A Moeda Mística

Marcus Valerio XR

Parte II

– Foi a que horas? – Perguntou a passos largos a Senhora Elza. – 10:45 da manhã! – Respondeu o Dr Jonas. Como um foguete pelo corredor os pais do jovem Duílio ainda não haviam se recuperado da surpresa. O médico amigo da família continuou. – Ele antes não deu sinal. Suas caminhadas sonâmbulas continuavam normais. No demais o catatonismo continuava. Foi totalmente inesperado!

Chegaram na porta da sala onde o rapaz aguardava. Tomaram fôlego e entraram. O jovem que não mais sabia se seu nome era Dumpal ou Duílio sentiu familiaridade imediata no casal de mais de meia idade que entrava na sala. Teve intenção de se levantar mas sentiu novamente a fraqueza de um corpo que não parecia ser o seu, mais magro e pálido, até mais baixo. Foi ajudado pela enfermeira, um pouco mais bonita que aquela que ele vira pela primeira vez e já de pé foi abraçado pela mãe.

Depois o pai com uma expressão ambígua parecia não saber o que dizer ao filho, apesar de alegria de revê-lo aliviando toda a saudade acumulada, queria lhe dar uma bela bronca, mas cedeu ao sentimento positivo abraçando também o rapaz que agora sentia neles pessoas íntimas. O pai deixou cair lágrimas dos olhos.

– Graças a Deus meu filho. Graças a Deus.

Mais tarde Dumpal, ou Duílio, montava passo a passo as peças de seu quebra-cabeças, tentando afinal organizar os pensamentos. Esse mundo era fisicamente parecido com o mundo onde estava mas as pessoas, o lugar, a arquitetura era totalmente diferente. Ninguém na Terra Média jamais vira coisa igual, mesmo assim ele se sentia cada vez mais familiar a ponto de começar a considerar que as coisas na Terra Média é que eram estranhas.

Seus pais conversaram com ele longamente reavivando sua memória, e o que ele se lembrava tinha muito pouco haver com o que esperava encontrar. Nada sobre seu passado na guerra de anel e dos feiticeiros que o acompanharam no combate contra Mordor. Nada sobre a origem de seus sentimentos por Kalmira, e nada sobre ele próprio que conseguisse acreditar totalmente. Sua mãe então após muito pensar finalmente falou. – Tem alguém aqui que vai ajudar você a se lembrar. Alguém de quem você sempre gostou muito. Mas é melhor que saiba que ela agora é uma mulher casada.

Ele não sabia mais o que pensar. A porta se abriu lentamente e um bela mulher loira, bem menos jovem do que ele, veio sorridente. Seu coração disparou e a sensação que teve foi reveladora. – Kalmira... Camila?

Ela o abraçou ternamente, alisando seus desajeitados cabelos enquanto ele tentava entender o que acontecia. Seus pais os deixaram a sós, Camila o fez sentar e começaram a se entender calmamente.

– Você se lembra? – Perguntou a moça com um olhar profundo e amável. O rapaz não sabia o que dizer. – Eu nem tenho certeza do meu nome, todos me chamam de Duílio mas pensei que meu nome era... – Ela o interrompeu e completou. – Dumpal.

Era a primeira vez que ele ouvia seu verdadeiro nome. Ou pelo menos o nome que gostava mais. – E você me chamava de Kalmira. Eram os nomes de nossos personagens.

– O quê? – Duílio ainda estava confuso. – Eu vou explicar. – Continuou a moça. – Tudo começou comigo, se não se lembra sou sua prima em segundo grau, sou 10 anos mais velha mas mesmo assim sempre nos demos muito bem. Quando você tinha 12 anos eu lhe dei um livro, que se chamava O Hobbit, de J.R.R.Tolkien. Você gostou tanto que o leu várias vezes e até o reescreveu. Satisfeita com o seu interesse ajudei você a convencer seus pais a lhe darem a trilogia do Senhor dos Anéis, do mesmo autor. Você os leu ininterruptamente, nem dormiu. Depois nós o lemos juntos várias vezes, inclusive outros, As aventudas de Tom Bombadil, Silmarillion e diversos outros autores relacionados ao universo de Fantasia. A Terra Média.

– Não éramos só nós, tínhamos amigos. Brincávamos juntos, sempre fui muito sua companheira apesar de bem mais velha. Sei que você sempre gostou de mim, tinha ciúmes de meus namorados, eles também tinham de você.

Ela sorria para ele, cujas lembranças começavam a surgir e se organizar.

– Você então começou a jogar Role Playing Games, principalmente Dungeons&Dragons com o qual me convenceu a jogar também. Lembra?

Ele começava a se lembrar então exclamou. – Sim! E também jogávamos com o Hélvio, e o Ribeirinho, a Janine! – Camila sorriu novamente. – Que bom que já está se lembrando. Nós jogamos muito tempo, muitas vezes. E vocês, principalmente você, Hélvio e o Felipe, levavam tudo muito a sério. Sério demais.

