Universidade de Brasília, Junho de 2008
Departamento de Pós Graduação em Filosofia
Disciplina de Filosofia Comparada Ocidente e Oriente
Professor Doutor Scott Randall Paine






O XINTOÍSMO
E A IDENTIDADE
CULTURAL DO JAPÃO

Aproximadamente 81.600 caracteres.
www.xr.pro.br/MONOGRAFIAS/Xintoismo.HTML







Marcus Valerio XR
w w w . x r . p r o . b r
Mestrando em Filosofia
Matrícula: 09/54535


ÍNDICE

IntroduçãoPágina 03
O País do Sol NascentePágina 04
Caos e CosmosPágina 05
Teogonia XintoístaPágina 06
Notas sobre o Japão e o XintoísmoPágina 08
Breve cronologia do XintoísmoPágina 12
EtnocentrismoPágina 16
Dialética ReligiosaPágina 19
Trilogia para uma Religião OficialPágina 21
O “Legislador” CulturalPágina 22
As Vantagens de uma Identidade Cultural EstimadaPágina 25
Em Busca de uma Fraternidade UniversalPágina 27
BibliografiaPágina 31

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INTRODUÇÃO

Quase 10 anos separam este escrito de minha monografia anterior sobre o Xintoísmo, que melhor poderia ser definida como um ensaio, não fosse, talvez, a importância que obteve na web brasileira. Durante muito tempo, o internauta que pesquisasse sobre o tema em língua portuguesa, encontraria em primeiro lugar o meu texto, intitulado Xintoísmo – A Religião Japonesa, de 1999, e uma modesta quantidade de outros escritos de menor extensão, muitos dos quais claramente inspirados, e muitos plagiados, desta minha incursão prematura ao tema.

Já no cabeçalho, eu colocara a advertência de que não se tratava de um trabalho finalizado, estando aberto a aperfeiçoamento e um posterior acabamento. Chegou finalmente o momento de realizar tal empreitada. Pretendo aqui não somente dar o fechamento desta monografia anterior, mas na realidade realizar uma outra, maior e mais abrangente, e com propósitos distintos, mas que deverá servir como complementação e expansão.

A principal diferença é que aquela tinha como pretensão uma simples abordagem didática da religião Xintô, ainda que com algumas humildes reflexões filosóficas comparativas com outras tradições, inclusive ocidentais. No momento presente, além de um maior aprofundamento, espero promover uma análise crítica da dimensão política desta religião, especialmente sua adequação ao conceito de uma religião nacional, uma identidade étnica que se encaixa com uma noção ideológica de “fraternidade”, respondendo em especial ao conceito de um “legislador cultural”, apontando por Jean Jacques Rousseau na clássica obra, o Contrato Social.

Assim, mais uma vez, espero adequar o trabalho à proposta da disciplina de mestrado em curso, Filosofia Comparada Ocidente e Oriente, ressaltando as dimensões filosóficas que podem ser encontradas no Xintoísmo. Haverá também, como sempre procuro fazer, uma confluência temática com a monografia de outra disciplina, Tópicos Especiais de Ética e Filosofia Política, onde pretendo abordar o conceito revolucionário de Fraternidade, ao lado dos conceitos de Igualdade e Liberdade, que tanto moldaram os séculos XVIII, XIX, XX e prometem fazer o mesmo no XXI. Dessa forma, enquanto naquela dissertação pretendo abranger os conceitos genéricos relativos a ideologias que configuram a mentalidade de nosso mundo, em especial sua influência em nosso conceito de democracia, neste, pretendo explorar e aprofundar especificamente um dos exemplos.

Tudo isso, porém, virá na seção segunda. Primeiramente, é preciso enfocar o tema do Xintoísmo em uma dimensão mais central, como tradição religiosa, ainda que indissociável da história e sociedade.

É aconselhável advertir também, que embora eu promova uma crítica da dimensão sócio política, por meio da identidade cultural etnocêntrica, isso não significa, de modo algum, uma reprovação desse sistema de pensamento, até, pelo contrário, aliado ao ponto de vista de Rousseau, procuro destacar as vantagens de uma identificação cultural autêntica, no sentido de promover a auto estima e o desenvolvimento de uma nação. No entanto, não pode ficar de fora uma exposição de suas conseqüentes desvantagens, como elemento gerador de tensão com outras culturas, e promotor de uma certa vulnerabilidade uma vez que os símbolos no qual se assenta possam ser atingidos por eventos reais ou símbolos contrários.

O objetivo final é, ou ao menos será, num futuro trabalho mais abrangente, mostrar um exemplo de como o conceito de Fraternidade pode ser desenvolvido, numa dimensão mais etnicamente restrita, com benefícios internos, e principalmente, por oposição como uma noção mais ampla de Fraternidade Universal poderia ser benéfica, esta sim, para toda a humanidade.

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O PAÍS DO SOL NASCENTE

Falar sobre o Xintoísmo é falar sobre a cultura japonesa, que parece impermeável sem um conhecimento de sua identidade étnica mitológica. Para me aventurar em tal tema, além da bibliografia, conto com uma experiência semi-direta. Tendo estudado por três anos no Departamento de Língua Japonesa da UnB, travei contato não só com o idioma e a cultura, mas também com os próprios japoneses. Tal contato, no entanto, é pouco comparado com a experiência de alguns colegas e professores meus que viveram anos no Japão, tendo não só dominado o idioma, mas penetrado da própria mentalidade popular, ocasião onde, só então, fica mais evidente a diferença cultural que separa povos de extremos opostos do planeta.

Se fosse possível escavar um imenso túnel vertical da região central do Japão passando pelo centro da Terra até o extremo oposto do planeta, tal túnel desembocaria no interior de Minas Gerais. Portanto, fisicamente, nenhum país é mais distante do Brasil do que o Japão, o que é curioso, visto que a integração entre estes dois países é particularmente notável, visto que o Brasil, neste exato ano onde comemoramos um século de imigração japonesa, Brasil abriga a maior comunidade nipônica fora do Japão, e que, por outro lado, a maior comunidade estrangeira não asiática no Japão é brasileira.

Apesar de tamanha integração, a distância entre essas duas culturas é tão grande que é difícil até mesmo de ser apreendida. Todos os brasileiros tem uma impressão clara do quão exótico é o Japão em relação aos nossos costumes, mas tal impressão se concentra mais no óbvio, a diferença visual, pictórica e comportamental pública. No entanto, um olhar mais próximo, mais imerso na cultura, tende a revelar que tal exoticidade é ainda maior do que parece, revelando uma radical diferença de mentalidade, símbolos e juízos.

Tal mentalidade certamente é impossível de ser compreendida sem um estudo das influências que a formaram, e entre estas, de certo a mais relevante é a tradição cultural conduzida pela religião japonesa por excelência, que se confunde com outras tradições, certamente, mas que possui uma especificidade que permite localizá-la e traçá-la pela história.

Por tratar-se de uma religião natural, não há possibilidade de se especificar uma data sequer provável de uma gênese de tal tradição, mas sim, meramente momentos históricos relevantes, a maioria dos quais, indissoluvelmente associadas às outras tradições religiosas que moldaram a história japonesa, e talvez ainda mais às conjunturas sociopolíticas.

Para isso, espero fazer uma breve cronologia do Xintoísmo, que de certa forma, será uma breve cronologia do Japão. Antes porém, cumpre apresentar uma série de pontos temáticos, de aparência quase aforismática, que foram utilizados para meu esboço e apresentação prévia do tema. Essa abordagem parece interessante pela não-linearidade típica de uma religião natural, que não tendo datas claras, nem códigos proclamados ou mesmo uma casta sacerdotal tão socialmente definida quanto às de outras tradições, termina por apresentar uma multiplicidade de aspectos que facilitam uma multiplicidade de abordagens.

É, inclusive, essa característica do Xintoísmo que garante-lhe um lugar de destaque no mundo moderno, um mundo e tomado por religiões messiânicas e universais, em especial o Cristianismo e o Islamismo, que reúnem mais da metade da humanidade, ou o Budismo que, ainda que não tão incisivo e proselitista quanto estes, também é aberto a qualquer um que queira se aproximar. As religiões naturais, em sua grande maioria, foram sendo esquecidas ao longo da história, suplantadas por sistemas teológicos mais sofisticados.

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Devemos nos lembrar, também, que as religiões hindus, especialmente o Bhramanismo, ainda que possam ser considerados em grande medida uma religião nacional, possuem uma sofisticação teórica capaz de fazer frente às outras grandes religiões literárias, e isso associado à imensa população da Índia, confere-lhe longevidade indefinida.

Já o Judaísmo, embora seja fundamentalmente uma religião étnica, encontra-se espalhado pelo mundo, devido a diáspora, e combinando isto a sua estrutura monoteísta, fica evidente sua diferenciação com o Xintô, que é uma religião étnica espacialmente delimitada.

Sendo uma religião natural desprovida do teor de revelação típica das grandes tradições monoteístas, é notável que o xintoísmo chegue ao século XXI com uma das maiores religiões do mundo, ainda que praticamente restrita ao País do Sol Nascente.

Caos e Cosmos

Muitos detalhes da mitologia japonesa já foram por mim desenvolvidos em minha monografia original, e seria redundante repetí-los. No entanto, novas abordagens podem ser feitas sobre o mesmo tema. Portanto, reformulei algumas passagens, e acrescentei uma apresentação esquemática otimizada da teogonia. Ainda assim, para que não me acusem de “encher” o texto com conteúdos já anteriormente desenvolvidos, apresentarei-os em fonte reduzida.

Antes, porém, quero chamar a atenção para um tema que me é caro, e que me desponta cada vez mais para um futuro projeto de pesquisa que intitulei provisoriamente como Filosofia do Caos. Caos, aqui, no sentido não de desordem ou excessiva complexidade, como o é na chamada Teoria do Caos, mas principalmente no sentido de uma potência primordial da qual emana o universo, por vezes, infelizmente, confundido com o conceito de Nada.

A diferença principal reside no fato de que o Nada é Não-Ser, absoluto, se é que isso faça sentido, enquanto o Caos é Ser, em potência pura, capaz de assumir toda e qualquer forma. Do Nada, nada se pode falar, do Caos, não só pode-se, e não só se fala, como todas as cosmogêneses concebíveis “falam” a partir dele.

O Caos é então a matriz primordial de toda a existência possível, e portanto, toda e qualquer forma de cosmogênese, inevitavelmente deve recorrer ao mesmo. As divergências se dão principalmente na existência ou não de algo concorrente ao Caos, pois tanto este pode pré existir sozinho, originando o universo de sua pura potencialidade, quanto pode coexistir com algum Cosmo, ordenamento, já estabelecido, que lança-se sobre o Caos e a partir dele extrái a ordem universal, ou o Cosmos propriamente dito.

Esse Cosmo primordial é seguramente télos, intencional, e assim, pode ser diretamente associado à divindade original, ou mais apropriadamente um demiurgo. Esta é, então, uma segunda derivação, pois pode haver um demiurgo subalterno a uma estrutura cósmica distinta, como o mundo das formas ideais platônica, como pode haver um Deus que integra em si próprio essa ordem cósmica, como é o caso do Deus típico das grandes religiões monoteístas.

Mesmo o Deus hebráico, de acordo com a Gênese bíblica, claramente concorre em existência com um Caos, representado pela água, visto que na gênese não há menção alguma de que as águas originais, que são separadas para a criação do mundo, tenha sido, em si, criada, diferente de todos os demais elementos posteriores, incluindo o mar, e o abismo, que são versões diferentes da “água” recebendo termos originais distintos.

Voltando ao xintoísmo, o Caos, assim como em outras mitologias do mundo, aparece como a origem primária de todo o universo. Incriado, e sem sequer um nome específico, exceto a noção de origem primária dos elementos, amorfo, fundamental, e espontaneamente criador.

