PLANETA FANTASMA - Capítulo 06 - Marcus Valerio XR
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DELÍRIO

O horizonte esverdeado era tranquilizante, servindo de acolhedor fundo para os delicados e amigáveis prédios, alguns curvilíneos e sensuais, em formas cônicas e piramidais. A lua artificial no horizonte oposto refletia luz e calor acolhedores que aqueciam-lhe as costas, a lua natural azul ao seu lado e ao alto, se destacava entre as suaves estrelas que transpareciam naquela clara noite.
Ela devia se perguntar como podia estar ali, de volta, em sua pequena cidade natal, numa região subtropical da grande nação planetária de SEILA. A última vez que lá estivera era uma menina, já fazia muitíssimos biociclos. Mas... Lá estava novamente! Seu pai tomou-lhe no colo e ela se lembrou o quanto o amava, embora talvez não fosse exatamente seu pai. Em SEILA, a identificação da paternidade não é algo que preocupe. O servo pessoal de uma cidadã, os servos, no caso de uma feiticeira, cumpriam o papel paternal.
Mas aquele era seu favorito, que ela chamava de pai, e com quem tinha uma ligação especial. Sua mãe era literalmente distante. Estava agora em outro planeta, e mesmo quando em SEILA, costumava estar em outras regiões. Sempre atarefada. Mas até isso, a idéia de que sua mãe estava em algum lugar, e que cedo ou tarde voltaria, a idéia de que estava em sua casa, que era sua filha, tudo isso produziu, por um momento, quase um êxtase de felicidade.
Na realidade, a felicidade não costuma estar plenamente inclusa nos momentos de êxtase, mesmo porque este é fugaz. A felicidade é mais plenamente vivida nos momentos de paz, que podem se prolongar indefinidamente, ocasionalmente adornados por excessos sensoriais e sentimentais diversos, que de fato enriquecem o bem estar. Mesmo assim, ela podia sentir que aquela felicidade era diferente, mais intensa. Talvez por que tudo aquilo voltara repentinamente, sem motivo, sem explicação. Num sonho que era mais real do que qualquer vigília. Tanto que ela não se preocupava em contestá-lo, nem pensar sobre ele.
Não era só por isso. Ela voltara a ser uma criança, e agora tinha novamente medos da infância. Nas águas do rio onde seu lar ficava, sobre um arquipélago particular, havia algumas criaturas que ela não gostava. Só quando quase adulta passou a não mais se incomodar com elas, mas naquela idade, elas não lhe eram nem um pouco agradáveis.
Normalmente ela não se aproximava delas, ficavam sempre distantes, mas agora havia algo diferente do que de fato ocorria em sua infância. Aquelas criaturas aquáticas pareciam maiores e mais próximas do que o normal. Ainda assim, isso não a ameaçava. Bastava não se aproximar da água, e seu pai estava ali para protegê-la. Mas não deixava de ser incômodo perceber que o retorno a sua amada infância de repente acrescentara aquela anomalia, que parecia mais intensa toda vez que ela deixava passear em sua mente qualquer pensamento de ir além das ilhas.
Nunca gostou da idéia de estar presa. Adorava aquele lugar, mas desde que soubesse que estava ali por vontade própria, podendo ir embora a qualquer momento. Agora, percebia, não seria capaz de sair do arquipélago sem passar pelas criaturas. Por que isso acontecia? Por que agora?
Ouviu vozes lhe chamando, amigáveis, familiares, mas ainda assim distantes e visionárias. Queria se aproximar delas, mas isso implicaria passar pelos desagradáveis animais aquáticos. Seu pai, também, embora continuasse terno como sempre, não parecia sequer sugerir que a ajudaria a sair dali.
Então as vozes amplificaram-se, muito. E então a experiência foi abalada. Por um momento sentiu que aquilo tudo estava errado. Ela não era mais uma menina. Era uma mulher, uma feiticeira, e precisava sair dali. Tinha coisas importantes a fazer. Mas então os medos se tornaram terrores, as criaturas das águas emergiram ainda que discretamente, mas deixando claro que o fariam com muito mais intensidade caso aqueles pensamentos e desejos continuassem.
Então, de repente, outra coisa mudou. Seu pai, antes delicado e imberbe, de repente pareceu maior e mais velho, e com a barba que o caracterizaria apenas quando ela já era adulta. E mais. Ele se tornou subitamente poderoso e imponente, e agora deixou claro que nada ameaçaria sua querida filha. Juntos, passariam pelas criaturas, e ela iria onde quisesse.
Embora isso significasse sair daquele lugar, que mesmo com tudo isso ainda era agradável, ela felicitou-se novamente. Podia ir e vir, a hora que quisesse. As vozes distantes se tornaram ainda mais convidativas, e agora até mais familiares que sua própria mãe. Ela queria ir, e de repente estava caminhando, no chão, de mãos dadas com o pai, indo para uma das pontes que ligava o arquipélago ao continente.
Então, com um grito assustador, uma das criaturas emergiu da água. Um monstro imenso, muito mais asqueroso e repulsivo do que qualquer um que ela já vira naquelas águas antes. De olhar maligno e feroz, e emitindo um odor não apenas nauseante, mas sufocante. Ameaçando se lançar sobre a ponte caso ela insistisse em atravessá-la. Ela sentiu medo novamente, mas dessa vez o controlou, e lembrou que era uma mulher poderosa. Se viu agora como adulta, e o homem ao seu lado não era mais seu pai, e sim um amigo, ainda mais forte do que ela.
Avançou resolutamente, caminhando pela ponte, para o nervosismo ainda maior do mostro que se elevava. Ela se preparou para usar seus poderes. Fez surgir sua bola de cristal, se mobilizou para a luta, até que...
Todo o mundo estremeceu. Por um instante, até as estrelas chacoalharam nos céus, e as luas ameaçaram desabar. Agora, dezenas, centenas, milhares de monstros gigantescos saltaram para fora d'água, uma insana horda de criaturas tão grotescas que se concentrar em pensar em sua simples idéia exigia uma força de vontade ausente na maioria dos senscientes. A força de sua investida foi tão grande que, subitamente, ela teve seus poderes reduzidos à nada, e voltou a ser uma criança, e o homem ao seu lado voltou a ser seu pai, que a pegou no colo e correu de volta para a segurança da ilha. Em desespero total.
Lá chegando, o trauma permaneceu por muito tempo, até que tudo voltou a se acalmar, e novamente, aquelas vozes sumiram, assim como a lembrança de que já era uma mulher. E também a lembrança dos monstros, até só restar a paz.
E voltou a ser uma ingênua e feliz menina, se esquecendo de tudo o acontecera. No colo se seu pai.

GALERIAS

Viuik estava exausta. Caída sobre o terraço de um dos imensos prédios. Dalmana ao seu lado, estava pouco melhor, apesar das queimaduras e escoriações. Tinham atravessado as nuvens tempestuosas com segurança até que um relâmpago circulou em volta deles, derrubando-os. Foi sorte. Se tivessem mantido a velocidade de descida, outro relâmpago os teria atingido em cheio, certamente eliminando-os instantaneamente.

Ainda sem forças para se levantar, a dobuk se contentou o olhar ao seu redor, por um lado preocupada e assustada, mas por outro aliviada por estar longe das criaturas do exterior. O antróide, estando mais recuperado, se ocupava em reparar seus sistemas, na medida do possível e em tentar observar o máximo possível o ambiente, com dificuldade, a fim de se situar melhor. Estava bem longe do local onde estiveram antes, e acreditava estar num ponto quase oposto ao de onde havia conseguido sair daquela cidade.

- É bem provável... - Disse ele. - ...que nos dêem como mortos. A Espada Espacial deve ter visto nosso transporte ser destruído, e sumiu antes que os destroços da explosão se dispersassem enquanto caíamos. E considerando que todos os nossos meios de comunicação foram irremediavelmente destruídos, não vejo chance alguma de nos comunicarmos com a frota, mesmo que estivéssemos do lado de fora da cidade.

Eu poderia construir um transmissor, mas ele só seria eficiente se estivéssemos bem longe dos arredores dessas nuvens. Antes que conseguíssemos chegar a um local seguro, creio que o frio, ou as criaturas, nos destruiriam.

Viuik apenas ouvia o monólogo. Aparentemente desanimada até mesmo para pensar. Começava a respirar melhor e se sentar, o que a fazia ter ainda mais consciência da ligeira e crescente opressão daquele lugar a sua volta. Opressão que não sentira antes.

Balbuciando, perguntou o que fariam, e Dalmana calmamente sugeriu. - Aproveitarmos a única coisa que temos, tempo, e seguir adiante com nossa missão. Explorando essa cidade. Não temos mais que nos preocupar com Lunis, e ao que tudo indica, estamos seguros aqui.