– Vocês começaram a criar grupos grandes, os maiores da cidade, passou a promover encontros, compêndios. Você começou até a ganhar dinheiro com isso. Escreveram livros e novos sistemas de jogos todos no universo de Fantasia. Então aconteceu algo que infelizmente, te afetou muito.

– Você se casou. – Ele comentou secamente.

– É. Eu sabia que você teria dificuldade em aceitar. Fiquei preocupada, você nunca tinha tido uma namorada, sempre saia comigo e...

Agora as memórias vinham até ele com força total, ele foi lembrando de tudo, do porquê a admirava tanto, e desabafou amargurado. – Afinal quem era eu para, ter alguma coisa com uma antropóloga, tão inteligente, tão bonita, e bem sucedida.

Ela se calou ouvindo e ele continuou. – Como está seu casamento?

– Ótimo! Celso é um ótimo marido. Já temos uma filha de dois anos, se chama Estela, e eu acho que estou grávida de novo. – Ela tentou por uma dose de alegria em suas palavras mas sabia que seria inútil, como se confirmou com as próximas palavras de Duílio. – Sinto muito por não ficar feliz com isso.

– Eu entendo. – Ela suspirou entristecida. Mas prosseguiu – E depois... Lembra o que aconteceu? – A expectativa era grande e o jovem fechou os olhos tentando se lembrar, aos poucos foi surgindo, tudo.

– Lembro. Eu estava muito chateado, fugia da realidade nos livros e nos jogos. Até que eu, Hélvio, o Ribeirinho e... – Ela completou – O Felipe. – Duílio se lembrou rapidamente. – É, o cara mais velho. O Felipe. Ele teve uma idéia para dar mais emoção aos jogos. Uma super ambientação. Usamos roupas, montamos cenário. Fizemos um belo circo. Ficou incrível! Fizemos um livro com decorações de ouro e até criamos idiomas. Resolvemos fazer a maior das aventuras, na própria mitologia de Tolkien. Recriamos a Guerra do Anel. E decidimos entrar nela, ao lado de Frodo, Gandalf, Eloim.

– Era a maior das aventuras, estávamos tão sintonizados que decidimos tentar algo ainda mais radical. Felipe era formado em psicologia e sabia hipnose. Fizemos uma sessão de hipnose coletiva para entrar no jogo da forma mais profunda possível. Foi incrível, nos sentimos lá, nossos corpos não se mexiam mas era como se corréssemos e lutássemos... Sentíamos tudo! Todos os nossos personagens eram feiticeiros, criamos personagens paralelos para nos ajudar. Eu usei a sua personagem para me acompanhar.

– Nossa vitória foi total e então estávamos tão felizes que... Não queríamos mais voltar ao mundo real.

Camila estava impressionada, nunca soubera exatamente o que se passara naquela fatídica noite. A empregada de Felipe após estranhar a demora chamara uma ambulância por que os rapazes não despertavam do transe. Felipe acordou algumas semanas depois no hospital. Hélvio e Duílio permaneceram em estado catatônico, mas Hélvio acordara há pouco menos de um ano atrás e teve recaídas. Ela então deu a notícia. – Riberinho faleceu. Entrou em estado de coma e não se recuperou.

Duílio não parecia surpreso. Camila insistiu. – O que aconteceu?

– Bem... Nós não queríamos voltar e... Decidimos esquecer...

– Decidimos esquecer o mundo real.

Duílio estava aos prantos, nos braços da amiga. Tudo que ele vivera, a terra mágica, os anões, elfos e dragões. Era tudo um sonho, mal ele conseguia falar. – Mas... Era tão... Real... – E se entregava ao desespero. Camila tentava consolá-lo da melhor forma possível, mas pouco podia fazer.

Tudo indicava que ele e os amigos foram vítimas de uma hipnose coletiva auto induzida que hiper amplificou suas já aguçadas imaginações, a ponto de alterarem sua percepção. Duílio permaneceu quase 3 anos em estado catatônico, mas sua mente estava em outro mundo, vivendo intensamente, vivendo num outro fluxo de tempo que equivaleu a mais de uma década. Quando lá ele dormia, o fazia aparentemente também aqui, mas seu sonambulismo providencial que ocorria nos dois mundos era útil para que ele se exercitasse sob a guia das enfermeiras, impedindo uma maior degeneração muscular. Fora isso fora um vegetal

Mas para ele o pior era agora, encarar a realidade dos fatos, de que tudo o que vivera fora uma ilusão. Tinha que voltar ao mundo real embora as lembranças de Kalmira, Olmim, Narzamidra e do falecido Folstag ainda ardessem em sua memória. Nada mais podia fazer embora quisesse, embora fosse capaz de dar tudo para que aquilo fosse real, um mundo onde sua vida tinha sentido, onde era útil e admirado, onde havia aventura e realização.

E sobretudo, onde a elfo Kalmira podia até ser sua, pelo menos mais fácil do que a humana e real Camila por quem ele sempre fora apaixonado, desde criança, sempre alimentando a esperança de que um dia eles seriam mais que amigos.

Uma coisa não mudara, ao olhar para a moeda ele sentiu que iria para um mundo do qual não iria gostar. Agora tinha certeza.

Semanas depois.