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TEOGONIA XINTOÍSTA

CAOS

Ashihara
Terra
Yomi
Subterrâneo

Takamanohara
Céu

Amenominakanushi
Senhor do Nobre Centro Celestial
Takamimusubi
Grande Gerador do Deus Prodigioso
Amenotokatachi
O Eternamente Deitado no Céu
Kamimusubi
Divino Gerador do Deus Prodigioso
Umashiashikabihikoji
O Mais Velho Soberano do Cálamo

Toyokumonu
Senhor da Integração Exuberante

Uhijini
Senhor da Lama Da Terra

&
Suhijini
Senhora da Lama da Terra
Kuminotokatachi
Eternamente Deitado Sobre a Terra

Tsunuguhi
Embrião que Integra

&
Ikuguhi
A Que Integra a Vida

Ohotonoji
O Mais Velho da Grande Morada

&
Ohotonobe
A Mais Velha da Grande Morada

Omodaru
Aspecto Perfeito

&
Ayakashikone
Majestosa

Izanagi
Varão que Atrai

&
Izanami
Mulher que Atrai

Estes últimos, com o uso de uma lança celeste, criam o arquipélago japonês, e geram as seguintes divindades:

Divindade da Atmosfera
Divindade do Vento
Divindade das Águas
Divindade dos Pântanos
Divindade do Outono
Divindade das Árvores
Divindade das Montanhas
Divindade do Barco de Cânfora
Deusa do Alimento
Deus do Fogo
(Causa a morte da Izanami e é morto por Izanagi, gerando mais 16 divindades.)

IZANAGI
(Após a descida ao Yomi)

Tsuki
Divindade da Lua
AMATERASU ÔMIKAMI
Deusa do Sol
Suzanoo
Deus dos Oceanos e das Tempestades
*
Príncipe Ninigi
(Neto da Deusa)
*
*
Jimmu Tennô (supostamente 660-582 aEC)

(Tetraneto da Deusa)
Primeiro Imperador “Histórico” do Japão dando origem a Linhagem Imperial que perdura até hoje (2008), com o Imperador Akihito, o 125o Imperador, que ascendeu ao trono em 1989.

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Izanagi promove a descida aos infernos, Yomi, ou mundo dos mortos na tentativa de recuperar sua esposa. Com a qual entra em contato não visual. Mas, tendo ela já se integrado e comido da alimentação do subterrâneo, não pode mais retornar, pedindo que seu marido a aguarde enquanto busca um meio entre as divindades regentes do inferno para que lhe seja permitida a volta. Ela o instrui a não se aproximar até segunda ordem, mas devido a demora, o deus ignora o pedido. Ao se deparar com o corpo putrefato de sua esposa é tomado de horror, e ela, revoltada com sua impaciência e sua reação, o persegue junto com espíritos infernais. Ao retornar ao mundo dos vivos ele se banha em um rio para se lavar das impurezas dos infernos, realizando a Purificação, de seus trajes abandonados e das impurezas saídas de seu corpo nascem muitas divindades muitas das quais maléficas. Depois, de seu olho esquerdo nasce a deusa solar Amaterasu e o do direito a divindade lunar Tsuki, cujas versões do mito divergem quanto ao gênero, do nariz surge Suzanoo que se torna imperador do oceano. E a participação ativa de Izanagi e Izanami termina aqui, assim como a de qualquer outro dos deuses mais antigos, deixando, entretanto, uma descendência de pelo menos 800 divindades.

Amaterasu, a deusa solar, é a grande mãe do povo japonês, sendo considerada a ancestral primeira de toda a descendência imperial japonesa. Tal crença será base de um importante comportamento nipônico que abrange o nacionalismo e a identidade cultural. Amaterasu reinava no céu, e na Terra através de seus descendentes, no caso os imperadores. Suzanoo, o masculino impetuoso, ambiciona mais que o reino do oceano e perturba a deusa solar em sua morada celestial. Entre outras coisas destrói os arrozais sagrados, bloqueia fontes de irrigação e suja o palácio da deusa. Indulgente, ela o perdoa até que sua ofensa se torna inaceitável, ele jogara um cavalo morto entra a deusa e suas serviçais tecelãs ferindo mortalmente muitas delas.

Amargurada ela se esconde numa caverna sagrada e toda a terra mergulha na mais profunda escuridão e catastrófes. Em desespero os 800 deuses precisam tomar uma providência, elegem o sábio Omoikane-no-kami para convencer a deusa a voltar, uma vez que não se pode trazê-la a força. Este então ordena a construção de um espelho místico e um colar de pérolas. Em frente a caverna faz um fogueira queimando o omoplata de um gamo, o que provoca estalos e fagulhas que formam desenhos, uma das mais antigas formas de adivinhação japonesa praticada por feiticeiros. Traz um pinheiro do monte Kagu e deposita o espelho e o colar na parte de cima, na parte de baixo põe oferendas.

A deusa Ame-no-Uzume dança em frente a caverna com os seios a mostra, todos os deuses se reúnem e passam a rir e a gritar como numa festividade. O objetivo era tentar dar a entender a Amaterasu que tudo estava bem e todos estavam felizes, como se não precisassem mais dela e tivessem uma nova deusa solar. Intrigada ela sai da caverna para ver o que está acontecendo, os deuses postam o espelho em frente a seu rosto e ela pensa estar diante da nova deusa do sol, cada vez mais curiosa ela se afasta da caverna, os deuses então fecham a entrada com uma corda de palha trançada, que até hoje significa a proibição de se entrar em locais sagrados. Dessa forma o sol volta novamente a brilhar no mundo, Suzanooo é "multado", tendo que pagar mil pranchas de oferendas e é banido para a terra na região do Izumo, o "país tenebroso" que era um tipo de inferno.

Algumas versões da lenda dizem que ele se tornou um deus do mal em sofrimento, outras dizem que ele se arrependeu e passou a praticar o bem. Tais divergências são apenas um dos resultados de uma mitologia que sobreviveu por mais de um milênio sem nenhum registro escrito. O Xintoísmo entretanto tende a ser ainda mais peculiar, pois nesse caso apesar dos episódios de Izanagi e o Deus do Fogo, e de Suzanoo e Amaterasu, não ocorre entretanto um guerra generalizada, como em outras tradições do ocidente, assim como também não há uma escatologia do mundo, um Armageddon, Ragnarok, Mahapralaya ou Crepúsculo dos Deuses.

As punições aplicadas ao deus do oceano são uma garantia dos deuses de que novas catástrofes cósmicas não mais se abaterão sobre os três mundos, o Céu, a Terra e os Subterrâneos.

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Notas sobre o Japão e Xintoísmo

Ichi - O arquipélago japonês é composto por diversas ilhas, os mitos de criação referem-se a 8 ilhas principais, embora sejam centenas. Uma divisão mais simples considera 4 grandes ilhas e suas áreas de influência, sendo, do Norte ao Sul, Hokkaido, Honshu (a maior), Shikoku (a menor dentre as 4) e Kyushu. O Japão esteve relativamente isolado do continente até o século VI dEC, onde o contato, especialmente com a China, se intensificou. A partir daí os japoneses conheceram a escrita, a metalurgia, o papel, e as religiões estrangeiras. Outrora o país denominava-se Yamato, que significa “grande harmonia”, passando posteriormente a se denominar Nihon, que significa “onde nasce o Sol”, uma designação que claramente reflete uma percepção dos continentais, visto que o arquipélago fica ao leste do continente asiático. ‘Japão’, assim como Nippon, é uma corruptela de Nihon. A alusão ao “país do Sol nascente” refere-se ao mito central de fundação do Japão, quando a deusa solar Amaterasu emerge de uma caverna trazendo luz ao mundo.

Ni - O termo Shin-To, adaptado do chinês Xin-Tao, surge no século XI, para distinguir a religiosidade nativa do Japão das religiões importadas, sobretudo o Budismo, mas também o Taoísmo e Confucionismo. A original expressão em japonês é kami-no-michi, o “Caminho dos Kami”. Kami é um termo normalmente traduzido por divindade, porém é mais amplo que isso, podendo ser aplicado a qualquer objeto, animal, monumento, fenômeno ou mesmo pessoa que seja digna de adoração. Montanhas, templos, relíquias ou acessórios sacerdotais, heróis, animais e forças naturais podem ser Kami, o Imperador é um Kami.

San - O Xintoísmo é uma religião natural de origem animista e panteísta, devido a onipresença de divindades em virtualmente todas as coisas, especialmente as naturais, e em consequência politeísta, devido a personificação de diversas deidades, que podem chegar a 800 mil. Porém, AMATERASU ÔMI-KAMI, a deusa solar, ocupa papel central no panteão, sendo ancestral da linhagem imperial e correlativamente de todo o povo japonês. A tradição, então, não possui um fundador, exceto mitológica (a própria deusa), e nem um Livro Sagrado comparável ao das religiões monoteístas. Possui, porém, textos de caráter “sagrado” porém não dogmático, tais como a Teogonia de Hesíodo, ou as epopéias de Homero. O dois textos mais importantes são o Kojiki, e o Nihongi, do século VIII dEC, que narram os mitos fundadores e a “história” lendária do país, inclusive do primeiro imperador Jimmu Tennô, que seria tetraneto da deusa Amaterasu. Há muitas dúvidas quanto a data em que viveu esse imperador, supostamente séculos VII e VI aEC, mas poucas dúvidas com relação a sua existência. Sua linhagem, porém, segue possivelmente ininterrupta e completamente registrada, nome por nome, por milhares de anos, sendo o imperador atual Akihito, o 125o imperador.

Yon - O Xintoísmo convive de forma predominantemente pacífica com as religiões estrangeiras, havendo forte sincretismo, o que inclui templos e rituais mistos, e a noção de que os Kami sejam encarnações de Buda, ou mesmo outras deidades hindus. Esse sincretismo é denominado Ryobu-Xintô (Xintô de duas faces). Essa boa convivência, porém, teve suas exceções, especialmente na era do imperador Meiji (1868-1912), onde o Xintoísmo foi declarado religião oficial, dando origem ao “Xintô de Estado”, e onde a reclamação do estatuto divino para o imperador foi oficialmente implantada. Após a derrota na Segunda Guerra Mundial, a nova Constituição do Japão, de 1946, “revogou” essa divindade, e o Xintoísmo voltou a ser uma religião popular. Atualmente, o sincretismo atinge níveis ainda mais intensos, inclusive com religiões do “ocidente”. É comum a muitos japoneses, por exemplo, declararem-se xintoístas e budistas.

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Go - Alguns sinais notáveis dessa flexibilidade do xintoísmo podem ser vistos na caso da construção do Grande Buda de Nara, inaugurado em 752 dEC, que não só foi aceito num tempo xintoísta como ficou sob a proteção do kami Usa Hachiman. No século IX, a doutrina Honchi Suijaku dos pensadores Shingon, via os kamis como encarnações de Buda. Amaterasu é vista como encarnação de Birshana, sendo chamada também de Daí-Michi-Nyorai. Por outro lado, no século XV a doutrina Yoshida-Shinto, fundado por Urabe Kanemoto (1423-1511), afirma o reverso: as divindades chinesas e hindus é que são avatares dos Kami.

Roku - Urabe Kanemoto também descreve o Kami-Natureza como o “‘Vazio’ Divino”, ou o “Supremo Exaltado”. Imanente enquanto Kami no Universo, Espírito enquanto interage com a Natureza e Alma quando interage com os humanos, que são potencialmente a residência do Kami-Natureza, incognoscível, transcendente, auto-suficiente e eterno. Algo similar era dito no século XIII pelo Waterai-Shinto, propondo que o “Grande Kami-Natureza / Caos”, o Michi / Via (“Tao”)/ Xintô” e o Ser Humano, como 3 manifestações do mesmo aspecto. Pela prática do Xintô, o ser humano pode integrar-se com o Kami.

