto de uma comprovação tangível das teorias.

Mas isso não significa que nosso destino final seja agir no plano da SENSAÇÃO, e ao mesmo tempo não significa que degeneramos através dos tempos por nos basearmos cada vez mais num poder humano mais primitivo. Significa apenas que estamos passando por ciclos inevitáveis e muito úteis de nossa evolução.

Se demoramos milênios para descer ao plano mais básico, não o fizemos por degeneração, mas sim para estabelecer um base sólida para edificarmos todo o conhecimento humano. Passamos por uma reformulação.

A Filosofia precisou desestruturar, analisar, "destruir", a Mística. A Religião precisou reunificar, unir, a Filosofia e a Mística. E a Ciência novamente desmantelou todo o conhecimento, inclusive "destruindo" a Religião. Chegou-se a decretar a morte da Filosofia, Karl Marx. Chegou-se a prever o fim da Religião, Sigmund Freud. E houve época que se acreditou em larga escala que o materialismo dominaria a mente humana.

Não foi o que aconteceu, após um período de baixa as religiões passaram a ressurgir com força total mesmo dentro do âmbito da Ciência. Há cada vez mais cientistas abandonando uma perspectiva puramente materialista, e a Teoria da Relatividade, a Física Quântica e a Teoria do Caos já abalaram o empirismo.

Isso não significa voltar a "crer cegamente" de forma puramente emocional, nem abandonar a experiência restringindo-se apenas ao plano especulativo e muito menos assumindo uma postura meramente contemplativa e hermética.

Significa que agora podemos reconstruir nosso conhecimento partindo de uma base forte, finalmente a dupla SENSAÇÃO e RAZÃO se fortaleceram suficientemente para edificar uma Ciência sólida e poderosa.

Se não nos perdermos no meio do caminho, podemos restaurar o equilíbrio em todos os poderes humanos. Mas ainda há uma dúvida.

FILOSOFIA

CIÊNCIA

MÍSTICA

ARTE

Como vimos trilhamos um longo caminho pela INTUIÇÃO, dezenas de milhares de anos em sociedades primitivas místicas. Quando floresceu a Filosofia, por volta do sexto século antes da Era Cristã, tanto na Grécia quanto no oriente, Índia e China, houve a transição do pensamento Intuitivo para o Racional.

No ocidente essa transição foi mais brusca, a filosofia pré-socrática teve um predomínio da INTUIÇÃO bem mais breve que as filosofias místicas Indianas e Chinesas, cuja a influência da RAZÃO é tão mais baixa que elas sequer são consideradas Filosofia pelas instituições acadêmicas.

A ascensão do Cristianismo adicionou um apelo emocional muito mais forte ao sistema religioso. A doutrina da Compaixão de Cristo se contrastou com a tirania teocrática da Igreja no mesmo nível de contradição encontrado numa teologia de um deus que prega o Amor Supremo e ao mesmo tempo atira almas à Danação Eterna. A difícil comunicação entre RAZÃO e EMOÇÃO se traduziu numa sociedade onde a Ciência tentava crescer mas era barrada pela Fé.

O predomínio Emocional sobre a Religião chegou ao auge após o Renascimento, uma total irracionalidade marcou um certo momento onde a Santa Inquisição se degenerou a ponto de sofrer severa reação mesmo em sua estrutura interna.

Essa fase de transição, da Renascença, foi fortemente marcada por fatores emocionais, o que contribuiu inclusive para o florescimento das mais variadas formas de Arte. Já a Ciência por sua vez, reagiu por vezes de forma radical, ao romper qualquer ligação com o pensamento religioso que dominara a sociedade por mais de 1000 anos e então ao se emancipar, foi cada vez mais se fixando no lado onde predomina a Força MASCULINA disparando nos séculos XIX e XX.

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