Já mais recuperado do choque da volta ao mundo real. Duílio ainda sofria um pouco com os exercícios físicos e todas as atividades que deveria praticar para que pudesse voltar a ser uma pessoa normal e saudável. Sua recuperação foi boa e apenas 11 dias depois de despertar pôde deixar o Hospital.

Agora era a rotina do dia a dia, a perspectiva de uma existência comum. No início dos seus 20 anos ele tinha uma vida a recuperar, embora não estivesse nada animado. Ainda todo dia se lembrava de seu mundo fantástico, ao dormir sonhava com ele, mas não era como estar lá "de verdade".

Para ele os RPGs e livros fantásticos estavam proibidos é claro, sob vigilância rigorosa do próprio pai. Sua mãe faltava muito ao trabalho para acompanhá-lo. Camila e o marido dela o visitavam, antigos amigos iam e vinham.

Mas ele não estava feliz, faltava metade de seu ser. Sem esperança alguma de ter a mulher que ele amava cuja idade, maturidade e personalidade a faziam parecer muito mais velha do que ele, assim como a elfo em relação a Dumpal. Alguém que ele admirava mas não podia tocar. E no fundo sentia que o sentimento era recíproco.

Foi numa tarde tranquila que ele após o exercício na esteira recebeu uma visita. Seu velho amigo Hélvio tinha frustrado a vigilância que o pai de Duílio impusera, com a instrução de que ele não visse pelos menos por enquanto, qualquer um dos envolvidos naquele acontecimento terrível.

Foi um abraço fraternal quando alguma coisa se agitou na memória de Duílio, na memória do sonho. Ele fora Herios, o mago guerreiro que o acompanhara contra o Senhor do Escuro na guerra do anel. Se lembrou de como foi a legendária batalha sob uma nuvem negra que cobria a luz do Sol, possibilitando Orcs e Trolls a avançarem em pleno dia.

Não jogaram muita conversa fora, Hélvio parecia agitado.

– Dumpal! O que aconteceu?! O que está fazendo?!

– O quê?! – Respondeu Duílio espantado. – Meu nome não é Dumpal!

Hélvio não parecia se abalar em nada. – Você não compreende não é?! Precisa voltar! – Ele falava sério e Duílio se revoltou. – Você está louco! Não quero me afundar de novo naquela maluquice! Tenho uma vida para recuperar! Tenho muito o que viver! Não vou vegetar numa cama para delirar numa...

– Viver o quê?! – Interropeu Hélvio – Uma vidinha medíocre comparado ao que você era e podia ser muito mais!? – Duílio mal podia acreditar no que ouvia, sobrevivera a 3 anos naquele estado e o amigo que ficara menos de 2 estava muito mais perturbado do que ele. – Hélvio eu não sei o... – O seu amigo então o interrompeu.

– Quem te fala agora não é Hélvio, eu sou Herios! E estou falando com Dumpal! Ah meu Deus... Você não entendeu nada não é? – Duílio estava paralisado de surpresa. – Entender o quê?!

– Está bem, eu vou te explicar. Sente-se aqui que eu vou lhe explicar tudo.

– Sei o que está sentindo agora Dump... Duílio. Na primeira vez me senti parecido. Acordei há mais de um ano atrás e não foi nada agradável. Perder todo aquele mundo, eu tinha uma linda amante e um exército particular. Mas diferente de você eu escolhi vir sabendo melhor o que encontraria. Mesmo assim foi um choque.

– Depois que nos separamos, muito depois da guerra, me envolvi em muitas campanhas até que um dia meu exército estava sitiado entre elfos negros e a floresta das trevas, sem muitas chances de reação. Muitos feiticeiros poderosos estavam contra nós e até um dragão nos aterrorizava pelo ar, ameaçando queimar a floresta conosco dentro se tentássemos a tentativa de improvável sucesso de escapar por ela.

– Meus poderes já não eram como antes por que eu estava me esquecendo cada vez mais, de quem eu era e de onde tinha vindo. Mas sabia que podia voltar de alguma forma. Sentia que se eu voltasse ao local de onde havia vindo, e do qual pouquíssimas lembranças eu tinha, poderia reestabelecer meus poderes. Mas como?

– Me recolhi para realizar um feitiço que eu nem bem sabia qual, foi um esforço terrível mas por fim após muita concentração, comecei a ter visões, flashes de lembrança. Me aprofundei mentalmente até sentir algo... terrível, e então vi com meus olhos...reais!

– Despertei, não no hospital mas na minha própria casa onde meus pais haviam montado um pequeno ambulatório particular, com uma bela enfermeira para cuidar de mim. Quase enlouqueci mas após algumas semanas entendi o que significava, após ler um livro de um tal de... Não sei o que lá XR.

– Quem? – Duílio interrompeu embora capturado pela narrativa.

– Ah não importa! O importante é o que ele disse que... Me tocou profundamente, para mim foi uma revelação!

– O quê?! – Dumpal reagiu após um breve silêncio de seu colega.

