2

Segunda Mensagem de Mario Campos de Jesus
Resposta a DEUS?

(Meus comentários estão em AZUL CIANO).

Se você tivesse poder ou tecnologia suficiente criaria um ser para servi-lo. Na verdade você já possui alguns: o carro, o computador, o telefone, etc. Máquinas estas que podem se comparar a seres que te servem. Todas ao seu comando, fazendo exclusivamente a sua vontade. Você os preserva e depois os descarta quando já não te servem mais, ou troca-os por outros melhores. Mas insisto que se você pudesse criaria um ser completo, que prestasse todos esses serviços e muitos outros mais. Há! Inclusive capaz de lhe proporcionar amor. Afinal o amor também é uma utilidade. Faz bem ao ego (alma, ser, coração, etc...). Bem, entre todas as utilidades que um ser pode oferecer, o amor só seria interessante, só teria sentido se fosse espontâneo. Entendeu? Concorda com isso? Agora imaginemos que você não precisasse criar nenhum ser para te servir, pois já teria dominado a tecnologia suficiente para locomover-se em grandes velocidades por si próprio (não precisando mais de um carro), comunicando-se por telepatia (não necessitando mais do telefone), etc. Ainda assim você ia querer criar o tal ser para lhe proporcionar amor. Digamos que você fosse capaz de fabricá-lo. Entretanto você ia querer que o amor deste ser fosse espontâneo, caso contrário não te satisfaria. Como você faria isso? Uma vez sendo você o criador deste ser, ninguém, nem você mesmo, acreditaria que o amor que ele lhe desse seria espontâneo. Só teria um jeito: - fazê-lo autônomo, com livre arbítrio. (Fique atento agora, isso vai criar uma complicação; me faz até lembrar um pouco o seu conto "A GRANDE CHANCE").

Entendeu agora porque mesmo sendo Onipotente, DEUS não destruiu o representante do Mal? Entendeu agora porque mesmo sendo Onisciente, não interferiu nos acontecimentos para alterá-los? Entendeu que qualquer interferência, em fim, desqualificaria a espontaneidade do amor que ele esperava dos seres por ELE criado? DEUS fez o homem para amá-lo. Não foi por acaso que o primeiro mandamento DÊLE é sobre o amor que todos devem ter, a ele, "e ao próximo com a si mesmo".

Aí, enfim, quando você se convence que existe o livre arbítrio, surgi a pergunta (a tal complicação que lhe falei), inclusive muito procedente: - Mas se está reservada uma pena tão severa para quem não amá-lo, isto não pode ser livre arbítrio! Mas é! Aí é que entra o Mal. Este é um dos argumentos mais fortes que o opositor de DEUS usa. Se você admiti isso, volta à estaca zero. Ora! Ou você ama a DEUS, que é quem realmente merece este amor, que o criou a sua imagem e semelhança, com a única e sublime finalidade de dar e receber amor, que é quem vai lhe proporcionar uma vida perfeita por toda eternidade; ou aceita o argumento do adversário de DEUS e vai para o outro lado (escolhe ser penalizado). Claro que existe o livre arbítrio! Você é quem escolhe! Estranho (e injusto) seria se Deus não tivesse nada de bom a oferecer e o outro sim, e você tivesse que pagar caro (com a tal pena), para ficar com o outro. Mas DEUS tem: - O SEU AMOR, e uma existência plena e perpétua. Você já viu uma escolha mais fácil de se fazer que esta? Mas como alguém poderia escolher dar as costas para DEUS, se é tão vantajoso escolhe-lo? Incrível, não é? Que nada, não é tão incrível assim! O tal anjo luminoso foi o primeiro a fazer isto. E muitos outros seres já fizeram. E muitos outros farão. E só o fizeram, fazem e farão, por causa da não interferência de Deus (o livre arbítrio).

