PODE O FEMINISMO NÃO SER MISÂNDRICO?

Marcus Valerio XR

9 de Junho de 2015

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Havendo alguns dentro do Movimento por Direitos dos Homens e Meninos que ainda acreditam num bom feminismo, houve algum ânimo com a ideia de uma página no Facebook exatamente com o título 'Feminismo sem misandria', que apresentava uma postura diferenciada da maioria das demais páginas feministas.

Soou para muitos palatável a evidente defesa da participação masculina dentro do Feminismo em contraste com o lugar comum de que homens não podem ser feministas, no máximo apoiadores ou "machistas em desconstrução", isso se não forem inevitavelmente opressores cuja simples presença já cala e violenta mulheres, não podendo, então, sequer participar de atividades feministas.

Há muitos exemplos e discussão sobre isso na web, como o Ataque de Feministas (Misândricas) contra o Felipe Neto após ele defender o Feminismo, a ponderada reflexão em 4 Pontos Sobre a Relação dos Homens com o Feminismo que aborda essa rejeição à presença masculina no Feminismo, bem como o texto claramente misândrico sobre o caso de Latuff em Parece Misandria mas é Misoginia, o recomendadíssimo Eu não sou Feminista? onde um dos mais inteligentes homens feministas do Brasil relata sua experiência de rejeição, ou Homens (pró-) feministas: aliados, não protagonistas, de um autor que defende a posição mais comum de que homens devem apenas cooperar à medida que forem convidados, se submetendo às orientações de um comando ditado por mulheres, ou se retirar sem protestar se forem deliberadamente expulsos.

Diante disso, ver uma página feminista com "SEM RADFEM" na foto de perfil e ainda trazendo os dizeres "Antes eu dizia que o feminismo não é um movimento de ódio aos homens nem misandria... Mas graças as radfem, hoje não posso mais dizer isso." em sua foto de capa, é algo que certamente deveria inspirar alguma esperança.

No entanto, um simples episódio conseguiu ser perfeitamente emblemático da precariedade desta proposta, quando um dos membros decidiu questionar um dogma primordial do movimento, como pode ser visto nos seguintes print screens. Não há necessidade de ler todos, para resumir, basta dizer que um integrante do Movimento pelos Direitos de Homens e Meninos questionou a ideia de que vivemos num mundo de privilégios masculinos.



Como se vê, a discussão desandou, não sendo obtido um diálogo produtivo. Elson foi banido do grupo sendo considerado aquilo que feministas costumam considerar qualquer homem que se atreva a questionar o feminismo, e o mais surpreendente é que o foco da afirmação original foi totalmente perdido.

Nesse ponto, eu intervi com o seguinte questionamento:

"Então vamos sintetizar.

A proposição inicial do banido foi que: Os Homens (como um grupo) NÃO SÃO Privilegiados!

Então, ele citou um monte de evidências a respeito, mostrando dados sobre fatos que afetam esmagadoramente mais o grupo dos homens.

Então o "Feminismo sem misandria" replica que tudo isso é culpa do "machismo" e do próprio grupo dos homens.

E então esqueceu-se da proposição inicial?!

Se o "Machismo" causa tamanho estrago aos homens, numa proporção muito maior que as mulheres, ENTÃO ISSO É A ADMISSÃO TÁCITA da proposição inicial, de que Os Homens NÃO SÃO Privilegiados!

É sério que ninguém percebeu isso!?"

Que foi respondido com a assertiva de que todos haviam sim percebido o que apontei, apesar de ninguém ter minimamente o sugerido, e que seria trivial no Feminismo admitir que o "machismo", leia-se "o braço direito cultural do Patriarcado", ora beneficia, ora oprime os homens.

Questionei novamente que a não ser que se caísse em infindável subjetivismo, o "coeficiente de opressão" teria que ser medido exatamente com base em dados objetivos como as tais estatísticas das quais parte foram levantadas pelo Elson, o que inevitavelmente evidenciaria que são as mulheres as privilegiadas em nossa sociedade, confirmando o ponto levantado por ele e refutando o dogma central do "Privilégio Masculino".

Resultado? Também fui banido. Meus comentários foram deletados e nem tive tempo de tirar o print. Só registrei o  anterior por tê-lo replicado em outro post onde o assunto foi comentado, com me habituei a fazer ao travar tentativas de diálogos com feministas.