Estou com problemas em meus olhos, não consigo visualizar direito aquele prédio, que me parece anormalmente alto e estranho.

- Não é um prédio. - Disse a companheira. - É apenas um sulco na muralha, com faixas horizontais em intervalos regulares. Não parece nada especial.

- Ah. Sim. Bem, pelo menos consegui reparar parte de meus levitores, agora já posso cortar 75% da gravidade. Vai ser útil para descermos até... Pensei, aquela praça lá embaixo. Ao menos estaremos abrigados da chuva que se pronuncia. - Mal ele falou e pingos grossos começaram a cair, a dobuk concordou que deviam descer, apesar do cansaço e desânimo.

Se aproximaram da beirada e saltaram. Ela apenas abriu as asas como um para quedas, e ele, embora caindo mais rápido, neutralizou a gravidade o suficiente para atingir o solo com um impacto forte e sonoro, mas sem grandes consequências a não ser causar alguns ruídos em seus joelhos. A chuva começou a engrossar e então começaram a cair partículas de gelo, o que era muito estranho, visto que as nuvens deveriam ser quentes.

- Pensei ter ouvido que não deveria chover abaixo destas nuvens. - Gritou ela enquanto corriam rumo a uma proteção. - Penso que erraram mais da metade das suposições a respeito desse planeta. - Respondeu Dalmana.

Logo viram que a proteção que havia vislumbrado era insuficiente. Ventos laterais começaram a castigá-los, e uma estranha mistura de gelo frio e vapores quentes começou a se alternar. Correram ainda mais, não se atrevendo a voar naquelas condições, até que avistaram um prédio baixo e largo, adiante, encimado por uma das exóticas esferas com um corte diagonal.

A corrida pareceu durar uma eternidade, açoitada por chuva, vento e gelo. Escorregões foram inevitáveis, mas não diminuíram seu avanço, visto que quando caíam, deslizavam para frente no chão molhado. De repente o vento se tornou favorável, e puderam até aproveitá-lo, flutuando um pouco. Então o vento e o gelo pararam por completo e a chuva ficou completamente vertical. O antróide então ditou o ritmo ideal para pegarem o mínimo possível de pingos d'água, visto que correr muito rápido faz com que os pingos à frente, que não seriam pegos, molhem ainda mais do que os que atingem por cima. Por outro lado, ir muito devagar, aumentando o tempo de exposição sob os pingos verticais, também acrescenta mais água do que já havia em seus corpos ensopados.

Para a mais irritante ironia, no momento exato em que adentraram uma ampla porta frontal rumo ao interior do prédio, e ficaram completamente a salvo da chuva, esta parou por completo. Como se fosse uma provocação. Mas o que avistaram compensou essa curiosa desfeita do acaso. Haviam entrado num ambiente que até agora, nada sugerira que poderiam encontrar.

Estavam diante para um corredor cujo fundo sumia de vista. O teto era alto, uns 7m acima, e cerca de 3 vezes mais largo, o ambiente deixava correr um fluxo de vento quase como o ar livre. Mas o que chamava atenção eram duas coisas. Primeiro, os desenhos que podiam ser percebidos em toda parte, teto, chão e paredes, constituídos de "linhas" pontilhadas por minúsculos pontinhos brancos luminosos, sutis, de modo que podia-se perceber linhas suaves formando figuras simples e indefinidas. Por vezes pareciam constelações, por outras, eram mais figurativas, com formas que sugeriam idéias.

A segunda coisa era a luminosidade homogênea do cenário. Apesar de em grande quantidade, as pequeninas luzes que compunham os desenhos eram muito tênues para explicar aquela luminância perfeitamente regular, azulada, suave, mas que permitia distinguir muito bem o ambiente. Os exploradores ficaram por muito tempo paralisados pela exuberância do misterioso cenário.

Foram avançando cautelosamente, observando aquelas figuras que Dalmana começava a sentir como estranhamente familiares, enquanto Viuik pôde se esquecer por um momento os temores típicos da situação. O fascínio foi tanto que mal perceberam que percorrem centenas de metros galeria adentro, até que a entrada ficou para trás, distante, quase apagada e desinteressante.

Quando o antróide finalmente começou a balbuciar alguma coisa, a dobuk prestou-lhe atenção, fitando-o incrédula até ter coragem de perguntar. - Você... Entende alguma coisa?

Dalmana pareceu despertar de um transe. -Eu... Reconheço alguns estilos... Parte. Digo, apenas parte desses símbolos são parecidos com caracteres Marous arcaicos. Que por sua vez, sempre foram entendidos como herança cultural dos Guzuranos, que eram seguramente herdeiros de alguns conhecimentos Graiakis.

- E os Graiakis eram Primordiais? Não?

- Não exatamente. Alguns os chamam de Primordiais tardios, mas o simples fato de termos um nome preciso para eles já os desclassifica como Primordiais. Eles existiram até cerca de 100 mil anos atrás. Muito depois do que entendemos como Primordiais, ou pelo menos, Grandes Primordiais.

Prosseguiam adentrando a galeria, e só agora, que dialogaram, pareciam ter se dado conta do quanto andaram. Já não havia mais o vento, reinava agora um ar totalmente parado, e um tanto abafado, como seria de se esperar de um corredor tão comprido, sem nenhuma porta lateral, e que continuava a prosseguir indefinidamente.

Talvez tivessem pensado em voltar se os símbolos e desenhos nas paredes não estivessem cada vez mais hipnotizantes, e para Dalmana, cada vez mais significativos. Viuik estava prestes a dizer algo quando ele se antecipou, apontando para um desenho na parede. - Veja. Esse símbolo pode ser um caso típico. Ele se parece muito com a principal vogal da maior escrita clássica de Marou, cuja pronúncia é "Ann". Significa também uma espécie de "princípio", e começa a maioria das frases. Note que aqui, praticamente todas as sequências são iniciadas por este mesmo símbolo. É impressionante. Até hoje os marous iniciam boa parte de suas frases pronunciando "ann", mesmo quando estão falando em Gaiol.

Parece que esse símbolo atravessou meio milhão de anos e 4 civilizações, quase inalterado! Por aí se vê a força cultural dessa civilização.

- Mas isso é inacreditável! Normalmente uns poucos milhares de anos são suficientes para mudar a aparência de quase tudo, mesmo dentro de uma mesma espécie sensciente!

- Sim. Mas isso principalmente porque uma mesma espécie se reconhece como autora legítima de inovações. Mas quando é herdeira de uma outra espécie tida como superior, divina, tende a respeitar o legado cultural e conservá-lo. O Graiakis eram uma espécie sem individualidade, praticamente um coletivo sensciente originalmente primitivo, mas, ao que tudo indica, que foi adotado por Primordiais para executarem certas funções. Quase como se fossem escravos. Depois que seus mestres se extinguiram, foi que eles passaram àqueles comportamentos que os tornaram temidos e odiados.

- Os Guzuranos não foram inimigos dos Graiakis?

- Na maior parte das vezes sim, mas isso não os impediu de absorver parte de sua cultura, ciência e tecnologia, sabendo que não lhe era original. Acho que os Guzuranos também se curvaram ao poder do conhecimento Primordial que encontraram nos Graiakis. E os Marous são a espécie da Hexaliança que mais foi diretamente influenciada pelos Guzuranos, e cuja influência é bem vista. Bem diferente de SEILA, que sequer admite a influência apesar dela ser clara para qualquer estudioso.

- Isso não dá ao Marous direitos sobre essa descoberta?

- Isso é um problema. Oficialmente não há acordo nenhum a esse respeito, mas eles já manifestaram em várias ocasiões propensão para se apropriarem de descobertas arqueológicas cujos objetos lhe sejam culturalmente ancestrais.

Sentiram então que o vento voltara, mas desta vez em sentido contrário, vindo do interior. Inicialmente suave, mas à medida que avançavam, ia discretamente se intensificando, se tornando mais quente, e com um odor sutil, incomum e de impossível identificação. Já tinham andado perto de meio km quando notaram claramente que havia algo ao final corredor, possivelmente um vão central. Um súbito calafrio percorreu a espinha de Viuik, mas antes que ela pensasse em comunicar suas apreensões, se depararam com uma sequência de desenhos ainda mais notáveis.

- Deusa-Mãe Xantai!

- São... Figuras? Desenhos dos...

- Seres da superfície. Inequivocamente! São eles!

Se deparar com representações icônicas tão precisas daqueles asquerosos seres não deixou a dobuk mais tranquila, mas deixando-se contagiar pela empolgação do antróide, acabou tendo seus temores reduzidos. Afinal, tudo indica que aquilo era apenas uma galeria de registros culturais. Um mural histórico, possivelmente.