Não tenho a pretensão de fechar a questão, afinal isto não é algo simples de compreender. Não é possível para a mente humana entender completamente coisas tão grandiosas. Você sabe que a nossa capacidade, até cientificamente comprovada, não é plena. Muitas coisas nos escaparão. Temos que ter a humildade de nos render a isto. E entendo que DEUS e seus desígnios não existem para serem questionados por nós, limitados seres humanos que somos. Como é possível entender algo tão complexo como um ser (DEUS), que não teve início e jamais terá fim? Como é possível entender a complexidade de um organismo vivo e um cosmo tão extenso a ponto de ser infinito. É de doer a cabeça. Prefiro então escolher ficar com o meu CRIADOR. Sem maiores questionamentos. Agora parece uma atitude simplista a minha, mas é simples assim mesmo. Rendo-me a Deus. Não pretenderei entende-lo mais que posso. Prefiro confiar NELE e descansar na sua graça. Não é só de entendimento e lógica que me valho. Existe algo mais que me ajuda. O ESPÍRITO DE DEUS, o consolador que JESUS CRISTO prometeu quando voou aos céus. AQUELE que testificaria de DEUS junto aos homens. AQUELE que convenceria o homem do pecado e o levaria ao arrependimento.

Vou citar novamente a Bíblia: "Sem fé é impossível agradar a Deus".

MARIO CAMPOS DE JESUS
Terça, 28 Outubro de 2 0 0 3

Foi com muito prazer que li esta mensagem, ela é uma das mais criativas e instigadoras que já recebi. Criar essa analogia foi uma idéia excelente, pela qual desde já parabenizo Mario Campos de Jesus, e que me sugeriu até mesmo outras idéias mais interessantes.
Essa analogia porém, e curiosamente, me parece trabalhar mais contra do que a favor da apologética cristã. Simplesmente porque é extremamente fácil desmembrar certos conceitos dela que vão diretamente em confronto a elementos canônicos do cristianismo, especialmente protestante e fundamentalista.
Vejamos por quê?
Se você tivesse poder ou tecnologia suficiente criaria um ser para servi-lo. (...) Há! Inclusive capaz de lhe proporcionar amor. Afinal o amor também é uma utilidade. Faz bem ao ego (alma, ser, coração, etc...). Bem, entre todas as utilidades que um ser pode oferecer, o amor só seria interessante, só teria sentido se fosse espontâneo. Entendeu? Concorda com isso?
Eu? Sem dúvida. Infelizmente há pessoas que não pensam assim, mas nesse caso devemos imaginar, para esse Ser com alto poder e tecnologia, que seja o melhor possível em termos humanos, quero dizer, como estamos usando uma analogia baseada em um Ser Humano, que deseja amor, que seja um humano dos melhores.
...você ia querer criar o tal ser para lhe proporcionar amor. (...)Entretanto você ia querer que o amor deste ser fosse espontâneo (...)Só teria um jeito: - fazê-lo autônomo, com livre arbítrio. (Fique atento agora, isso vai criar uma complicação; me faz até lembrar um pouco o seu conto "A GRANDE CHANCE").
Sinceramente não vi a relação com A GRANDE CHANCE, mas sem dúvida que um ser que devotasse amor espontâneo seria muito mais interessante. É claro que cabe aqui a reflexão: Como um Ser Humano, mesmo super poderoso, eu posso ter um Ego sedento de amor, admiração, veneração. Um Deus que se diz perfeito, teria essa mesma necessidade?
Entendeu agora porque mesmo sendo Onipotente, DEUS não destruiu o representante do Mal? Entendeu agora porque mesmo sendo Onisciente, não interferiu nos acontecimentos para alterá-los? Entendeu que qualquer interferência, em fim, desqualificaria a espontaneidade do amor que ele esperava dos seres por ELE criado?
Não. Não entendi. Mesmo porque nessas 3 perguntas há tantas incoerências que é difícil até por onde começar. Vamos por ordem.
Entendeu agora porque mesmo sendo Onipotente, DEUS não destruiu o representante do Mal?
Não vejo nenhuma conexão necessária entre a existência do Livre Arbítrio e a existência de um representante do Mal, digo isso sabendo que vou de encontro à toda a Teologia cristã.