– Calma. Foi só uma pausa dramática. Ele começa dizendo que o Universo é Infinito, mas que esse infinito não é bem compreendido pela maioria das pessoas. Infinito na verdade se extende a todos os sentidos, infinito espaço, infinita mudança, infinitas possibilidades! Pense bem! Tudo é possível! Por que se o universo é infinito, há espaço para tudo! Mesmo que nossos cientistas sabichões digam o contrário, a verdade é que esse infinito possibilita qualquer coisa ainda, que é muito além do alcance de nossa percepção.

– Ele fala em universos paralelos, subdimensões e realidades alternativas nas quais nós vivemos. Fala que todo o dia nossa consciência está viajando por realidades alternativas de pequenas diferenças. Veja só, este é o nosso universo, ao lado dele há um outro onde tudo é igual com a exceção de um elétron um pouco fora do lugar, até outros com átomos inteiros em lugares diferentes, moléculas, pequenos objetos, eventos ligeiramente distorcidos e etc. Para cada micro possibilidade existe um universo inteiro. E sabe quantos universos são? Infinitos!

– Mas é muita coisa! – Respondeu Duílio. – Tantos universos juntos... É demais... Como pode haver tantas...

– O Universo é Inifinito Duílio! Infinito!!! Há espaço para tudo. Ele diz também que nós estamos vagando entre essas realidades paralelas, mas as mudanças que notamos são mínimas. Sabe quando você deixa uma coisa num lugar e por instante percebe que ela não está mais lá?! É um pequeno desvio de realidade, isso é normal, acontece sempre com a gente. Mas algumas pessoas, muito poucas, podem ir muito mais longe. Podem ver universos paralelos bem diferentes.

– Deve estar cheio desses nos hospícios! – Brincou Duílio.

– É! – Reagiu meio irritado Hélvio. – Gente igual a gente! Bem... O que aconteceu conosco então? – Dumpal arregalou os olhos. –Vai dizer que fomos para um universo paralelo?!

– Exatamente! – Hélvio gritou triunfante mas Duílio não se deu por vencido. – Não viaja! Aquilo tudo só estava na nossa cabeça! – Hélvio pareceu ficar ainda mais contente. – Isso!!! Isso mesmo, um universo paralelo na nossa cabeça!

Dumpal, ou Duílio, começou a se preocupar pensando. – "Esse cara está perturbado mesmo." Mas continuou a ouvir o amigo.

– É isso mesmo. Tudo no universo Dumpal... É mental! É criado pela mente, quando alguém cria alguma coisa em sua imaginação, na verdade está vendo essa coisa em um universo distante. Ou a está criando, o que dá na mesma. Em algum lugar do infinito universo, a galáxia onde se passa Guerra nas Estrelas de George Lucas existe! Realmente! Quando Frank Herbert, Marion Zimmer Bradley, Michael Straczinski, criaram seus universos de ficção, estavam na verdade entrando em contato com um universo paralelo onde tudo aquilo é real por mais estranho que possa nos parecer. Um lugar onde as leis da natureza possam ser diferentes, mas onde tudo existe.

– E se é assim... – Completou Dumpal. – Quando Tolkien criou a Terra Média, estava na verdade entrando em contato inconsciente ou mesmo criando, uma realidade num universo paralelo?

– Viu só?! Não é tão difícil assim né? – Hélvio ironizou confirmando com a cabeça e embora Duílio não estivesse convencido confessou. – Legal cara! Muito legal. É um bela suposição mas... Nunca poderemos saber se ela é verdadeira!

– Ah! Eu sei! Eu comprovei. Nós estivemos lá. Pense bem, se concentra. Não era real demais para ser sonho? Tudo acontecia com perfeição, sem os atropelos comuns dos sonhos, se contarmos tudo o que fizemos não parece sonho de jeito nenhum. Pensa cara! É real! É um outro mundo. E nós podemos viajar para ele, já o fizemos uma vez e podemos fazer de novo. Eu já fiz várias vezes. Vou e volto a hora que quero!

Diante da dificuldade de aceitação do amigo Hélvio começou a ficar impaciente. – Qual é cara!? Parece que nem viu The Matrix! ...Opa! Quer dizer, não viu mesmo, você estava fora, foi mal.

– Ah Hélvio eu...– Duílio queria acreditar mas tinha dificuldades. – Sei lá, pode ser mas de qualquer jeito, teríamos que entrar em coma de novo.

– Catatônicos! Entramos em estado catatônico! Mas não precisa ser pra sempre, uma semana aqui pode ser anos lá se você se concentrar direito, ou o contrário. Depois que eu acordei a primeira vez, decidi tomar coragem e voltar, mas percebi que se, lembrando pouco desse mundo aqui nós lá perdemos nossos poderes, lembrando muito nem conseguimos ficar lá, é preciso obrigatoriamente esquecer um bocado. O problema é: Como poder voltar para cá se nós nos esquecemos? Eu inventei a solução!

– Pensa bem! Por que lá nós tínhamos tantos poderes? Por que aqui conhecíamos as regras e leis que regiam a mística daquele universo. Como se alguém de um universo paralelo ao nosso conhecesse todos os segredos, leis físicas e etc. que regem o nosso universo, coisa que não estamos nem perto. Por isso ele poderia ter superpoderes aqui também.

