Para quem não o saiba, existe agora um streaming do Mercado Livre que, se você tem conta, já tem acesso! O acervo é pequeno comparado aos demais, mas tem muita coisa que só achei lá, a exemplo de UNDER THE DOME, que finalmente pude assistir!
Acabei de ver os 39 episódios das três temporadas, e por sorte a série me surpreendeu positivamente, visto que eu tinha desconfianças que fosse algo no estilo Lost e que terminasse de forma inconclusiva. Mas não, o final até foi bem fechado, mesmo deixando um inevitável gancho para uma possível continuação. E se os mistérios não foram esgotados, acabaram sendo desenvolvidos e explicados bem mais do que eu esperava.
Sim, a causa da misteriosa redoma é mostrada, bem como sua procedência e até boa parte de sua natureza, numa trama bastante intrincada mas com elementos claros e bem encadeados.
A parte dramática talvez seja o ponto mais polêmico, visto termos uma variedade de comportamentos e mudanças de lado que chega a ser desnorteante, com personagens se aliando a antigos inimigos mortíferos, e depois se tornando inimigos de novo, o que, no entanto parece crível devido à situação de isolamento e da luta pela sobrevivência.
Mesmo assim, choca o modo como alguns crimes são perdoados, se não pelos personagens, pelo roteiro. Ademais, caramba! Morre mais gente de modo inesperado que em Game of Thrones! Com uma ou outra parcial exceção, não tem como antecipar quem vai chegar ao final da estória, que se passa dentro de um mês, afora um salto futuro de um ano nos minutos finais e um ou outro flashback.
Ambientada na fictícia cidade de Chester's Mill, no estado do Maine, onde aliás ao menos metade da obras do Stephen King se localizam (sim, é baseada num livro dele, que ainda não li), a estória lida com o repentino e absolutamente inesperado surgimento de uma cúpula invisível que isola a cidade, aprisionando a maioria de seus pouco mais de dois mil habitantes, maIs alguns forasteiros que tiveram o azar de estar ali temporariamente. E deixando alguns dos habitantes, que haviam saído brevemente, de fora.
Aparentemente indestrutível, a barreira resiste incólume até ao ataque de um MOAB (Mother of All Bombs), o mais poderoso míssil não nuclear existente. Não chega a ser tentada uma arma nuclear, mas seria uma má ideia considerando que obviamente o calor e a radiação passam pela barreira.
Então, com suas vidas e tramas pessoais surpreendidas, os personagens agora tem que enfrentar uma série de eventos de teor apocalíptico que chegam a lembrar as pragas do Egito, uma vez que tendo mais de 6 km de altura e bem mais de diâmetro, e englobando um lago e floresta, a redoma mantém um micro clima perfeitamente funcional, embora drasticamente afetado.
Do lado externo, evidentemente o mundo inteiro fica chocado com o fato e tenta de toda forma possível lidar com o fenômeno, embora seja dada pouca atenção a eventos fora do domo.
E aí aparece de tudo. Personagens que profetizaram o evento, jovens com inexplicável ligação com fenômeno, dispositivos misteriosos que estão claramente ligados ao domo mas ninguém sabe como funcionam e, SPOILERS maiores adiante...
...aparentes visitantes extraterrestres, conspirações, precedentes que foram acobertados, ressuscitações (ou viagens no tempo), alterações bizarras que hora tornam a redoma absolutamente escura, hora branca opaca, hora magnetizada, ora se tornando uma gigantesca tela que exibe eventos falsos, e até... Matrix.
Enfim, gostei bastante da série, que eu queria ver há muito tempo, embora não estivesse disponível em nenhum outro streaming. Vou ver agora se consigo ler o livro.
Outra coisa que Under The Dome fez melhor, embora ainda longe da excelência, é lidar com os "personagens" de fundo. Uma das coisas mais mal executadas, da maioria dos filmes e séries que tem que lidar com temas que envolvem centenas de figurantes, é o modo como frequentemente temos um imenso pano de fundo de pessoas que estão sendo diretamente afetadas por algum evento drástico, mas ficam absolutamente caladas enquanto uns poucos protagonistas dialogam decidindo suas vidas.
