O QUARTO PODER

A recente tentativa de linchamento moral contra o Técnico de nossa Seleção Brasileira, que sofre perseguição da imprensa há 20 anos, sintetiza bem algumas coisas que deveriam ser expostas com maior amplitude e frequência em nossa sociedade.

PRIMEIRO, a miséria moral e cognitiva de determinados profissionais da imprensa que insistem em dizer que tem como único objetivo divulgar os fatos como eles são, ou seja, puramente informar, e ao mesmíssimo tempo fazer mil julgamentos de valor e emitir opiniões pessoais, frequentemente bem específicas, como se tais coisas não fossem essencialmente antagônicas.

Quem apenas pretendesse informar, descrevendo os fatos como parecem ser, soaria como um relator impassível, apresentando dados sem viés seletivo prévio e menos ainda posturas defensivas ou ofensivas. Mas é brutalmente evidente que a imprensa jamais teve esse mero papel. Ela sempre foi uma deliberada formadora de opinião, sempre tem um ponto de vista pessoal que norteia sua seleção e apresentação dos fatos, ou pseudo fatos, sob o direcionamento de um sistema de pensamento próprio.

No caso em questão, é impressionante a desfaçatez com que o profissional da Rede Globo vem a público apresentar suas queixas contra o comportamento do Técnico, com um discurso escancaradamente passional e pessoal, limitado apenas pelas naturais exigências da formalidade, e mostrando um vídeo que somente mediante tremenda interpretação pessoal sugere o que o apresentador queria evidenciar, e ao final, TENHA CORAGEM DE AFIRMAR QUE O OBJETIVO DA REDE GLOBO É O DE LEVAR A MELHOR INFORMAÇÃO!!!

Se alguém não sabe a diferença qualitativa entre "Informação" e "Opinião", pode-se citar um simples exemplo. Nesse caso bastaria dizer apenas algo do tipo "O técnico Dunga declarou isto, aquilo e mais isto. Boa noite!" Sem nenhuma "opinião" pessoal sobre o caso. Sem julgamento de valor.

E para que fique evidente que não se trata de uma iniciativa particular do repórter que apresentou a reportagem, note-se o mesmíssimo texto foi literalmente repetido por um outro, como se pode ver nas comparações de vídeos em Globo tenta manchar a imagem do Técnico Dunga, Tadeu Schmidt e a Manipulação da Globo. Onde é evidente que ambos os repórteres estão lendo um texto pronto.

Portanto, é claro que trata-se de uma postura da instituição Globo, e não da individualidade dos repórteres, e o motivo, como agora está desmascarado, foi o fato do treinador Dunga ter vetado entrevistas exclusivas que seriam exibidas no Fantástico, despertando a evidente ira da emissora.

Enfim, que isso sirva de exemplo para mostrar que não existe, e jamais existiu, um órgão de imprensa, de mídia, que tenha a função de meramente informar. TODOS, SEMPRE, tem a pretensão de propagar uma ideologia, de vender suas perspectivas pessoais, semear suas opiniões. O objetivo da imprensa jamais foi o da mera informação, e sim o da deliberada formação de opinião.

Portanto, toda a vez que for pronunciada alguma frase pueril, como "Não se pode culpar a janela pela paisagem.", como se a função da grande mídia jornalística fosse uma mera descrição objetiva dos fatos, lembre-se que pode-se sim, pois a janela frequentemente tem um vidro grosso, com suas próprias cores, a mostrar a paisagem conforme lhe convém, e com distorções que podem fazer o reto parecer torto e vice-versa.

SEGUNDO, que o já referido "Quarto Poder" ( expressão que por si já contraria a suposta imparcialidade da imprensa), é bem menos "quarto" e bem menos "poder" do que de fato gostaria. Em especial a Televisão. Se a religião organizada em geral é um incontestável poder ativo a determinar o mundo há milhares de anos, o tão alardeado domínio da TV, mesmo que possa ser de fato considerado, começou há menos de meio século e provavelmente se desintegrará em um tempo futuro bem menor.

Tomemos o mesmo exemplo. Após o ataque inicial da emissora Globo contra Dunga, o que se viu na internet foi uma reação maciça de apoio ao treinador, temperada pela já regular rejeição à emissora, tida como manipuladora e tendenciosa. A maioria da opinião pública digital se virou contra aquela que mais se adequa a imagem de definidora de opinião pública.

Todos sabem, porém, que a Globo teve durante a maior parte do tempo um poder enorme em manipular as massas desinformadas e mais pobres, à serviço das elites. É trivial que a Globo, por exemplo, foi vital para a eleição de Collor, fato do qual se arrependeria posteriormente. Mas, por outro lado, a classe média sempre foi bastante reativa à emissora, e tem sido cada vez mais, e como ainda por cima a classe média cresce, o poder "global", ou de qualquer outro órgão de imprensa, em determinar a opinião pública tem se esfacelado vertiginosamente.

A internet, claro, cumpre o papel principal, mas há tempos as mais diversas inovações tecnológicas têm contribuído para o enfraquecimento da centralização midiática. Um dos primeiros foi o advento dos controles remotos, que permitiram a comodidade de mudar de canal sem ter que se levantar, neutralizando o comodismo prévio de já deixar em um canal preferido. Outros, evidente, foram os videocassetes, as TVs por assinatura, e a simples expansão da quantidade de canais via UHF.

A TV Digital pode ser o golpe final na ainda persistente liderança de audiência, visto acrescentar ainda mais flexibilidade ao sistema, e curiosamente, a Globo, antes na vanguarda tecnológica apesar da pobreza de suas vinhetas em relação às demais emissoras, está bem atrás da Band em tecnologia HD. (Infelizmente a maioria dos espectadores ainda não percebe isso, pois mesmo tendo televisores digitais, em wide screen, ainda é incapaz de sintonizar o sinal digital, se limitando a simplesmente estender o sinal normal, de 4:3, para uma tela de 16:9, deixando a imagem distorcida e muito inferior à qualidade das TVs normais.TV "OVO")

Em síntese, já há algum tempo a mídia parece ter perdido a capacidade de determinar a opinião pública. A popularidade crescente do atual governo é um sinal claro disso, visto que grandes órgãos de imprensa, historicamente conservadores e mancomunados com a ditadura militar, tentam a todo custo denegrí-lo, mas só conseguem dentro de um nicho já cativo, em especial na Região Sudeste.

Enfim, como a internet seguramente se tornará a mais predominante forma de telecomunicação e acesso a mídia, e como é essencialmente incontrolável, o tal "Quarto Poder", muito antes de conseguir se firmar de modo inquestionável, já está em franca decadência, para a felicidade geral da nação, e o bem da humanidade.

Marcus Valerio XR
23 de Maio de 2010

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