– Para esses poderes funcionarem e para que possamos ficar lá, temos que eliminar da nossa mente a constante idéia de que tudo é uma fantasia, que só estamos imaginando. Quando você percebe que está sonhando por exemplo, muitas vezes acaba acordando ou o sonho perde boa parte do encanto. É parecido.

– Temos que ir lá e esquecer, mas também temos que poder voltar a hora que sentirmos necessidade. Então tive uma grande sacada! Já assistiu "Em Algum Lugar do Passado."?

– Somewhere in Time, Com Cristopher Reeve. – Respondeu Duílio, mas faz tempo, não me lembro direito.

– Nesse filme o cara se apaixona por uma mulher do passado através de fotos antigas e da história dela. Obcecado decide tentar um certo método de viagem no tempo muito parecido com o que usamos naquele dia. Ele se vestiu com roupas e acessórios de começo do século, se cercou de objetos daquela data e se hipnotizou se convencendo que estava lá, e conseguiu! Voltou no tempo conheceu a mulher e tiveram um romance.

– O problema foi que um dia ele estava mexendo em seus bolsos e entre as moedas de época que ele tinha adquirido num antiquário do tempo presente, sem querer havia deixado uma moeda moderna. Quando ele viu a moeda, e a data que para aquela época era futuro, ele sofreu um choque psíquico, perdeu a concentração e foi puxado de volta para o presente.

– Decidi usar essa idéia a meu favor. Para voltar a Terra Média depois que acordei a primeira vez fiz a mesmo coisa que fizemos em grupo, me vesti com as roupas de meu personagem, entrei no cenário, li textos e me cerquei de objetos que lembraria no mundo de fantasia, mas levei uma moeda nova de 1 Real no meu bolso para qual eu me programei para nunca olhar a não ser que quisesse redescobrir meu passado.

– Consegui! Fui de novo para o lugar onde eu estava. A floresta negra, e esqueci desse mundo de cá, mas sabia que trazia alguma coisa para qual não deveria olhar a não ser num caso muito especial, respeitei minha intuição. Com magias que eu tinha preparado aqui, arrasei os inimigos por lá e salvei meu exército e meus amigos. Muito tempo depois senti necessidade de voltar para o meu mundo original de novo, mesmo sem lembrar de como era, e aí olhei aquilo que havia trazido para qual não deveria olhar, e nem me lembrava que era uma moeda. Deu certo! Acordei de novo daquilo que foi minha recaída catatônica, fiz o que tinha que fazer e depois de um tempo fui de novo, e depois voltei de novo até que hoje nem preciso mais da moeda. E posso controlar o fluxo de tempo de modo que apenas um dia aqui estando inerte já me permite ficar anos por lá, e então posso levar uma vida dupla, em dois mundos, usando o que aprendi em um para melhorar no outro.

– Então foi você?! – Interrogou Dumpal. – Que deu a moeda ao Narzamidra!?

– Fui eu mesmo. Quer dizer, foi Herios

– Herios... Quer dizer, Hélvio. – Disse Duílio. – Que aconteceu com o Riberinho? Se ele morreu aqui o que aconteceu com ele por lá?

Hélvio não demonstrava qualquer tristeza. – Ficou lá! Definitivamente! Essa é a prova cabal de que aquele mundo existe. Ele não pode mais voltar para cá por isso hoje deixou de ser um grande feiticeiro e fica apenas curtindo a vida num castelo cheio de riquezas e dezenas de lindas concubinas. É como um rei!

– Mas nós Dumpal! Podemos ser mais, podemos interferir naquele mundo como quisermos e termos tudo. O que você quer?

Duílio pensou primeiramente em Camila, ou melhor, na elfo Kalmira que o esperava lá. E sentiu a alegria se reanimar eu seu corpo. Sentiu uma energia como nunca sentira antes. E após uma verdadeira vertigem decidiu. – Eu quero voltar.

– Ouviu Herios?! Eu quero voltar!



Dias depois

– Mas é claro que quero voltar! Mas... Não é tão simples. – Duílio conchichava ao telefone, do outro lado da linha Hélvio ouvia indignado. – Não posso fazer isso com minha família! Acabei de acordar, como posso deliberadamente voltar a ficar com o corpo inerte no hospital. Seria um traição!

– Não acredito no que estou ouvindo! – Retrucou o amigo cuja voz soava estridente ao telefone. – Pra começar você nunca nem se deu muito bem com sua família, não está comprometido com nada! A mulher que você gosta está fora de seu alcance e... Você acha que as coisas na sua casa continuarão assim pra sempre. Deixe só cair na mesmice e toda aquela guerra vai começar!

Era de fato verdade. Duílio não tinha uma família equilibrada. As brigas eram constantes, Pai e Mãe em constante oposição, ele tinha uma desavença pessoal inexplicável com o pai e com sua irmã mais velha que por sorte não mais morava com eles. Viviam num clima de amor e ódio cuja predominância do último era constante na época em que Duílio "adormeceu".