Geralmente isso ocorre porque se tratam de figurantes que sequer fizeram testes de atuação, de modo a serem apenas um "background animado" sobre o qual atual os reais protagonistas. Under The Dome faz melhor, com maior manifestação daquilo que antes pareceriam apenas decorativos, mas de repente dialogam com os protagonistas.
Ainda assim, porém, acabam sendo aquelas participações especiais que de repente aparecem e depois somem, nesse caso, frequentemente morrem, pois a contagem de corpos na série é surpreendente.
De qualquer modo, esse não é um problema fácil de solucionar. Se você tem uma estória que ocorre num contexto onde dezenas, centenas ou milhares de pessoas estão sendo severamente afetadas, a realidade sugere que muitos irão se manifestar e agir, mas é muito difícil retratar isso quando você tem um contrato com um número limitado de atores e restante são apenas figurantes. A solução apresentada são contratos menores de atores temporários que se manifestam brevemente para passar a ilusão de que há protagonismo além dos atores principais.
Mas isso raramente funciona.
Em Lost, por exemplo, optou-se por um grupo de figurantes fixos que foram vistos no pano de fundo de vários episódios, havendo lista destalhada de cada um deles nas páginas de fãs, citando seus respectivos atores. Mas eles sempre foram apenas isso, "background animado". Quando aparecia um personagem "novo" além dos atores principais em um episódio específico, era um que jamais havia sido visto no background e depois não seria visto de novo, afinal trata-se de um contrato temporário de atuação, e não de posar pra compor o fundo.
A situação se tornou ainda mais problemática quando, na terceira temporada surgiram dois personagens novos que tiveram amplo destaque, um deles interpretado por Rodrigo Santoro. Mas eles jamais haviam sido vistos antes.
Under The Dome atenua essa fragilidade devido ao amplo número de personagens secundários, terciários etc, que de repente aparecem em alguma participação relevante e depois somem, mesmo que não tenham sido mortos devido à amplitude maior do cenário. Mesmo assim, está longe do ideal.
Ideal que, penso eu, exigiria um contrato de atores que previsse que eles apenas posariam no fundo pela maior parte do tempo, mas participariam mais ativamente de forma esporádica, gerando familiaridade no espectador. Mas ainda estou pra ver isso acontecer mesmo quando o número de personagens envolvidos é de poucas dezenas.
Um exemplo terrível é a série Yellowjackets, que já comentei bastante em dois vídeos e gosto muito. Mas ele tem essa bizarrice de ter um núcleo de personagens perdidas numa floresta onde 13 são claramente ativos, com nomes, falas e participações claras, mas cinco outras são como se fossem NPCs que somem e reaparecem do nada de um jeito surreal na primeira temporada, num contexto onde isso não tem o menor cabimento.
Na segunda, personagens "novas" são acrescentadas que em tese seriam aquelas mesmas do background, mas com atrizes totalmente diferentes.
Um outro elemento trazido pela série é algo que eu próprio exploro em minhas obras, como em As 4 Damas do Apocalipse e As Senhoras de TERRANIA e que é pouco retratado nos universos de FC e FF: o conceito de Força Vital que só aparece na Terceira Temporada, junto com, nada mais nada menos, um tipo de "Matrix" de procedência alienígena que aprisiona os habitantes em casulos onde eles ficam vivendo felizes num mundo de ilusão, até serem libertados por uma ação externa que destrói a fonte de energia do sistema.
Aí, os personagens tem que lidar com o fato de terem saído de uma bela ilusão para encarar de volta a dura realidade da vida sob redoma. Porém, entre a ação de outro fator, que é estarem sentimentalmente conectados numa comunidade, chamada de KINSHIP, com um forte senso de pertencimento artificialmente induzido por doses cavalares de Oxitocina, o já chamado "hormônio do amor", ou "da Empatia", que por sinal foi objeto de minha dissertação de Mestrado.
Sob a liderança de uma personagem interpretada pela atriz Marg Helgenberger (que ainda estava deslumbrante mesmo aos 56 anos) que já trabalhou também em, ora vejam só, SPECIES (1995) e SPECIES II (1998), que no Brasil receberam o título de "A Experiência". Aqui ela está também envolvida com uma espécie alienígena que se infiltra entre os humanos para realizar seus objetivos, utilizando Força Vital canalizada por cristais e se conecta à redoma, e fluxos de ocitocina para estimular a integração e harmonia entre os membros sob o controle do coletivo.