Nana - Durante boa parte da história (1185-1868), predominou no Japão o Xogunato. Um sistema político feudal onde o Xogun, o general supremo da casta militar dos clãs samurais, exercia o poder político, relegando o imperador a um plano secundário, embora simbolicamente importante. Nesse período houve grande florescimento do budismo, que se dividiu em diversas seitas, muitas vezes sendo associadas a famílias específicas de samurais. Houve também a introdução do cristianismo (1549), inicialmente pacífica, mas depois sendo violentamente erradicado cerca de um século depois.

Hachi - A partir do século XVIII, os “teólogos” Kamo Mabuchi (1697-1769), Motoori Norinaga (1730-1801) e Atsutane Hirata (1776-1834), lançaram as bases teóricas para a superioridade étnica do povo japonês com base na descendência divina, num movimento que ficou conhecido como o Fukko-Shinto, o Xintô Acadêmico. Essas elaborações foram fundamentais para a restauração do poder central imperial em 1868, dando fim ao Xogunato.

Kyu - O xintoísmo é uma religião nacional, e só faz sentido para o nativo. Não há qualquer pretensão de expansão extra territorial e nem mesmo de conversão de estrangeiros em seu próprio território, uma vez que estes não são descendentes de Amaterasu. No entanto fusões sincréticas do xintoísmo quebraram essa tendência, voltando-se proselitismo, como o Seichi-no-Ie, Igreja Messiânica e Budismo Terra-Pura.

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Ju - A preocupação com a pureza é uma das principais características do Xintoísmo. O seres humanos, no caso os japoneses, são considerados descendentes divinos, e portanto bons por natureza, no entanto, podem ser contaminados pelas impurezas, que precisam ser removidas para uma maior aproximação com os kami. Essa impurezas são basicamente de 3 tipos:

- Os wazanai são as desgraças, os infortúnios que se abatem sem culpa do indivíduo, mas os quais também precisam ser lavados.
- Os kegari são as manchas, em geral do dia a dia, advindas de atividades como a manipulação de cadáveres, inclusive de animais, a sujeira pelo sangue, passagem por locais impuros etc.
- Os tsumi são os "pecados" propriamente ditos, as maldades cometidas deliberadamente.

Assim, há os 3 rituais básicos de purificação:

- O harai promove a purificação dos tsumi.
- O misogi faz a limpeza das impurezas obtidas não intencionalmente, manchas, os kegari , ou mesmo, em alguns casos, dos wazanai menores.
- Já o imi é basicamente a abstinência de certas atitudes impuras, alimentos, bebidas, ou atividades que resultem em impurezas pelo menos por algum tempo. De caráter preventivo, é aplicado principalmente ao kegari, e tem forte conotação ritualística, sendo sempre administrados antes de algum ritual religioso, ou mesmo atividade social importante.

Ju ichi - Existem três objetos sagrados, tesouros, na tradição japonesa: O Espelho, o Colar de Pérolas, e a Espada, que, segundo o mito, foram entregues pela própria deusa ao primeiro imperador, mítico, do Japão, o príncipe Ninigi-no-Mikoto, neto da deusa solar. Tais objetos seriam guardados até hoje pela família imperial, embora não possam ser exibidos excetos para pessoas muito especiais. O Espelho tem uma explicação clara no mito de fundação do Japão, sendo o objeto usado para atrair a atenção da deusa solar, e onde ela se contemplou trazendo a luz de volta ao mundo. Os demais objetos possuem explicações menos precisas. A espada, evidentemente, simboliza a força do imperador, necessária para a condução do governo, e, diferentemente do que muitos acreditam, ela não é necessariamente a famosa espada típica dos samurais, a katana, visto que esta só surge no século XIII, na ocasião das guerras contra os mongóis. Algumas lendas relatam que a espada teria sido ofertada à Amaterasu pelo deus da tempestade Susanoo, em ato de arrependimento pelo mal que causou. O Colar de Pérolas, que de certo representa a riqueza, em oposição à força da Espada e à Luz do Espelho, também representaria a compaixão e a benevolência, visto que foram construídas como um presente para a deusa. Alguns estudiosos budistas afirmaram que esses três objetos representam a Sabedoria, a Força e a Compaixão. No entanto, o verdadeiro significado de tais símbolos continuam objeto de vasto debate entre os próprios eruditos xintoístas, envolvendo lendas comparáveis até mesmo à Arca da Aliança judaica.

Ju ni - Embora não possua uma ética propriamente dita, o Xintô se confunde com a ética do Bushido, o código de honra dos samurais, que também absorveu elementos das tradições continentais. Preconiza as 8 virtudes: Justiça, Coragem, Bondade, Polidez, Verdade, Honra, Fidelidade e Auto-Controle. No entanto, tal como no Xintô, essas virtudes também não são explicadas de forma textual. Não existe, então, um código de conduta escrito, ou explícito. Isso é visto pelos intelectuais xintoístas dos séculos XVII e XVIII como um sinal da superioridade nipônica sobre os demais povos, visto que a conduta ética está inscrita no coração, dispensando a necessidade de uma formulação normativa. Depender de códigos, para esses pensadores, torna o ser humano inferior aos animais, que também não necessitam de códigos para viver a seu modo.

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Ju san - Os sacerdotes xintoístas são chamados kannushi (pertencente aos kami), e estão em números variáveis nos templos. A mulheres também podem se ordenar, e o posto mais alto na hierarquia é feminino, devido a melhor representação da deusa solar. Acima da “Princesa pertencente ao Kami”, ou “Médium pertencente ao Kami”, ou mais comumente “Chefe do Matsuri”, uma espécie de papisa, só mesmo o Imperador, que até o Período Meiji também podia ser uma Imperatriz, e de fato houveram várias na história do Japão. Abaixo da Chefe do Matsuri, que normalmente é um cargo único para todo o país, estão os Grandes-Sacerdotes, que são o únicos que residem nos templos. Os demais conciliam uma vida normal com as atividades sacerdotais, podem casar-se e ter filhos, e são formados por um rígido processo de graduação intelectual, sendo submetidos a provas e exames de nível universitário, que chegam a fornecer quatro tipos de diplomas, de variados graus de dificuldade, e que exigem anos de estudos em universidades ou em seminários especiais. Atualmente, os níveis de exigência para homens e mulheres são os mesmos.

Ju yon - Os templos japoneses são caracterizados pelos Torii, portais de entrada que simbolizam a passagem para um local sagrado, e são também o símbolo da religião. Possuem geralmente um rio, sobre o qual deve-se passar, por uma ponte, simbolizando a purificação que remete ao mito de Izanagi, pai da deusa Amaterasu. Fundamentalmente construídos em madeira, alguns templos podem ter até 3 pontes, simbolizando níveis de purificação. Há, porém, diversas finalidade, e tipos, destes templos, que podem ser erguidos em função de algum evento local venerável, ou em memória a alguma personalidade marcante. Tais templos menores podem ter tamanhos indefinidos, até mesmo minúsculos. Mas normalmente os templos mais frequentes costumam desempenhar um papel equivalente ao de muitas igrejas no Brasil, promovendo celebrações e servindo como referência cultural. Os grande templos, porém, tidos como santuários nacionais, recebem peregrinações de milhões de pessoas. O mais importante é o santuário de Ise, ligado à casa imperial, onde reside a “Princesa pertencente ao Kami”.

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Breve cronologia do Japão e do Xintoísmo

Pré-História

O Xintoísmo remete a períodos imemoriais da pré-história japonesa, que é dividida entre os períodos:

- Paleolítico ou pré-Jomon, que remonta a 35.000 aEC;

- Jomon (mesolítico), que remonta a cerca de 10.000 aEC, marcado pela caça e coleta e pela produção das mais antigas cerâmicas conhecidas no mundo;

- E Yayoi, cerca de 300 aEC, (alguns estudos recentes antecipam muito essa data) marcado pela agricultura por influência de imigrantes da Coréia e China, e por um novo estilo de cerâmica. Esse período é mais concentrado em Honshu e Kyushu.

Período Yamato (300 dEC a 710 dEC)

Marca a organização inicial do país, especialmente em vista da influência chinesa. A capital japonesa, marcada por inúmeros conflitos políticos e transições, mudava frequentemente de lugar, em torno de Osaka, Heian (atual Kyoto) e Nara.

Séc III dEC – Dois chineses teriam visitado o arquipélago e constatado a existência de uma nação chamada Yamato.
?500 – Data aproximada da introdução da escrita chinesa no Japão.
?530 – Introdução do Budismo no Japão, principalmente através da Coréia.
573 – Nasce o Prícipe Shotoku (573-621), que sob o governo da Imperatriz Suiko incentiva e fortalece o Budismo no país.

Período Nara (710 a 794 dEC)

É definidio pela fixação temporária da capital na cidade de Nara.

712 – É escrito o Kojiki, em chinês, mas com expressões fonéticas japonesas. O “Registro das Coisas Antigas” é dividido, em 3 volumes.
720 – É escrito o Nihongi, as “Crônicas Japonesas” em 30 volumes, que suplanta o Kojiki.
750 – Invenção das escritas silábicas japonesas, Hiragana e Katakana, que viriam a diferenciar a escrita japonesa da chinesa.
752 – Inauguração do grande Buda de Nara, num templo protegido pelo kami Usa Hachiman.

Período Heian (794 a 1185 dEC)

Se inicia pela transferência da capital para Heian (hoje Kyoto), e é marcado pelo maior desenvolvimento da corte imperial, da poesia e literatura, com forte influência do Confucionismo e Taoísmo.

Séc IX – Doutrina Honchi Suijaku dos pensadores Shingon, onde os Kamis como encarnações de Buda. Amaterasu é visto como encarnação de Birshana, sendo chamada também de Daí-Michi-Nyorai.

Séc X – É escrito o Engishiki, o código sacerdotal, por volta de 950 dEC.

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Período Kamakura (1185 a 1333 dEC)

É o início do Xogunato, o feudalismo militar dos Samurais, com a transferência da capital factual para Kamakura e a divisão do poder. A corte imperial, na cidade de Kyoto detém o estatuto cultural, simbólico e supostamente político, porém o poder militar, na mão dos Xoguns, desempenha efetivamente esse papel. O Xogum é o generalíssimo líder dos clãs samurais, escolhido dentre os guerreiros daymio.

Esse período é marcado também pelo florescimento do Budismo, que se divide em diversas seitas, entre as quais Honen (Terra Pura), Shinran, Ippen, Dogen, Eisai, Nichiren, etc. Essas escolas, incentivadas pelos samurais, suplantaram as anteriores.

Desenvolve-se também o Bushido, o código de honra Samurai, que preenche o vácuo deixado pelo xintoísmo no que se refere a um sistema ético claro.

1207 – Honen e seus seguidores são exilados de Kyoto. Honen é executado, o que amplifica a disseminação do budismo Terra Pura.

1274 e 1281 – Conflitos entre a Mongólia e o Japão são vencidos pelos japoneses com a “ajuda” de furacões que devastaram as esquadras mongóis. Os furacões, chamados kamikaze (vento divino), reforçam a noção de que o Japão é protegido pelos deuses.

1333 a 1336 – Tentativa fracassada de restauração do poder imperial. Parte da corte é exilada na cidade de Yoshino.

Período Muromachi (1336 a 1573 dEC)

A segunda fase do Xogunato é marcada por um reflorescimento do Xintoísmo por meio do sincretismo acentuado com as tradições continentais, pela chegada do cristianismo e reunificação da corte imperial. Também se destaca o desenvolvimento econômico, o comércio com a China e a urbanização. Posteriormente, porém, degenera para um estado caótico de guerra civil.

Séc XIII – O Waterai-Xintô propõe que o “Grande Kami-Natureza / Caos”, o “Michi / Via (“Tao”)/ Xintô” e o Ser Humano são 3 manifestações do mesmo aspecto. Pela prática do Xintô, o ser humano pode integrar-se com o Kami.