– Eu sei! Eu sei... Mas mesmo assim eles são meus pais! Cuidaram de mim, gastaram uma fortuna com o hospital... Não é justo! – Duílio tinha vontade de gritar mas não podia falar muito alto, aquela conversa era secreta e seus pais estavam na sala ao lado.

– De qualquer modo eu te garanto que funciona do jeito que eu falei. Você pode ficar por lá por um ano e aqui só passar uma semana! É totalmente relativo.

– É, e também pode acontecer o contrário.

– É muito difícil. Olha Duílio. Fica frio. Se você ficar só nesse mundo sem JOGAR vai se consumir cada vez mais, acho que não é nem questão de escolha. É sobrevivência!

– Cara... Eu sei que você me conhece muito bem mas eu preciso pensar tá Ok? Além do mais preciso ainda falar com a Camila e quem... – Duílio interrompeu bruscamente. – Quê foi?! – Perguntou Hélvio. – Não sei. – Respondeu Duílio. – Acho que ouvi um barulho na linha e...

O telefone emudeceu quando um dedo pressionou o gancho. Era o pai de Duílio, furioso. – Eu não acredito! Eu disse que não era para falar com esse demente!!! – O jovem se levantou aparentando tranquilidade. – Calma. Não precisa se preocupar que eu resolvo isso.

– Calma o cacete!!! – Retrucou rispidamente o pai. – Eu nunca mais quero ouvir falar nessas porcarias de jogos de aventura ou fantasia seja lá o que for! Pelo menos enquanto você estiver na minha casa!

Duílio não estava disposto a ressuscitar as velhas brigas que costumavam tomar horas envolvendo toda a família. Em seu tempo no "mundo dos sonhos", aprendeu a ser mais paciente e controlado. Também não sentia mais aquele rancor que o fazia perder a calma com tanta facilidade. Isso desarmou seu pai um pouco.

– Escuta pai. Eu não pretendo fazer nenhuma besteira de novo. Mas tenho que saber o que foi que aconteceu. Aquela explicação psiquiátrica do Dr. Jonas não me convenceu!

Era vez da mãe intervir. – A explicação é simples meu filho. Eu casei de avisar para você tomar jeito na vida. Mas de tanto se enfiar naquelas maluquices acabou perdendo o juízo!

– Não! Não é tão simples. Um amigo meu já morreu e eu tenho que saber o que aconteceu como os outros.

– Se for atrás daquele imbecil do Hélvio eu juro que meto ele na cadeia igual fizemos com... – O pai se deteve bruscamente sabendo ter deixado escapar algo precipitadamente. Duílio percebeu na hora. – Quem?! Quem foi pra cadeia?!

Os pais se entreolharam, o olhar condizente da mãe obrigou o pai a prosseguir mais calmamente. – O tal do Felipe. Nós e os outros pais movemos um processo contra ele.

– Processo! Baseado em quê?!

– Aplicação ilícita de certas habilidades clínicas. Ele dirigiu a sessão de hipnose não foi? E não era nem formado em coisa alguma. – O pai concluiu caindo no sofá. Duílio ainda estranhava. – Mas ele... Sempre disse que havia se formado na... Foi pra cadeia por causa disso!?

A senhora Elza resolveu explicar tudo. – Não foi a primeira vez. Ele foi expulso da faculdade onde estudava por usar hipnose de forma irresponsável, estava se especializando. Já havia feito uma sessão envolvendo jogos como esses, com um resultado parecido, mas não deu em mortes. Criou uma má fama na cidade onde morava que muita gente tinha até medo de falar com ele achando que podia ser hipnotizado.

Duílio se sentiu enganado. Felipe sempre dissera que era a primeira vez que tentaria algo daquele tipo. Disse que mal conhecia hipnose. Se tudo isso era verdade ele e seus amigos foram enganados, não foram avisados do risco. Era de fato um crime.

– Onde ele está!? – Duílio perguntou indignado.

– Pra que quer saber? – Respondeu o pai. – Você não vai vê-lo!

– Quero falar com ele sobre isso! – Duílio começou a perder a calma.

– Está em prisão domiciliar. – Explicou a mãe.

– Elza! Cale a bo... – O pai se irritou mas ela continuou. – Ele vai saber mais cedo ou mais tarde!!

– Vou saber é agora! – Duílio disse decidido.

– Não! Não se atreva a sair dessa casa agora! – O pai se interpôs entre o rapaz e corredor que dava para o quarto dele.

– Não tente me deter! Isso é muito importante! Se for verdade eu vou matar aquele desgraçado!

– Meu filho! Pelo amor de Deus não me faça outra besteira! – Apelou a mãe, mas Duílio estava mais que decidido. Entrou em seu quarto vestiu uma roupa pegou sua velha carteira que ainda tinha algum dinheiro antigo e rumou para a porta. Mas antes teve que ouvir do pai.

– Se passar por essa porta não poderá mais voltar!

– Já ouvi isso antes! – Ele abriu a porta e saiu escada abaixo. – Desta vez é diferente! – O pai completou e Duílio sentia que era mesmo. Seu pai nunca falara naquele tom, mas ele precisava ir pois tinha um pressentimento estranhíssimo, algo que vinha dos dois mundos em que ele viveu.