Isso induz nos "infectados" um estado de submissão a sua líder, e a uma causa, de modo a aceitarem até mesmo se sacrificar em nome do grupo. Infelizmente, os autores precisaram recorrer a alguns clichês que enfraqueceram essa própria premissa, como poderem ser muito hostis com membros fora do grupo e estarem até dispostos a excessivos sacrifícios que parecem ser contra producentes. Do contrário, ficaria difícil não concluir que seria mesmo melhor se submeter à tal "família" que não só promovia um senso de pertencimento e propósito sublimes, mas efetivamente os induzia a uma irresistível felicidade. Bem diferente, por exemplos, da submissão apática que se vê no conceito de Invasion of the Body Snachters (Invasores de Corpos) em suas versões de 1956, 1978, 1993 e 2007, com Nicole Kidman, no caso chamada The Invasion.
Tal qual o que se vê no recente Pecadores (Sinners), temos aqui o lançamento de uma dúvida de se não seria realmente melhor abandonar o nosso modelo de humanidade em prol de uma forma de existência que dribla a ilusão da Liberdade para ir direito ao que interessa, a Felicidade.
Há milhões de anos, no programa Os Trapalhões, o personagem Didi Mocó, fantasiado de Batman num quadro de super-heróis, decidiu provocar seus colegas com a inesquecível paródia:
"Homem-Aranha, Homem-Aranha,
Nunca bate, só apanha." *1
E logo em seguida, foi a vez do Super-Homem receber sua versão da música que manteve a melodia original do herói anterior.
"Super-Homem, cascateiro,
só faz força, no banheiro."
Mas quem quer que tenha visto qualquer um, ou todos os cinco materiais promocionais sobre o novo filme de Superman Legacy será tentado a misturar as duas estrofes, por menos que elas rimem, pois é só isso o que se vê, quer seja os trailers, na prévia de 4 minutos, ou no mini documentário. O Super-Homem apanhando, ou todo arrebentado!
Apanha do Ultraman, apanha de um robô que não identifiquei, apanha de uma sujeita lá (a Engenheira?), apanha do cachorrinho, apanha dos carcereiros na prisão, apanha do público, e só! Em compensação, quebra um vidrinho aqui, dá uma voadinha ali, diz uma coisinha lá, e volta a apanhar!
E uma horda de sádicos achando a coisa mais linda do mundo! "Esse é o verdadeiro Superman", "A Esperança Voltou", "Como Estou Emocionado!"
A questão é: onde estava esse pessoal quando Superman Returns flopou? Pois se é isso que eles querem ver, lá ele também toma uma sova brutal dos capangas de Lex Luthor, com a diferença que existe um simbolismo que reflete à Via-Crúxis, onde até o golpe final da lâmina de Kriptonita dada pelo próprio Luthor é análoga a lança que perfurou Jesus já na cruz, atingindo a mesma região.
Finalmente, após O Chupa-Cu de Kiev (370), O Economista, o Vigarista e o Malabarista (518), e Meteoro de Pégaso no Meteoro (629), o canal tem um novo HIT! Isto é, um vídeo que, assim que lançado, recebe súbita a inesperada atenção e se torna um dos mais vistos. Infelizmente, neste caso, o sucesso veio acompanhando de um desagradável revés: uma horda de dementes ansiosos para vomitar suas insanidades e perversidades, já não bastasse os bem-intencionados mas confusos que simplesmente não sabem diferenciar a realidade geral de sua própria experiência pessoal. Já tive que deletar uns 40 comentários! E dar patada noutros 20! Pelo menos.
Corretíssimo! Nada há que essa corja de imperialistas genocidas possa nos oferecer de bom. Até por que o narcotráfico sempre serviu aos interesses dos EUA, e usá-lo como desculpa para desestabilizar e controlar ainda mais o nosso país seria o único resultado concreto.
Só acrescento que penso diferente na temática do terrorismo*, não por discordar do argumento, mas por sequer aceitar a definição usual.
Lula errou ao recusar pedido dos EUA de categorizar o PCC e o CV como organizações terroristas?