Séc XV – Yoshida-Xintô, fundado por Urabe Kanemoto (1423-1511), descreve o Kami-Natureza como o “‘Vazio’ Divino”, ou o “Supremo Exaltado”. É imanente enquanto Kami no Universo, Espírito enquanto interage com a Natureza e Alma quando interage com os humanos, que são potencialmente a residência do Kami-Natureza, incognoscível, transcendente, auto-suficiente e eterno. Kanemoto também inverteu a teoria Honchi Suijaku, afirmando serem as divindades chinesas e hindus, avatares dos Kami.

1549 – Jesuítas portugueses chegam ao Japão e começam a difundir o cristianismo, inicialmente, com boa recepção.
1570 – É estabelecido o arcebispo de Edo, e os primeiros jesuítas japoneses são ordenados.
1575 – A seita budista Ikko, adversária do daymio Nobunaga, e destruída. Usando a nova tecnologia das armas de fogo, importada do ocidente, Nobunaga derrota vários clãs inimigos.
1582 – Já se contam mais de 150 mil japoneses convertidos ao cristianismo. Cerca de 2% da população. E mais de 200 igrejas.
1587 – Iniciam-se restrições à disseminação do cristianismo
1594 – Radicaliza-se a rejeição ao cristianismo, por meio de perseguições.

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Período Edo (?1600-1868)

Terceira e última fase do xogunato, essa conturbada época dificulta até mesmo a delimitação dos períodos. A ascensão do Xogunato Tokugawa, após várias revoltas internas, transfere a capital para Edo (hoje Tokyo), onde se estabelece definitivamente. É nesse período que o Japão se fecha ao mundo, acentuando o etnocentrismo, e o Xintoísmo começa a se tornar uma força política comparável à do budismo.

1622 – Execução de 120 missionários e convertidos cristãos.
1640 – O cristianismo é declarado proscrito, sendo visto como fator de desestabilização política pelo Xogunato, que decide erradicá-lo por política nacional. Por volta de 1650 praticamente não mais existe cristianismo no Japão.

Sécs XVIII-XIX – Fukko-Xintô (O Xintô Acadêmico)

Kamo no Mabuchi (1697-1769), poeta e o primeiro grande intelectual Xintoísta, sintetizava a doutrina naturalista taoísta com o Xintô. O michi (“caminho”) , equivalente ao Tao, do ser humano, deve ser obtido por meio da observação dos processos naturais. Propõe também a superioridade da sensibilidade intuitiva japonesa para os princípios naturais, enfatizando a necessidade da pureza de coração. Foi mestre de Motoori Norinaga.

Motoori Norinaga (1730-1801), gramático e crítico literário, estuda o Kojiki. Lançando o Kojiki-den (Comentários do Kojiki ), e radicaliza a etnocentria japonesa, propondo a Teoria da Superioridade Moral sobre os demais povos, baseados na ascendência divina. Se antes o Xintô era visto como mais primitivo que as tradições chinesas devido a, entre outras, ausência de uma ética clara, Norinaga inverte essa noção ao afirmar que a superioridade natural nipônica dispensa um código ético, visto possuir uma aptidão natural para distinguir o certo do errado sem a necessidade de códigos, necessários para os demais povos, que possuíam uma natureza tendente à corrupção.

Atsutane Hirata (1776-1834), prolífico escritor, prossegue os estudos de Motoori e intensifica ainda mais a hostilidade contra as tradições do continente, clamando pela volta ao antigo kami-no-michi, enfatizando a necessidade a reverência ao imperador como um kami. Compõe orações que se tornarão referências nos rituais xintoísta

?1650-1853 Por duzentos anos o Japão permaneceu fechado ao resto do mundo. Somente a China e a Holanda tinham direito a aportar na ilha de Dejima para fins comerciais. Outros europeus que o fizessem eram sumariamente executados. Em julho de 1853 uma esquadra dos E.U.A forçou a abertura dos portos, o que enfraqueceu o poder do Xogunato.

1867-1868 – O Fukko-Xintô influencia fortemente na queda do Xogunato e restauração do poder supremo Imperial.

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Período Meiji (1868-1912)

Reinado do Imperador Meiji onde é instituído o Xintô de Estado e é abolido o Xogunato. Apesar do etnocentrismo ser elevado à condição de doutrina estatal, o Japão experimenta uma avançada modernização, sobretudo industrial, tornando-se uma potência.

Período Taisho (1912-1926)

Esse período é marcado pelo advento de um sistema democrático, e por uma crise econômica, sobretudo devido a escassez de matéria-prima. Inclui a entrada do Japão na Primeira Guerra Mundial e a intensificação das hostilidades com a China.

Período Showa (1926-1989)

Governo do Imperador Hirohito, a mais longa regência da história

1945 – Derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial.
1946 – Nova Constituição Japonesa “revoga” a divindade Imperial, e o Xintoísmo deixa de ser uma religião estatal voltando a ser uma religião popular. Os sacerdotes e templos xintô, que desde Meiji eram funcionários públicos, passam a ser sustentados por doações dos fiéis, e deixam de cumprir papel de educadores nas escolas, onde lecionavam costumes e ética.
1952 – Fim da ocupação militar aliada.

Período Heisei (1989 - Era atual )

O Japão está no ano 20 da era Heisei, sob a regência simbólica do imperador Akihito, e nessas duas últimas décadas a religiosidade japonesa apresentou sensível declínio, em especial, devido ao choque causado pela rendição e revogação de divindade imperial, que foram humilhantes para o povo japonês.

No entanto, é daqui que seguiremos para a tese principal deste trabalho. A de que embora tal redução de religiosidade seja inegável, ela se dá mais na aparência externa, visto que a identidade cultural japonesa, e seu persistente etnocentrismo, só parecem explicáveis mediante uma internalização ainda mais profunda dos conteúdos míticos na cultura popular.

Esse nacionalismo japonês, praticamente “reconstruído” a partir do século XVIII pelo Xintô Acadêmico, de um modo ou de outro, persiste, explicando diversas tendências e comportamentos típicos de um povo cuja noção de linhagem divina é a mais clara de nosso planeta.

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ETNOCENTRISMO

Um autêntico etnocentrismo, em geral, só é possível de ser fundamentado numa noção mitológica. Isso decorre da constatação de que a pressuposição de uma superioridade racial sobre os demais povos exige, ou deveria exigir, alguma evidência clara. Se tal evidência de fato ocorresse, como uma amostragem da superioridade da produção cultural, poder-se-ia reinvindicar tal noção de superioridade na simples exibição dos fatos, mas ainda assim, tal fator exigiria uma explicação.

No entanto, normalmente sequer tal constatação é possível, pois etnia alguma no mundo consegue demonstrar, por exemplos factuais, uma superioridade inconteste sobre todas as outras. Assim, ao invés de uma simples explicação justificativa que sirva de base para a visão etnocêntrica, tal explicação se torna a evidência por si mesma, funcionando como uma petição de princípio que não raro resulta em circularidades argumentativas.

Uma das poucas linhagens étnicas que poderia alegar, se não uma superioridade geral, ao menos um destaque, com base em exemplos factuais, é, não por acaso, justamente uma em que a noção mitológica é mais forte. Refiro-me a etnia judaica, que de fato pode apontar uma coleção de grandes pensadores, cientistas e organizadores em suas fileiras, que vão desde o próprio Jesus e o apóstolo Paulo, fundadores da maior religião do mundo, até três dos nomes que mais influenciaram o mundo no século XX, Karl Marx, Sigmund Freud, e Albert Eistein, para citar apenas os mais conhecidos.

Embora seja notável, e até mesmo constrangedor, que esses últimos três representantes tenham em comum o fato de não serem judeus devotados a sua tradição religiosa, isso não afeta, e na verdade reforça, a possibilidade de uma leitura etnocêntrica, visto que tal superioridade racial seria tão intrínseca que dispensaria ser exercitada para algum código de conduta típica ou ritualística específica.

Passando para o extremo oposto, o Nazismo também considerava a raça ariana superior independente de seus atos ou comportamentos, o que pode ser evidenciado no fato de que nos campos de concentração, além de comunistas, judeus, homossexuais, Testemunhas de Jeová e outras designações religiosas específicas, emigrantes, inimigos capturados, desempregados ou pessoas que tenham praticado uma proibida mistura de raças, havia também criminosos “profissionais”, ladrões, assassinos, etc, de raça ariana. Estes últimos, evidentemente, eram os únicos que realmente tinham praticado algum ato que pode ser legitimamente classificado como crime. No entanto, tais criminosos possuíam regalias e até mesmo autoridade sobre os demais, quando misturados. Ou seja, mesmo na condição de praticantes de atos claramente condenáveis, eram tidos como intrinsecamente superiores à pessoas cuja condenação não resultou de crime específico algum a não ser pertencer a uma outra cultura, ou opção de vida.

Isso mostra que a superioridade racial não precisa, afinal, ser de fato demonstrada praticamente. Uma vez que ela é pressuposta, é tomada como um princípio, e não uma constatação. No caso nazista, a superioridade da raça ariana é também claramente mitológica, remetendo à tradições místicas evidenciadas pelos simples uso da Suástica, que no caso do Terceiro Reich remetia a tradições célticas vikings, podendo ser associada, entre outras coisas, aos próprios deuses nórdicos, como Thor, filho de Odin. Ademais, pode também ser relacionado a tradições ocultistas, como a Teosofia, que identificam a raça ariana, ainda que em sentidos distintos, como a raça que surgia para governar o mundo.

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Dessa forma, o etnocentrismo japonês, também só poderia ter uma base mitológica, que mesmo aparentemente enfraquecida por contingências históricas, tem a propriedade de se mesclar com diversos outros elementos culturais constituindo uma série de característica menos explícitas porém mais estruturais, que, entre outras, se relacionam a superstições, juízos.

Não que não seja possível construir um nacionalismo de teor secular. Os Estados Unidos da América são o exemplo mais claro de um patriotismo inconteste que se assenta sobre valores filosóficos humanistas, no caso, derivados do iluminismo, e ainda que haja tentativas de apropriação desses valores por parte de linhagens religiosas cristãs, que alegam ser o verdadeiro fundamento da nação, ou de aproximações das noções da ética protestante ou o capitalismo, pouco muda o fato de que os E.U.A. se afirmam no mundo pela proclamação de valores democráticos, liberais e seculares.

Mas ainda mais óbvia é a especificidade que impede que tal nacionalismo fosse construído sobre valores míticos, e que funciona como mais uma das refutações da noção de que os E.U.A poderiam ser considerados uma nação fundamentalmente religiosa. É que o país é o resultado de uma mistura sincrética de etnias e culturas distintas, que ainda que sujeita a tensões internas, é indissociável, o que explica em grande parte a própria força do sincretismo, aproveitando os valores de diversas fontes diferentes na construção de uma identidade coletiva e resistente, ao invés do limitado horizonte de uma única tradição cultural.

Sendo multi racial e cultural, não pode haver nenhuma mitologia que consiga fundamentar a identidade nacional, que se assenta sobre tudo em eventos históricos concretos, ainda que inevitavelmente romanceados na medida do possível dentro dos limites históricos.

Um país como o Japão, evidentemente, é o caso oposto. Uma interminável linhagem étnica se localiza espacialmente de modo claramente definido, com origens que estão fora do alcance da histórica escrita. Se até eventos históricos recentes devidamente registrados podem ser romanceados, que dizer de eventos longínquos cujo registro está misturado com mitos e lendas evidentemente insustentáveis do ponto de vista histórico e científico?

A fundação do país, então, se confunde com o mito de criação, os primeiros habitantes, se confundem com os primeiros humanos sobre a Terra, inevitavelmente descendentes de deuses. Isso tudo, no entanto, durante a maior parte do tempo funcionou como pano de fundo potencial para a emergência de um etnocentrismo, que evidentemente só faz sentido em oposição a outras culturas. Portanto, essa identidade étnica só poderia surgir após o franco contato com outras culturas.