Saiu para a rua enquanto a mãe ainda gritava seu nome furiosa, sentiu desejo de voltar mas esse desejo se foi quando pai e mãe começaram a brigar novamente trocando insultos que não raro terminavam em tapas.

Sua cidade não estava diferente. O Ano 2000 chegara sem nenhuma mudança significativa a não ser bobagens. Rumou direto para a casa de Felipe intuindo que era ainda no mesmo lugar.

Morava num bairro nobre em um apartamento luxuoso, por ficar perto da delegacia de polícia que se responsabilizava por ele, era vigiando mais de perto pelo policial ao qual ele devia se reportar regularmente.

Duílio deduziu isso ao ver um agente entrando no prédio e subindo ao apartamento de que ele se lembrava. Foi logo atrás e teve que se identificar ao tira. Ambos se aproximaram da porta com objetivos diferentes e o policial, carrancudo, percebia a inquietação de Duílio.

A empregada atendeu a porta, já conhecida do agente, fazendo-os entrar, se dirigiram rumo a biblioteca enquanto Duílio se lembrava do dia em que haviam jogado a fatídica aventura como se fosse no dia anterior, mesmo que a decoração estivesse totalmente diferente.

O policial entrou primeiro parecendo desconfiar de alguma coisa e alguns minutos depois voltou ainda mais carrancudo do que quando entrara, e fez sinal para Duílio de que era a sua vez.

A passos lentos ele adentrou a sala escura onde a única luz vinha de uma luminária sobre a mesa, iluminando livros, e as mãos do seu antigo colega e mestre de aventuras.

– Nos livros como sempre. – Começou o visitante contemplando o rosto ainda a meia luz de Felipe, que respondeu. – Dumpal. Pensei que não ia mais acordar.

– Como você está? – Perguntou desanimadamente Duílio.

– Ótimo. Na medida do possível. – Disse ele fazendo um gesto que lembrava sua situação de restrição domiciliar. Felipe parecia bem mais velho, um tanto consumido mas estranhamente animado com a visita. Após um breve silêncio ele interrompeu um prenúncio de pergunta de seu antigo colega.

– Não precisa dizer nada, poupe seu fôlego. Sei o que faz aqui.

Duílio ficou intrigado. – E o que é?

– Eu explico tudo. Está aqui para saber a respeito da minha responsabilidade no que aconteceu, acha que sou de alguma forma culpado por tudo, pela morte de nosso colega inclusive. Acha que usei de forma ilícita meus conhecimentos com hipnose e que podia muito bem prever o que aconteceria. Não é isso?

Duílio não respondeu mas pensava em aliviar um pouco a tensão, afinal mesmo que não tivessem sido exatamente amigos foram colegas de jogos, mas não teve tempo devido a inesperada interrupção de Felipe.

– Pois você está absolutamente certo!

Enquanto Duílio ainda se recuperava do susto Felipe prosseguiu.

– Menti! É verdade. Já havia feito uma sessão como aquela antes com resultados parecidos, mas não controlei bem o experimento e por isso meus resultados foram confusos.

– Experimento?! – Redarguiu Duílio ante o tecnicismo que teve a palavra.

– É! Foi uma experiência! – Confirmou Felipe. – Há muito tempo eu precisava fazer isso. Precisava saber se era possível criar um estado mental tão avançado que, pudesse mesmo se tornar real. Bem. Acho que consegui!

– Pra quê?!

– Eu devia isso... Aos meus... Clientes.

– ??? O quê?!

– Calma aí! Há vários anos eu, trabalho para um certo grupo que está desenvolvendo algo, poderia-se assim dizer... Fantástico!

Duílio estava cada vez mais incomodado com o modo que ele falava.

– Em breve. Se tudo der certo. Haverá por aí um novo tipo de... Droga! Que vai desbancar totalmente as outras, mas ainda por cima vai devorar o mercado de entretenimento! Será ilegal é claro! Mas ninguém vai resistir.

– Mas do que é que você está falando?

– Olhe eu nem sei o nome científico, mas chamamos de Virtuol, ou Virtuína.

– Quê?!

– Você a toma uma meia hora antes de deitar, se concentra em algo que você quer sonhar, pode ser qualquer coisa, mulheres, praias, aventuras, e... Você sonha! Com perfeição! Basta um pouco de prática e você conseguirá fazer o que quiser nos seus sonhos, num nível de realismo que vai abortar a Realidade Virtual mesmo antes dela ter nascido. Imagine Duílio! Pode ser qualquer coisa. A Virtuína te joga num estado mental tão intenso, que você pode passar algumas horas sonhando e no entanto parecer uma vida, tem gente que nem vai querer voltar! Vai ser um sucesso! Com ela também é possível sugestionar o mente a ponto de obter resultados somáticos, ou seja, pode simular o efeito de qualquer outra droga. A viagem perfeita! Tudo o mais ficará obsoleto.

– ...Mas e os efeitos colaterais?!

– Bem, se você usar no máximo uma vez por semana, desprezíveis, embora eu duvido que alguém consiga manter só esse ritmo.

– E se for todo dia?