Vou me imaginar como esse Ser Super Poderoso que criou seres a fim de que me amassem. Bem, se alguns desses seres não me amassem, e me ignorassem, ainda seria melhor que se me odiassem. Se esses seres mesmo não me amando, não criassem problemas para os outros seres, seus semelhantes, eu não veria qualquer problema, afinal criei vários para que alguns me amem, e se lhes dei liberdade de escolha, seria de se esperar que alguns não iriam me amar.
Agora, se alguns desses seres prejudicassem os outros, fizessem-nos sofrer e etc, aí sim eu poderia necessitar intervir. O que quero dizer é que existe uma diferença entre uma escolha diferente da que eu esperava e uma atitude maligna. Minhas criações poderiam até não fazer aquilo que eu espero, mas sim fazer outras coisas, mas isso não significa que essas coisas tenham que ser malignas, a não ser que eu sofra de um complexo extremista de 8 ou 80.
Você elaborou uma analogia baseada num concepção fantástica, mas isso nem é necessário, podemos imaginar uma situação paterna. Eu sou pai de duas filhas, é claro que quero que elas me amem, e gostaria muito que elas fizessem uma série de coisas, mas talvez elas façam outras.
Eu posso querer muito que minha filha toque piano, mas talvez ela decida ser jogadora de futebol, e se eu não for capaz de aceitar isso então eu tenho um problema psicológico, o que eu não esperaria de um Ser Super Poderoso, menos ainda de um Deus. Talvez até minha filha deixasse de me amar, por algum motivo qualquer, talvez ela deixe de gostar de mim, mas a não ser que eu seja vingativo e egoísta, eu não deixarei de amá-la, e nem lhe irei querer mal. Portanto, espero que um Ser Super Poderoso que deseja amor, ou um Deus qualquer, seja ao menos tão sensato como eu. Deveria ser mais.
Agora, se minha filha mesmo me amando e tocando piano, passasse a praticar atos cruéis, covardes, criminosos, aí sim eu teria, mesmo que ainda a amasse, de tomar providências, pois não gostaria nem um pouco disso, a não ser que tenha um desprezo total pelas vítimas dos atos que ela tenha praticado.
Portanto não há nenhum motivo para crer que do Livre Arbítrio derive necessariamente o Mal, pode derivar, mas não necessariamente. A não ser que eu ache que tudo o que não seja tocar piano seja necessariamente Mal, o que todos os que não me amem sejam malignos.
Seria o cúmulo da estupidez, o que eu não esperaria de um Super Ser.
Entendeu agora porque mesmo sendo Onisciente, não interferiu nos acontecimentos para alterá-los?
Isoladamente essa idéia apenas não faz sentido, mas no contexto ela é simplesmente contraditória. Pois se um Ser é Onisciente e Onipotente, ele Necessariamente Determina Todos os Acontecimentos. Basta fazer uma soma:
-DEUS sabe tudo o que irá acontecer com as coisas antes de criá-las.
-Sabe de antemão antes de "decidir" criar algo, tudo o que este fará.
-Sabendo de tudo, ainda assim decide criar, e tem poder para alterar mesmo as decisões deste algo que cria, ou no mínimo de induzí-lo sutilmente a fazê-lo.
Tendo o conhecimento total de tudo que existe em todos os tempos, do complexo entrelaçamento dos eventos, das circunstâncias que para nós parecem aleatórias e tudo o mais, não há como achar que ele não Determine o que quer que seja. Nesse caso não existe Livre Arbítrio! ELE teria controle total e absoluto de cada parícula subatômica em cada sinapse cerebral, de cada quantum da matéria, de cada um dos eventos que determinam nossa existência. E sabe tudo desde a Eternidade! Como pode-se dizer que Ele não interfere?! Ele DETERMINA!
O Determinismo é uma linha de pensamento que declara que não existe liberdade nem imprevisibilidade, a partir do momento que eu faço algo, necessariamente uma série de eventos estão irremediavelmente determinados a acontecer em consequência daquilo, eu não sei o que é, mesmo assim estão determinados.