A medida que foram avançando, mais desenhos iam surgindo, e alguns representavam situações bem explícitas, embora enigmáticas. Era difícil saber se algumas representavam lutas, danças ou rituais, mas evidentemente descreviam sequência de situações, muitas vezes enriquecidas com palavras naquele estranho e ancestral idioma. Não eram só os seres pré-senscientes da superfície, mas também outros, não senscientes. Alguns dos quais já haviam sido vistos e classificados pelos cientistas da Pastor-6.

- Esse aqui! Eu reconheço. Significa "Vida"! - Disse o andróide. - Note que está representado sempre que surge a primeira amostra de uma criatura qualquer. Provavelmente algo como "forma de vida". Creio que isso, deva ser os nomes de cada espécie.

Houve um nítido acréscimo na complexidade dos desenhos, embora todos mantivessem a mesma técnica básica, linhas luminosas brancas sobre um fundo azulado escuro. E eram tão impressionantes que era fácil esquecer que muitos eram imensos, indo até o teto, sem jamais deixar de ser claramente visíveis. A medida que avançaram mais para dentro do túnel, e que uma espécie de saguão cada vez mais se fez notar, também foi ficando óbvia uma temática sendo desenvolvida nos desenhos.

- Dalmana! Esses símbolos ao topo, não são um forma de "ann"?

- Eu acho que sim... Note que além de serem proporcionalmente maiores, estão dentro de círculos concêntricos. Se isso estiver de acordo com o que sabemos da tradição Guzurana e Graiaki, eleva a importância do significado, então, se for mesmo princípio, creio que esses "anns" modificados estejam indicando a origem de cada uma dessas criaturas.

- Como uma linha de descendência evolutiva artificial?

- É provável. Note que, se estamos seguindo uma linha temporal correta, esses seres menores descendem daqueles maiores, e mais para o fundo do corredor acho que teremos mais ancestrais.

Se as criaturas atuais da superfície já eram repulsivas, Viuik torcia para que a maioria daquelas outras estivessem extintas. Algumas chegavam a causar mal estar só de imaginá-las, visto possuírem arquiteturas corpóreas que aparentavam estar completamente erradas, ainda que simétricas. Era como termos animais virados do avesso, com anatomias que não pareciam funcionais, boa parte delas aparentemente aquáticas.

Finalmente, perceberam que o corredor realmente morria numa imenso salão amplo, cujo centro, ao fundo, tinha um espelho d'água quadrangular, com uma pirâmide branca luminosa imersa no meio. Acima, um imenso túnel vertical também quadrangular mostrava o céu. Do outro lado, o corredor prosseguia, bem como havia corredores menores perpendiculares, porém, diferentes do maior, eram escuros.

O espelho d'água ficava mais abaixo, após alguns degraus avantajados, seguramente projetados para seres grandes. Os exploradores desceram, com sons que, diante do opressivo silêncio, eram retumbantes. A água era muito diferente daquela do gigantesco lago artificial. Embora também fosse muito escura, o era devido ao fundo e paredes de pedra negra, e não devido às algas, lodo e limo.

Na verdade a água era pura, como Viuik confirmou, e a profundidade da piscina não chegava a 1m, e teriam concluído que era pluvial se não fosse o estranho fato do piso estar completamente seco apesar da franca abertura acima, que deveria ter deixado entrar grande quantidade de chuva.

Dalmana teria comentado o estranho fato se não tivesse tido sua atenção chamada para o escuro corredor lateral. Subindo novamente as escadas, com auxílio da redução de 75% de peso, chegou à entrada de segmento do prédio que tinha cerca de metade da altura e largura, mas que a escuridão atingia apenas o espectro normal de visão.

Não demorou a perceber que bastava modular seus olhos para captar ultra violeta e então mais desenhos e caracteres surgiam, desta vez de complexidade inegavelmente maior. Viuik não gostou nem um pouco da idéia de ir por aquele corredor, mas a determinação do antróide proibia qualquer reprovação. A dobuk também era capaz de perceber com sua visão natural parte do espectro ultra violeta, mesmo assim precisou modular seu visor para enxergar melhor.

Distinguir os desenhos com nitidez, porém, não deixava o ambiente menos escuro. Era como caminhar num vazio repleto de pontinhos luminosos que apenas permitiam notar que havia chão e paredes por ali. Uma sensação de estranheza que já era crescente na exploradora, começou a se intensificar, e se tornar medo, que também atingia em parte o explorador, mas acabava abafado pela curiosidade científica.

Ela tentou se tranquilizar com o fato de que até agora não havia motivo algum para achar que houvesse qualquer perigo. Era uma cidade fantasma. Não havia nada vivo que fosse macroscópico. Mesmo assim começou a ter arrepios, e agradeceu quando o antróide começou a falar, quebrando o clima de suspense.

- Esses murais, eu acho, são uma espécie de registro... Restrito. Os outros podem ser vistos por qualquer ser dotado de visão no espectro de cores normais, mas estes... Exigem outros recursos. E o corredor menor talvez sugira que seja um local de acesso a seres menores, porém mais... Nobres. Veja isto aqui!

Ele apontou alguns desenhos que davam a entender que certas criaturas, diferentes daquelas da superfície mas ainda assim repulsivas, pareciam estar numa posição privilegiada em relação a outras, que eram bem maiores. A ausência de uma escala clara não permitia saber com precisão, mas era possível que aqueles monstros da superfície fosse remanescentes das criaturas inferiores, a julgar pelo formato, apesar de parecerem menores.

Dalmana quase apostava que alguns caracteres ali sugeriam uma descrição ontogênica, contando a histórica evolutiva de algumas das criaturas, remetendo a um tipo de passado de teor mítico. E comentava sobre isso quando perceberam que estavam chegando numa ampla sala. A surpresa poderia ser agradável, visto que novamente estavam num ambiente amplo repleto de desenhos imensos, não fosse o fato de que ambos sentiram um arrepio inexplicável, como se alguma coisa invisível tivesse passado em volta deles.

O modo como se entreolharam não permitiu disfarçar a apreensão, mas ambos se forçaram a esquecer a sensação ao observar novamente as grandes figuras, que de repente, capturaram sua atenção como nenhuma outra. Avançaram com tanta tensão e atenção, que foram surpreendidos por um obstáculo no meio do caminho. Então perceberam que haviam encostado numa esfera negra de pedra, pouco mais alta do que eles, e então, expandindo ainda mais sua percepção ultravioleta, e ativando uma lanterna de luz compatível, começou a perceber os pontos e traços em volta da esfera.

- Eu acho que é... Um globo planetário. Um mapa do planeta!

- Sim. Dá pra notar claramente! Tem a mesma distribuição do mapa que temos aqui, gerado pelos geógrafos. Está numa orientação diferente mas... Sim! Essas são as posições das nuvens de tempestade!

- E estamos aqui!

Ele apontou para um ponto bem no centro da esfera. Não havia dúvida, era um mapa que representava o planeta, com traços simulando a geografia básica, em especial os rios, mas tendo destaque muito maior para os locais das nuvens, todos assinalados por símbolos. Perceberam porém, que 6 dos locais, incluindo o que estavam, recebiam destaque, com símbolos maiores, e de imediato reconheceram os mesmos símbolos nas paredes, e em cada um grandes desenhos.

Eram ao todo 27 concentrações de nuvens iônicas, mas em apenas 6 parecia haver as grandes Cidades Fantasmas, distribuídas de modo semi regular ao longo da faixa equatorial do planeta, duas delas, em lados opostos, especialmente afastadas rumo aos pólos. Mas o que mais chamava atenção eram os desenhos associados a cada símbolo que parecia corresponder a cada cidade. Diferente de tudo o que viram até agora, além de grandes, eram estranhamento complexos, rebuscados, quase abstratos e ligeiramente simétricos, como uma figura de Teste de Rorschach.

Foi então, que num momento onde Viuik removeu a viseira para ajustá-la melhor, ela se deteve, e ficou estática, observando as imagens diretamente. Dalmana então percebeu que sem o ultravioleta a imagem perdia detalhes, mas ganhava em nitidez, e ficou mais que evidente do que se tratava.

O símbolo que representava a cidade onde estavam, estava logo abaixo de uma representação da gigantesca criatura que atacara as exploradoras no subterrâneo. Não havia dúvida. E abaixo dos outros símbolos, representações de criaturas diferentes, e ainda mais assustadoras, certamente tão gigantescas quanto aquela que estava abaixo deles.

Eram 6 ao todo, uma para cada cidade, mais uma sétima figura não associada a nenhuma cidade, e de um aspecto disforme demais para sugerir uma criatura similar. Subitamente, aquela constatação pareceu ter-lhe aberto as portas da percepção meta natural. Foram imediatamente tomados de uma apreensão, um calafrio, um pânico irracional e inexplicável.