Porém, ao intensificar seu contato com o continente asiático, logo ficou flagrante a imensa superioridade cultural chinesa, no sentido de maior complexidade, visto que já dominavam linguagem escrita, metalurgia, navegação e diversas outras tecnologias. O Japão então, pula da idade da pedra polida para a idade do ferro, sem passar pelos estágios intermediários.

É evidente que tal contraste tem que deixar alguma impressão no imaginário de um povo, e se uma cultura receptiva qualquer não tem muita dificuldade em abrir mão de seus recursos práticos tradicionais em favor de recursos mais sofisticados e inegavelmente superiores, e se consegue extrair de seu fascínio pelo novo e moderno uma disposição por aprender novos conteúdos, por outro lado, no que se refere a valores mais abstratos, difíceis de serem claramente expressos e identificados, ocorre maior resistência, e por isso os mitos, superstições e noções sobrenaturais em geral tendem a permanecer fortes, ainda que sujeitos a influências que lhe alteram a forma, mas não o conteúdo, ou, melhor dizendo, a aparência, e não a essência.

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Assim, ao passo que técnicas agrícolas, artesanais ou arquitetônicas foram mais rapidamente suplantadas ou absorvidas por técnicas estrangeiras superiores, as práticas religiosas, por sua própria natureza abstrata, podem se reconfigurar e se reinserir no novo contexto, com vigor indefinido e potencial capacidade de se remodelar em formas ainda mais fortes.

Essa é, seguramente, uma das características do mundo mental representativo. Quer consideremos os domínios abstratos da cultura, e da mente humana, como sendo de um fundamento substancial independente, ou uma emulação simbólica materialmente dependente, é fato de que o universo informacional é infinitamente mais versátil do que o universo material. Os entes materiais podem ser destruídos, extintos ou afastados da percepção, mas suas representações mentais, estão além dessas possibilidades.

As idéias tendem, normalmente, a ser essencialmente indestrutíveis. Desintegrar um objeto pode levar a sua perda mesmo que suas partes ainda permaneçam reordenáveis, pelo simples fato de que pode ser impossível saber como elas anteriormente se encaixavam, mas desintegrar idéias, se é que é possível, não pode impedir o fato de que elas podem se reintegrar espontaneamente, ou o mais comum, se reorganizar em novas formas equivalentes. E o mais notável, mesmo que idéias e sistemas de pensamento sejam de certa forma erradicados de um contexto cultural qualquer, e o único modo de fazê-lo é pela sua não transmissão às próximas gerações, tende a acontecer que, permanecendo os fundamentos simbólicos sobre os quais tais idéias e se sistemas se formaram, elas voltem a se formar tão naturalmente como renascem as plantas em um solo fértil, mesmo quando anteriormente eliminadas.

Destruir total e irreversivelmente as idéias, se é que é possível, exigiria o extermínio total e completo de todas as suas bases materiais, em especial as pessoas que a sustentam. E isso, talvez, apenas se concedermos a possibilidade do materialismo ser a melhor descrição da realidade.

Toda essa digressão visa apontar para a noção de que estado de coisas algum jamais será capaz de eliminar as possibilidades mentais individuais e suas manifestações públicas, isto é, culturais. Motivo pelo qual toda e qualquer ditadura do pensamento, que visa eliminar possibilidades humanas em prol de um modelo pré-estabelecido, estará sempre, inevitavelmente fadada ao fracasso.

A idéia de uma descendência divina privilegiada, sendo uma possibilidade cultural, jamais poderia ser eliminada nem mesmo que uma cultura mil vezes superior devorasse em todos os aspectos uma cultura local. Mesmo as culturas indígenas, física e estruturalmente dissolvidas no universo cultural coletivo da tradição ocidental, conseguem se perpetuar memeticamente nas formas mais imprevisíveis, invadindo o imaginário coletivo da mistura supostamente superior da cultura dominante.

Com a entrada das religiões continentais no Japão, então, não era de se esperar um desaparecimento das religiões tradicionais, que passariam a ser vistas como uma única, devido a compartilharem, obviamente, um universo simbólico comum. De certo que a flexibilidade do Budismo, Taoísmo e Confucionismo facilitaram a relação com o Xintoísmo, talvez as tradições ocidentais cristãs, menos elásticas, resultassem numa dificuldade maior de integração. No entanto, a exemplo de sincretismos diversos, em especial nas Américas, é provável que a integração persistisse, ou, ao contrário, o etnocentrismo reagisse mais precocemente.

Em parte, foi a facilidade sincrética que pode ter retardado um desenvolvimento de identidade nacional mais forte, visto que, apesar de sua longa história, o etnocentrismo japonês só viria mesmo a se consolidar como uma doutrina definida no século XVIII. E é aqui que espero justificar todas essas digressões anteriores.

Essa emergência tardia pode ser entendida pelo fato de que os valores potenciais do xintoísmo, em especial a noção de uma linhagem divina exclusiva, jamais tendo sido eliminados, permaneceram “navegando” submersos, ou semi submersos, no horizonte das possibilidades culturais, não emergindo apenas por falta de necessidade. O que os intelectuais do Xintô Acadêmico fizeram foi simplesmente reunir os elementos já prontos num sistema coeso, acrescentando algumas novas sínteses.

Além disso, é a necessidade que faz emergir as novas concepções, e se antes o xintoísmo não despontou como uma identidade cultural mais forte, foi principalmente pela não urgência dos momentos históricos anteriores.

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Dialética Religiosa

Até o século XVIII, a auto afirmação da cultura japonesa por meio do xintoísmo limitou-se a uma dialética com o budismo. O sincretismo Ryobu-Xintô, o Xintô de duas faces, mistura diretamente as duas tradições, e indiretamente outras tradições do continente. Urabe Kanemoto, no século XV, viria então a promover um passo mais significativo para que o Xintô passasse a recuperar um espaço anteriormente ocupado pelo budismo, ao afirmar que, ao inverso do que propunha a doutrina Honchi Suijaku, do século IX, que via os kami como encarnações de Buda, as divindades do continente, budas e avatares, é que na verdade eram encarnações dos Kami.

E importante destacar a importância desta inversão. Antes, os kami eram meras emanações específicas de uma realidade maior, contemplada nas religiões do continente. Se forçássemos um paralelo com situações deste outro lado do mundo, era como afirmar que Tupãs, e as demais divindades indígenas amazônias, eram apenas um tipo de manifestação do Deus cristão, sendo, então, uma pequena amostra de uma realidade muito maior. Isso subordina a religião local a um sistema mais amplo e supostamente superior, letrado, e associado a tecnologias e ciências mais avançadas. É inevitável comparar essa noção com a de uma visão infantil sendo absorvida por uma visão mais adulta, colocando as tradições indígenas, e também o xintoísmo, como uma manifestação apropriada a simplicidade e ingenuidade de um povo menos desenvolvido.

Ao promover a inversão de noções, Urabe Kanemoto restaura uma auto estima perdida com essa relação no mínimo incômoda. Não era, afinal, o povo japonês que tinha uma versão simplificada e ingênua de uma realidade maior, mas, ao contrário, tinha o contato com a “coisa em si”, com a realidade primeira, que teria, por sua vez, se manifestado no budismo e hinduísmo de um modo menos puro. Assim, enquanto os continentais tinham uma contemplação filtrada do divino, pelas lentes das doutrinas e textos sagrados, os japoneses tinham uma contemplação direta, imediata, das divindades originais.

Traçando um paralelo com a tradição cristã, seria como afirmar a óbvia superioridade do contato divino direto que Adão e Eva tiveram com Deus, apesar de serem ingênuos e simples, ante o contato mediado que o fiel, milênios depois, tem por meio da religião, da Bíblia ou dos rituais, ainda que estes sejam muito mais sofisticados cultural e intelectualmente. Curioso notar, inclusive, que certas noções de pureza original chegaram a ser transferidas aos índios brasileiros, que por vezes eram vistos como inocentes, tal como num estado natural pré pecado original.

Assim, a superioridade da vivência religiosa japonesa genuína é colocada, sem precisar ser exatamente evidenciada por meio de conteúdos culturais mais sofisticados. Isso permite ao fiel estar tão certo de sua superioridade sobre essa percepção sobre a do estrangeiro, quanto está a pessoa ignorante dotada de visão sobre um intelectual cego que conhece apenas as definições e propriedades físicas das cores.

No entanto, essa relação inversa ainda responde a um contato típico entre culturas asiáticas, e talvez não precisasse ir muito mais longe se essa dialética ficasse restrita entre o Japão e seus vizinhos. Porém, a partir do século XVI os europeus chegaram ao país do sol nascente, iniciando uma nova, e mais radical dialética cultural.

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É evidente que distância entre a cultura japonesa e a européia era ainda maior que entre aquela e a chinesa, mesmo porque esta última, tal como a tailandesa, coreana etc., já estava largamente diluída na mentalidade japonesa. A chegada de uma cultura ainda mais estranha seguramente não poderia evitar deixar sua marca.

Nessa interação, destacam-se as técnicas de navegação, as armas de fogo, e a religião cristã. Mais uma vez, a parte tecnológica e prática pode ser absorvida mais facilmente, mas a parte simbólica oferece mais resistência no sentido de ceder lugar aos símbolos estrangeiros. O cristianismo obteve um grande sucesso inicial no Japão, chegando a abranger, em menos de uma década, 2% da população. Para uma nação com mil anos de budismo e ainda mais de xintoísmo, seguramente é um feito a ser respeitado.

Como dito anteriormente, a capacidade do universo mental de se reconfigurar em novas formas é inconteste, mas, por outro lado, a estrutura mesmo da religião cristã é algo menos flexível que a do budismo, e o sincretismo, mais difícil. Ante isso, a identidade cultural original, sem a possibilidade da mesclagem ao menos em grau tão alto quanto a da relação anterior, tende a recuar previamente, e posteriormente, a retomar seu espaço.

Foram os budistas, entretanto, que passaram a oferece maior resistência ao cristianismo, o que é compreensível, visto a estranheza da nova religião em relação às culturas locais, que seguramente se sentiram ameaçadas em sua essência. Então, a relação entre as religiões degenerou para a violência, e cerca de um século depois, virtualmente eliminado do Japão, o cristianismo deixara apenas uma sombra.

Podemos, porém, supor que esse episódio marcou a mentalidade japonesa como um exemplo de ameaça cultural externa. Coexistir com o vizinho budismo era uma coisa, mas com uma tradição que seguramente não reconhecia os Kami, era bem diferente. Teria sido muito preocupante que 2% da população tivessem cedido a algo tão alienígena, como se sua própria cultura não fosse satisfatória e suficiente.

É altamente provável concluirmos que a passagem do cristianismo, e da cultura ocidental pelo Japão, tenha sido decisiva para a construção de uma etnocentria defensiva. Visto que foi após tal passagem que o Japão se isolou para o mundo, e que o Xogunato enfrentou o mais caótico estado de guerra civil. Não é difícil para uma mentalidade interioriana associar tais mazelas à influência estrangeira, das quais o sucesso do daymio Nobunaga em derrotar clãs adversários com as recém introduzidas armas de fogo é só uma das conseqüências.

Como vimos, esse período de caos tomou metade do século XVI e os séculos XVII, e XVIII, quando os intelectuais do Fukko-Xintô, o Xintô acadêmico, começaram a solidificar a identidade cultural do Japão nas bases do xintoísmo. É provável, inclusive, que a influência da cultura européia tenha sido vista apenas como um capítulo mais dramático da influência estrangeira, potencialmente perigosa por si, mesmo se procedente do continente vizinho.

Cabe então voltarmos aos principais “teólogos” responsáveis pela construção dessa nova mentalidade etnocêntrica: Kamo no Mabuchi (1697-1769), Motoori Norinaga (1730-1801), e Atsutane Hirata (1776-1834). O termo ‘teólogos’ entre aspas é justificado pelo fato de que, normalmente, teologia é um termo melhor aplicado a tradição ocidental, visto identificar uma entidade conceitual que se expressa pelo termo Deus, o que não é o caso das tradições orientais que, não só usam terminologias não equivalentes, como conceitos que não são diretamente transferíveis.