Essa semana o Brasil recebeu a visita de David Gamble, funcionário do Departamento de Estado dos EUA, especificamente para tratar da "colaboração" no combate ao crime organizado. E entre as sugestões específicas dos EUA estariam a categorização do PCC e do CV como "organizações terroristas".
Segundo o estadunidense, categorizando-as como "terroristas", seria possível combatê-las de maneira mais contundente e os EUA poderiam "ajudar o Brasil" de forma mais completa para suprimir o PCC e o CV.
O governo Lula prontamente recusou a sugestão, sob a justificativa de que como essas organizações não possuem uma dimensão "ideológica" não poderiam ser categorizadas como "terroristas".
Diante da recusa, direitistas brasileiros se apressaram a acusar o governo brasileiro de "conivência com o crime organizado" ao recusar a sugestão dos EUA.
Analisemos o tema de forma mais minuciosa:
A argumentação utilizada pelo governo brasileiro não faz o menor sentido. Não há nada de necessariamente ideológico no terrorismo. O terror é uma técnica. E essa técnica pode ter como fim o próprio terror sem estar enquadrada em algum grande projeto ideológico.
Não faltam atentados terroristas cometidos desde o século XIX sem um conteúdo político ou religioso. Existe, por exemplo, um tipo niilista de terrorismo praticado por aqueles que almejam simplesmente causar medo e desestabilizar a sociedade, sem pretender oferecer qualquer coisa em substituição.
Aquilo que define o terrorismo é, precisamente, o uso da violência para espalhar o medo e desestabilizar a sociedade. Se há um fundamento maior ou não pouco importante. Assim sendo, considerando que o PCC e o CV já lançaram mão de ataques generalizados a alvos civis e policiais em períodos específicos como meio de espalhar o medo e pressionar o Estado, essas organizações poderiam, tranquilamente, ser categorizadas como terroristas.
Mas...o Lula acertou em não aceitar o pedido dos EUA.
Por um motivo muito simples: os EUA nunca eliminaram, realmente, qualquer organização narcotraficante ou terrorista. Não há um único caso de sucesso dos EUA nessa seara. Ao contrário, os países nos quais os EUA se instalaram para "combater o crime organizado" ou "combater o terrorismo" viram ondas ainda maiores de crime e terrorismo.
O próprio Equador é um caso típico. O país possui acordos que permitem o livre trânsito no território nacional para militares e policiais dos EUA, que permitem que o espaço aéreo do país seja sobrevoado por aeronaves militares estadunidenses sem necessidade de permissão, entrega toda a sua inteligência para as agências de inteligência dos EUA. E cadê os resultados?
Onde estão os resultados do combate ao terrorismo no Oriente Médio e na África?
O Estado brasileiro, de fato, deveria categorizar todas as organizações criminosas brasileiras que ocupam territórios como "insurgentes", e o PCC e o CV especificamente como "terroristas". Mas não deve fazê-lo no marco de uma cooperação internacional com os EUA.
Em primeiro lugar, porque podemos no futuro vir a nos deparar com violações do nosso território e do nosso espaço aéreo (inclusive com ataques) sob a justificativa de estarem enfrentando o "terrorismo" em nosso território. Para além do desrespeito à nossa soberania, bem provável que os EUA matem civis por engano ou como dano colateral.
Em segundo lugar, eventualmente isso levará à concessão de bases estadunidenses em nosso território, bem como à facilitação do trânsito de militares e policiais dos EUA por aqui. Ademais, os EUA passarão a treinar e a equipar as nossas forças de segurança, o que nos deixará ainda mais dependentes deles.
Resumidamente, o Brasil deve categorizar essas organizações terroristas, mas deve evitar fazê-lo em função dos EUA, porque na prática essa parceria sob justificativa do terrorismo culminará num aumento do poder e da influência dos EUA no Brasil, sem resultar em qualquer eliminação da criminalidade.
E agora, preparem-se. Mesmo diminuindo o foco justo naquilo que os neocons mais utilizaram para justificar seu ódio ao Papa Francisco, podem apostar que as coisas não serão melhores com Leão XIV. Como eu disse antes, o verdadeiro motivo é o desespero neoliberal de sustentar seu parasitismo capitalista a qualquer custo, bem como a sanha zionista genocida. Quem odiava o prévio pontífice, e certamente irá odiar este (talvez com um constrangimento maior) não passa de defensor do que há de pior no jogo de forças globais atual.