Decidiram, sem dizer nada, sair do local, e voltaram pelo corredor em passos apressados, olhando apreensivos para trás.

Se questionaram, principalmente Dalmana, sobre aquele bizarro e injustificável comportamento, como se de repente tivessem visto fantasmas em seu encalço, e foi bastante desagradável pensar nisso, pois quando chegaram ao local do espelho d'água, a luminosidade dominante não aliviou seu medo. Pelo contrário, intensificou, pois o local estava ainda mais luminoso devido a radiância de criaturas transparentes e flutuantes que recheavam o ambiente, monstruosas, assustadoras, fantasmagóricas.

Realmente não havia nada vivo na cidade. Nada fisicamente vivo. Mas astralmente, uma horda de seres opressivos cercou os exploradores, que estavam paralisados de terror. O silêncio ambiental permanecia, mas parecia agora haver vozes em seus cérebros, chiados, lamentos, murmúrios.

Então ouviram um som intenso vir de fora, como se a massa de água do lago artificial tivesse sido violentamente sacudida.

PLANOS

Zentaris já havia partido há quase meia hora, deixando os telepatas e os seilans à bordo da PROMINUS. Não tivera escolha. A criatura das profundezas era poderosa demais para ser vencida telepaticamente. Isolara a seilan numa prisão mental que não poderia ser vencida por um grupo tão pequeno. Teriam que juntar mais um 3 ou 4 telepatas de altíssimo nível para ter alguma chance.

O anjo estelar decidiu então arriscar uma operação ousada. Descer até o planeta, à cidade, ao mar subterrâneo, e atacar a criatura fisicamente, de modo a relaxar sua guarda telepática, para que então pudessem puxar a feiticeira de volta.

Depois de momentos de grande apreensão, os seilans recuaram, tentando alguma privacidade para dialogar.

- Acha que podemos confiar nele?

- Acho que sim. Ele é diferente, sabe? Foi um dos poucos que recebeu um convite oficial para entrar em SEILA. As Ministras Supremas já consideraram trazê-lo para o nosso lado. Não pensariam isso de alguém que não valesse muita a pena. Eu não gosto é desses aí!

- Calma. Não precisamos deixá-los perceber.

- Estão concentrados demais nela.

- E nós também deveríamos.

- Sim. Mas é isso que... Eu quero falar com você. Sobre o Zentaris.

- O quê?

- Por que nossa senhora deixou SEILA?

- ...Ora. Já falamos sobre isso! Ela deixou claro!

- Sim. Ela queria fazer algo grande por SEILA. Ir pra Madre-Terra, estabelecer um vínculo com o planeta original. Tudo isso é muito bom. Poderia ser...

- O começo de uma aproximação maior.

- Sim! Que permitiria levar os desígnios de SAAM à Madre-Terra. Mas não é só isso. Ela também se sentia frustrada por que...

- Por que não deveríamos nos misturar com raças inferiores! Temos que conservar nossa força! E... Claro. Ela não estava satisfeita com as coisas. Com seu trabalho e...

- E... O quê!? Onde você quer chegar?

- Acho que tem um único jeito de satisfazer tudo ao mesmo tempo. Ajudá-la a fazer algo grande por SEILA, algo que irá aumentar nosso poder, e que fará dela uma heroína em todo o planeta! E poderemos voltar pra casa!

- Está se referindo ao Zentaris?

- Pense bem! Ele tem estado fora do alcance das feiticeiras há muito tempo. O maldito DAMIATE impede qualquer contato! Mas agora ele está aqui! Sinceramente disposto a ajudá-la, prestativo! Me parece muito interessado nela!

- Será? Bem. Realmente ele mostrou muita preocupação com o fato dos segredos de SEILA estarem sendo expostos à esse monstro lá embaixo. Pareceu mesmo interessado em proteger não só nossa senhora, mas nosso planeta. E ele interveio por nós perante os líderes da frota!

- Isso! Escute. Quando ele a libertar, acho que ela vai estar bem. Despertará aqui, conosco, e ele vai voltar pra cá.

- Será que... Poderíamos... Ajudá-la a convertê-lo?

- Calma, eles não podem nos perceber agora, aumente a barreira mental!

- Eu sei. Estou protegendo meus pensamentos!

- A Ministras Supremas já sugeriram que se alguém trouxesse ele para o nosso lado... Seria... Seria...

- Maravilhoso! Tem razão! Mas... E se ele não quiser? Ele não será fácil de ser dominado.

- Assim que ele a liberar, se tudo estiver bem, podemos dar um jeito nesses telepatas. Assim que ele chegar, nossa senhora estará pronta, para recebê-lo.

- É muito arriscado. Já estamos numa situação muito delicada.

- Por isso mesmo. Não tem como piorar!

- Isso pode resultar numa guerra.

- Mas com ele do nosso lado...

- Sim. Nossa senhora pode ser uma grande heroína. SAAM... Zentaris!

CONFRONTO MENTAL

Embora já esperasse isso, ele não gostava da idéia de deixar a PROMINUS, os telepatas e os seilans. Teria pedido que viessem outras pessoas da frota se não fosse o fato de que estava convencido que a PASTOR-6, principalmente a IANTIS, deveria se afastar o mais rápido possível de NOVITA-5, deixando apenas a SEDNA.

Os telepatas cinzentos possivelmente teriam resistência mental para permanecer ali por mais alguns biociclos, pelo menos, e os seilans, que também tinham habilidade telepáticas significativas, principalmente defesas, também eram mais resistentes que a maioria da tripulação da frota. Mesmo assim ele desconfiava que a tensão e a pressão crescente não demoraria a deixá-los perigosamente instáveis.

Mas agora, se não agisse logo, a situação poderia piorar muito. A tentativa de liberar a mente de Lunis fora frustrada por uma reação extrema do coletivo mental que a aprisionava, que agora estava ainda mais desperto e vigilante. Era questão de pouco tempo para que as mentes se reorganizassem, depois de centilhares de anos sem contato com senscientes mais desenvolvidos, e logo passassem a projetar um poderoso campo telepático capaz de ir muitíssimo além da esfera de invisibilidade, e afetar mesmo telepatas treinados.

Brilhando como uma estrela, ele entrava agora na atmosfera do planeta, rumo à cidade recém explorada. Envolto num ovóide luminoso e transparente, mas resistente como o mais denso metal, ele caía como um meteoro, já avistando as nuvens tempestuosas que cobriam aquela imensa necrópole.

Ampliara sua percepção apenas o suficiente para captar possíveis emanações dos outros dois exploradores, que ainda poderiam estar vivos, mas tinha que manter a guarda mental com muito cuidado, pois as mentes das profundezas provavelmente o perceberiam, e não seria surpreendente se passassem a uma abordagem mais invasiva. Mas ele tinha esperança de que, se fosse rápido o suficiente, não daria tempo à criatura de frustrar seu plano.

Penetrou nas nuvens, sentindo as turbulências e campos eletromagnéticos que mesmo estando num momento mais calmo, seriam intransponíveis para a maior parte dos sistemas eletrônicos comuns. Era realmente impressionante aquele acúmulo nebular, tão violentamente carregado que só poderia sugerir uma tecnologia oculta muito avançada ainda em plena operação.

Alguns kms depois finalmente se deparou com o cenário, e não pode deixar de se chocar. Era muito mais impressionante ao vivo do que pelos sistemas virtuais. Gostaria de poder apreciá-lo melhor, mas não podia perder tempo, sobrevoou rapidamente em busca do espelho d'água gigantesco, e por sorte o encontrou logo. Desconfiava que os exploradores poderiam ter voltado à cidade, visto que seria o local aparentemente mais seguro para pousar se conseguissem passar pelas nuvens. Infelizmente não poderia procurar por eles agora, ainda menos com aquela chuva que castigava alguns trechos da cidade.

A pressa não impediu de notar, contudo, que na realidade aquele local não estava realmente deserto. Algumas mentes finalmente pareciam estar saindo das profundezas e se manifestando astralmente. De forma muito incipiente ainda, mas provavelmente logo começariam a produzir uma população astral suficiente para fazer aquele local justificar literalmente o apelido de Cidade Fantasma.

Flutuou um pouco sobre a água turva, desativou o escudo ovóide e desceu lentamente até tocá-la com as mãos. Hesitou por um momento, então expandiu sua aura criando um escudo corpóreo similar a uma armadura transparente, e então entrou na água. Mergulhou o mais rápido que a discrição exigia, pois não poderia agora causar uma turbulência subaquática muito grande sob pena de prejudicar sua abordagem surpresa.