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O xintoísmo, evidentemente, não tem um “deus” comparável ao das tradições monoteístas, mas sim diversas divindades, Kamis, termo que, por sinal, recebeu a melhor e mais clássica definição pelo próprio Motoori Norinaga, definição esta que claramente era incompatível com a de um deus único, exceto pelo fato de que um kami é algo adorável, superior, reverenciável e ou temível. No ocidente, muitas coisas podem aceitar essa noção, inclusive a própria idéia de deus, ou outras fantasmagorias típicas das superstições. No entanto, e creio ser de fato o mais relevante, é que jamais utilizaríamos o termo ‘deus’ para nos referir a animais misteriosos, pedras sagradas ou santos, que é exatamente o que ocorre como termo kami. De certo que há uma nítida superioridade entre os Ô-Kami, os grandes kami, e os kamis menores, mas isso não impede que os menores sejam, por vezes, objeto de maior veneração e temor que os maiores, o que seguramente é incabível nas grandes tradições ocidentais.

Voltemos aos grandes intelectuais japoneses que edificaram as bases do Xintô de estado.

Trilogia para uma Religião Oficial

Se decidirmos esquematizar o surgimento do Kokka-Xintô, ou Jinja-Xintô, o Xintô de Estado, em três estapas, podemos considerar o seguinte:

Primeiro: Kamo no Mabuchi sintetizou o naturalismo taoísta com o Xintô. O Tao / michi, que pode ser melhor expresso pela palavra inglesa Way, “modo se ser / caminho”, deve ser inferido pela observação da natureza. Ora, embora a erudição intelectual possa ter o seu papel relevante, é claro que o Tao deve estar acessível a todos, bastando para isso, pureza de espírito e apreensão intuitiva espontânea. Assim, o povo japonês estava em vantagem sobre os continentais, visto que possuía uma maior sensibilidade original. Lembremos que Urabe Kanemoto já havia estabelecido, no século XV, a originalidade da manifestação do divino nos Kami, e sua aparição travestida para os continentais. Os próprios ideais de pureza apontavam para uma legitimidade do povo nippônico no que se refere a estar em sintonia natural com o divino.

Segundo: Motoori Norinaga, considerado o maior intelectual xintoísta, logo em seguida acrescenta que essa pureza original dispensava o japonês da necessidade de um código de ética escrito. Os povos do continente podiam precisar de regras morais e guias de conduta, devido ao fato de possuírem uma natureza depravada, e tendente a degeneração, que precisava, então, ser combatida com uma disciplina rígida. Os japoneses, por outro lado, sendo descendentes diretos de deuses, não possuíam tal tendência corrupta (e evidentemente não poderiam nascer com um Pecado Original), e por conseguinte eram naturalmente bons, tendo inscrito em seu próprio espírito todo o saber necessário para o agir correto. Norinaga afirmou claramente que o povo japonês era naturalmente superior aos demais povos.

Terceiro: Atsutane Hirata, acrescenta o elemento decisivo, clama a volta do legítimo kami-no-michi, o “caminho” dos kami, puro, e livre das influências das religiões continentais, como convém a um povo puro de ascendência divina. É o Xintoísmo puro, e não o budismo ou os sincretismos, que deve ser praticado pelo japonês. E proclama, por fim, a necessidade de honrar a figura do Imperador, como o representante maior da unidade divina do povo japonês. Como evidência clara dessa divindade, cita que o Japão é a única nação que consegue citar sua ascendência ininterruptamente até a divindade, por um seguro fio condutor histórico que interliga ininterruptamente o soberano com Amaterasu, e por consequência, todo o povo japonês.

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Enfim, para sintetizar da forma mais reduzida possível: Kanemoto mostrou que o Xintô era a expressão das divindades originais, e não as religiões do continente, de modo que os japoneses é que tinham o privilégio de um contado mais íntimo com o divino. Mabuchi, destaca a percepção intuitiva espontânea do japonês para seguir o “caminho”, superior aos sistemas prolixos do continente. Norinaga, deduz a superioridade moral do povo japonês pela presença espontânea do saber como agir corretamente inscrita no íntimo, enquanto os demais povos precisavam de regras externas, e por fim Hirata, reclamou a volta total do xintô e divinização do imperador

Estava, então, criado o conceito de uma religião de estado, que proclamava a superioridade japonesa sobre todo o mundo, por meio de sua natural tendência ao bem, sobre os demais, naturalmente tendentes ao mal. A dicotomia maniqueísta na relação Nós/Bem e Outros/Mal é, por derivação, inevitável.

O “Legislador” Cultural

Não parece haver qualquer conexão entre os intelectuais xintoístas do século XVIII e o seu contemporâneo francês Jean Jacques Rousseau (1712-1778), mas curiosamente, permanece o fato bastante impressionante que estes japoneses praticamente respondem a um ensejo ensaiado por este francês em sua obra O Contrato Social.

Nela, Rousseau propõe a formação de uma sociedade democrática de base contratualista, onde o povo, como poder soberano, faz as leis. Mas o “Legislador” em questão é algo diferente de um poder legislativo de fato, exercido pela soberania popular, trata-se de um grande líder fundador, ou de uma tradição fundamental, que estabeleça as bases psicossociais de uma nação sobre instituições sólidas e pretensamente sobre humanas. Melhor fazer diretamente a citação:

Aquele que ousa empreender a instituição de um povo deve sentir-se com capacidade de, por assim dizer, mudar a natureza humana; de transformar cada indivíduo, que, por si mesmo, constitui um todo perfeito e solidário, em parte de um todo maior, do qual esse indivíduo recebe, de certa forma, a vida e o ser; de alterar a constituição do homem a fim de reforçá-la; de substituir uma existência parcial e moral à existência física e independente que todos recebemos da Natureza. (...)...é preciso que arrebate ao homem as forças que lhe são inerentes, para lhe dar forças estranhas, das quais ele não possa fazer uso sem a ajuda alheia. Quanto mais essas forças naturais estejam mortas e aniquiladas, maiores e mais duráveis são as aquisições, e também mais sólida e perfeita é a instituição; de sorte que, se cada cidadão nada é, nada pode ser sem a ajuda de todos os outros, e a força adquirida pelo todo é igual ou superior à soma das forças naturais de todos os indivíduos, (...)

Assim, pois, já que o legislador não pode empregar nem a força nem o raciocínio, é mister que recorra a uma autoridade de outra ordem, que possa conduzir sem violência e persuadir sem convencer. (...)

Eis o que forçou, em todos os tempos, os pais das nações a recorrer à intervenção celeste e honrar os deuses por sua própria sabedoria, a fim de que os povos, submetidos às leis do Estado como às da Natureza, e reconhecendo o mesmo poder na formação do homem e na da cidade, obedeçam com liberdade e aceitem docilmente o jugo da felicidade pública.(...)

Essa sublime razão, que se eleva acima do entendimento dos homens vulgares, é aquela pela qual o legislador põe as decisões na boca dos imortais, a fim de conduzir, através da autoridade divina, os que não seriam abalados pela prudência humana. (...)

Disso tudo não se deve concluir, (...), que a política e a religião tenham entre nós um objetivo comum; mas sim que, na origem das nações, uma serve de instrumento à outra.

Livro II, Capítulo VIII – O Legislador

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Na formação de um estado, então, é preciso revesti-lo de uma autoridade mais que mundana, o que irá garantir a coesão social e subserviência ao governante. É claro que a inserção cultural deve ser tal que o indivíduo nada seja isoladamente, mas sim, que sua existência só faça sentido como parte de sua sociedade. E mais, não se trata de afirmar necessariamente valores que já estão presentes no ser humano, visto que pretende-se mudar a natureza humana.

Inicialmente, Rousseau vê como exemplo máximo de legislador ninguém menos que Moisés, que estabeleceu tão fortemente as bases da cultura judaica, que esta permaneceu forte ao longe de milhares de anos a despeito de todos os revezes sofridos, sem perspectiva de se enfraquecer. Mas não necessariamente deve-se restringir a idéia a um único indivíduo, pois em diversas outras passagens, essa “legislatura” divina, que não dita as leis, mas sim o espírito de uma nação, pode ser exercida por uma tradição religiosa.

Rousseau, ao final do Contrato Social, cita explicitamente o Japão de sua época como um exemplo de religião inapropriada ao estado, visto que este tipo:

...dando aos homens duas legislações, dois chefes, duas pátrias, os submete a deveres contraditórios e os impede de ser a um só tempo devotos e cidadãos. Assim é a religião dos lamas, a dos japoneses, e a do cristianismo romano.

Livro IV, Capítulo VIII – Da Religião Civil

Estava a falar, portanto, da religião do Xogunato Tokugawa, quando predominava o budismo, visto que na época em que escrevia seu texto, 1762, o Japão estava no período Edo, submetido a infindáveis escaramuças externas, embora os acadêmicos xintoístas já estivessem elaborando as bases teóricas da religião estatal.

Esse tipo de religião, que incluía o cristianismo romano, por dividir os interesses do clero e do estado, era vista por Rousseau como tão profundamente má, que nem merecia maiores comentários. Segundo ele, também, o cristianismo original puro de Jesus, o Evangelho, e não da Igreja Romana, era o tipo ideal de religião para a vivência pessoal do indivíduo, mas não para a do cidadão, pois:

... não tendo nenhuma relação particular com o corpo político, deixa entregue às leis a única força que de si mesmas tiram, sem lhes acrescentar nenhuma outra; e, devido a isso, um dos grandes laços da sociedade particular fica sem efeito. Ainda mais, ao invés de unir os corações dos cidadãos ao Estado, ela os afasta, como, aliás, de todas as coisas terrenas. De minha parte, nada conheço mais contrário ao espírito social.

Livro IV, Capítulo VIII – Da Religião Civil

Rousseau também parece descrever bem o sentimento justificado de hostilidade que os povos pagãos possam ter com o cristianismo, quer seja no sentido original ou no sentido teocrático católico. Embora se referisse ao cristianismo original ainda tentando sobreviver no Império Romano, a descrição cai perfeitamente para a situação no período Edo japonês.

Ora, essa idéia nova de um reino do outro mundo nunca pode entrar na cabeça dos pagãos; estes sempre olharam os cristãos como verdadeiros rebeldes, que, sob a aparência de uma falsa submissão, só esperavam pelo instante de se tomarem independentes e senhores, usurpando diretamente a autoridade que fingiam respeitar em sua debilidade. E foi essa a causa das perseguições.

Livro IV, Capítulo VIII – Da Religião Civil

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Vale lembrar que apesar de estar no século XV, o cristianismo no Japão não poderia jamais pretender uma abordagem proselitista ofensiva, se comportando de modo mais similar ao cristianismo original. Isso, porém poderia gerar desconfiança no povo japonês, visto que de certo os governantes tinham a informação de que o cristianismo não era uma religião despretensiosa em termo políticos. O próprio Rousseau, desta vez se referindo ao período da formação Igreja Católica de Roma, escreve:

 O que os pagãos receavam chegou. Então, tudo mudou de face. Os humildes cristãos mudaram de linguagem, e cedo se viu o pretendido mundo espiritual transformar-se, sob a direção de um chefe visível, no mais violento despotismo neste mesmo mundo.

Livro IV, Capítulo VIII – Da Religião Civil

Em termos históricos, parece que os governantes japoneses, tantos o Xogunato quanto o posterior imperador, tinham motivos para desconfiar da presença da religião européia em seu território. O que reforça a tese que, diante de tal ameaça, os intelectuais xintoístas tenham sentido a necessidade de estabelecer um tipo de religião estatal autenticamente

nativa, o que, por fim, é o tipo ideal de religião civil para Rousseau, visto que:

...alicerçada num único país, fornece-lhe os deuses, os patronos próprios e tutelares; possui seus dogmas, seus rituais, seu culto exterior prescrito por leis; afora a única nação que a cultua, as demais são consideradas infiéis, estrangeiras, bárbaras; é uma religião que não estende os deveres e os direitos do homem além de seus altares. Foram assim todas as religiões dos primeiros povos, às quais se pode dar a denominação de direito divino civil ou positivo.