– Vejamos, possibilidades de derrame cerebral, coma, estado catatônico etc... O mesmo que uma super dosagem.

Duílio levantou da cadeira. A fúria o envolveu.

– O quê?! Então foi isso?! Você misturou essa porcaria na água que a gente bebia naquele jogo e... Era essa a experiência?!

– Que apesar do desastre foi um sucesso!

– Seu canalha! – Duílio avançou para pegar Felipe pelo pescoço, até que foi detido por uma força inexplicável. Ficou paralisado. Felipe sorriu.

– Opa! Espere aí! Eu hipnotzei vocês lembra? Acha que sou burro. Para colher todos os dados da experiência tenho que agora, ver na sua cabecinha, tudo o que aconteceu. Deve haver muito mais dados para serem estudados. O Hélvio já teve sua vez! Basta fazer uma breve regressão, tirar tudo o que me for útil e depois, apago tudo.

Felipe tirou da gaveta um pequeno frasco de líquido incolor.

– Com essa belezinha aqui, a sugestão é centenas de vezes mais poderosa! Você é o Hélvio estão na minha mão, por isso tive que bloqueá-los para que qualquer ação contra mim fosse detida. E além disso...

O policial chegou por trás de Duílio, de arma em punho. Felipe estalou os dedos e o jovem saiu da paralização. E sorridente completou. – Eu não estou sozinho nessa, tem muita gente boa comigo.

Então uma presença inesperada interrompeu. – Nem tanto quanto você pensa babaca!

Uma pancada e o policial caiu no chão aparentemente desmaiado. Era Hélvio, que logo pegou a arma apontando para Felipe.

– Ora bolas. Quem está aqui? O outro marionete. Acha que pode puxar esse gatilho? – Felipe parecia totalmente confiante no bloqueio que implantara em suas vítimas. E também percebeu que o policial embora caído estava se levantando, mas disfarçando para não ser percebido.

– Você não sabe de nada cara! – Explodiu Hélvio. – Pode ter achado que descobriu algo fantástico, mas eu descobri outra ainda melhor!

– Ah é! E o que é?

O tira se levantou bruscamente, já com outra arma na mão, apontando para Hélvio. Felipe ficou ainda mais cínico. – Qual é? Não vai me contar a no-vi-da-de?

Até agora como mero espectador, Duílio passou a sentir alguma coisa estranha, como se de repente sua mente clareasse, vendo algo novo, e sentiu uma energia lhe percorrer o corpo.

– Larga!!! – Gritou o policial. Mas Hélvio apenas fez um gesto, e a arma do tira voou de sua mão indo cair longe. Felipe ficou espantado, mas agiu rápido puxando outra arma que guardara na gaveta.

Diante do impasse entre Hélvio e Felipe, o policial se precipitou a agarrar Duílio, mas com um só movimento do braço e com uma inesperada força, aquele que de repente se sentia novamente Dumpal arremessou-o longe. Percebeu que o tira caíra relativamente perto de sua arma. Dumpal não perdeu tempo e avançou até ele.

O tira era forte, policial treinado e durão. Normalmente um rapaz franzino como Duílio e sem tradição de artes marciais teria sido facilmente dominado, mas não foi o que aconteceu. Com movimentos precisos e rápidos ele neutralizou os socos do policial e mostrando uma disposição incrível aplicou-lhe um golpe que infelizmente e inexplicavelmente, o fez voar pela janela. Do 11o andar. E um estranho vento forte ficou a circular pelo recinto

Duílio lamentou mas não tinha tempo a perder. Percebeu que Hélvio tentava tirar a arma de Felipe da mesma forma anterior mas não conseguia. Sem pensar ele se aproximou e com um gesto semelhante arrebatou a arma ele próprio, que voou para sua mão como se puxada por um vácuo! Era impressionante! Ele e Hélvio tinham superpoderes! Mais estranho ainda o fato de que ambos pareciam achar tudo normal.

Felipe, agora acuado, desafiou. – Você não podem fazer nada! Podem ter aprendido a...

– Cala a boca!!! – Gritou Hélvio. Felipe começou a se preocupar.

– Vocês estão bloqueados! Não é possível! Eu bloqueei vocês!

O grito da doméstica que lá trabalhava, ao chegar na sala, ameaçando chamar a polícia, deixou Duílio nervoso, e meio confuso entre realidade e fantasia, puxou o gatilho.

Felipe caiu sobre a mesa, o tiro atingiu direto o coração.

– Eu... – Duílio estancou. – Não sei por que atirei.

– É. – Completou Hélvio. – Mas a polícia não vai querer saber disso.

– E o pior é... E se tiver mais tiras envolvidos?

– Com certeza há. Vamos dar o fora daqui!

Correram direto para a saída dos fundos e descendo as escadarias teriam alguns minutos antes que a polícia se mobilizasse. Chegando ao térreo avistaram agentes mas se esconderam. Saíram pelo pátio e pulando o muro, sumiram na praça arborizada do outro lado da rua.

Fim da Parte II
Marcus Valerio XR

Parte Anterior

Próxima Parte

Volta para o
Índice de Contos