Não demorou a notar que algumas mentes já haviam captado uma presença intrusa, mas por sorte, notou, elas estavam confusas, provavelmente sentindo a presença dos outros exploradores, visto que dirigiam sua atenção para a cidade acima. Zentaris pode concluir então que estavam vivos, embora não pudesse conjecturar a respeito de sua integridade. Teve que se concentrar para criar um campo de anulação mental em torno de si. Isso não impediria que sua presença fosse detectada, mas dificultaria muito que fosse identificada e sondada.

Nem teve tempo de apreciar as notáveis criaturas luminosas subaquáticas, quando entrou na vastidão do mar subterrâneo, já sabia para onde ir. Navegando cerca de 200 abaixo do teto, contornando montanhas invertidas, foi avançando rumo à inequívoca concentração de mentes. No entanto, foi surpreendido quando notou uma presença muito mais próxima do que esperava. Algo vinha em sua direção. Grande. MUITO GRANDE!

Teve que agir rápido, subiu e se escondeu entre algumas rochas. Baixou sua luminosidade ao máximo e se concentrou em se tornar mental e astralmente oculto. Era uma pena não poder ficar invisível tão eficientemente como Traigon ou uma feiticeira seilan, mas podia lidar com isso.

Não demorou a avistar uma criatura gigantesca, em forma de enguia se aproximando, procurando por ele após ter sentido sua presença, e então percebeu de imediato que não era o ser que ele viera procurar, era outro! Tão grande quanto, dotado de um tipo de inteligência indecifrável, e notavelmente perigosa. Devia ter uns 400m de comprimento, e era basicamente longitudinal, como uma serpente marinha.

Ela passou, e mudou de rumo, felizmente não ia nem na direção da criatura que ele procurava, nem rumo ao acesso para a superfície. Ele pôde então avançar novamente, aumentando sua velocidade. Mais uma vez se surpreendeu ao perceber que não teria que ir muito longe, o monstro aquático que viera encontrar vinha em sua direção, pode sentir inequivocamente as mesmas consciências que enfrentara há pouco, envolvendo a mente cativa da feiticeira.

Não havia mais porque se esconder, avançou e parou a cerca de 50m da criatura, distância mais do que suficiente para vê-la muito bem, com sua luz branca e radiante que agora acendeu para iluminar a escuridão e ofuscar a fauna luminiscente. Estava diante de uma criatura que impunha no mínimo admiração e respeito, no máximo, terror e desespero total. Mas ele não era o mais famoso dos Anjos Estelares por acaso, sabia se controlar, e sabia o que fazer.

Enquanto fitava inúmeros pares de olhos que aos poucos iam se abrindo, como se a cada momento uma nova face o encarasse, ele se comunicou com os telepatas no espaço. Eles reagiram prontamente, e com a ajuda dos seilans, estavam prontos para repetir a operação. Os servos da feiticeira eram especialmente sensíveis à mente de sua senhora, de modo que permitiam sua sintonização quase imediata, os telepatas cinzentos então estabeleciam um elo forte, e se comunicavam com ela, no momento, na forma de vozes distantes que chamavam por sua atenção.

Então Zentaris repetiu a mesma operação. Entrou no sonho da feiticeira, ainda o mesmo, o da menina presa numa ilha cercada por monstros. Enquanto as criaturas sondavam e estudavam tudo o que podiam na partes mais avançadas da mente de Lunis, mergulhavam sua essência central num sonho lúdico, de modo a impedir que ela reagisse. Essa desconexão dificultava a "garimpagem" de informações, mas também impedia a resistência consciente. O anjo estelar, mais uma vez assumiu o papel de pai da menina, e em seu sonho, a tomou no colo, e voou sobre a ponte que separava a ilha do continente.

A reação não foi diferente, apenas mais drástica, o que se manifestava na forma de monstruosidades ainda mais asquerosas e colossais assustando uma criança indefesa. Agora, na presença física do monstro, o Anjo era uma ameaça maior, atacando com mais intensidade o coletivo de mentes que tentavam manter a feiticeira prisioneira, e que estavam sendo bem sucedidas em conhecer o que podiam sobre a ordem de coisas da galáxia através da mente da seilan.

No sonho, ou melhor, pesadelo, o confronto prosseguiu, os telepatas e os seilans no espaço, como combinaram, fizeram o derradeiro esforço mental no sentido de puxar a feiticeira de volta, e Zentaris pressionava de dentro da projeção onírica gerada pelas mentes. Como previa, a reação despertou ainda mais sensciências que se juntaram à batalha, modelando terrores psíquicos capazes de enlouquecer a maioria das pessoas. Mas o anjo não estava ali apenas para um combate mental. Sua presença física tinha um motivo.

Era agora! Se concentrou em seu corpo, abriu os braços e uma luz intensa começou a brilhar, e num único golpe descarregou um raio luminoso contra o monstro, uma rajada de eletricidade e calor que o feriu intensa e inesperadamente. O choque se espalhou por todo o sistema nervoso da criatura, agredindo os inúmeros cérebros. A dor física afetou a mente, e praticamente todas as sensciências ali perderam a concentração. No pesadelo, isso significou uma desestabilização imediata dos monstros que envolviam a ilha. Alguns mudaram para formas ainda mais absurdas, outros, ficaram mais agressivos, mas a grande maioria simplesmente se desvaneceu.

A desorientação foi cabal. A mente da feiticeira ficou solta, e então os telepatas no espaço puderam puxá-la em meio a um turbilhão sensorial espetacular, visto que parte da dor sentida pela criatura reverberou neles também, assim como nos seilans, e no próprio anjo estelar.

Mas era inevitável, a prisão mental foi destruída, Lunis foi libertada, em que estado ainda não era possível saber, pois agora Zentaris só tinha uma coisa em mente. Sair dali o mais rápido possível.

Quando a criatura recobrou os sentidos e começou a se reorganizar, o anjo já subia pelo acesso que dava até a cidade, agora sem nenhuma preocupação em limitar sua velocidade. Foi uma viagem muito breve, e quem estivesse diante do lago artificial naquele momento, teria visto uma coluna d'água se erguer com a violência de um tsunami, elevando a massa aquática dezenas de metros de altura.

A CAMINHO

Após uma pausa de todas as atribulações que os assaltaram, principalmente na IANTIS, onde visitara o local do estrago, Taulin estava numa sala de tele conferência, onde foi abordado por telepresença por alguns técnicos da GENIUS.

- Senhor, já temos um levantamento provisório das frotas à caminho.

- Até que enfim! E então? O que temos?

- A frota Madre-Terrestre não deverá chegar em menos de 6 biociclos, mas as Espadas Espaciais TARANIS e ORORO se adiantaram, com chegada prevista em cerca 52 horas. Antes disso deveremos ter a frota KLUMAN, 4 a 5 biociclos, prevendo que as Espadas Espaciais cheguem no máximo em 40 horas, segundo registros enviados em hiper comunicação pela própria frota. Embora não tenha feito comunicação oficial, relatos paralelos indicam que uma frota SEILAN pode chegar a qualquer momento a partir de 30 horas.

- Essa não... - O líder pôs as mãos no rosto, enquanto Filia observava que Cemilion e Irig discutiam algo muito sério.

- Mas temos novidades, fomos informados de uma frota Marou a caminho, com chegada prevista pra cerca 9 biociclos, ela trás a bordo duas Arqueólogas madre-terrestres, que trabalham em colaboração com os Marou.

- É uma expedição científica?

- Originalmente sim. Foi desviada de curso quando soube da descoberta, no entanto, deve ter recebido acréscimos pois a frota é bem maior do que uma expedição científica padrão. Não recebemos nenhuma comunicado oficial, mas pelo resíduo das Claves Espaciais detonadas nas coordenadas de onde a frota partiu deve ser composta de pelos menos 15 naves, com ao menos duas delas maiores que a IANTIS.

Filia deixou de prestar atenção nos klumans e mostrou preocupação imediata. - Podemos esperar que eles reivindiquem prioridade nas explorações. Apesar das crises diplomáticas que isso sempre gera, duvido que ajam diferente.

- Seria um perigo. Marous já são instáveis em condições normais, sob esse campo mental hostil podem se tornar mais perigosos que seilans. Essas 4 frotas não deveriam vir pra cá, é muito perigoso. Isso é tudo?

- Não senhor. Fomos informados também de duas naves pequenas rumando para cá. Uma delas já pode ter chegado, provavelmente saindo do hiperespaço por volta da órbita de NOVITA-8. A outra não podemos estimar, pode ser a qualquer momento.

- Tripuladas?