Normalmente os deterministas são ateus ou agnósticos, e colocam que desde o pontapé inicial do Universo, todo o que aconteceu não poderia ter ocorrido de outra forma, isso porque cada evento anterior é a causa do evento seguinte. A bolinha de vidro que bate na outra é a causa, determina o movimento da outra. Como essa cadeia de eventos é incessante e cada evento tem vários resultados, tudo é uma sucessão de acontecimentos que se desenrolam de forma reativa, apenas obedecendo aos impulsos antecendentes.
Com a Física Quântica no século XX, o Determinismo ficou comprometido, pois evidenciou-se uma série de eventos em nível ínfimo que não podem ser determinados, sendo de sua natureza uma certa imprevisibilidade, há um certo nível de Caos no micro mundo, e como este rege os fundamentos de toda a realidade, em última instância tudo termina por ser indeterminado, ou no mínimo imprevisível, uma vez que não cabe aos seres humanos a possibilidade de conhecer todos os detalhes de cada partícula do universo num dado momento para determinar seu momento seguinte.
Porém muito antes destas doutrinas, o Cristianismo já era determinista, pois todos os eventos já estariam determinados por Deus, ou no mínimo pelas decisões espontâneas de cada uma de suas criaturas, só que com total conhecimento Dele. Ou seja, diferente do Ser Humano, Deus teria o conhecimento pleno de cada detalhe de cada micro estrutura fundamental do Universo, pois caso não tivesse não seria Onisciente, e sendo assim, e considerando que ele tem poder para alterá-los ele é sim responsável por tudo o que acontece.
Algo semelhante ocorre na Lei, se você tem conhecimento de que um crime está para ser praticado e, tendo condições de fazê-lo, você não o impede, é considerado cúmplice do crime, ou ao menos culpado por omissão.
Voltando ao nosso exemplo das criaturas, se eu criei vários seres com livre-arbítrio, sem dúvida não poderia interferir em elementos que digam respeito a suas escolhas voluntárias, mas poderia sim impedir que certos fatos que não digam respeito a tais escolhas aconteçam.
O Deus Cristão não faz nada disso. O que o sofrimento de uma criança recém nascida tem haver com suas escolhas? Como o Cristianismo não admite reencarnação, todo os humanos chegam ao mundo inocentes, como então justificar que os inocentes sofram tanto neste mundo?
Entendeu que qualquer interferência, em fim, desqualificaria a espontaneidade do amor que ele esperava dos seres por ELE criado?
E por tudo o que eu já disse acima, também não vejo sentido nessa idéia. Se eu criei os seres para me amar e lhes desse liberdade de escolha, essa liberdade viria das decisões espontâneas que lhe ocorrem, nada tendo haver com as coisas que lhe acontecessem independente de sua vontade.
Só para citar um outro exemplo, os ambientalistas que trabalham com animais selvagens ocasionalmente os capturam e tratam deles, para seu próprio bem, tratando-lhes doenças por exemplo. Eles interferem, mas nenhum deles espera que os animais lhes devotem qualquer agradecimento por isso. O ecologista militante que luta pela preservação dos tigres siberianos sabe que este animal não irá ter nenhum consideração por ele se o vir na sua frente.
Deus, segundo esse seu raciocínio, faria o absoluto contrário. Não faria nada para ajudar, mas exigiria amor e reconhecimento, ou se ele fizer algo, então ele interfere sim! Porém, como ele é onipotente e oniscente, na verdade ele faz tudo. Seria responsável por todas as doenças congênitas, violências sofridas na infância, desastres naturais e tudo o mais, e ainda assim exigiria amor dessas sofridas criaturas, sob ameaça de fazê-las sofrer infinitamente mais.
DEUS fez o homem para amá-lo. Não foi por acaso que o primeiro mandamento DÊLE é sobre o amor que todos devem ter, a ele, "e ao próximo com a si mesmo".
Então por quê ele não dá condições melhores para esse amor?
Sendo eu um Ser que tivesse poder para isso, agiria de forma diferente. Das minhas criaturas, as que me amassem ótimo, as que não, paciência, eu não as dei liberdade de escolha? De que valeria essa liberdade se eles não a exercessem.
Além do mais eu poderia até lhes propor desafios, provas, trabalhos e etc, mas nunca as deixaria em condições de absoluta penúria a ponto de não serem capazes sequer de discernir qualquer questão humana. Eu não criria seres sem a capacidade mental para escolher me amar.