(...) é boa naquilo em que reúne o culto divino e o amor das leis, e em que, fazendo da pátria o objeto da adoração dos cidadãos, ensina-os que servir o Estado é servir o deus tutelar. E uma espécie de teocracia, em que não se deve ter outro pontífice além do príncipe, nem outros sacerdotes senão os magistrados. Então, morrer por seu país é atingir o martírio, violar as leis é ser ímpio; e submeter um culpado à execração pública é sacrificá-lo à ira dos deuses:

Livro IV, Capítulo VIII – Da Religião Civil

Assim, lendo “o príncipe” como o Imperador, e os sacerdotes xintó como os próprios magistrados, que inclusive assumiram a educação do país, a leitura destes capítulos cai como uma leva na situação vivida pelo Japão. O período de transição do Xogunato para o Império do Sol, com base na mitologia nacional. É, portanto, antiga a noção de que um devido etnocentrismo invariavelmente recai sobre uma identidade religiosa. Mais que isso, Rousseau inclusive fez ponderações a respeito do tamanho ideal de um estado, advertindo sobre os problemas de ser pequeno ou grande demais, e de estar em dependência comercial ou estado de tensão de seus vizinhos. Portanto, além de parecer visualizar a ascensão do Xintoísmo de estado, Rousseau, previu também os males que tal religiosidade tende a desenvolver, antevendo até mesmo a queda da teocracia, como veremos mais adiante.

Pode-se concluir, então, que há estruturas culturais em comum que podem ser identificadas nos regimes teocráticos, que, invariavelmente, tendem e gerar tensões com os demais povos. É verdade que Rousseau pensava antes nas religiões primitivas dos povos antigos, explorando a tendência destes em lutar pelos seus deuses, vistos que não havia diferença entra a política e a religião.

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Mas essa leitura pode ser adaptada ao mundo moderno, e onde lia-se um legislador que fundasse uma tradição, pode ler-se um grupo de um pensadores que resgatam uma tradição, ainda mais poderosa por ser natural, dando-lhe nova forma e fôlego, a ponto de constituir uma religião de estado.

As Vantagens de uma Identidade Cultural Estimada

Seria todavia injusto examinar somente os aspectos negativos dessa religiosidade estatal. Como qualquer outro valor, possui sua dimensão benéfica, que pode ser separada de suas consequências indesejáveis.

É inegável que sob o governo do Imperador Divino, o Japão conheceu uma era sem igual de desenvolvimento, tecnológico e social. Foi a era Meiji que elevou o país ao estatuto de uma potência mundial, destacando-se sobre seus vizinhos asiáticos.

A superioridade japonesa, antes teorizada por “teólogos”, agora se mostrava na prática, na superioridade intelectual, industrial, política, social e militar. Foram criadas universidades, parlamento, promulgou-se a primeira constituição e promoveu-se reforma agrária. Surgiram também os zaibatsus, conglomerados empresariais baseados em grandes famílias feudais. O Japão também derrota a China na guerra Primeira Sino-Japonesa (1894-1895), conquistando o domínio da Coréia e de Taiwan, e vence uma década depois a Rússia, na guerra de 1904 a 1905, garantindo sua presença na Coréia e conquistando a Manchúria.

Passado o governo do primeiro Imperador com poder político pós xogunato, veio uma temporária democratização, e uma crise de matérias primas foi contida por com a aliança com países europeus, por pressões sobre a China, e por benefícios advindos da Primeira Guerra Mundial.

O poderoso Império Japonês, chega à Segunda Guerra como uma potência integrada ao Eixo, que compunha com Alemanha e Itália, com evidente alinhamento político ideológico. Evidência mais do que suficiente para justificar a comparação do etnocentrismo japonês com o etnocentrismo nazista, e o ideal de adoração de estado italiano, que embora tenha um teor diferente do etnocentrismo, tem em paralelo o caráter de uma forte identidade nacional.

Deve-se, apesar de tudo, conferir que assim como no Japão, o etnocentrismo do Terceiro Reich também elevou a Alemanha a um estado de desenvolvimento jamais visto antes, bem como o fascismo italiano também trouxe também benefícios imediatos à Itália.

Mas, como previu Rousseau, todos esses estados terminaram por cair, visto que essa identidade nacional religiosa em especial, apesar das vantagens, tem também um vício inerente visto que:

... vindo a tornar-se exclusiva e tirânica, leva um povo a fazer-se sanguinário e intolerante, de sorte a que apenas respire assassínios e massacres, e creia cometer uma ação sagrada ao matar quem não admita os seus deuses. Tal espécie de religião coloca tal povo em estado natural de guerra contra todos os outros, o que é bastante prejudicial à sua própria segurança.

Livro IV, Capítulo VIII – Da Religião Civil

Adaptando-se essa leitura nem tanto à idéia de deuses, mas da própria superioridade racial em si, como já vimos, mitologicamente embasada, e reduzindo um pouco o teor de tal “acusação”, pois os países em questão certamente não visavam “apenas” isso, é possível notar uma inevitável conexão entre essa forte identidade nacional, e as ações que viriam a lhe indispor contra outras nações, o que terminaria por ser destrutiva, visto que nação alguma jamais poderia subjugar todas as outras.

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Então, após cumprir tão bem seu papel de elevar a auto estima nacional, de promover um bom desenvolvimento e uma respeitabilidade internacional, essa ideologia estatal etnocêntrica, ou fascista, que tem em comum diversas características como as previstas por, termina por produzir o exato oposto do que antes promovia, e intencionava sempre produzir, a decadência da nação.

Para o povo japonês, a derrota na Segunda Guerra Mundial teve um impacto fortíssimo, visto que sua auto imagem não concebia tal situação. Na realidade, a população ficava privada de informações reais sobre as frentes de batalha, acreditando até o último instante que a guerra estava sob controle e que a vitória era inevitável, tal como o fora nas guerras anteriores. Na realidade, a mensagem de rendição anunciada pelo próprio imperador pelo rádio, foi a única oportunidade que muitos tiveram de ouvir diretamente a voz do soberano.

Os norte-americanos também perceberam que a rendição do país tinha que ser um ato oficial, pois a experiência de guerra mostrava que os guerreiros japoneses não costumavam se render, que sua lealdade a nação era inquebrantável, e que mesmo evidências da derrota iminente não convenceriam os oficiais a depor suas armas. Foi somente a intervenção do imperador, após a explosão de duas bombas nucleares, que deu fim à guerra. (Que foi analisada em minha monografia sobre a Guerra do Pacífico, também de 1999, que, curiosamente, também considerei por terminar.)

Esse é o ponto que considero mais interessante aqui, o culto estatal japonês, centralizado na figura de um imperador divino, centralizava um poder tal que podia emitir ordens que eram cumpridas prontamente, algo que governos menos centralizados teriam muita dificuldade em fazer. Os únicos japoneses que recusaram-se a se render, em geral fora do Japão, o fizeram por acreditar que a rendição fosse na realidade um embuste propagandístico. No entanto, de uma só vez, um dos atos finais do soberano imperial foi exatamente renunciar a sua divindade, pois os aliados perceberam que enquanto o sistema imperial concentrasse o poder político, um simples anúncio do imperador poderia levantar todo país novamente contra os exércitos de ocupação. Em contrapartida, o imperador, e a família imperial, foram exonerados da responsabilidade direta pelos crimes de guerra, que recaíram sobre os militares.

Após quase um século de poder político e simbólico reunidos, que sucedeu quase 700 anos de poder meramente simbólico enquanto os Xoguns detinham o poder político, o imperador voltava a assumir um cargo meramente simbólico, enquanto o governo era transferido para órgãos seculares. No entanto, apesar de tudo isso, e embora a religiosidade tenha sido separada do estado, e apesar de uma retração numérica na religiosidade do povo, o que quero afirmar é que essa identidade cultural jamais foi quebrada. Ela apenas submergiu para níveis ainda mais profundos do comportamento e dos símbolos, constituindo uma mentalidade cultural que será sempre incompreensível para uma nação como a nossa, a brasileira.

O povo japonês jamais perdeu a auto estima, e mesmo hoje, mais de meio século após a sua única derrota em guerras internacionais, a auto imagem nipônica é das mais elevadas, o que seguramente constitui uma mola mestra na força cultural que impulsiona o país que continua sendo, e provavelmente continuará por muito tempo, uma das maiores potências do mundo.

Nesse sentido, em paralelo com a distância geográfica, talvez nenhuma outra cultura seja mais radicalmente diferente da japonesa do que a brasileira, exatamente por faltar-lhes o que sobre em nossos antípodas. Auto Estima!

O povo brasileiro é, seguramente, um forte candidato a povo com mais baixa auto estima em todo o mundo. É lugar comum para nós mesmos nos denegrirmos como nação e população. Nos consideramos corruptos por natureza, preguiçosos e desonestos, ainda que isso não seja verdade mais do que em qualquer outro lugar.

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Uma evidência disso é que aceitamos facilmente líderes e governantes assumidamente corrompidos, tendo desenvolvido mesmo um lema para justificá-lo. Pesquisas de opinião já demonstraram diversas vezes que grande parte da população é conivente com a corrupção, e em nossos pequenos atos do dia a dia, estamos acostumados a relevar delitos que queremos crer estar abissalmente separados dos grandes delitos que, apesar de tudo, ainda costumam nos revoltar.

No entanto, isso tudo é apenas ilusório. O povo brasileiro não é, como pensa ser, realmente adepto do estado de coisas que ele próprio rejeita e reconhece como nocivo. O problema é nossa auto imagem. Acreditamos que somos, ao absoluto inverso dos acadêmicos xintoístas do século XVIII, tendentes a degeneração, e isso se mostra em nossos símbolos, ritos e expressões culturais, onde literalmente, e sem trocadilhos, abundam expressões do mais puro desprezo por valores humanos dignificantes, e sobram exemplos de “maus exemplos” comportamentais.

Quando um filme como Tropa de Elite faz um sucesso retumbante, inúmeros intelectuais tentam explicar o motivo de tamanha identificação, e as explicações variam de receptividade a uma apologia fascista, manifestação pública de pensamentos conservadores, denúncia do mau comportamento universitário e da associação de segmentos intelectuais com o tráfico de drogas.

No entanto, penso que ninguém até agora realmente atingiu o ponto chave que explica o sucesso do filme. Trata-se da primeiríssima produção cultural brasileira de larga repercussão, a apresentar alguma coisa remotamente parecida com Heróis de ação. Isto é, pessoas que tem ideais claramente definidos e louváveis, tem a força para lutar por eles, e conseguem a vitória. Qualquer exame, superficial ou profundo sobre a produção cultural brasileira irá revelar a absoluta ausência deste tipo de personagem em nosso imaginário, tipo este que sobra no imaginário japonês.

Pesquisemos o pano de fundo cultural do Japão, China, E.U.A, Inglaterra, França, Alemanha e seguramente qualquer outra potência mundial, e colheremos abundantes exemplos de heróis deste tipo, fictícios, históricos, ou mitológicos. Coisa que absolutamente ausente da mentalidade brasileira, que até possui seus heróis, mas são completamente desconhecidos. Ninguém conhece Juca Pirama, mas todos conhecem Macunaíma.

O Brasil não tem um mito de fundação, e nem poderia tê-lo, como os E.U.A., mas também não desenvolveu apreço por seus símbolos nacionais e nem mesmo suas conquistas. Somos compostos por um misto de identidades estrangeiras cuja mistura resultou numa miscigenação muito maior do que a norte-americana, e não soubemos aproveitar as vantagens disso, ao menos como símbolo de auto estima.