Provavelmente não senhor. Ao menos uma delas é tão ou mais rápida que uma Espada Espacial. A outra parece pequena demais para ter suporte de vida. Além disso, ha apenas outras 3 frotas com baixas probabilidades de emergirem aqui em prazos não inferiores a 15 biociclos. Isso é tudo, os detalhes estão neste diagrama aqui.

Enquanto observava os gráficos representativos das frotas, Taulin se lembrou de perguntar. - Acharam a nave de Zentaris?

- Não senhor. Continuamos sem saber como ele chegou aqui. É provável que sua nave esteja estacionada do outro lado da estrela NOVITA, mas de qualquer modo não detectamos as hiper ondas residuais de entrada no espaço normal.

- Muito bem. Vamos dizer a SEDNA para ficar atenta à possível nave recém chegada. Zentaris foi uma surpresa boa, não quero ter uma ruim. - Encerrou Taulin, exausto com todos os eventos do dia. Esperava poder dormir um pouco, e prestando atenção em Filia, preferiu não perguntar porque ela estava tão apreensiva com os klumans.

MAIS PLANOS

- Está bem! Foi a luta sim! No momento em que eu nocauteei aquele seilan... Foi como, se estivesse honrando nosso planeta. Eu admito! Dá vontade de repetir a dose. Mas isso não muda o que está acontecendo.

- Cemilion! Eu entendo o que você está sentindo, mas estamos sob a influência de um campo telepático perigoso. Como pode ter certeza de que está pensando direito! Isso pode ser apenas a... Loucura entrando em nossas mentes. Você prestou atenção no que disse o Randol! O Zentaris prestou!

- E é pelo Zentaris mesmo! Nesse momento ele desceu até o planeta! Como vamos saber o que vai acontecer a ele? E se não voltar? E se for tudo um truque das seilans! Elas estão tentando capturá-lo há séculos! Fariam qualquer coisa!

- Mas daí a achar que tudo isso foi uma armação já é...

- Ah! Irig! Como você é teimoso! Sei que não foi tudo armação! Mas pode ser a oportunidade. Se a feiticeira voltar, ela pode dominar o Zentaris! Se, e somente se! Eu sei que é uma possibilidade remota, mas se acontecer, vai mudar o jogo de forças da galáxia. Já falei com a Filia, ela nos autorizou a ir com ela, junto com outros voluntários.

- E Taulin? Ele concordou em mandar pessoas de volta ao local de onde acabou de mandar sair?!

- Ele está cansado. E mão dependemos dele, não é? Mas... Desculpe, fiquei tão nervosa que nem ouvi o que você tinha a dizer.

- É. Agora nem sei se quero...

- Ah, por favor. Você queria ir lá por outro motivo, não é?

- É que eu... Assim que tentei cochilar, tive um sonho, e dessa vez, foi totalmente diferente. Não consigo tirar da cabeça.

- E o que é?

- Cemilion... Estamos diante de um planeta primordial, não? Algo desconhecido por todos. Ninguém... NINGUÉM! Jamais veio aqui! Aqui poderiam estar escondidos segredos inimagináveis.

- Sim... E...

- Eu sonhei... Que a Quarta Revelação está aqui!

- !!! Uau... E eu pensando que eu estava sendo ambiciosa.

- Pense bem! Nós já procuramos o Quarto Livro já séculos, e nunca tivemos nem um sinal. Nem uma pista! Só pode estar muito bem escondido! E que lugar melhor para esconder do que aqui?!

- Estranho. Por que não pensei nisso antes?

- Olha. Se a seilan vai tentar converter o Zentaris, eu não sei. Nem acho que poderíamos impedir.

- Mas podemos impedir aqueles dois de ajudá-la!

- Não me importa de onde você está tirando essa idéia! Só acho...

- Na verdade tive... Um sonho também. E sinceramente tenho a sensação de que nossos sonhos, de todos nós, estão interligados. Talvez eu tenha sentido isso porque os seilans pensaram nisso. Talvez esse campo telepático esteja conectando nossas mentes. Sei lá! Mas...

- Pode ser! Eu vou. Mas entenda, que estou procurando a Quarta Revelação.

- Está certo de que vale a pena?

- Foi o Randol que, sem querer, ajudou a me convencer. Ele disse que nas tais músicas antigas que previram a descoberta deste planeta, havia algo sobre descobrirem um livro com grandes segredos universais. Um livro que superaria todos os outros... Eu. Não consigo tirar isso da cabeça.

- ...

- ...

- Então...

- Então o quê?

- O que estamos esperando?

MAIS DELÍRIOS

- É agora! Ele conseguiu! - Disse Velek. - Concentrem-se em puxá-la de volta!

- Vamos minha amada! Volte para nós! Venha pra nós!

- Calma... Isso. Mantenham a concentração vocês dois. E não falem mais nada. Agora e só manter o canal aberto. Está dando certo. Ela está voltando.

Após algumas convulsões, o corpo da feiticeira relaxou, e começou a se mover, o que não fazia desde que havia chegado. Ela ainda estava sonhando, tinha movimentos as vezes suaves, as vezes, espasmódicos. Enquanto o outro cinzento mantinha-se em profunda concentração, Velek podia se dividir entre a atenção telepática que dava ao processo, e em tentar traquilizar os seilans. - Funcionou. Zentaris já está voltando.

- Quanto tempo ele vai demorar? - Perguntou um dos rapazes.

- Na velocidade que está subindo rumo à cidade fantasma, eu diria que bem menos do que levou para ir. E o melhor, não vejo qualquer dano mental em sua senhora.

Então, quando Velek tomou fôlego, visivelmente exausto pelo esforço telepático, e o outro telepata cinzento pareceu sair do transe. Um dos seilans, andou lentamente em torno do corpo de Lunis, e num movimento brusco e traiçoeiro atingiu em cheio o mesmo telepata que antes já haviam posto à nocaute.

O outro seilan investiu contra Velek, sabendo que dificilmente ele poderia deflagrar um ataque telepático eficiente após tanto esforço, mas para sua surpresa, o híbrido antropônico cinzento defendeu-se do golpe com um movimento firme e rápido. O seilan atacou novamente, mas Velek demonstrou uma agilidade e reflexo extraordinário, segurando os dois braços do seilan, que sem espaço para usar as pernas, foi duramente atingido por um golpe de cabeça do cinzento. Atordoado, não pode evitar ser posto a nocaute por um eficiente golpe desferido pelo telepata.

O outro seilan atacou, já numa posição de melhor eficiência, mas Velek não se intimidou. Se esquivou eficientemente de uma série de ataques, e então contra atacou com socos rápidos, curtos e precisos, conseguindo em seguida virar o corpo do rapaz e aplicar-lhe uma chave no pescoço.

Enquanto isso, uma pequena menina conseguia se desviar de ataque de um monstro, até que outro, maior e mais feio, apareceu. Ela corria pela ponte, conseguindo se desviar de cada ataque, desde que seu pai, que se transformara num poderoso super herói, destruíra a maior parte dos monstros que a assustava, fazendo-os se dissolver.

Ela podia agora correr rumo as vozes que a haviam chamado, e a cada passo ela crescia em tamanho, e em poder. Uma criatura bizarra se interpôs em sua frente, não dando chance alguma de ser contornada, mas agora ela não precisava driblá-la mais. Se lembrou que era uma feiticeira, sentiu seus poderes voltarem, e com suas próprias forças derrubou a fera de volta ao lago.

Então ela sentiu que a ponte desaparecia, e dava lugar a uma sala escura, e sua memória voltara praticamente toda de uma só vez, causando uma confusão terrível. Ela percebia agora que a maioria dos últimos monstros que a perseguiam eram criação de sua própria mente, e pode então destruí-los sem qualquer dificuldade. Então a ponte se desintegrou, e ela se sentiu cair na água.

Se assustou, e então se levantou, e não era mais água, estava saindo de uma cama, e a primeira coisa que viu foi um de seus queridos servos, desmaiado ao chão, ferido. E à sua frente, o outro estava sendo estrangulado por um degradante híbrido terrestre-cinzento. Ainda sob forte tensão, ela não teve dúvidas do que fazer. Com seus poderes recuperados, concentrou energia em suas mãos, e disparou uma certeira rajada direto em Velek, deixando-o caído, inconsciente.

E finalmente, seu amado servo a abraçou, e o outro também despertou, e os 3 se uniram num abraço apaixonado, se desfazendo em lágrimas.