Há inúmeras outras questões relativas a esse assunto, seria impossível tratá-las aqui, mas o principal motivo pelo qual eu não posso acreditar nessa teologia está muito bem detectado no seguinte trecho, onde você mesmo o percebe.
Aí, enfim, quando você se convence que existe o livre arbítrio, surgi a pergunta (a tal complicação que lhe falei), inclusive muito procedente: - Mas se está reservada uma pena tão severa para quem não amá-lo, isto não pode ser livre arbítrio!
Pronto! Aqui está a tal complicação óbvia que está explicitada em meu texto DEUS
E vejamos só como você responde a essa questão:
Mas é! Aí é que entra o Mal. Este é um dos argumentos mais fortes que o opositor de DEUS usa. Se você admiti isso, volta à estaca zero. Ora!
Ou seja, a resposta é "Mas é!"! Sem explicação alguma, apenas um comentário de que este é o argumento usado pelo "opositor de Deus", que se você admitir, apesar de implacavelmente lógico, está errado.
Parodiando, você tem que aceitar que 1+1=3 porque "É!", pois se discordar "Aí é que entra o Mal."
Você apenas apresentou a questão inevitável para depois não respondê-la. Mas vamos seguir em frente.
Ou você ama a DEUS, que é quem realmente merece este amor, que o criou a sua imagem e semelhança, com a única e sublime finalidade de dar e receber amor, que é quem vai lhe proporcionar uma vida perfeita por toda eternidade; ou aceita o argumento do adversário de DEUS e vai para o outro lado (escolhe ser penalizado).
O mais triste aqui é o modo como as coisas são colocadas. A razão, o argumento coerente e irrefutável, é arbitrariamente posto de lado como sendo coisa do demônio, e deve-se então aceitar cegamente algo irracional, em troca de uma promessa baseada em pura fantasia poética.
Claro que existe o livre arbítrio! Você é quem escolhe!
Ou, voltando a paródia. Se pedir a minha filha para me dar um beijo, ficando claro que ela pode recusar sem temer qualquer represália, posso ter certeza de que se ela me der, foi de livre espontânea vontade, o que é muito mais valioso, sem dúvida.
Mas, segundo o seu argumento, se eu disser: Me dê um beijo ou eu lhe darei um tiro! Isso é tão espontâneo e valioso quanto uma escolha livre verdadeira!
É, mais uma vez, a velha objeção continua sendo simplesmente negada ao invés de respondida.
Estranho (e injusto) seria se Deus não tivesse nada de bom a oferecer e o outro sim, e você tivesse que pagar caro (com a tal pena), para ficar com o outro. Mas DEUS tem: - O SEU AMOR, e uma existência plena e perpétua. Você já viu uma escolha mais fácil de se fazer que esta?
É difícil dar uma resposta simples. De um modo geral, seria fácil. Poucos recusariam dar um simples beijo sob a ameaça de levar um tiro, mas posto nesse caso fica muito mais complexo.
Você coloca então uma questão que leva a um outro campo, de que a escolha de amar a Deus seja mais vantajosa. Ora, será que amar alguém muito rico é sempre tão espontâneo, livre e bem intencionado quanto amar alguém pobre? Pode ser, mas normalmente há uma diferença.
Se eu fosse indiferente para a pessoa, e vice-versa, se me amar não trouxesse nenhuma vantagem imediata para ela, eu até entenderia que seu amor por mim seria espontâneo, e como já dissemos, e é bom insistir nisso, estamos neste texto considerando que o Amor de Livre e Espontânea Vontade é o mais desejável. Mas se essa pessoa sabe que me amando terá grandes recompensas, será que esse amor está no mesmo nível de espontaneidade?
Sem nem precisar responder a essa questão, aí está mais um modo pelo qual a interferência de Deus seria explícita, ele faria a promessa, sendo assim como ele não estaria interferindo na escolha?