Por outro lado, sobra no brasileiro algo que falta ao japonês, Auto Crítica. A pressuposição de superioridade racial no Japão está longe de ser algo remoto. Há muito pouca disposição para uma avaliação crítica do governo e da sociedade, com uma notável escassez de autores que desafiam abertamente os fundamentos e vieses da sociedade, tal como temos em larga escala em qualquer país do ocidente. A baixa dificuldade para o auto questionamento, especialmente em suas bases culturais, parece uma marca notável em muitos países da Ásia, onde a censura imposta pelo governo comunista chinês é apenas uma manifestação.

A obediência ao estado ainda é uma marca notável do povo japonês, que nega automaticamente os crimes de guerra se estes o são oficialmente negados pelo governo, e os reconhece, ainda que constrangido, se esses são reconhecidos pelo governo. Tudo isso, evidentemente, deriva do sentimento nacionalista etnocêntrico baseado numa cultura de milhares de anos, e remodelado com muita eficiência a partir do século XVIII, que, longe de ter se perdido após a Segunda Grande Guerra, mergulhou ainda mais fundo no imaginário japonês.

De certo, que sentido nenhum faria, a um país como o Brasil, articular algum tipo de identidade nacional comparável às identidades mitológicas típicas do etnocentrismo, mas nossos fundamentos nos permitiriam desenvolver algo mais interessante, que pretendo visualizar a seguir.

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EM BUSCA DE UMA FRATERNIDADE UNIVERSAL

A “revolução” que resultou na Era Meiji é contemporânea às revoluções norte-americana e francesa, de onde derivou o famoso lema Igualdade, Liberdade e Fraternidade. É possível correlacionar esses conceitos com os movimentos político ideológicos subseqüentes, que serão melhor analisados em minha monografia para Tópicos Especiais de Ética e Filosofia Política.

O que defendo aqui é que ocorreu no Japão um processo que, inversamente a outros de séculos posteriores, viria a privilegiar a idéia de Fraternidade em detrimento dos demais conceitos. Trata-se da construção da identidade nacional, da identificação do povo como uma grande família fortemente interligada por mitos fundadores e conceitos mitológicos. É nesse sentido, uma manifestação possível, ainda que incompleta, da idéia de Fraternidade, que também se revelaria no etnocentrismo nazista.

É, porém, incompleta, primeiro por não estar em equilíbrio com os demais conceitos, sufocando liberdades individuais e sacramentando a desigualdade social. Mas é ainda menos completa por ser nacional, interligando o povo interno numa fraternidade coesa que automaticamente isola todos os demais povos.

Como vimos, mesmo essa fraternidade incompleta tem suas vantagens, internas, mas seu inevitável choque com o mundo não poderia deixar de denunciar uma de suas piores vulnerabilidade, que é tender a promover uma Ética de Princípio em detrimento de uma Ética de Finalidade. (Termo desenvolvido na minha monografia RÉLICA & ETIGIÃO.)

Essas duas éticas citadas, foram rótulos por mim desenvolvidos para oferecer uma explicação, simplificada mas, creio, eficiente, para certos dilemas morais comuns no imaginário popular mundial. A Ética de Princípio estabelece que o valor real das ações, isto é, a atribuição que varia entre o benéfico ou maléfico que lhe fazemos, é definida por alguma característica intrínseca do agente, e somente isso. Por outro lado, a Ética de Finalidade atribui o valor ao “objetivo que se pretende atingir”, evidentemente pressupondo um critério público para valorar tal objetivo.

Tais designações não estão de acordo com as teorias éticas mais tradicionais, pois há uma mistura de elementos do Perfeccionismo e Deontologismo na Ética de Princípio, bem como de elementos Deontológicos, Consequencialistas e mesmo Perfeccionistas na Ética de Finalidade, que é uma ética claramente teleológica.

A utilidade desta divisão é que ela parece explicar bem os dilemas populares sobre temas polêmicas, que tem dificuldade de se entender exatamente por discuti-los sob pressupostos diferentes que podem ser parecidos, mas que fundamentalmente tendem a ser inversos. A solução que aponto é que dever-se-ia enfocar todas as discussões pelo prisma da Ética de Finalidade, pois só esta contempla todos os elementos necessários, ao passo que a Ética de Princípio, comete o erro de reduzir a valoração a uma ação desvinculada do que há de mais essencial no comportamento humano, sua intencionalidade.

É simples, uma Ética de Princípio declara que devemos considerar, boas ou más, as ações, de acordo com os princípios enunciados pela fonte de onde deriva a ação. Uma Ética de Finalidade proclama que devemos avaliar as ações de acordo com suas Finalidades, o que embora remeta à fonte da ação, possui um critério público de valoração.

É exatamente a falta desse critério público que torna a Ética de Princípio contraditória, pois ela não tem como realmente avaliar as ações, mas sim, apenas proclamá-las como boas ou más de acordo com uma volição arbitrária. Isso é simples de ser verificado em atitudes onde a dimensão humana é negligenciada em prol de uma suposta dimensão sobre humana. Se um auto proclamado profeta nos trás um conteúdo, como reconheceremos sua validade? Se examinamos tal conteúdo e

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decidimos que, por ele, é adequado ou não, e assim corresponde a nossas noções naturais de bem e mal, então estamos sendo finalistas, pois associamos o valor da fonte a um critério valorativo público. Mas se simplesmente aceitamos o valor da fonte como intrinsecamente bom sem necessidade de avaliação pública, externa, então estamos sendo principialistas, e aí perdemos por completo qualquer controle sobre os conteúdos das ações.

Isso quer dizer que se uma divindade nos ordenar matar, roubar, saquear e promover toda sorte de atrocidades, uma Ética de Princípio nos obrigará a aceitá-las como boas por princípio, isto é, porque a fonte de onde tais ordens emana, é arbitrariamente boa.

É exatamente isso que acontece com sistemas morais totalmente baseados nas idiossincrasias religiosas quando não devidamente avaliadas por critérios mais racionais, o que pode ser expresso em ocasiões em que se trata como uma “lei divina” um ditame qualquer, mesmo que se reconheça seus malefícios e não seja possível apontar seus benefícios, e mesmo assim, por sua pressuposição divina, mantenha obediência ao mesmo.

O problema, então, de uma conduta prática baseada numa noção etnocêntrica mitológica, é que ela irá valorar suas ações de modo arbitrária, e sem qualquer compromisso com as conseqüências dos fatos, e com nossas sensibilidades intuitivas. Só isso pode explicar como é possível matar milhares de pessoas em campos de concentração e ainda assim se sentir justificado em prol de um princípio ordenador arbitrário.

Só assim pode-se crer que a prática de crimes de guerra não ofende nossa dignidade humana, visto que está é apoiada em valores sobre humanos. Crimes de guerra estes que foram praticados em larga escala pelo Japão, mas que, curiosamente, em nome do forte sentimento patriótico, costumam ter sua existência largamente negadas pela sociedade japonesa.

Essa inversão de valores finalistas e principialistas também foram deduzidos por Rousseau, quando este falava no estabelecimento de uma identidade nacional.

Para que um povo nascente possa saborear as salutares máximas da política e seguir as regras fundamentais da razão do Estado, seria indispensável que o efeito pudesse tornar-se a causa, que o espírito social, que deve constituir a obra da instituição, presidisse a própria instituição, e que fossem os homens, antes das leis, o que devem ser graças a elas.

Livro II, Capítulo VIII – O Legislador

Embora esteja se referindo a instituição fundamental do estado, a derivação é inevitável. O efeito torna-se a causa, uma vez que é a própria existência atuante do povo que, seja ela qual for, se auto justifica, e que e dessa natureza própria que emanam as noções legais que irão refletir meramente o espírito da nação e endeusá-lo.

Como disse Motoori Norinaga, o japonês possuía em seu próprio espírito o conhecimento do bem e do mal, e essa intuição, infalível, lhe levava sempre à pratica virtuosa, ou seja, tudo o que ele fizesse, desde que se mantivesse fiel aos conceitos de pureza, seria intrinsecamente bom, por princípio, por definição.

Mas o mais interessante, é como relacionamos isso com a noção de Fraternidade, ou melhor, não relacionamos, pois ao divinizar e separar a etnia nacional das etnias estrangeiras, rompemos qualquer vínculo fraterno com as mesmas, proclamando, por princípio e sem a necessidade de evidências, a superioridade de uma etnia pela sua características sobre humana. Daí, a aplicação de uma Ética de Princípio é tão natural quanto o é, para Norinaga, a superioridade do Japão sobre o resto do mundo.

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Apesar de tudo isso, o erro pode estar muito mais na quantidade do que na qualidade. O maior demérito do etnocentrismo, na realidade, não é considerar-se como algo divino, mas sim fazê-lo em detrimento dos demais, e é nesse sentido que podemos lograr a transição dessa limitada fraternidade interna para uma ampla Fraternidade Universal.

Costuma-se dizer, que certas religiões são antropocêntricas, por colocar o ser humano como o ápice da criação, o centro do universo. Mas tal noção não poderia ser mais falsa, pois isso só faria sentido se tal posição fosse ocupada pelo ser humano enquanto mero ser humano, isto é, puro e simples, sem qualquer vinculação a uma linhagem étnica, filosófica ou religiosa qualquer.

Nesse sentido, tal pensamento não é antropocêntrico, e não só mesmo porque seria antes teocêntrico, mas principalmente, porque privilegia alguma vertente do pensamento em detrimento das demais, e como toda filosofia ou religião específica é uma manifestação cultural, isto é, de um seguimento num sentido étnico mais amplo, decorre que as religiões são sempre, etnocêntricas.

Além do evidente etnocentrismo das religiões nacionais como o xintoísmo, o judaísmo ou o hinduísmo, como negar a mesma característica à religiões universais como o cristianismo e o islamismo, se elas, além de terem surgido num contexto étnico claramente definido, ainda se chocam com outras expressões étnicas com as quais não conseguem se sincretizar?

Que espécie de antropocentrismo é esse, que só o é subordinado a um viés étnico em especial?

Um verdadeiro antropocentrismo seria na verdade uma Fraternidade Universal, onde a noção, quer seja de uma origem divina ou natural, fosse estendida à toda a humanidade, sem distinção, garantindo-lhe todos os direitos inerentes a sua condição humana independente de que ela aceite ou não concepções específicas desenvolvidas num âmbito restrito, exceto, é claro, sua capacidade de conviver harmoniosamente.

Assim, a simples existência humana deveria estar acima dos símbolos, dos ritos, das imagens e lendas, e onde nenhum ser humano jamais fosse esmagado pelo peso de uma estrutura cultural estanque que não admite a diferença.

Enfim, além dos valores da Liberdade e Igualdade, que estão até melhor encaminhados historicamente, precisamos desenvolver mais essa noção de Fraternidade. Não nacional, mas internacional. E nesse sentido, países multiculturais como os das Américas, e em especial o mais multicultural de todos, o Brasil, podem ter papel de destaque.

Afinal, enquanto os E.U.A tem menos de 14% de sua população constituída por afrodescendentes, o Brasil tem ao menos 50%, diluídos numa miscigenação sem paralelo no mundo, que inclui diversas linhagens européias, ameríndias, e asiáticas, a exemplo da maior comunidade japonesa fora do Japão.

Nesses 100 anos de imigração japonesa no Brasil, poderia ser um marco para a união sincrética de valores geograficamente opostos no mundo. A auto estima japonesa, e auto crítica brasileira, entre outros, que podem ajudar a construir uma identidade transnacional.

Rumo a uma Fraternidade Universal.

Marcus Valerio XR
25 de Junho de 2008

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Obs: Todos os endereços eletrônicos foram acessados em 25/05/2008

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Xintoísmo
A Religião Japonesa

MONOGRAFIAS

A Guerra
do Pacífico