Marcus Valerio XR
O Terceiro LIVRO, conhecido como O LIVRO DO FUTURO, é o principal responsável pelo sucesso de O LIVRO de Kluman, visto que foram suas previsões que mais rapidamente convenceram as tribos antigas do planeta de que se tratava de uma obra com conhecimentos superiores. De fato, seu conteúdo é basicamente futurológico, e estima-se que cerca de 85% de todas as suas previsões e profecias já tenham se cumprido, sendo que algumas, como o próprio LIVRO advertiu que poderia acontecer, acabaram não se cumprindo. Entre as profecias em aberto, uma em especial tem validade indefinida, visto que não depende de fatores específicos que permitam antever quando poderia se realizar. Trata-se do anúncio de que um dia os Klumans, após conquistarem o espaço e viajarem para muitíssimo longe de casa, fato que fora previsto também com muita precisão, iriam em fim encontrar o QUARTO LIVRO, que estaria guardado em algum planeta misterioso. Esse novo livro, também chamando de QUARTA REVELAÇÃO, tem ocupado a mente de grande parte dos exploradores espaciais klumans, sendo um grande motivador de suas viagens. Há vários grupos religiosos que vivem de explorar o espaço tendo como seu objetivo principal buscar a última parte do grande Livro Sagrado, além do que qualquer astronauta Kluman está culturalmente obrigado a estar atento à qualquer pista relevante.

Além da Antropônica e Dobuk, a outras 4 espécies senscientes que compunham a Aliança Hexagonal são:

ARIA
Muitas vezes chamados de Arianos, visto que de fato possuem pele "branca" amarelada e cabelos loiros claros, brancos ou cinzentos. Os Arios são sempre magros e esbeltos, e possuem estatura média de 1,80m. Apesar disso, eles não são aparentados com os atropônicos, não há compatibilidade alguma, sendo impossível que gerem um híbrido. Na realidade, somente ao longe podem ser confundidos com atropônicos, visto que olhados de perto possuem traços faciais a anatômicos flagrantemente incompatíveis com os da espécie Homo sapiens. As diferenças entre os machos e as fêmeas são muito sutis, em geral imperceptíveis para os não familiarizados, mesmo após um contato pessoal mais direto. A pele lisa normalmente não tem poros notáveis a olho nu, e costuma ter aparência oleosa, o que por vezes lhes dá um visual metalizado, dourado ou prateado. Os machos não tem pêlos a mais do que as fêmeas, (por sinal barba é exclusividade dos antropônicos), embora costume haver diferenças entre a tonalidade dos cabelos, dependendo da etnia, pode-se distinguir um sexo pela coloração capilar. As fêmeas não tem seios, visto que não são mamíferos. Os arios tem 5 dedos em cada mão, porém de proporções diferentes dos antropônicos, tendo quase todos o mesmo comprimento, exceto o polegar opositor, que é mais descolado em relação aos demais. Os pés tem apenas uma única divisão, como um polegar mais largo e o restante, e no geral são bem mais finos que os pés antropônicos. Os olhos podem apresentar diversas cores, sendo os amarelos os mais comuns, embora possam ser azuis, verdes, vermelhos ou alaranjados, não havendo olhos escuros. Geralmente possuem narizes pequenos, finos e achatados, porém com narinas maiores, verticais. A boca é o que há de mais parecido com os antropônicos, inclusive os lábios, dentes frontais e a língua, com uma diferença significativa: Podem abrir um sorriso muito mais largo, embora a amplitude mandibular seja quase a mesma, os lábios tem o dobro da elasticidade, podendo se abrir quase até as orelhas, revelando todos os 44 dentes. A uma distância razoável, ou com alguma maquiagem, um Ario pode se passar por um antropônico, mas um antropônico jamais se passaria por um Ario caso alguém lhe peça para sorrir ao máximo. Sua língua também pode se esticar muito mais, cerca do dobro do comprimento, e possui um sensibilidade à sabores muito mais ampla.
Apesar de tudo isso, os Arios ainda são a espécie conhecida mais similar aos antropônicos, tendo grande parte das capacidades físicas e mentais similares, embora em geral os antropônicos sejam mais fortes e avantajados. Os Arios distinguem cores do vermelho até cerca de 4 tons de ultravioleta, mas sua visão é menos sensível, precisando sempre de mais luz, o que torna seus ambientes bastante ofuscantes para a maioria das outras espécies. Algo similar ocorre com sua audição, que é mais aguda, permitindo captar sons de 50 hz até 35 khz, sendo também mais sensíveis ao volume, não tolerando sons de mais de 150 dB. O olfato é estranhamento pouco desenvolvido, principalmente se comparado ao paladar, e o tato não encontra diferenças significativas em relação aos antropônicos, exceto pelo fato de habitarem ambientes cerca de 12 graus mais frios. Porém os Arios possuem um sentido cinestésico e um senso de orientação muito superior, sendo capazes de saber se nortear mesmo muito depois de ter perdido qualquer referencial e mesmo após várias voltas em torno de si mesmos.
Enfim, os Arios, apesar da vaga semelhança, nada tem a ver com a etnia antropônica Ariana. Sua similaridade é pura convergência. Parte do hábito de confundi-los com atropônicos arianos deriva do fato de ter ocorrido presença de Arios em Madre-Terra em várias épocas Pré-DAMIATE, em contravenção às diretrizes da Hexaliança. São também, dentre as espécies senscientes conhecidas, a que apresenta a menor variabilidade fenotípica, num grau de homogeneidade que costuma gerar muita dificuldade para as outras espécies. Estima-se em 2,4 bilhões sua população galáctica, e seu potencial para metanaturalidade é maior que o antropônico, embora a incidência de SuperMetas seja menor, e a de HiperMetas, embora tenha alguns exemplares notáveis e famosos, esteja restrita a somente 3 reconhecidos em toda a história galáctica registrada, e embora haja lendas e mitos sobre outros.
O planeta original dos Arios foi destruído há pelo menos 250 mil anos, e sua localização é desconhecida.

CINZA
Velhos conhecidos dos terrestres, os cinzentos são, ao contrário dos Arios, a espécie mais variada em termos de aparência, a ponto de injustificar o nome, que é derivado do tempo dos primeiros e acidentais contatos com os antropônicos, e que acabou ganhando uma conotação diferente, visto que seriam uma espécie de meio termo entre os antropônicos e os Metiats. Embora jamais tenham qualquer tipo de pêlo, os cinzentos podem apresentar, além da típica coloração cinzenta, as cores marrom, ocre, vários tons de verde e verde azulado, vermelho, alaranjado, e mesmo cores compostas, como cinza com manchas marrons, ou pigmentos de cores diversas. Além disso, variam grandemente em estatura, podendo ser encontrados em etnias de estaturas inferiores a 1,2m, e superiores a 2,5m.
Suas outras características mais marcantes são proporcionalidade típica dos olhos em relação à cabeça, bem como da parte superior do crânio. De alta sensibilidade, os olhos dos Cinzentos em geral captam o mesmo espectro de cores dos antropônicos, sendo apenas mais adaptados a luminâncias menores. Sua audição, porém, é normalmente inferior, bem como praticamente não possuem olfato ou paladar. Porém seu tato compensa, com vantagens, a inferioridade auditiva, visto ser capaz de detectar variações mínimas de pressão no ar, bem como temperatura, permitindo um percepção espacial similar a de um radar, o que faz com que o Cinzentos em geral usem poucas roupas, a fim de aumentar sua sensibilidade. São capazes de perceber a aproximação de qualquer objeto, por mais discreto que seja, apenas pela sensibilidade tátil.
Tem vasto potencial para metanaturalidade, porém quase sempre restrita à telepatia, o que os torna a raça com maior potencial telepático após os Metiats. Há porém exemplares bem documentados de Super e Hipermetas, embora normalmente seus poderes sejam mais especializados, como, por exemplo, controle somente sobre eletromagnetismo, ou força vital.
A origem dos Cinzentos é completamente desconhecida, estando vastamente espalhados pela galáxia, com uma população estimada em ao menos 190 bilhões, embora a maior parte deles viva em planetas completamente isolados da comunidade galáctica, em estágios rudimentares de tecnologia. São fortes as correntes teóricas que os consideram uma espécie artificial, possivelmente criada pelos Metiats, e que por isso mesmo possui um vasto potencial de miscigenação com outras espécies, até mesmo a Aria, o que permite inclusive o único tipo de hibridismo possível entre Antropônicos e Arios, por meios do cruzamento de híbridos de cada um desses com Cinzentos, em segunda geração. Possívelmente, teriam sido criados no espaço e posteriormente adaptados aos mais diversos tipos de ambientes, pois sua boa adaptação à microgravidade é incomparável.
O cinzentos, normalmente são hermafroditas, podendo se auto fecundar ou promover fecundação cruzada, embora haja algumas variações étnicas sexuadas, em geral híbridas.