Voltando a paródia parterna, que minha filha me ame mesmo que eu esteja pobre e incapaz de lhe proporcionar qualquer coisa, me parece bem mais sincero e espontâneo do que ela me amar enquanto eu possa lhe dar riquezas. Portanto, a simples promessa já empobrece o valor da espontaneidade desse amor.
Mas como alguém poderia escolher dar as costas para DEUS, se é tão vantajoso escolhe-lo? Incrível, não é? Que nada, não é tão incrível assim! O tal anjo luminoso foi o primeiro a fazer isto. E muitos outros seres já fizeram. E muitos outros farão. E só o fizeram, fazem e farão, por causa da não interferência de Deus (o livre arbítrio).
E aqui entra a pergunta. Por que o Anjo faria isso? Será que não há uma boa razão? Como um ser inteligente, divino, na verdade o mais luminoso de todos, poderia cometer um erro que parece absurdamente óbvio, primário e tolo até mesmo para o mais ignorante dos mortais?
O mesmo se repete agora, como tantas pessoas inteligentes parecem fazer a mesma escolha, digamos, tão idiota?!
Você realmente acha que eu ou qualquer pessoa com um mínimo de inteligência trocaria o gozo perpétuo no paraíso pelo sofrimento perpétuo no inferno?
Como dizia Nietsche, o cristão que não trabalha arduamente para cumprir as exigências de sua própria doutrina seria infinitamente idiota! Pergunte a si mesmo, e observe a sua volta, o quanto seus colegas que se dizem crentes, estão empenhados em sua própria crença.
Não tenho a pretensão de fechar a questão, afinal isto não é algo simples de compreender.
Bem, na verdade, isso é algo impossível de compreender, ou seja, que 1+1 seja igual a 3, ou que dizer "Me ame ou morra!" é uma atitude que confere liberdade de escolha. É simplesmente absurdo. E ainda pior, porque seria até aceitável, como de fato acontece, que alguém prefira morrer ou sofrer muito a ter que aceitar algum abuso, alguém poderia aceitar levar um tiro para não ter que beijar outro, mas isso não é nada comparada à ameaça divina, que não se limita a uma simples morte, a um simples sofrimento, é algo infinitamente pior.
Não é possível para a mente humana entender completamente coisas tão grandiosas. Você sabe que a nossa capacidade, até cientificamente comprovada, não é plena. Muitas coisas nos escaparão. Temos que ter a humildade de nos render a isto.
Não creio que ninguém em sã consciência e em razoável inteligência discorde que não temos condições de ter conhecimentos ilimitados e absolutos, isso nada tem de cientificamente comprovado, mas sim apenas evidente por si mesmo, racionalmente incontestável.
Mas podemos ter uma idéia de porque não compreendemos uma série de coisas. Por exemplo, niguém pode memorizar com precisão todos os nomes de todas as pessoas que já viu, ou saber com exatidão quanto grãos de areia existem numa caixa de sapatos. Nossas limitações são evidentes nesse sentido.
Mas nós sabemos muito bem quando uma coisa está errada. Simplesmente errada e nada mais. Um círculo não pode ser quadrado, 2+2 não pode ser igual a 5, e Escolha Espontânea não pode ser igual a Escolha Forçada!
Isso é simples. Por que temos que aceitar que ao invés de simplesmente serem erros de raciocínio, tais alegações são verdades divinas que não podemos compreender?
E entendo que DEUS e seus desígnios não existem para serem questionados por nós, limitados seres humanos que somos.
A resposta me parece ser exatamente a primeira metade desta frase, esse "DEUS e seus desígnios não existem".
Como é possível entender algo tão complexo como um ser (DEUS), que não teve início e jamais terá fim? Como é possível entender a complexidade de um organismo vivo e um cosmo tão extenso a ponto de ser infinito. É de doer a cabeça.
Três coisas diferetes. É tão possível compreender a complexidade de um organismo vivo que já estamos perto disso. Podemos dizer como ele vive, melhorar suas condições de vida, saber o que e como o afeta, podemos simplesmente dominar sua estrutura a ponto de aperfeiçoá-la.