O que podemos aprender com esse episódio?

Além de mais uma tediosa e lastimável evidência da incompetência feminista para um debate honesto, talvez uma exemplar resposta negativa ao título deste texto, se levarmos em conta que a "não-misandria" em questão limitava-se a aceitar os homens como participantes do Feminismo no sentido de Trabalhar Para o Movimento e NÃO QUESTIONAR SEUS DOGMAS!

Num mundo onde os dados estatísticos levantados pelo Elson são factuais, com outros ainda mais graves, pode-se inferir que os problemas objetivos dos homens superam esmagadoramente os das mulheres, a não ser para quem acha que fazer serviço doméstico ou parir e gestar são sinas muito piores do que ser morto, torturado, violentado e ignorado em proporções próximas de 10 para 1, ou ter tanto sofrimento pessoal, este sim subjetivo, mas manifestado no fato objetivo de que homens suicidam 4 vezes mais que mulheres. Sem contar inúmeros outros temas frequentemente levantados pelos Direitos Humanos Masculinos.

Num quadro como esse, ter que ouvir que ainda por cima são os homens o privilegiados e opressores, não seria uma das formas mais vis de Misandria?!

Como disse Karen Straughan, é preciso ...odiar alguém pra dizer que o grupo dele oprimiu as mulheres por toda a história por fazer o que era imprescindível – inclusive morrer – para mantê-las a salvo, abrigadas e alimentadas.(Disponível também no obrigatório vídeo Resposta a Daniele Paradis.)

Ora, simplesmente chamar os homens para trabalhar para o Feminismo sempre foi lugar comum, como o fez recentemente o banco JPMorgan Chase & Co. com a campanha He For She, estrelada por Emma Watson mas pensada por Elizabeth Nyamayaro. Nesse ponto, o Feminismo nada mais foi do que uma infindável série de chantagens emocionais prontamente atendidas por homens. Nenhuma de suas "conquistas" foi tomada à força, e sim cedida por homens em prazos quase sempre inferiores a uma década, sem nenhum tipo de resistência violenta ou mesmo convulsão social. O que não impede feministas de quererem dar a tais feitos o ar épico de uma brava revolução armada, até mesmo com lendas delirantes de mulheres mortas em retaliação por sua luta, como atribuir o incêndio da fábrica Triangle Shirtwaist em 25/03/1911 a um tipo de reação antifeminista.

E é no sentido do uso dos homens para seu próprio interesse que se pode falar num "Feminismo sem Misandria", um que invés de simplesmente pregar abertamente o ódio, a castração ou mesmo o extermínio de todos os homens, se contenta em tratá-los como serviçais de uma ideologia que nada pretende fazer por eles além de piorar ainda mais suas condições de vida sem diminuir em nada sua visão deles como opressores privilegiados, não importa o quanto de direitos lhes sejam subtraídos.

O Feminismo é acima de tudo uma Cruzada contra o Patriarcado, mas sua conceituação fraudulenta do mesmo pressupõe essa farsa do privilégio masculino geral. Como se admitiu no diálogo em questão, se homens hora são privilegiados hora são prejudicados, é evidente que o mesmo deveria ocorrer com mulheres, de modo que a única forma de reconhecer o grupo mais privilegiado é apelar para os dados objetivos, e estes mostram o exato contrário do dogma feminista.

Mas o Feminismo não pode abrir mão dessa fraude. Perderia toda a sua razão de ser se o fizesse. Portanto, a não ser que se fale de um outro feminismo que não seja aquele para o qual a visão corrompida do Patriarcado seja o grande satã, onde os homens como grupo sistematicamente oprimem as mulheres e se beneficiam disso, não vejo possibilidade dele não ser misândrico por essência, como esse caso específico desse site com nome apropriadíssimo demonstra.

Karen Straughan complementa que somente o ódio ...para alegar que o velho sistema só existia para beneficiar os homens à custa da escravização das mulheres, quando aquele sistema é a única razão pela qual as mulheres ainda estão por aqui, (...) E é definitivamente ódio dizer que as mulheres não foram cúmplices nesse sistema, que elas não são responsáveis pelas coisas terem sido como foram. Mas feministas fazem isso todo o tempo."

Marcus Valerio XR

9 de Junho de 2015

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