MAROU
Possivelmente os Marou sejam uma subdivisão dos Cinzas, embora essa possibilidade enfrente a falta de evidência de uma correlação genética clara, sendo inferida principalmente pela similaridade fenotípica. Há etnias de cinzas praticamente indistinguíveis de alguns gêneros de Marous.
Os marous também não possuem pelos, sendo em geral de cores vermelhas, amareladas, alaranjadas, marrons ou beges. O que os distingue mais tipicamente dos cinzentos são os olhos pequenos, em geral menores que os dos antropônicos, bem como o queixo projetado e a boca larga, o que faz os Madre-Terrestres não resistirem a tentação de comparar sua cabeças com a de tartarugas.
Sua peculiaridade mais interessante é possuírem 3 gêneros. As fêmeas em geral são encorpadas, tendo em média massa corporal duas a 3 vezes superior aos machos, que por sua vez são bem mais esbeltos, ágeis e rápidos, perdendo somente em força física e resistência. Mas há um terceiro "gênero" cuja incidência é de cerca de 12%, que são assexuados, estéreis, mais altos, fisicamente mais delicados, porém muito mais inteligentes, e dominam praticamente todos os postos de poder da civilização Marou, que tem seus cerca de 60 bilhões de habitantes restritos quase unicamente a um único sistema estelar, VB322-ROUMA (V7208-B324-2237).
Esses indivíduos "neutros", chamados Noxis, praticamente monopolizam a produção científica, religiosa e política, só não sendo influentes na parte artística, técnica, militar e produtora. São também notáveis telepatas, com alto potencial para metanaturalidade. Sendo isentos de qualquer impulso sexual, os Noxis são também imunes aos encantos das Seilans, e sua telepatia também lhes permite resistir à investidas mentais. Com isso, os Marous sobressaem como uma espécie com alto potencial de resistência contra as feiticeiras, tendo sido muitas vezes convocados como protetores de outras espécies em certas situações.
Os marous também são notáveis por serem destemidos, autoritários e reconhecidamente arrogantes, embora em geral confiáveis, e apesar do comportamento invasivo, prestativos e quase desprovidos de rancor.

METIAT
Supostamente originários de 30A532-UNIA (30032-A502-323), quase no centro da galáxia, os Metiats são os principais personagens por trás da Hexaliança e considerados como a mais avançada espécie não somente entre as 6 representantes, mas entre quaisquer uma das 23 espécies senscientes conhecidas. Sendo híbridos silicônico-carbônicos de pequena estatura, cerca de 1m de altura, e possuindo o maior cérebro entre os membros da hexaliança, cerca de 3 vezes a massa encefálica antropônica Homo superior, o Metiats possuem vastas habilidades metanaturais, e embora não sejam descendentes diretos de Primordiais, dominam tecnologias e conhecimentos que jamais foram totalmente comunicados aos demais membros da Aliança Hexagonal.
No entanto, atuam pouco no cenário galáctico, mesmo nos tempos áureos da Hexaliança, ao menos diretamente, sendo na maior parte das vezes representados pelos Cinzas, com quem mantém uma relação indiscutivelmente mais próxima do que os demais, além de uma inegável similaridade física.
Em cor cinzenta, cinza azulada, ou cinza esverdeada, os Metiats possuem olhos pequenos, como os dos Marou, mas a proporção cabeça e corpo se aproxima mais dos cinzas, ainda que mais acentuada. Cerca de metade do corpo de um Metiat é constituído pela cabeça, que além dos olhos normais possuem um terceiro olho, no centro da testa, bem como longas orelhas pontudas, nariz praticamente ausente e uma minúscula boca, que não possui dentes, língua, e praticamente não emite sons, visto que os Metiats se comunicam exclusivamente por telepatia.
Seus delicados membros também tem pouco uso, visto que a maior parte do trabalho físico que executam é realizado por meio metanatural, até mesmo o simples movimento corpóreo, em geral por levitação, ou por teleportes de curta distância. Também usam tecnologia integrada ao corpo, normalmente pouco distinguível dado o grau de sofisticação.
É forte a desconfiança entre as outras espécies de que o Metiats são responsáveis pelo desenvolvimento da maior parte das espécies biológicas, principalmente as da Hexaliança, o que tem forte apelo como explicação para a tendência anatômica dominante que as caracteriza.
A população de Metiats é desconhecida, mesmo porque em geral não são encontrados em companhia das demais espécies, costumando estar restritos à sistemas centrais da galáxia, normalmente inacessíveis ao demais. Com isso, a relação com as demais espécies vem declinando historicamente, levando muitos a crer que os Metiats estariam próximos da extinção, não por carência, mas por transcendência, pois estariam atingindo um estágio tal de evolução mental onde a tendência é o abandono do corpo.

A ANATOMIA CORRELATA
Sempre chamou atenção dos estudiosos a misteriosa similaridade entre as espécies da Hexaliança, mais algumas outras espécies senscientes, que são todas caracterizadas por um par de membros inferiores articulados, um tronco que abrange a maior parte das funções alimentares, respiratórias e circulatórias, dois membros superiores com diversos dedos sendo um ou dois dos quais opositores, e enfim uma cabeça com pares de olhos e ouvidos, vias respiratórias, e em geral boca, além de ocasionais sensores extras.
A maior parte do conhecimento de evolução biológica parece incompatível com essa tendência espontânea, principalmente do ponto de vista Fisicalista. Por isso, muitos cientistas acreditam que todas essas espécies possuem alguma ligação não genética, isto é, não baseada em descendência, mas sim em planejamento e intervenção de espécies mais antigas, das quais a Metiat é tida como a mais provável, embora jamais tenha revelado informações sobre isso.
Uma das mais difundidas teorias afirma que os Metiats criaram primeiro os Cinzentos como uma versão mentalmente inferior mas fisicamente superior, e com alto potencial de adaptação, e por meio deles, influenciaram o desenvolvimento de um sem número de biosferas em outros sistemas estelares. Assim, os Guzuranos, notórios híbridos cinzentos-arios, e em alguns casos cinzentos-antropônicos, ao realizar diversos transportes de populações nativas para planetas distintos, nada mais faziam do que cumprir funções para os quais seus ancestrais haviam sido projetados, embora muitos desses transportes, com as mais diversas finalidades científicas, fossem desaconselhadas e mesmo proibidas pela Aliança Hexagonal.
A desobediência a essas regras apressou a derrocada dos Guzuranos como espécie sensciente poderosa e influente na galáxia, o que, aliado a sua descentralização, pois não tinham um planeta principal, terminou por praticamente extinguí-los, à medida que os Zenitrons iam ocupando seu lugar principalmente nas ambições científicas.
É Zenitron a teoria fisicalista mais convicente sobre a convergência anatômica, visto que teorias mentalistas invariavelmente apelam ao conceito de um planejamento prévio de mentes senscientes que projetam o mundo físico. Segundo os Zenitrons, além da similaridade estelar entre os sistemas natais dos Marous e Antropônicos por exemplo, devido a sua proximidade, ocorre mútua influência mentônica sutil típica das mentes senscientes, ainda que inconsciente, o que explica porque a similaridade entre espécies senscientes é muito maior do que entre as não senscientes.
Essa teoria também fortalece a possibilidade de que o planeta original dos Arios seria próximo ao dos Antropônicos, bem como o dos Cinzentos seria próximo ao dos Marous. O único problema grave fica por conta da espécie Dobuk, cujo planeta original também não é conhecido, mas todos os secundários conhecidos são significativamente distantes. Tal problema é contornável porque sendo esse espalhamento artificial, terminou por dificultar a localização do planeta original, de modo similar ao que aconteceria se, por exemplo, a espécie antropônica tivesse se extinguido em Madre-Terra após seu espalhamento passivo pela galáxia em eras pré-DAMIATE.
A comunicação mental interestelar viria a ser confirmada por experiências posteriores com telepatia extensiva. Embora uma comunicação consciente eficiente seja praticamente impossível, foi demonstrada influência inconsciente por meio de estímulos telepáticos específicos que se comunicaram com outros sistemas em velocidades até superiores às da luz, o que é visto pelos zenitrons como um demonstrativo de comunicação material subestrutural, similar a comunicação quântica de valores binários de partículas, conhecidos pelos Madre-Terrestre deste antes da era DAMIATE.
Por ser uma modulação mentônica refinada, as ondas mentais reverberam na sub estrutura do universo, podendo ser transportadas passivamente a distâncias interestelares e influenciando cérebros que lhes sejam mais ou menos sensíveis, e estes, por sua vez, imitam hábitos que induzem a evolução a se dirigir de uma certa maneira, além de reforçarem a ligação entre os sistemas estelares pelo simples fato de aumentar o nível de sintonia entre seus campos mentônicos.
Essa teoria também explica o fato interessante de haver similaridades entre sistemas estelares muitíssimo distantes no espaço, porém interligados por portais naturais, que também podem ser facilmente cruzados por ondas mentônicas.