Quanto ao Cosmo, mesmo que ele seja infinito, não me parece filosoficamente impossível de entender, mesmo porque o Cosmo finito sim, esse é impossível, pois é contraditório. Admitir o Universo Infinito, como o faço em Primeiros Princípios da Filosofia EXERIANA, é muito mais simples do que um inifinito.
Agora quanto a realmente etender a noção de ETERNO, aí sim a coisa complica. Nós somos capazes de discursar sobre o mesmo, e dizer muitas coisas, podemos discutir sobre isso, portanto temos um nível de compreensão, mas ninguém se atreve a dizer que podemos de fato compreender totalmente.
E por fim, uma derivação desta última questão. Com certeza é impossível compreender qualquer questão que envolva a mistura do Temporário com o Eterno, pois são coisas incompatíveis, e é exatamente por isso que temos todas as antinomias da religião cristã e similares. Quando tentamos relacionar o Absoluto com o Relativo, só conseguimos Paradoxos.
Mas... Finalmente.
Prefiro então escolher ficar com o meu CRIADOR. Sem maiores questionamentos. Agora parece uma atitude simplista a minha, mas é simples assim mesmo. Rendo-me a Deus. Não pretenderei entende-lo mais que posso. Prefiro confiar NELE e descansar na sua graça. Não é só de entendimento e lógica que me valho. Existe algo mais que me ajuda. O ESPÍRITO DE DEUS, o consolador que JESUS CRISTO prometeu quando voou aos céus. AQUELE que testificaria de DEUS junto aos homens. AQUELE que convenceria o homem do pecado e o levaria ao arrependimento.
Vou citar novamente a Bíblia: "Sem fé é impossível agradar a Deus".
Você, como qualquer crente, acredita em sua religião por motivos claramente passionais, independentes de racionalidade ou evidência. Religião é uma forma de preencher uma necessidade humana pela transcendência, projetando o inconsciente no mundo e fornecendo bases e parâmetros de percepção de realidade e orientação para tornar a vida mais significativa.
As possibilidades de percepção religiosa são simplesmente infinitas, porém, e digo infelizmente, as pessoas tem a tendência a aceitar mais as soluções alheias previamente estabelecidas do que desenvolver as próprias, em parte por comodismo, afinal para muitos pensar é muito trabalhoso, em parte por medo de cometer um erro de consequências transcendentes, mas em parte também pela humildade, reconhecendo que muitas questões já foram suficientemente tratadas e muitas respostas obtidas.
O Cristianismo ainda é a mais bem sucedida das religiões, sua segunda maior vertente, o Protestantismo, também possui sua estrutura interna de ver o mundo e o transcendente, herdando uma tradição multi milenar desenvolvida desde muito antes de qualquer noção científica ou filosófica se desenvolver plenamente.
Um dos resultados é esse. Os fundamentos da religião foram construídos antes que reflexões éticas, lógicas e metafísicas se aperfeiçoassem, e são fundamentos muito ousados e radicais, que terminam por ser contraditórios.
As questões que coloquei no texto DEUS continuam sem resposta por que são essencialmente insolúveis, o Cristianismo, e o Monoteísmo Abraâmico em geral, foi assentado em bases que não permitem um discurso racional nestes quesitos. Você foi mais um que pretendeu abordar as questões para defender o ponto de vista de sua religião, mais um que, mais uma vez não conseguiu realizar o impossível, fazer valer que 2+2=9, e mais um que como sempre apela para a alegação de irracionalidade como sintoma da sabedoria divina.
Resumindo a questão:
Se aceitamos que DEUS é um Ser Onisciente, Onipotente, Perfeito, Eterno, Imutável, e Princípio Primário do Bem, do Belo e do Justo, temos uma série de problemas.
Por que um Ser Perfeito e consequentemente Imutável decide criar um Universo, e inclusive decide que precisa de uma criatura para lhe dedicar amor? Se ele tem essa necessidade, então não é perfeito, pois a perfeição implica em ausência total de carências.
Qualquer discussão a partir daí, no fundo, já está admitindo que Deus não é um ser Perfeito, ou seja, ao qual nada mais se tem a acrescentar, pois já é pleno em toda sua potência. Então o discurso sobre a Perfeição e Imutabilidade de Deus não passa de palavra vazia em qualquer pretensão teológica.