A trajetória de Prevost e o nome que escolheu não têm nada de sutis. Pelo contrário, gritam o perfil do novo Papa.
Os católico-romanos terão um Pontífice que dará continuidade ao foco de Francisco em questões sociais, na crítica ao capitalismo, na defesa dos pobres e dos imigrantes. Ao mesmo tempo, será também mais conservador em temas morais, principalmente no ímpeto de inclusão de gays, que os liberais tentaram impor recentemente na Igreja Romana.
Apesar de toda a proximidade com Francisco, o Bispo Prevost recebeu a Fiducia Suplicans de maneira fria. Não a criticou publicamente, demonstrando lealdade a Bergoglio, mas tampouco a saudou. Disse que ela tinha de ser implementada, levando-se em conta o contexto cultural de cada região. Ou seja, praticamente concordou com os Bispos africanos que, em sua rebelião pública, simplesmente alegaram ser impossível abençoar ''pares'' homossexuais no continente.
Por trás disso, há a aposta na sinodalidade. Em seu primeiro discurso, o novo Papa disse que o caminho da Igreja sinodal será mantido. Este parece, sem dúvida alguma, o novo projeto do Vaticano, embora ainda não se saiba exatamente como o Papado vai se articular nessa nova Igreja sinodal que quer fazer nascer, e que não sabe muito bem como trazer à luz.
Enfim, Leão XIII foi um dos grandes artífices da Doutrina Social da Igreja. O nome transcende, portanto, a própria teologia da libertação latino-americana, indo direto à fonte da abordagem doutrinária sobre as questões sociais e econômicas.
Como se sabe, a DSI tem forte apelo à distribuição de propriedade para as famílias, a subordinação da propriedade privada ao princípio da destinação universal de todos os bens ["ninguém tem direito ao supérfluo enquanto alguém carecer do necessário"], à proteção do trabalho. Ela faz uma crítica muito explícita tanto ao liberalismo quanto ao comunismo, reivindicando outra via de organização da sociedade.
A Rerum Novarum, de Leão XIII, defende que o trabalho é a fonte de riqueza última de toda sociedade, e que é justo que os trabalhadores fiquem o com fruto de seu trabalho. O poder público deve intervir na organização social e econômica para garantir a proteção aos trabalhadores, o justo salário e demais direitos. O Estado deve também proteger os trabalhadores dos especuladores e usurários, além de garantir a Previdência Social.
De uma ótica política, é uma jogada importante escolher um Pontífice norte-americano a essa altura do campeonato. Primeiro, houve uma debaclé do protestantismo ianque. Além disso, o atual vice-presidente dos EUA é o católico-romano J. D. Vance -- óbvio candidato a novo Chefe de Estado do Tio Sam.
A Igreja Romana nos EUA depende sobremaneira dos imigrantes. 36% de todos os católico-romanos nos EUA são "hispânicos", ou seja, tem origem latino-americana, o que aponta para a óbvia reprodução exógena dos fiéis do país.
Dizendo de outra maneira, os católico-romanos mantém sua proporção de 20% a 22% da população dos EUA porque alimentados continuamente pelo fluxo de imigrantes pobres de países majoritariamente romanos [primeiro italianos, irlandeses, alemães, poloneses, e nas últimas décadas os latino-americanos]. Esses imigrantes são os operários e o precariado que alimenta a máquina de moer almas do capitalismo ianque. É também um público que recentemente tem migrado do Partido Democrata para o trumpismo.
Todas essas linhas de força podem se encontrar em Leão XIV, permitindo que ele faça um contraponto a Trump vindo DA "DIREITA", e não dos identitários. Um contraponto não é necessariamente ''oposição política", deixo claro. Mais ainda, ele pode ser um interlocutor importante do trumpismo e de seu mais provável herdeiro, J. D. Vance.
Prevost tem nacionalidade peruana também. Estamos falando do segundo papa latino-americano. Um nome com um pé no Norte e outro no Sul da América, continente que reúne mais de 40% de todos os fiéis da Igreja Romana.
Os cardeais escolheram um Papa que é a 'cara' da Igreja Romana que de fato existe, para além das fantasias deste ou daquele grupo específico. Saberemos em breve se é também aquilo de que a Igreja Romana precisava.