Mas com a analogia de que eu seja um Ser Super Poderoso a fim de criar seres para me amar, é possível colocar essas idéias em posição ainda mais incômodas e frágeis.
Se eu criasse então vários seres e lhes desse livre-arbítrio, poderia gozar do amor espontâneo daqueles que a mim decidissem amar, mas o que eu faria com os que decidissem o contrário?
Ora, eu os deixaria fazer o que quisessem, desde que não tragam sofrimento direto aos outros, por que eu deveria puní-los por excercerem um direito de escolha que eu lhes garanti?
Na pior das hipótese eu poderia simplesmente destruí-los, e eles deixariam de existir. Por que eu os puniria com um tortura infinita e perpétua? Eu seria um ser sádico, cruel, com muito mais necessidade de exercitar uma psicopatia do que de receber amor.
Você poderia alegar que Deus é diferente de mim, que tem motivos que não posso compreender e etc. Mas a analogia me permite esse discurso, e é por isso que a vejo servindo mais contra do que a favor da teologia cristã. Na verdade gostei tanto da idéia que pretendo usá-la para ilustrar melhor meu ponto de vista.
Como insisti no texto DEUS, apesar de outros inúmeros problemas, creio que o mais grave é esse da Punição Perpétua. Ele destrói qualquer chance de aceitar a idéia de que o Deus Cristão seja Bom e sequer Inteligente em qualquer dimensão humanamente compreensível. A detecção de que ele seria infinitamente cruel e estúpido é simplesmente inevitável.
Em sua Mensagem Anterior, tratei de algo similar. Muitos fiéis de sistemas religiosos irracionais querem simplesmente fazer valer suas opiniões pela força, outrora física e bruta, e nesse caso psicológica mais ainda bruta, e não pela força da argumentação, da lógica e da coerência, pois querer fazer valer o falso como verdadeiro, em sentido racional, sem sequer um bom sofisma, sempre será um tipo de brutalidade mental.
Sua religião tem caracterísitcas muito sublimes, como todas elas, elementos sedutores e envolventes e desempenha um papel muito importante na vida. Como nós, humanos, somos uma mescla de racionalidade com emotividade, o irracional, memso no bom sentido, sempre terá papel importante em nossas vidas.
Mas por mais que isso seja importante para você, por mais que não seja possível abrir mão de aspectos da crença por esta ser um pacote único e indivisível mesmo que alguns elementos sejam inegavelmente bizarros, nada vai fazer com que esses elementos sejam válidos. Continuam sendo um calcanhar de Aquiles, pedras no sapato, pontos fracos do sistema de pensamento por onde qualquer inquirição racional corajosa irá fatalmente chegar.
Por isso para que essa religião sobreviva sem alterações, proibidas pelas posturas mais tradicionais e fundamentalistas, é necessário nublar a racionalidade, aprisionar a mente, a inteligência humana deve ser desmerecida onde convier ao sistema, pondo claros limites onde o pensamento deve ir.
São esses limites que eu não estou disposta a aceitar, e sendo assim não tenho dificuldades em ver que o alicerce onde o edifício cultural do Cristianismo se construiu é comprometido, e que tal edifício só pode parecer sólido e imponente pelo viés da ilusão.
Mais uma vez obrigado pela discussão, e esteja a vontade para levá-la adiante.

Sinceramente
Marcus Valerio XR
FREE MIND!!!
7 de Novembro de 2003

__________________________________________________________________________________________

MARIO CAMPOS DE JESUS
217
217.1 - Resposta ao 'Caro Ser Humano...'
217.2 - Resposta ao texto 'DEUS'
217.3 - Certamente que DEUS é a Solução
228 - Não Há Nenhuma Problema com o Criacionismo
362 - QUINTA MENSAGEM
575 - SEXTA MENSAGEM
579 - Resposta ao 'Difícil pra Chuchu'
622 - Réplica a Resposta ao DEUS
690 - 30 Anos Professando a Fé Evangélica
739, 742, 748, 750, 751

        m c j c o n t a b      y a h o o . c o m . b r